Sozinha em meu chalé comecei a pensar em tudo que havia descoberto a respeito do passado de Nicolas.
-Uma tragédia que mudou a sua vida há trezentos e sessenta graus, por isso se fechou para o mundo... talvez por isso tenha medo de se entregar totalmente ao amor... medo de sofrer outra perca dolorosa... Por isso teve tantas mulheres sendo apenas um caso em sua vida... Ah! Como eu gostaria de preencher seu vazio por completo meu amor...
Eu falava olhando a foto dele comigo em Roma, decidi tomar um banho e tentar dormir eu me sentia cansada mentalmente devido ao pesadelo, mas foi em vão já que eu rolava de um lado para o outro na cama.
-Ah! Melhor eu ir dar uma volta!
Decidi depois de olhar no relógio que marcava vinte horas, troquei minha roupa de dormir para um jeans claro uma blusa com mangas de fio e meu casaco sobretudo bege, coloquei meu lenço azul em volta do pescoço e calcei meu par de botas, fiz uma maquiagem leve e sai.
-Boa noite senhorita Alice, decidiu aproveitar que a noite não está tão fria para dar uma volta?
-Oi senhor Péppe, isso mesmo Pisa é muito bela para ficar em casa.
Falei com um sorriso me despedindo dele, caminhei até um ponto de táxi e mecanicamente pedi que me levasse até a área litorânea da cidade.
-Marina di Pisa, por favor!
Ao chegar me surpreendi com o lugar, um aglomerado de construções históricas que seguiam o mesmo padrão se erguiam ao redor da encosta dando um charme incomum ao lugar, continuei caminhando sentindo a brisa gélida em meu rosto, me virei para o mar respirando fundo deixando meus pulmões se encherem daquele ar cheio de maresia do mar segui meu percurso caminhando em torno da encosta até parar no local do acidente de Nicolas e sua família, senti meu sangue gelar ao imaginar aqueles momentos de pura angústia sem mais poder continuar ali sai correndo tendo algumas lágrimas em meus olhos me cegando a visão, talvez por ainda estar impressionada por meu pesadelo, talvez por ter me posto em seu lugar, neste momento esbarrei em alguém caindo sentada no chão.
-Wou! Você está bem?
Eu ainda olhava para baixo quando aquele estranho me estendeu a mão parecendo preocupado.
-Estou, me desculpe!
Respondi ainda secando as minhas lágrimas.
-Você tem certeza que está bem?
Insistiu ele parecendo desconfiado.
-Sim tenho...
Minha voz saiu em um fio ao responder.
-Então por que vejo lágrimas em seus olhos?
Me interrompeu levantando meu rosto na altura do seu, me surpreendendo com aquele gesto.
-Acho que não é da sua conta!
Respondi rispidamente recuando um passo.
-Okay eu só queria ser gentil.
Falou erguendo as mãos com as palmas estendidas em sinal de defesa.
-Me desculpe... Éh... Eu vou indo.
Falei me sentindo envergonhada, seguindo meu caminho.
-Espera! Me chamo Rafael.
Ele correu até o meu lado estendendo a mão para mim.
-Alice.
Aceitei seu cumprimento o analisando, ele era um pouco mais alto que eu, cabelos e olhos castanhos, e muito bonito.
-É um prazer conhecer você Alice.
Eu o olhei sem saber o que falar, deixando o silêncio dominar entre nós.
-Sabia que eu tenho alguns dons?
Falou ele sorrindo quebrando o silêncio incômodo entre nós.
-Éh sério, um deles é que sou adivinho.
Eu o olhei de surpresa para incrédula e desconfiada enquanto ele fingia estar mentalizando antes de continuar a falar.
-Você é estrangeira por aqui, acertei?
-Sim, acertou.
Respondi agora com um sorriso nos lábios.
-Viu! E meu outro dom é arrancar sorrisos de belas mulheres desprotegidas.
Terminou ele sua frase todo convencido.
-Acho que não é muito difícil de adivinhar que sou estrangeira.
