Secrets Segunda Temporada

By sweetcabello21

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Quatro anos após o casamento, Lauren e Camila decidem aumentar a família e dar a David, o primogênito do clã... More

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV
Capítulo XXXV
Capítulo XXXVI
Capítulo XXXVII
Capítulo XXXVIII
Capítulo XXXIX
Capítulo XL
Capítulo XLI
Capítulo XLII
Capítulo XLIII
Capítulo XLIV
Capítulo XLV

Capítulo XXV

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By sweetcabello21

Lauren POV

O que eu sou? O que nós somos? Reflexos de nossas almas? Ou reflexo de nossos medos? Que medos nos acorrenta? Que corrente nos prende? Qual cruz carregamos? O seu fardo pesa? Há um muro divisório entre a loucura e a lucidez? Ou somos loucos em nossa lucidez? Talvez lúcidos em nossas loucuras? Um coquetel de sentimentos, uma mistura incompreensiva de questionamentos, somos a cara e a coroa, as duas faces da moeda em um só corpo. Mas, qual nossa missão no mundo? Qual a engrenagem que nos faz seguir em frente? Por que esquecer o passado é tão desgastante quando devia ser passado?

O que te faz sangrar a alma? O outro que apunhala com palavras ou você que se rasga em autodepreciação?

Que monstros se escondem debaixo do seu sorriso? Mostre-me sua alma e eu mostro meu coração.

Imperfeição. Imperfeita. Feita. Perfeita.

- Inspire e expire, Lauren. - disse a mim mesma. - Abra seus olhos e solte lentamente o ar dos pulmões. – assim, o fiz e tudo o que eu vi foi um reflexo borrado no espelho, mas as vozes ainda estavam lá, a questão era, eu sucumbiria? Eu não queria, mas qual caminho seguir quando tudo é escuro? "Hoje vou esquecer as dores do passado e agradecer por ser exatamente como sou.", a voz da Ally soou quase imperceptível em minha mente, mas consegui captar suas palavras. Olhei novamente no espelho e já conseguia definir alguns traços do meu rosto, talvez da minha alma, e, haviam tantas feridas expostas, latejando ou sangrando. Minha alma estava tão suja e cobertas de feridas, não era algo bonito de ver; então eu sou assim? A pergunta veio em seguida. Coragem, a resposta soou em meio a um aperto. – É hora de cuidar de todos esses machucados... – murmurei, enquanto tocava meu rosto. – Vocês sempre farão parte de mim como lindas cicatrizes, mas não os quero como feridas expostas... – sorri para o que eu via, olhar-me no espelho já não era tão assustador. - O pior inimigo de uma pessoa é ela mesma... – repeti a frase como um mantra, uma súplica, uma reza, uma oração.

- Desista... – A Lauren refletida em meu espelho sorriu irônica. - Eu sou você, eu conheço seus medos e suas fraquezas, são as minhas também... – ela olhou profundamente em meus olhos, parecia loucura, mas eram meus medos na forma do meu reflexo diante de mim. - As pessoas estão com pena de você, de nós... Por isso as palavras boas, os abraços e afagos... - era a parte escura do meu coração falando. – No fim você terminará sozinha como sempre foi sua vida! - um estalo veio à minha cabeça, eu tinha em quem me segurar para sair do chão, família, amigos, minha mulher e meus filhos, mas o impulso devia partir de mim. Sorri presunçosamente para a outra Lauren, que refletia em meu espelho.

- Suas palavras não me afetam, não tanto como antes... – ela vacilou no sorriso, mas ele ainda continuava lá, praticamente inabalável.

- Mentiras... Uma mentira atrás da outra, eu sou uma parte do seu coração e sei que mentes, nada está bem... Nunca esteve! – cuspiu em defesa as minhas palavras, ou talvez ataque.

- Sabe, eu gosto de você... Na verdade somos a mesma pessoa ainda não sei como, mas te terei ao meu lado, sem essa escuridão envolta e quando isso acontecer, estaremos curadas... Salvas de nossos medos.

- Curadas? – ela gargalhou. – Você deixou sua família, esse pecado eu carrego, nós carregamos e essa mancha nunca se apagará... Não temos salvação, sinto te dizer. – engoli em seco, perdendo totalmente meu sorriso, o dela se alargou. – Que mentira vai inventar para te livrar do inferno? – olhei fundo em seus olhos sem saber quais palavras me salvaria, seus olhos eram frios e escuros, mas ela era eu ou eu era ela?

