Cheguei no ultimo degrau, minhas pernas tremiam e ele me esperava, meu corpo congelou quando ficamos frente a frente e minhas pernas não paravam de tremer, de repente meu corpo todo começou a tremer, meu coração acelerou e eu estava sendo conduzida por todo meu ódio, toda a raiva que ele deixou em mim. Eu agarrei o seu pescoço com as mãos tentando enforca-lo, ele não reagiu e eu pareci estar fazendo um bom trabalho, ele estava começando a ter dificuldades para respirar.
- Seu desgraçado! você não pode me manter aqui, não pode, você não pode me magoar mais seu desgraçado! - Eu gritava em plenos pulmões, era como se eu não enxergasse nada, não sentia meu corpo, eu só via Ryan perder o ar e minhas mãos em seu pescoço, meus dentes se serravam entre si e eu engolia seco, a adrenalina corria por minhas veias, meu coração acelerado como talvez eu nunca tenha sentido na vida.
- Lizi...- ele tocou uma de minhas mãos e sua voz era quase um sussurro, e como um estalo aquilo me trouxe para a realidade, o que eu estava fazendo? o que eu estava fazendo ? minhas mãos foram afrouxando do pescoço de Ryan até que eu o soltei, fiquei alguns momentos estática e de olhos arregalados sem saber o que fazer ou como explicar o que eu estava fazendo, como pude me reduzir daquela forma e como pude me deixar levar dessa forma? Ryan colocou a mão no pescoço e procurou recobrar o ar, me afastei lentamente em total indignação comigo mesma. - Você conseguiu- ele respirou fundo.- Conseguiu Lizi, você dominou sua vida, pelo visto não posso te destruir emocionalmente.- minha cabeça girou, deixei de olhar fixamente para minhas mãos e me virei bruscamente para Ryan.
- Então era outra droga de lição?!- eu comecei a caminhar em sua direção, estava furiosa, e ele deu um sorriso com o canto da boca.
- Tudo se trata de te melhorar Lizi.
- Eu vou acabar com você seu desgraçado. - eu avancei em sua direção, ele revirou os olhos e bufou, estiquei minhas mãos para enforca-lo, mas ele agarrou meu pulso direito com uma das mãos e num movimento rápido trouxe meu braço para o meio das minhas costas, aquilo doía muito e me fez ficar dominada, eu gritei de raiva e ele me forçou a caminhar alguns paços para frente e me sentou em uma cadeira de metal.
- Chega Lizi, senta e fica tranquila, não complica. - ele falou tranquilamente como se fosse uma simples conversa, sabia que o prudente seria me manter ali até identificar algo que eu pudesse usar contra ele, meus olhos correram por toda a sala enquanto ele se distanciava centímetros de mim em direção á uma mesa, a sala era muito limpa, limpa até de mais, apenas duas mesas, a cadeira que eu estava sentada, a enorme caixa de vidro na qual eu esta dentro e um gancho no teto pelo qual eu estive suspensa . Antes que eu pudesse maquinar algo ele voltou. - Lizi, você foi muito bem hoje, por isso eu vou te dar um presente, mas é uma surpresa- ele disse isso enquanto colocava novamente uma venda em meus olhos. Qual seria este "presente" do qual ele falava, vindo de Ryan eu poderia esperar muitas coisas, e dificilmente elas eram boas, Ryan amarrou minhas mãos , eu engoli em seco, algo de muito errado estava por vir e eu tinha certeza, depois ouvi ele mexer em algo que parecia vidro ou coisa assim, talvez fosse metal, mas era leve, pelo som que fazia na mesa com certeza era leve, logo depois ele se aproximou de mim, eu sentia sua presença, sua mão tocou o lado oposto do meu pescoço ao que ele estava, a tenção tomou meu corpo e então fui espetada.
