Feridas Profundas (HIATO)

De nanzcampos

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ESTE LIVRO PODE CONTER GATILHOS RELACIONADOS A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. Há algo de podre no reino da Dinamarca... Mai multe

Prólogo
Capítulo 1 - Isadora
Capítulo 2 - Fantasmas
Capítulo 4 - Belo Desastre
Capítulo 5 - Histórias Para Contar
Capítulo 6 - Furacão
Capítulo 7 - Anjo
Capítulo 8 - Adultos!
Capítulo 9 - Feridas Expostas
Capítulo 10 - Sorrisos
Capítulo 11 - Em Guerra
Capítulo 12 - Lunáticos
Capítulo 13 - Isqueiro
Capítulo 14 - Explosão
Capítulo 15 - Amar É Machucar
Capítulo 16 - Implosão
Capítulo 17 - Mágica Inocência
Capítulo 18 - Manhãs Gloriosas
Capítulo 19 - Pacto Com O Diabo
Capítulo 20 - Rota de Fuga
Capítulo 21 - Verdade Verdadeira
Capítulo 22 - Promessas
Capítulo 23 - Doença
Capítulo 24 - Nuvem Negra
Capítulo 25 - No Fim Das Contas
Capítulo 26 - Ilusionado
Capítulo 27 - Inconveniente
Capítulo 28 - Problematica-mente
Capítulo 29 - Telhado de Vidro
Capítulo 30 - Furacão
Capítulo 31 - Estratégia de Batalha
Capítulo 32 - Um Mero Mortal
Capítulo 33 - Mentalmente Frágeis
Capítulo 34 - Geleira

Capítulo 3 - Quem Diria

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De nanzcampos

Fazia muito tempo, pensou Murilo. Muito, muito tempo, desde que ele havia colocado os olhos sobre Isadora. Ela ainda era uma moça da última vez. Ainda dava para ver boa parte da sua ilusão e fé na humanidade em seus olhos. Murilo sabia muito bem disso porque essa foi a primeira coisa que ele viu quando a encarou numa das salas de aula de medicina, na USP.

A segunda coisa que Murilo viu nela foi o sorriso.

Agora, oito anos depois, não havia mais brilho nenhum de fé ou ilusão em qualquer coisa que seja. Não havia mais brilho, na verdade. Nem sorrisos. Isadora estava muito diferente da moça que rondava sua mente, vezenquando, quando não conseguia dormir.

Isadora agora era uma mulher.

— Fiquei bastante abismado quando recebi seu currículo. – ele disse, dois passos à frente dela.

Você recebeu meu currículo?

Ah, aquela elevação na voz toda vez que ela se assustava com uma informação. Murilo teve que conter o sorriso.

— O que é que você esperava, doutora? Sou o chefe da minha equipe. – ele virou o corredor – Também sou o diretor do hospital – deu de ombros – Ninguém pode mesmo ser contratado ou demitido sem que a ordem passe pelas minhas mãos. Nem mesmo você.

Doutora Isadora – ele pensou – até que era bom dizer aquilo. Melhor mesmo era tê-la ali, na sua equipe, subalterna a ele.

Quem diria.

Ela permaneceu muda atrás dele.

— Só fico pensando por que os ventos te trouxeram justo para cá, com todo esse seu currículo.

— Os mesmos ventos que você, possivelmente.

— Ah, disso eu tenho certeza de que não. – ele parou, girando nos calcanhares para encarar a mulher uma cabeça mais baixa que ele.

— Há muitas coisas das quais você tem certeza, Murilo, e a maioria delas você está errado.

Os dois sustentaram o olhar.

O verde dele contra o azul dela. E aquela sensação assustadora ganhou seu peito de novo, aquela sensação horrorosa, aquela sensação que ele odiava.

Aquilo ia ser mais difícil do que ele havia imaginado.

— Isadora – ele disse, aquela sensação do nome na língua dele, fazendo cócegas na sua língua toda vez que pronunciava o som de "z" – achei que não precisaria lembrar a você, mas pelo visto precisamos esclarecer tudo isso. Aqui, sou seu chefe. É a mim que você deve satisfações.

— De procedimentos médicos – ela o interrompeu.

Ele conteve o impulso de rolar os olhos.

— E também deve ser um pouco educada.

— Você também pretende que eu te sirva? – ela fez uma reverência floreada, com a mão direita, inclinando o corpo – Meu rei.