Ela era eu, sacudi a cabeça, me recusando a ser aquilo tão escuro. Mas eu não era perfeita e precisava aceitar isso.

Apenas olhe para si e aceite o que vê.

- Eu me perdoo, eu te perdoo... – simplesmente disse.

- NÃO TEMOS PERDÃO... – ela gritou. Comecei a me afastar, para longe da pia, os olhos ainda presos nos dela. –Vai fugir sua covarde?

- Você é meu lado escuro, você é a covarde. – apontei para ela, o sorriso sumiu dando lugar a uma carranca. - Eu apenas tenho mais o que fazer... Tipo estar com minha família. – pisquei, retirando-me logo em seguida.

As meninas passaram alguns longos minutos depois da torta pronta e me ajudaram a limpar a cozinha, mas ficou faltando as louças, cada uma tinha sua família para cuidar e não puderam ficar mais tempos, mas a visita, mesmo que inesperada, diminuiu o volume das vozes que massacravam minha mente, elas estavam lá, mas não tão sufocantes como antes. E eu tinha coisas a fazer, mas no próximo confronto conseguiria enfrentar meu lado escuro e seguir em frente.

No fim do dia temos sempre um lado escuro para enfrentar.

Camila POV

Desabafar. Desafogar. Desmoronar.

Àquelas três palavras preenchia minha cabeça, era assim que eu me sentia, desafogando, pondo para fora tudo, e, Sofia ouvia atentamente a cada palavra, às vezes as frases se perdiam junto com as lágrimas, mas minha irmã pacientemente esperava a calma voltar para que eu seguisse relatando tudo o que pesava, deixando-me prestes a desmoronar.

- Parece maldição... – ri amarga em meio as lágrimas. – Eu nunca quis realmente dizer tais palavras a Lauren, mas depois que eu disse tudo veio a desmoronar... E agora eu não sei mais o que fazer, sabe... A nossa mente pode se tornar uma excelente inimiga se assim permitirmos. – constatei com amargura. - Eu não estou disposta a deixar esses pensamentos negativos germinarem, mas ainda assim às vezes a minha mente vagava nas piores possibilidades... – funguei.

- Eu não quero piorar nada, mas você sabe o peso que vem colocando nas costas da Lauren ao longo dos anos, não é? – assenti.

- Eu tenho sido uma péssima mulher... A morte do Mike pesou sobre nós, perder alguém nos faz rever a vida... – fechei os olhos, sentindo-me um desastre em pessoa. – Eu tenho errado vergonhosamente... – deixei meus ombros caírem. – Lucy disse que eu preciso de paciência e, por mais que Lauren venha mostrando pequenos sinais de melhoras ainda assim permanece presa em seu próprio mundo, em sua mente... Eu não sei mais o que fazer.

- Calma... – ela pediu. – Respira... – sussurrou quando percebeu que estava quase em meio as lágrimas. Minha mente estava começando a cansar, a julgar-me incompetente por não conseguir segurar minha mulher, por não ter as respostas que ela tanto buscava ou por não conseguir me tornar a sinalização necessária que Lauren precisava para sair daquele caos mental.

- Nesse momento você precisa de forças, mesmo que ache que não tem... Vocês passaram por coisas piores, é uma tempestade, mas vocês são boas marinheiras... – Sofia segurou minhas mãos e apertou com delicadeza. - Você nesse momento precisa ser o pilar da sua família, até que Lauren consiga dividir novamente essa função com você.

- Mas as ondas estão vindo cada vez mais fortes, e minhas estruturas estão rachando a cada dia, Sofia... Sinto-me preste a desabar e essa ideia é assustadora.

- Você não pode ceder, não mesmo. – brigou. – Lauren esteve para você quando o Seth foi embora, ela mostrou dia após dia que merecia o seu posto de volta, ela batalhou por seu coração e pelo do David, ela vem sendo uma excelente mãe e esposa... Ela te segurou muitas vezes e amadureceu ao longo dos anos, ela é forte sim... Alguém precisa lembrá-la do quanto ela é forte, do quanto ela é capaz, e esse alguém é você... – as palavras da minha irmã ecoavam em minha cabeça, percebia aos poucos que não podia me dar ao luxo de fraquejar quando a pessoa que tanto amava clamava silenciosamente por mim, eu precisava ignorar minha cabeça e encontrar toda a força que julgava não ter. – Agora é sua vez de amadurecer e segurar a Lauren.

