Secrets Segunda Temporada

By sweetcabello21

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Quatro anos após o casamento, Lauren e Camila decidem aumentar a família e dar a David, o primogênito do clã... More

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV
Capítulo XXXV
Capítulo XXXVI
Capítulo XXXVII
Capítulo XXXVIII
Capítulo XXXIX
Capítulo XL
Capítulo XLI
Capítulo XLII
Capítulo XLIII
Capítulo XLIV
Capítulo XLV

Capítulo XI

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By sweetcabello21


Camila POV

O preconceito está tão preso a sociedade, que não percebemos que também o carregamos em nossas vidas, não há alguém que não possua preconceito, em um momento da vida, o deixamos escorregar e impregnar a vida de alguém, ou até nos envenenar. Somos constantemente vítimas e praticantes do pré-conceito, e, carregamo-los como quem leva as sacolas do supermercado, sem perceber, sem fazer força, como um ponto comum do cotidiano.

- Amor, o que está fazendo? – perguntei assim que entrei na cozinha. Havia passado um final de noite agradável na companhia da minha irmã e do meu filho, conversamos sobre o trabalho dela, bem como o meu, sobre o relacionamento dela, sobre como foi a reunião com o diretor, e ela me colocou a par de todas as fofocas. Lauren girou o corpo e sorriu. David apareceu depois e jogou a mochila no chão. – David. – repreendi, ele sorriu e abriu à geladeira a procura de algo. – Pegue sua mochila. – apontei para o chão.

- Oi meus amores. – ela colocou a faca na pia e veio em nossa direção. – Como foi o jantar? – afastou os braços para que não pingasse água em mim e beijou ternamente meus lábios. David continuava vasculhando algo na geladeira. – Rapazinho, pegue essa mochila do chão. – reclamou. David murmurou algo, e pegou uma garrafa de suco de framboesa. – David quantas vezes tenho que te dizer para não ficar dormindo na geladeira? – referiu-se ao tempo que ele passou para pegar o suco. David fechou a porta da geladeira e suspirou. – Eu achei que já tinha entendido isso. – caminhou até próximo dele, seu semblante sério. - Consciência ambiental. – tocou com o indicador em sua cabeça seguidas vezes. – Os recursos ambientais vão se esgotar, é preciso que entenda o real valor do meio ambiente em nossas vidas. – David tentou se defender, mas Lauren negou com a cabeça, prosseguindo o discurso. – Eu não reclamo desse desperdício de energia por pensar que a conta será mais cara, isso é o de menos. – David passava a garrafa de suco de uma mão para a outra, apenas ouvindo a bronca. – Estamos entendidos?

- Sim. – murmurou. – Desculpa.

- Desculpas não são válidas se você voltar a repetir isso, abrir a geladeira e simplesmente ficar... – David levantou a cabeça, Lauren esperava por uma resposta.

- Isso não vai se repetir. – ele disse, depois abriu a tampa e bebeu o suco no gargalo. Lauren e eu reviramos os olhos.

- DAVID. – ralhamos ao mesmo tempo, ele parou de beber o suco rapidamente, com isso começou uma crise de tosse, Lauren se aproximou e começou a bater em suas costas.

- O que eu fiz? – perguntou assim que conseguiu parar de tossi e respirar.

- Bebendo no gargalo. – reclamei, fui até a bancada e peguei um copo. – Se alguém ver essas suas atitudes vai pensar que não te educamos. – peguei o suco da mão dele e coloquei no copo. Lauren voltou para a pia.

- Estamos criando um selvagem. – enfatizou. David pegou o copo e começou a beber, olhei severamente e ele correu para pegar a mochila do chão e colocar na mesa. – Como foi o jantar? – perguntou novamente assim que me aproximei, pois estava curiosa para saber o que ela fazia.

- Foi bom. – David disse. Ambas olhamos para ele. - Vou ficar calado antes que fique de castigo por toda a vida. – levantou os braços em sinal de rendição.