Aquelas duas palavras, em tom irônico, o atravessaram como um tiro e Murilo precisou de quase toda sua força de autocontrole, conseguida nos últimos anos, para não dar um passo para trás. Mais força ainda para não esmurrar a parede. E, céus, ele nem sabia contar quanta força foi preciso para não esmurrar Isadora bem ali no meio do corredor do seu hospital.

— Eu não conheço essa mulher, mas com certeza já gosto dela – a voz zombeteira soou atrás dele.

Certo. Era praticamente tudo o que lhe faltava.

Daniel aparecer bem naquela hora.

Aquele definitivamente não era seu dia.

— Isadora Almeida – ela se apresentou, dando um sorriso – Sou a nova cardiologista.

— Daniel – ele deu um sorriso piscando para ela – Seja bem-vinda a Ponte Loucura.

— Ponte Loucura? – Isadora arqueou a sobrancelha.

— O doutor Vale é o traumatologista da equipe – Murilo cortou aquele diálogo antes que piorasse – Ele trabalha quase sempre na emergência, onde deveria estar nesse momento, inclusive.

— O que se pode fazer? Eu sou um rebelde. – sacudiu os ombros.

Isadora riu.

Murilo não estava olhando para ela, mas podia sentir o som da risada sufocada com uma tossida logo que chegou à boca.

— Estão te procurando pelo hospital. Cirurgia de emergência. Trauma craniano causado por um acidente de moto – Daniel bateu os dois dedos na cabeça enquanto falava – A moto atravessou um sinal vermelho e, plaft, direto na lataria de um caminhão de carga.

— Você tem quantos anos para usar onomatopeias mesmo?

Daniel sorriu.

— O suficiente para saber que são recursos fonéticos muito aptos a serem usados em qualquer idade, Murilo. Você deveria saber disso, afinal, não veio da USP – a melhor de todas as universidades?

Murilo grunhiu, o som preso na garganta. Ele queria ter a capacidade de tirar do sério Daniel o mesmo tanto que Daniel conseguia fazer com ele. Mas o melhor traumatologista que ele conhecia também era a pessoa mais inabalável que ele encontrou pelo caminho.

Se Murilo não fosse tão profissional, já o teria demitido há muito tempo.

Mas se tinha uma coisa que Murilo nunca poderia ser acusado era de não ser profissional.

— Certo. Já que você está atoa, como quase sempre que te encontro nesse hospital, leve a doutora nova a sala da equipe e depois a sala dela.

— Vai ser um prazer – Daniel sorriu.

E Murilo quis muito tirar o sorriso dele do rosto com um soco.

Ao invés disso, apenas girou os calcanhares de novo e se afastou o mais rápido possível dos dois, indo em direção a sala de operação.

— Esse aí vai morrer cedinho de problema de coração – Daniel disse, enfiando as mãos no bolso do jaleco.

— Mais fácil ele matar um.

Daniel fixou o olhar na mulher ao seu lado. Ela era bonita. Não dessas que estampariam uma capa de revista, mas daquelas que tinham uma beleza diferente, provavelmente por conta do mistério que ela parecia carregar no olhar. Era um olhar que não se via com frequência. Daniel sabia disso muito bem porque era um olhar que vez ou outra reconheceu no espelho.

Era um olhar de sofrimento.

— Sabe de uma coisa, doçura – ele disse, ainda a olhando – algo me diz que vou gostar de você.

Doçura?

— Me deixe ser um pouco cafona, por que não? – ele levou a mão ao coração – Qualquer pessoa que enfrente Murilo como você enfrentou merece minha admiração. E pensar que a última cardiologista saiu daqui chorando depois que ele gritou três frases.

— Há coisas mais apavorantes que médicos autoritários, Daniel. – ela disse, desviando o olhar.

— Com certeza, há. Vamos?

Isadora deu de ombros, sem muito mais o que fazer.

— De onde mesmo você veio? – ele perguntou, mantendo o passo para ficar ao lado dela.

— Essa é uma pergunta muito ampla.

— Muitos lugares?

— Muitos – ela deu de ombros – O último foi Campinas.

— Já sei que é solteira.

— O quê? – ela colocou as mãos na cintura.

Ele riu.

— Não consigo evitar.

— É mesmo um piadista, não é, Daniel?

— É o que dizem – foi a vez dele de dar ombros – Mas não acho que seja o que eu sou. Mas voltemos a falar de você, como é que veio parar nesse fim de mundo?

— Ah, essa é uma longa história. Você não está interessado em saber, vai por mim.