Um dia de cada vez, disse em minha mente. Sem atropelar os passos ou me afobar, eu precisava estar ao lado dela, pois separadas não funcionávamos. Eu não estava disposta a abrir mão de minha família e sabia que no fundo, mesmo sufocada em dor, Lauren também lutava por isso, pois não queria abrir mão de sua família.

A conversa que tive com a Lucy começou a ser repassada em minha cabeça, eu precisava me perdoar por meus erros do passado e por cada falha cometida, assim como Lauren deveria fazer o mesmo. Precisávamos colocar os pontos soltos e nos resolver, pois absorver as dores do passado e remoê-las não era sadio.

Conversei mais outras coisas com Sofia, ela sempre me ouvia atentamente, esperou que eu falasse para pontuar o que achava ou apenas me deixou desabafar, e, a cada palavra dita, eu sentia como se algumas toneladas me fossem tiradas das costas, eu não queria ser fraca e sair contando dos meus problemas, mas eu tinha plena consciência que naquele momento Lauren e eu precisávamos de ajuda, pelo bem de nossa saúde física e mental e também pelo bem-estar de nossos filhos.

Não dá para imaginar o quanto é libertador falar sobre o que te sufoca até que você exponha tudo, gota a gota.

Sofia falou que Lauren estava muito confusa e que a morte do pai pesou em seu corpo e ela estava emocionalmente instável, talvez mostrando pequenos sintomas de depressão, ela frisou que eu não podia permitir que isso acontecesse. Nesses momentos, ela disse, que a família e os amigos são peças chaves para tirá-la do seu próprio mundo.

Minha irmã mais nova pontuou todas minhas atitudes erradas, disse que mesmo eu sabendo dos meus erros, ainda assim, eu precisava ouvir para não cometer novamente. Eu me senti uma criança pirracenta ao perceber o quanto vinha errando ao longo dos anos, sempre me achando a dona da razão. Falamos sobre a Anabella e como eu precisava me manter calma diante de tudo, não podia passar energias negativas para minha filha, por mais que o ambiente estivesse um pouco instável. Sobre isso, disse que Lauren estava sempre preocupada comigo e com nossa filha, participando de cada detalhe, de cada dia e de cada segundo. Sofia disse que devia fazer mais coisas em família, jogos, cinemas ou coisas que envolvessem o David e a Ana, pois com isso, Lauren ficaria presente, talvez com o tempo, ela perceberia sua força e a força da família e dos amigos, saindo assim de vez do seu mundinho.

Eu estava disposta a mudar porque era o certo e porque não queria que Lauren enveredasse por esse caminho escuro. Percebi, finalmente, que não só Lauren precisava ser curada, tanto eu como ela precisaríamos nos reconstruir e nos refazer, mas a jornada seria longa e árdua, e, o primeiro passo sempre é o mais difícil.

Porém não estava a fim de desistir da caminhada, no fim nos encontraríamos como pessoas para depois perdoarmos uma a outra por tudo.

[...]

Após pedi um táxi e ir embora, minha cabeça continuava fervilhando de pensamentos e hipóteses, relembrando cada palavra dita por Sofia, clareando ainda mais e passando a ver coisas que não conseguia notar.

No caminho para casa liguei para Veronica e pedi ajuda. Não pedi ajuda com todas as palavras, mas implicitamente, pois sabia que assim como precisei ouvir de alguém de fora do meu contexto para perceber que vinha errando ao longo dos anos e que precisaria de muita força, Lauren também não me escutaria quando eu dissesse que ela precisava acordar e vencer seu medo, mas talvez pudesse ouvir suas amigas. Ao ligar a Vero pedi que ela e Lucy conversassem um pouco com Lauren para tentar tirá-la de seu estado de torpor.