Meu corpo doía e eu estava muito zonza, não fazia ideia de onde estava e nem muito menos fazia ideia de quanto tempo estive desacordada, mas eu via flashes de luz, mesmo com tudo rodando eu via luz, então provavelmente já tinha chegado onde Ryan queria, ainda zonza e bastante confusa ergui minha cabeça e comecei a piscar com força para que minha visão se recobrasse, aos poucos as imagens foram se unindo, eu via uma silhueta de uma pessoa sentada em minha frente, via muitas cadeiras e mesas de madeira aparentemente e paredes grandes e brancas, depois pude perceber que a silhueta era de uma mulher e que nos encotrávamos em um escritório. Apertei meus olhos fechados por alguns segundos e os abri, e quando os abri eu torci para que não fosse verdade o que eu estava vendo na minha frente. Lá estava Julia com uma das lentes de seu óculos quebrada, uma fita em sua boca e com os pulsos amarrados, ela estava com o rosto suado e de pijamas, seu olhar era apavorado. Eu certamente não gostava dela, mas não queria aquilo para ela.
-Aqui estamos Lizi, eu iria te dar uma lição, mas você foi tão bem que decidi transformar em um lindo presente, aqui está Julia entregue para você poder elimina-la. - Ryan dizia com convicção em sua voz, como se estivéssemos vendo algum jogo de futebol ou coisa assim. eu podia ver o quanto Julia tremia, eu olhei para baixo e desta vez eu não estava amarrada ou amordaçada, e Ryan estava sentado á duas mesas de mim com os pés sob a mesa como se fosse uma tranquila tarde de domingo.
-Ryan eu não vou fazer isso, eu não vou machucar alguém.
-Mas Lizi, você sempre quis isso, lembra quando me falou sobre ela, toda a magoa e raiva que ela te gerou?- Ele parecia confuso e até um pouco desapontado.
-Ryan eu não vou machucar ela, eu sei o que eu falei, mas são estresses do cotidiano. - eu falava serena e comecei a me lembrar de tudo o que falei sobre Julia.
-Querida eu não entendo, estresse do cotidiano são coisas pequenas, uma caneta fora do lugar, uma cortada durante uma reunião, uma pequena provocação quando o chefe dá uma bronca, mas te expor ao ridículo?
- Eu entendo Ryan, mas...
- Te diminuir perante todos e te denegrir como profissional?
-Ryan eu sei o que esta falando, mas..
- Te menosprezar como pessoa e infringir seu espaço pessoal expondo sua vida e fatos que você considera vergonhosos?
-Ryan...
-Te fazer passar por situações humilhantes sabendo que você é fraca e não reagirá, contando com o fato que como sempre você não fará nada, irá ficar assistindo ela te humilhar, colocar apelidos, te menosprezar, invadir sua privacidade para te colocar em situações vergonhosas, te expor ao seu chefe, te diminuir diante de seus colegas e transmitir uma imagem insegura contando sempre com esse tipo de pessoas que você é - minha cabeça rodava era muita informação e ele não parava de falar - Ela conta com isso, com a garota de coração mole que não consegue agir, que não consegue tomar uma atitude, que não consegue levantar a voz ou se impor e por isso ela abusa de você por que você é um alvo fácil Lizi, você sempre foi alvo fácil Lizi, mostre para ela que você não é mais, tome uma atitude Lizi, seja melhor, prove para todos que ninguém pode te tornar fraca, pequena e invisível se você não quiser e não permitir, vá e mostre a ela Lizi. Essa mulher te causou muitos danos, você sabe disso e ela sabe disso e quer saber? ela ri disso e provavelmente se junta com as amigas pra rir disso, para rir de você e você vai permitir uma coisa dessas ? vai permitir de novo Lizi? que ela ria da sua cara com as crueldades que faz? que ela possa dizer ás amigas o quanto você foi boba e o quanto você é ingenua? o quanto é fácil passar por cima de você?- aquelas palavras estavam mexendo com a minha cabeça, talvez a falta de comida e água também, mas aquelas palavras fizeram com que minha mente maquinasse cada uma das vezes que Julia de alguma forma me depreciou, desde a mais simples até a mais grave e uma enorme onda de raiva me tomou, mas ao mesmo tempo eu ainda me segurava, a sanidade estava em mim, eu não podia fazer algo assim , eu não poderia ferir alguém. -Vamos Lizi!