-Não, não é!
Concordou me olhando intensamente.
-Você já provou as delícias da gastronomia daqui?
-Algumas.
-Os frutos do mar?
-Não, ainda não tive a oportunidade.
-Gostaria de me acompanhar?
Eu o olhei em dúvida se deveria aceitar, ele não parecia ter segundas intenções e percebi estar com fome.
-Eu aceito te acompanhar com uma condição.
-Qual?
-Cada um paga sua refeição, já que isto não é um encontro.
Ele me deu um olhar surpreso e em seguida sorriu divertido.
-Tudo bem.
Seguimos para um charmoso restaurante que servia frutos do mar e apesar de ser inverno estava lotado.
-Você vai gostar muito daqui.
Falou puxando a cadeira para mim.
-O cavalheirismo faz parte dos italianos?
Perguntei ao me sentar.
-Não sei se todos são, posso falar apenas por mim...
Novamente aquele olhar intenso que me vez desviar os olhos, assim que o maitre apareceu ele pediu um famoso vinho da região o Brumello di Montalcino, ano de setenta e cinco.
- Uau! Ótima pedida para o vinho, esta safra foi muito elogiada pelos melhores críticos Sommeliers do mundo.
Comentei tentando entrar em algum assunto.
-Tenho há minha frente uma conhecedora de vinhos! Olha quem diria?
Ele falou sorrindo me reverenciando.
-Posso dizer que o vinho está entre os primeiros colocados da minha lista top dez.
-Interessante... E eu possa saber o que está no topo?
Perguntou curioso, começando me lançando um sorriso sedutor.
-Claro! O meu namorado!
Falei querendo acabar logo com aquele jogo de sedução, percebi satisfeita que o sorrido dele se desfez ele olhou para baixo e em seguida bebeu um longo gole de vinho.
-E onde seu namorado está agora? Ao que me lembro não havia ninguém com você quando nos esbarramos.
Perguntou me pegando de surpresa.
-Ele precisou viajar a negócios.
-Hm... E por isso você estava em prantos? Ou talvez ele tenha a magoado antes de viajar?
-Nem um e nem outro!
Respondi começando ficar irritada com as perguntas dele.
-Eu não entendo! Jamais deixaria minha garota sozinha chorando a noite em uma marina...
-Olha aqui não tente adivinhar o que você não sabe, pensei que poderia estar fazendo um novo amigo mais vejo que me enganei!
Explodi com ele saindo irritada do restaurante, agradeci quando um táxi parou para mim assim que ergui a mão.
-Alice espera! Me desculpe eu não quis...
Entrei no táxi ignorando seus pedidos de desculpas e parti.
Vamos para o Residencial Vila Cadore, por favor.
Pedi para o taxista ainda me sentindo irritada com Rafael o chamando de estúpido petulante em pensamentos.
-Sim, senhora.
-Como pode julgar os fatos sem conhece-los?
Me perguntei ainda irritada, tendo a minha atenção chamada pelo taxista.
-Desculpe senhora?
Perguntou confuso me olhando pelo espelho retrovisor.
-Desculpe, não é nada senhor!
Cheguei em casa decidida a esquecer que havia conhecido Rafael, neste momento atendi muito surpresa uma chamada de vídeo de Nicolas.
-Oi, você fazendo chamadas de vídeo?
Perguntei ainda surpresa.
-Eu queria ver você.
Respondeu com um sorriso e continuou.
-Me desculpe não ter me despedido de você hoje cedo, é que tivermos um problema em umas das construções aqui de Tóquio.
-Você esta em Tóquio?
Não pude deixar de esconder a minha surpresa.
-Sim, e este fuso horário está me matando, como você está?
Respondeu ele já fazendo outra pergunta.
-Sim! estou bem, eu dei um passeio pela cidade acabei de chegar e também de descobrir como Pisa é muito pequena.
Brinquei e obtive um sorriso dele como resposta, conversamos por mais meia hora e após nos despedimos senti outro aperto no peito ao encerrar a ligação.
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