— Você ficaria espantada se soubesse quantas longas histórias já ouvi nesses anos trabalhando na emergência, Isadora. Posso te chamar de Isadora, sem a droga do título, não é?

— Por favor.

— Graças a Deus – ele resmungou – É por isso que sei que vou gostar de você – abriu a porta – Aqui é onde eventualmente nos reunimos. Acontece poucas vezes, e ainda bem, porque você não vai mesmo gostar de participar desse hospício.

— Já é a segunda vez que você faz referência a insanidade nesses minutos, devo ficar preocupada?

— Não muito. Se você quis vir para cá isso já quer dizer muito sobre a sua sanidade.

— Quem é que você está atazanando dessa vez, doutor Doçura? – a voz feminina soou de dentro da sala.

— Ah, por um acaso, essa daí é a Maíra – ele apontou para a morena sentada na mesa, bebendo café – Ela é... qual é mesmo sua especialidade?

— Idiota – ela rolou os olhos para ele – Suponho que você seja a nova cardiologista?

Isadora assentiu.

— A gente provavelmente vai trabalhar um bocado juntas. Sou infectologista.

— Meus pêsames sinceros por essa notícia logo no primeiro dia – Daniel levou a mão ao coração – Essa daí é louquinha de pedra.

— Pro inferno, Daniel! – ela grunhiu – Você não tem trabalho a fazer?

— Por um acaso, não. E você?

Maíra embolou o guardanapo de um salgado, possivelmente, e jogou na direção dele. Daniel gargalhou quando viu a distância que o papel embolado caiu de onde estava.

— Minha nossa, com essa sua pontaria é sorte de toda a cidade que você não faça cirurgias!

— Eu te odeio.

— Blasfémia. – ele mexeu a mão – Todo mundo me ama.

— Você é um iludido.

— Sou mesmo. E quero continuar assim, portanto, fique calada. – ele sacudiu os ombros – Onde tá o maridinho?

— Ex-marido – ela falou – Ex.

— Claro. Ex. – ele encolheu os ombros – Então?

— Espero que no inferno. Provavelmente pra onde você vai também, quando morrer.

— Ah, não acredito em inferno. Então não acho que vá para lá.

— Muitas coisas que não acreditamos existem.

— Muitas coisas que acreditamos não existem, isso não quer dizer nada. Enfim. Vamos, doçura, antes que o doutor USP apareça do buraco do inferno para reclamar que ninguém nesse lugar está trabalhando.

— Ah, ele não vai fazer isso tão cedo. A operação que foi enviado deve demorar umas seis horas, no mínimo.

— Seis horas de paz? – ele levantou as mãos para o alto – Talvez eu possa acreditar que o céu exista.

— Não ligue para ele – Maíra olhou para Isadora, que estava claramente perdida naquele diálogo, virando o pescoço cada hora para um – Ele é maluco.

— Sou o mais normal daqui.

— Não sei porque você finge, Dan, ela logo descobrirá a verdade.

— Fale com meus lindos cabelos dourados, doçura. Vamos, Isadora. É hora de você conhecer o buraco negro.

— Boa sorte! – Maíra falou alto

— Buraco negro? – Isadora perguntou, assim que passou pela porta da sala e estava no corredor de novo.

— A última cardiologista era a teoria do caos encarnada na terra. Só de pensar, já me dá vontade de sair correndo. Era impossível o que ela fazia de bagunça com tudo, desde papéis até com pessoas. Não é de se espantar ela ter sido demitida por ter mandado uma paciente sem problemas graves de coração para uma operação, não é mesmo?

Isadora arregalou os olhos.

Aquele era um erro de principiante.

Ela nem podia compreender como um médico formado faria algo daquele tamanho.

— Não a culpo. É meio estressante trabalhar com Murilo gritando toda hora no seu ouvido. Acho que ele desconsidera todo aviso de silêncio que tem nesse hospital.

— Ele desconsidera qualquer ordem que não seja a dele.

— Parece que você o conhece muito bem, Isadora.

Isadora mordeu o lábio inferior, olhando para a parede do corredor para não encarar o médico ao seu lado.

Poucos minutos e ela já havia percebido que Daniel era um desses raros exemplares que nasceram com o dom de captar todos os detalhes de qualquer coisa com alguns minutos de observação. Ela sabia bem dessa capacidade porque convivia com Isis em casa e a garota era bastante parecida na sagacidade.