-Ryan eu não posso!
-Vai deixar que ela ria de você mais uma vez? Não seja fraca, não deixe seu ponto fraco perambulando por ai, finalize-o!
-Ryan não posso- Ryan se levantou e tirou uma especie de controle e de repente uma tela de computador é acionada, um vídeo começa a aparecer, parecia ter sido feito de uma câmera espiã nele estava Julia e uma moça conversando.
"Lizi não apareceu no serviço hoje"- disse a colega de Julia
"Eu percebi, não tinha com quem implicar"- as duas deram risadas.
"Você é cruel sabia? por que não deixa logo ela em paz? chega a ser triste o jeito que ela olha pro resto de nós".
"É isso, a existência dela é triste, eu nem preciso fazer muito, ela mesma é ridícula sozinha"- as duas riram novamente.
"Acha que aconteceu alguma coisa?"
" No minimo está bancando a vadia transando com alguém que acabou de conhecer. Ela é tão desesperada que daqui a pouco vai contratar alguém pra fingir ser o namorado" - as risadas continuaram. " Mas estou empolgada para ela chegar, vai ser muito engraçado perguntar com que bêbado ou drogado ela esteve dormindo, por que só estando nessas condições pra querer aquela maluca desesperada, impressionante como ela é um fracasso total, não dá certo em nada".
"Ju, ela vai surtar se você perguntar isso"
"Surtar? não me faça rir né?! o que aquela lesma pode fazer? me olhar feio até que eu morra?"
"Um dia ela vai se rebelar"
"Ela pode se rebelar! até parece que vai fazer algo, mas se fizer, não sou como ela uma frangota, sou mulher de verdade, não fujo das coisas como ela faz".
"Você tá falando como se ela fosse te chamar pra uma briga"
"Ela não é tão retardada assim né?! se bem que talvez a capacidade mental dela me impressione". - O vídeo parou com um fundo de risos, aquilo com certeza conseguiu me tirar do serio.
-VIU? É ISSO QUE ELA PENSA DE VOCÊ- Ryan gritava. Eu me mantive em silêncio. - Diga o que quer fazer.- o silêncio ainda pairava, eu olhava nos olhos de Julia e suas pupilas tremiam, ela suava muito, a figura dela me trazia sentimentos fortes.- Lizi?
-Desamarre.
-O que?
-Desamarre! e tire essa fita da boca- Olhei para Ryan com o mesmo olhar de horas atras, um olhar possuído por raiva. Ele fez o que pedi. - Então você acha que eu fujo? então vamos ver quem aqui é a "mulher de verdade". - Julia se levantou e endireitou os óculos com as mãos tremulas, eu me posicionei para a luta.
-Lizi deve estar havendo algum engano, eu...
-Cala a boca! AGORA EU QUERO VER "A MULHER DE VERDADE"!- Julia sinalizou com as mãos para que eu tivesse calma ,mas eu simplesmente não enxergava nada na minha frente e acertei um soco em seu estomago e assim que ela se curvou eu peguei seu cabelo castanho e puxei jogando ela em cima de uma das mesas, alguns objetos caíram e ela tentou se levantar.
-Lizi...- ela parecia um pouco sem ar, mas eu não me importava, peguei seus cabelos e a joguei no chão.
-CALA A BOCA! - gritei e cuspi em cima de Julia. Para minha surpresa ela se levantou e me agarrou com fúria pela cintura e me jogou contra um computador, me deu um soco em meu maxilar e eu o devolvi no mesmo minuto, coloque minhas mãos em volta de seu pescoço e comecei a apertar, Julia segurou em minhas mãos tentando para-las, ela se contorceu um pouco e eu só apertava mais, então ela passou os seus dois braços entre os meus e os afastou, Julia tossiu um pouco e eu aproveitei para chuta-la para longe, ela bateu as costas em um arquivo e eu fui em sua direção, hoje seria nosso acerto de contas.