Olhei para o lado e percebi que estávamos entrando na rua da minha casa, David estava com os fones no ouvindo perdido em seu mundinho enquanto escutava música, seu corpo estava recostado ao meu, bem relaxado e me usando como apoio para não escorregar no banco. Assim que o táxi parou, ele retirou os fones e guardou no bolso. Peguei minha carteira na bolsa e paguei o taxista.

- Obrigado e boa noite. – ele agradeceu polidamente.

- Tenha uma boa noite, senhor. – David falou e abriu a porta do táxi. – Vem Mama... – disse apressadamente assim que saiu. – Quero ver se Mama Lauren está melhor. – comentou apressado. Gesticulei com a mão para que ele esperasse. Tinha comido exageradamente na casa de Sofia e meu corpo ficou mais lento que o comum em suas ações.

- Vamos, apressadinho! – disse depois que desci do táxi, caminhando lentamente até a porta, David praticamente voou, mas ficou frustrado ao ver que a porta estava trancada e precisaria me esperar para abrir.

- MAMA? – meu filho gritou assim que abri a porta.

- Não grite David, ela deve estar dormindo. – repreendi, tranquei a casa e coloquei minha bolsa junto com a chave na mesa que ficava no hall.

- Mas... – neguei com a cabeça.

David suspirou frustrado e saiu em direção a cozinha, neguei com a cabeça e o acompanhei, pois estava com muita sede, David gritou assim que chegou na cozinha.

- MAMA LAUREN ESTÁ AQUI. – berrou para mim, neguei com a cabeça, ele não tinha jeito.

- David você tem que parar de ficar gritando. – reclamei, meu filho estava com o corpo encostado na Lauren. – Se sua mãe estiver com dor de cabeça, seus berros só vão piorar as coisas. – David tentou abrir a boca, mas continuei. – Sem desculpas, parece um louco, ainda não entendi o porquê desses gritos.

- Desculpa. – olhou para Lauren e depois para mim. – A senhora está melhor? – virou o rosto para Lauren, que acenou em afirmativa.

- Fiz torta de abóbora. – comentou com um lindo sorriso. – Quer dizer... – coçou a nunca sem jeito. – As meninas vieram aqui, na verdade quem fez foi a Ally.

- Oba, torta de abóbora da tia Ally. – gritou.

- David. – repreendemos em uníssono, David começou a sorrir, mas parou assim que viu que não tínhamos achado graça.

- Desculpa, mas é que foi engraçado vocês falando juntas. – ainda continuamos sérias. – Desculpa, desculpa... Não vou gritar de novo. – colou um bico na cara. Lauren apertou sua bochecha, caminhei até a geladeira e peguei uma garrafa com água.

Lauren voltou a lavar as louças, provavelmente a que sujou no preparo da torta. David saiu de perto e pegou um prato e um garfo para se servir de torta, sentando-se na mesa em seguida.

- Quando você disse as meninas, se referiu a Ally, Normani e Dinah? – perguntei intrigada, Lauren confirmou com um aceno sem virar o rosto.

- Sim, elas vieram me ver... – comentou.

A ideia de Lauren, Normani, Dinah e Ally juntas em um mesmo ambiente sem brigas ou implicâncias soava tão absurda, sacudi a cabeça tentando imaginar o motivo para aquela estranha visita.

As meninas me ligaram pouco depois que cheguei na casa da Sofia dizendo que queriam fazer uma pequena reunião, algo improvisado do clube da Luluzinha, mas eu acabei cortando os planos delas dizendo que não estava em casa, apenas Lauren, que não estava se sentindo bem. Ally perguntou se estava tudo bem depois que suspirei ao falar da minha mulher, disse que sim, mas falei por alto que Lauren vinha tendo muitas dores de cabeça e isso estava começando a me preocupar. Não prolonguei no assunto, pois Sofia me pediu ajuda para terminar o jantar, despedi-me das meninas prometendo combinar um churrasco para reunir as famílias.

- O que elas vieram fazer? – perguntei de forma cautelosa sem querer parecer muito enxerida a respeito.