- Sobre seu castigo vamos conversar mais tarde sobre está jogando hoje de manhã.

- Em minha defesa foi a Mama Lauren quem me deu o vídeo game. – falou rapidamente, quase atropelando as palavras.

- Traidor. – Lauren voltou a cortar o pimentão. – Nunca seremos uma dupla forte se você continuar me apunhalando pelas costas. – colocou os pimentões cortados em cubinho em uma vasilha e começou a cortar cebola. David tirou um livro da mochila e puxou o caderno, abrindo-os para fazer as lições de casa. – Sofia como está? – perguntou voltando a tópico da conversa.

- Ela está bem... – encostei-me a pia, apenas observando seus rápidos movimentos com a faca. – Perguntou por que você não foi e mandou lembranças... Disse que está com saudades. – Lauren rolou os olhos, colocou a cebola na vasilha e pegou o tomate.

- Eu a vi semana passada. – resmungou.

- O que está preparando? – questionei curiosa. – E você é hábil com a faca, diga-se de passagem. – acrescentei.

- Não é óbvio? – arqueou a sobrancelha. – Meu jantar... E obrigada pelo elogio, anos de prática... – parou de cortar. – Minhas mãos trabalham habilmente... Sabe, dedos rápidos! – falou mais baixo com um sorriso sacana, mordi meu lábio inferior por reflexo.

- Safada. – disse sem reproduzir som algum, para que David não nos ouvisse. – Amo seus dedos ágeis. – Lauren sorriu largo quando fez leitura labial. Aproximei-me de seu ouvido. – Principalmente quando estão dentro de mim... – sussurrei roucamente. Ela segurou fortemente minha cintura e me puxou para junto de seu corpo rudemente.

- Não provoca... – sugou meu lábio inferior e o mordeu antes de soltá-lo.

- Eu achava que você jantaria fora... – disse próximo aos seus lábios. – Se soubesse teria trazido para você. – selei nossos lábios, Lauren acariciava minha cintura delicadamente.

- Eu decidi de última hora vim e fazer o jantar, mexer nas panelas, cortar verduras, temperar a carne, apenas trabalhar a mente e esquecer o dia cheio do trabalho.

- Foi ruim assim? – perguntei preocupada, analisando todo o rosto de minha mulher, meus dedos em volta de seu pescoço.

- Apareceu uma dor de cabeça, mas nada que não esteja acostumada... – beijei sua bochecha.

- Quer ajuda? – beijei seu pescoço. Lauren murmurou um não de forma dengosa, colando seu corpo mais ao meu. – Que tal mais tarde eu te fazer uma massagem? – arrastei meu nariz por toda extensão do pescoço.

- Uma massagem seria boa ideia... – murmurou. – Quem sabe uns beijinhos. – ronronou.

- Beijinhos? – mordisquei a região do seu pescoço. Ouvi Lauren suspirar, suas mãos subindo por minhas costas.

- Eu preciso ver isso? – a voz de David ecoou no ambiente. Escondi meu rosto na curva do pescoço de minha mulher, ela abraçou meu corpo.

- Não posso namorar sua mãe?

- Não. – a resposta veio categórica.

- Saudades do tempo que você pedia para nós nos beijarmos na sua frente. – ela comentou, tirei a mão do seu pescoço e estapeei sua bunda. Virei meu corpo ao tempo de David fazer uma careta com a lembrança, ele estava sentado na cadeira com o copo virado para nós. – Vou terminar meu jantar... – disse em meu ouvido, depositando um delicado beijo em meus lábios.

Lauren abriu a geladeira e pegou um filé de frango, peguei o prato e os talheres no armário para pôr a mesa. Enquanto arrumava as coisas, Lauren temperava o pedaço de filé, David estava concentrado em seu dever, o livro de matemática aberto. Minha mulher colou o filé no fogo junto com as verduras cortadas. Após alguns minutos o filé ficou pronto da forma que ela gostava de fazer, então ela colocou no prato e depois batata frita, que já estava pronta quando chegamos. David levantou da cadeira assim que Lauren se sentou para jantar, caminhou em sua direção e pegou uma batata frita de seu prato. Lauren deu um tapa no dorso da sua mão rapidamente, fazendo a batata cair de volta ao prato e David recolher o braço em reflexo.