Ela costumava odiar pessoas assim. Era de se esperar que se antipatizasse com Daniel, então. Mas por alguma razão, o homem tinha uma leveza nos ombros e no jeito com que falava que ela achava que era praticamente impossível não gostar dele.

Além disso, ele parecia muito bom no dom de tirar Murilo do sério.

Qualquer pessoa que dominasse essa arte merecia sempre um prêmio por Isadora.

— Você é de onde? – ela perguntou

— Daqui – ele disse e abriu a porta do que ela esperava ser sua sala.

Pelo menos parecia uma sala.

Ela não sabia muito bem com o tanto de móvel revirado e papel largado na mesa.

— Hm, acho que aqueles são prontuários dos pacientes. Acho. Não dá mesmo para saber. Digamos que Letícia quis deixar tudo ainda pior do que já estava só para irritar Murilo. Mas acho que no fim das contas quem saiu perdendo foi você, que não tinha nada a ver com isso.

— Conte-me uma novidade – ela resmungou, mais para si mesma.

Daniel cerrou os olhos quase verdes para a dona dos olhos mais azuis que conhecera.

Havia alguma coisa ali. Havia muita coisa ali, na verdade. Daniel podia sentir. Mas o que ele queria mesmo era pegar. Ele sabia muito bem quando havia uma boa história para ser contada. E ele adorava histórias.

E mulheres misteriosas.

Loiras, de preferência.

Com aquele tom de azul.

E, ah, claro, que enfrentasse o doutor USP com a naturalidade com que ela enfrentara.

Depois de anos, parecia que finalmente aquele hospital ficaria interessante.

Ele deu um sorriso.

— Morou a vida inteira aqui, Daniel?

— Condenado ao cárcere de nascer numa família perfeita e referência de uma cidade pequena.

Isadora ia perguntar alguma coisa. Ele podia ver pelo jeito com que sua boca abriu e como a língua se mexeu. Mas nessa hora a voz de alguma enfermeira soou no autofalante, com a voz monótona de todos os avisos.

— Doutor Daniel Vale, na enfermaria, por favor. Doutor Daniel Vale. Enfermaria. Por favor.

— É uma longa história, doçura, e o dever me chama. Quem sabe quando tomarmos café eu não te conte?

— Quem sabe – ela disse – Se eu não for engolida antes por esse buraco negro que me espera.

Ele riu, olhando para trás, para a sala bagunçada.

— Boa sorte, soldado – bateu continência – A batalha só pode ser ganha por você. Então, em frente e avante.

Isadora riu.

Ele piscou, jogando a cabeça para o lado e deixando os cabelos loiros encaracolados caírem um pouco sobre o olho. Então, passou por ela e se foi pelo corredor em direção a enfermaria.

Isadora balançou a cabeça e voltou a olhar para sua sala.

Ia ser mais difícil do que ela imaginara. Mas a quem Isadora queria enganar?

Ela adorava um desafio, desde que pudesse ganhar. E esse, ela fez um juramento, ganharia.

Nunca mais perderia nada para Murilo. Nunca mais.

Essa era a única história que ela iria adorar contar.

EU QUERIA DECLARAR QUE VOCÊS ACABARAM DE CONHECER UM DOS MEUS PERSONAGENS MAIS LINDOS, PERFEITO, REI DA PORRAN TODA, também conhecido como Daniel Vale. Esse Vale mesmo, da família do Pedro Vale - YES O DA MENINA VÊ! Pois essa família é riquíssima (e não só de dinheiro, embora isso também entre na história hahaha) para que eu não fale um pouco mais de seus personagens! Então é isso: pra quem achava que ia ter só crossover com a história da menina jess, CABUM, chegamos com essa notícia maravilhosa que vai ter crossover VEDRO TAMBÉM 

todossss comemora****

bom, acho que é isso. Espero que tenha ficado claro o quanto os personagens dessa história são complexos e cheios de nuances! e espero que nesse capítulo tenha dado uma noção do tipo de relacionamento que Isadora já teve com Murilão. Ele é bem fácil de odiar, né? as vezes nem eu me controlo.

mas aqui vai uma dica da escritora desse enredo (no caso, euzinha): nada nessa história é o que parece. NADA. Sabe a sinopse em que tá escrito que a vida da isadora é uma vitrine? POIS ENTÃO, NÃO É FORÇA DE EXPRESSÃO. Segurem nessa ideia e curtem o fluxo porque reviravoltas é o que não vai faltar por aqui!

Beijos cafeinados!
Felixix pra quem lembrar dos comentários!

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