- Conversar um pouco... – respondeu vagamente. – Confesso que fiquei com o pé atrás ao vê-las, mas... – deu de ombros. Caminhei até Lauren e encostei-me próxima a pia. – Elas vieram com a bandeira branca estendida. – Lauren me olhou de rabo de olho e prosseguiu ao perceber que não entendi o que ela quis dizer. – Sabe... Elas estavam preocupadas comigo de alguma forma, e isso é bem estranho, mas estou cansada de julgar, de me martirizar com coisas que ficaram no passado... Eu não tenho mais forças para ficar escavacando e me sujando com erros que já foram enterrados... – comprimiu os lábios em um sorriso triste. – Então eu apenas não tentei bater de frente com elas, não somos melhores amigas apesar de Dinah ter dito que me considera amiga. Eu sou bem realista, sei que essa nomenclatura não foi devidamente colocada, estamos longe de ser, mas... Isso não significa que podemos nos tornar um dia, e para que isso aconteça todas precisam querer, então tentei me permitir, pois elas estavam sendo bem legais, não estou dizendo que elas nunca foram, mas nossas relações não era na mais perfeita harmonia... Sei lá...

- Eu estou um pouco surpresa com a visitas dela. – admiti.

- Eu também fiquei!

- Mas fico feliz que não tenham se matado em minha ausência. – Lauren riu fraco do meu comentário.

- Também fico. – pausou, lavou as mãos sujas de sabão e me encarou. – Elas disseram coisas que me fizeram pensar.

- Que tipo de coisas?

- Prefiro não dizer agora, ainda estou processado tudo.

- Tudo bem. – disse sem jeito, pois tudo que eu queria era voltar a compartilhar coisas com ela ou que ela voltasse a compartilhar cada pequena coisa que passava em sua mente.

- Hey... – tocou meu queixo delicadamente, fazendo-me encará-la. – Não fique assim, que tal me contar como foi na casa da Sofia. – sorriu como um incentivo para que começasse a falar.

- Sofia disse que está devendo alguns jantares na casa dela. – disse divertida. Lauren levantou as mãos em rendição.

- Culpada, mas prometo pagar todos, só tem sido complicado esse último mês. – sorriu tristemente.

- Eu estou aqui, você sabe disso, não é?!? – perguntei receosa.

- Claro que sei e eu agradeço muito por isso... – aproximou-se e beijou minha testa. - Sem você e David ao meu lado não sei o que seria agora, mas nesse momento você ainda não pode me ajudar, só eu posso... – por instinto rodeei minhas mãos em sua cintura. -, há certas batalhas que eu preciso primeiro vencer para que consiga permitir que os outros me ajudem. – disse baixinho para que David não nos ouvisse. – Eu só ainda não sei como enfrentar tudo isso. – acariciei seu rosto com minha mão direita.

- Vamos passar por tudo isso juntas. – afirmei, Lauren segurou minha mão, que acariciava sua bochecha, e a beijou, um beijo delicado, mas eu estava tão sensível, que aquele pequeno carinho fez meu coração acelerar. Sentia falta de cada toque, cada carinho, cada pequeno gesto dirigido a mim, mas não queria forçá-la a nada, estávamos em um momento complicado de nosso casamento e a paciência seria um importante aliado para superar aquele momento.

- Mas continue a contar... – pediu ao se afastar para começar a secar as louças, suspirei com a ausência de seus dedos em minha pele, mas ela não percebeu, pois voltou sua atenção a louça.

- Ajudei ela a terminar o jantar enquanto David e Allan assistiam a um jogo de basquete. O jantar foi tranquilo, depois David e Allan ficaram responsáveis por arrumar a cozinha enquanto Sofia e eu conversávamos, perdi um pouco a noção do tempo junto com minha irmã, a vida sempre tão corrida que acabamos suprimindo pequenos momentos, mas que são significativos... – afastei-me para Lauren guardar algumas coisas e depois me encostei novamente. - Conversamos sobre tudo e mais um pouco, sentia falta de conversar trivialidades e coisas sérias... – parei, pensando se devia ou não dizer a Lauren que falei sobre nós, mas acabei decidindo ocultar essa parte. - Parei para pensar que não podemos nos sobrecarregar de desculpas, é sempre bom tirar um tempo da correria constante da vida para destinar aos amigos e a família, por isso... – pigarreie sem saber como dizer o que fiz. – Liguei para Veronica e Lucy e marquei uma saída entre vocês. – falei apressadamente e coloquei um sorriso amarelo na cara. - Para amanhã.

- Você o quê? – perguntou assustada, parando assim que ouviu minha frase.