- Ai mãe. – reclamou.

- Estou oficialmente criando um selvagem. – acusei, sentando-me a mesa. - David sente-se antes que perca a paciência.

- Mas eu queria batata frita. – resmungou chutando o ar ainda sem sair do lado de Lauren.

- Peça. – Lauren disse, e pegou algumas batatas no garfo e levou a boca do filho, que abriu a bocarra de bom grado. – Pegar com a mão – pegou mais batata e o serviu novamente. – ou meter a mão no prato dos outros é falta de educação e você sabe disso. – ele concordou enquanto mastigava. – Quer um pedaço de filé? – ele negou com a cabeça.

- Obrigado. – disse após engolir, beijando a bochecha dela em seguida.

- Sente-se agora. – Lauren apontou para a cadeira que ele estava sentado, cortou um pedaço de carne e levou a boca. David voltou ao seu lugar, pegando seu lápis e fazendo alguns cálculos enquanto eu conferia seu texto de história.

- Essa palavra está escrita errada. – mostrei no caderno onde estava o erro, David o pegou e corrigiu rapidamente. – Aproveite e apague essa, a caligrafia está ilegível. – neguei com a cabeça. – Vamos melhorar essa letra. – disse fechando o caderno. – David – elevei um pouco o tom. – Faça os cálculos organizados. – reclamei quando vi como ele respondia. – Apague a primeira questão. – David me olhou assustado pela ordem, abriu a boca para reclamar, mas eu olhei mais séria. – Sem reclamações. – ele olhou para Lauren em busca de ajuda.

- Obedeça a sua mãe. – bebeu um pouco de suco de laranja. David bebeu um gole do seu suco de framboesa e começou a apagar, na cara uma carranca por ter que apagar tudo que já tinha respondido na primeira questão.

Minha mulher e eu ficamos em um papo animado sobre coisas triviais enquanto David fazia seu dever de casa, às vezes nosso menino perguntava uma ou duas coisas para tirar dúvidas.

Mas, assim que terminou a lição ele fechou os livros e os cadernos, esparramando os braços e apoiando a testa na mesa.

- Está tudo bem? – acariciei seus cabelos. Lauren levantou para lavar as louças que havia sujado.

- Posso perguntar uma coisa? – falou baixinho.

- Claro meu amor! – sorri terna. David levantou a cabeça lentamente.

- Mas eu vou ficar de castigo ainda mais se perguntar? – franzi o cenho sem entender seu receio, virei o corpo e olhei para Lauren, ela secava as mãos, depois se dirigiu até nós, assim como eu, ela também sentiu que seria alguma coisa séria.

- Pode perguntar amor. – sentou-se à mesa em frente a ele e segurou sua mão dando conforto.

- Quando vocês se conheceram? – sua voz saiu muito baixa que quase não escutei. Lauren me olhou surpresa com a pergunta.

- Em uma festa. – ele me olhou, esperando mais explicações. - Normani estava dando uma festa e ela morava no mesmo prédio que uma colega da sua mãe, que coincidentemente também estava dando uma festa, Lauren errou o andar e entrou na festa da Mani e nós nos vimos pela primeira vez.

- Então começaram a namorar? – seus olhos estavam presos em mim, mas sua mão mexia freneticamente no lápis. Lauren negou com a cabeça.

- Lauren conversou um pouco com a Normani...

- Eu fui pedir desculpas por invadir sua festa. – Lauren prosseguiu. – Ela estava um pouco bêbada, mas ainda assim foi legal, me ofereceu uma cerveja e disse que se a outra festa estivesse ruim eu seria bem-vinda na dela!

- Mas senhora foi a primeira namorada da Mama Camila? – olhou para Lauren. – E a senhora foi à primeira namorada da Mama Lauren? – questionou-me sério. O olhar perdido em dúvidas. Suspirei sem saber como explicar o emaranhando que significa a vida adulta.