- Eu achei que seria legal você sair com suas amigas! – alarguei o sorriso, sentindo-me uma menina travessa.

- E deixar você sozinha? – retrucou. – Já fiz isso uma vez e não foi nada certo, eu vou trabalhar, mas não gosto da ideia que fique só...

- Lauren... – resmunguei manhosa. – Eu estou grávida e não doente. – ela tentou protestar, mas ignorei e continuei a falar. – Além do mais David estará em casa... – indiquei com a cabeça o garoto que se levantava da mesa.

- Eu o quê? – perguntou ao se aproximar com o prato e o garfo sujo, colocando-os na pia.

- Cuide em lavar e secar. – Lauren apontou para as louças. – Acabei de deixar tudo limpo e guardado. – David concordou e começou a lavar o que havia sujado. – Sua mãe estava dizendo que você fará companhia a ela amanhã enquanto eu saio com as suas tias, Veronica e Lucy. – colocou o pano de secar a louça no ombro de David.

- Eu fico sim. – disse animado. – Anne vem e podemos fazer maratona dos filmes Corredores Malucos... – eu coloquei a mão na cara mostrando minha tristeza ao ouvir aquilo, eu simplesmente odiava todos esses filmes, Lauren também, tanto que percebi ela me analisando com os olhos estreitos ao ver minha cara com relação aos filmes que meu filho queria assistir. Eu não entendia o que prendia atenção naquelas produções malfeitas, com efeitos vergonhosos, mas ele e Anne amavam falar sobre os filmes ou ficar revendo, determinadas falas eles sabiam repetir com precisão.

- Como sabe que a Anne vem? – arqueei a sobrancelha. – Ela pode muito bem ir para a casa de uma amiguinha...

- Ela não iria para casa de ninguém sabendo que tia Vero e tia Lucy vão passar por aqui... – secou o prato e depois o garfo, ri com aquele pequeno comentário, prepotente talvez, mas me lembrou Lauren e sua autoconfiança.

- Não gostei dessa confiança toda... – Lauren se aproximou e sussurrou em meu ouvido. - Fiz uma nota mental para observar bem a interação deles.

- Tenho certeza que ela virá pra cá. – disse afobado, como se tivesse completa certeza. – Vou até ligar para ela e dizer que vamos fazer maratona.

- Podemos fazer maratona de outro filme. – sugeriu.

- Mama, Corredores Malucos são filmes clássicos... Além de falarem de assuntos importantes a cada filme! – respondeu sério, pegando o lixo para levar para fora.

- É só uma versão barata e malfeita do filme Os Batutinhas com continuação... – minha mulher resmungou tentando persuadir meu filho a mudar os filmes.

- Nem sei que filme é esse, mas a senhora não entende nada de filme por não gostar de Corredores Malucos... – resmungou antes de sumir do nosso campo de visão com o saco de lixo.

[...]

- Lauren... – chamei o que pareceu ser a quinta vez, mas ela apenas se remexeu na cama. – Lauren, David e eu já tomamos café da manhã e nada de você aparecer, já passa das noves, está se sentindo bem? – minha mulher tentou levantar o corpo, mas desabou sem forças. – Lauren? – a chamei preocupada, aproximando-me da cama.

- Eu acho que fui atropelada durante o sono... – sua voz saiu extremamente rouca e falha, sentei-me na cama, encostei minha mão em sua testa e senti seu corpo um pouco quente. – Eu só quero ficar encolhidinha... – encolheu seu corpo, suas mãos abraçando suas pernas, que encostavam em seus seios. – Acho que preciso dormir mais um pouco e vou melhorar... – sua voz foi ficando fina à medida que falava.

- Por quanto tempo ficou olhando as estrelas? – perguntei preocupada. Olhar as estrelas sentada em uma das espreguiçadeiras, que ficavam perto da piscina, havia virado um novo hábito, quase todos os dias antes de dormir ficava lá admirando o universo e pensando em seu pai.

- Não sei. – respondeu sincera. – Acho que fique até depois das duas... Perdi um pouco a noção do tempo. – apertou mais o braço.

- Você pegou frieza demais, deve ter gripado ou estar gripando... – disse preocupada, levantei e busquei no banheiro o kit de primeiros socorros, pegando o termômetro para aferir a temperatura da minha mulher. – Abra o braço. – pedi, para colocar o termômetro.

- É só um pouco de dor no corpo, eu só preciso dormir um pouco mais e vou acordar novinha em folha.

- Só uma dor no corpo nada... – resmunguei preocupada. - Você está com febre. – afirmei assim que retirei o aparelho de debaixo da sua axila, ele marcava 37º. – E dormir e acordar não vai te fazer melhorar, vou ligar para o médico...

- Não precisa... – interrompeu-me, puxando o lençol para cobrir seu corpo, deixando só a cabeça do lado de fora.

- Nem adianta reclamar... – levantei da cama, pegando em seguida o aparelho de telefone sem fio. – Vou ligar para o médico. – caminhei até o banheiro para deixar o kit de primeiros socorros enquanto discava para o nosso médico.

[...]

David estava em seu quarto jogando vídeo game enquanto eu preparava uma sopa para Lauren, o Dr. Gutemberg havia receitado um xarope para a garganta dela, que estava inflamada, alguns comprimidos para a dor no corpo e vitamina C. Lauren continuava deitada, sentindo o corpo dolorido. Ela pediu uma sopa de carne, parecia bem manhosa e não me importei de fazer o que ela queria. David mesmo em seu quarto a cada intervalo de trinta minutos aparecia para saber como Lauren estava, não ia até meu quarto porque não queria incomodar a mãe.

A sopa estava no fogo quase pronta, esperando o caldo ficar um pouco mais grosso como ela gostava, quando a campainha tocou.

- Meu Deus, Vero, esqueci de você. – disse assim que abri a porta. – Cadê a Lucy e a Anne? - perguntei assim que não vi a presença das outras.

- Anne acordou com dor de dente e não passou de jeito nenhum, então Lucy a levou ao dentista, sabe como é... – deu de ombros. – O bom de ter um colega dentista é que ele pode interceder nesses momentos. Liguei para o Seth e ele disse que não seria problema nenhum atender a essa emergência. – dei passagem para que ela entrasse em casa, Vero beijou minha bochecha e entrou. – Do consultório elas vêm direto para sua casa, mas por que disse que esqueceu de mim?

- Lauren amanheceu resfriada e está de cama. – respondi, caminhando até a cozinha, Vero foi me acompanhando. – Ela acabou ficando tempo demais do lado de fora e acordou com muita dor no corpo. – assim que cheguei a cozinha peguei na colher de pau para mexer a sopa, que estava começando a ficar na consistência que minha mulher gostava. – Não tem como ela sair de casa hoje.

- Quem ruim. – ela se encostou na bancada da cozinha. – O que está fazendo? O cheiro está magnífico.

- Só uma sopa de carne que ela pediu, depois que vou pensar no que fazer para o meu almoço e o de David. – tampei a panela, ainda precisaria ficar mais um tempinho no fogo.

- Posso te ajudar no almoço se quiser, já estou aqui... – deu de ombros. – Só precisa dizer o que pretende fazer e como posso ajudar. – prontificou-se.

– Por que não sobe para conversar um pouco com ela ou vê como ela está, já que subo com a sopa. – olhei para a morena a minha frente e ela sorriu em concordância. – Daqui uns dez minutos eu subo. Depois você me ajuda aqui.

Vero subiu e eu fiquei terminando a sopa, acabei demorando mais que o previsto, mas decidi de última hora fazer um suco de laranja para que ela não tomasse a sopa apenas com água. Esperei que a sopa esfriasse um pouco para ela não tomar muito quente, então coloquei prato com a sopa, um talher, uma tigela com pão fatiado, um copo de água, o copo de suco e o lenço em uma bandeja e me dirigi a meu quarto, subindo as escadas lentamente.

- ... mas como eu me enfrento? – ouvi a voz exasperada da Lauren assim que me aproximei da porta, pensei em me afastar, sabia que ouvir atrás da porta era muito feio, mas algo me fez ficar e esperar por algo ou alguma coisa. – No fim ela conhece minhas falhas e sabe o que dizer para tentar me afundar... – engoli em seco, de quem elas falavam?

- Lauren. – Vero parecia escolher as palavras, não sei, ou apenas pausou por não saber o que dizer. – As palavras são como veneno ou antidoto, cabe a você escolher o que injetar nas veias.

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E aí, como estamos?

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