- Na verdade não... Minha primeira namorada foi quando eu tinha doze anos. – pigarreei desconfortável. – E a Lauren bem... Tecnicamente, eu fui sua primeira namorada porque ela nunca tinha ficado com uma garota antes de mim. – David olhou para mim e depois para Lauren.

- Mama Lauren gosta também de meninos? – mordeu a ponta do lápis. - Quem foi seu primeiro namorado? – perguntou a Lauren.

- Eu tinha treze anos, o nome dele era Artur. – respondeu sem jeito. – Mas, por que essas perguntas?

- Eu... Eu... Nada... É... – respondeu atrapalhado. – Eu tenho curiosidade. – baixou a cabeça com medo de levar bronca.

- Sobre o quê? – acariciei seus cabelos.

- Sobre como se conheceram... – pegou uma caneta e começou a brinca com o bocal. - Por que eu nasci na sua barriga e não da Mama Lauren? Por que a senhora namorou o Papa? Por que eu não me lembro da Mama Lauren quando era bebê e nem tem fotos minhas com ela. – Lauren me olhou desesperada. Inspirei forte, sempre soube que esse dia chegaria, mas não imaginava que seria tão cedo.

No fim os seus segredos sempre farão parte da sua vida mesmo que não sejam mais segredos. Eles deixam sequelas.

- Isso não é hora para essas perguntas. – Lauren disse, seus olhos estavam assustados, e sua postura na defensiva. Olhei-a tentando passar calma.

- Como a senhora soube que gostava da Mama Lauren? – continuou as perguntas. – Por que as senhoras gostam de meninas? – Lauren apoiou os cotovelos na mesa e segurou a cabeça com as mãos, frustrada com o rumo da conversa. Passei os braços em volta do ombro do meu filho. – Uma menina pode pedir em namoro um menino? – afastei bruscamente e o olhei assustada.

- Claro que pode... A sociedade prega por uma separação entre meninas e meninos, quando podemos e devemos fazer o que nos deixa felizes e confortáveis. Se uma menina se sentir confortável, ela pode pedir em namoro, noivado e até casamento... – tentava explicar de forma casual. – Por mais que tenhamos avançado ao longo dos anos, vivemos sobre moldes heteronormativos, que colocam a mulher como um ser frágil, submissa e que deve temer ao homem da mesma forma que coloca o homem como um dominador, que não pode chorar e deve dominar uma mulher... Isso é ridículo para não dizer insano. Você pode fazer o que te deixar bem, seja balé, judô ou natação... Mas, por que essas perguntas? – questionei muito interessada em como essas dúvidas surgiram.

- Sabe... Eu... Tem uma garota... Ela... Eu...

- David, respire meu amor. – tentei acalmá-lo.

- Que história é essa de garota? – Lauren fechou a cara, David engoliu em seco.

- Lauren, deixe os ciúmes de lado, assim vai assustar o garoto. – repreendi. – Amor. – chamei-o, buscando seus olhos para lhe passar confiança e segurança. – Está tudo bem... – toquei rapidamente seu nariz, ele franziu o cenho com meu gesto, mas suavizou logo em seguida. – Somos suas mães e você pode nos contar tudo. Estamos aqui para te ouvir, sem julgamentos. – olhei séria para Lauren. - Não é Lauren? – ela bufou, mas concordou.

- Pode nos contar tudo, conversando encontraremos as respostas. – mexeu no cabelo.

- Presta atenção, você ainda é muito novo para entender grande parte das suas perguntas, mas vamos aos poucos responder todas... Nós queremos apenas que qualquer coisa que sentir ou passar nos conte, estamos aqui para te ajudar, te aconselhar. Sobre sua última pergunta, não é errado uma garota pedir um garoto é namoro, alguns estranham porque possuem uma mente machista, que diz que as mulheres devem se relacionar apenas com homens e que elas são submissas a eles como frisei antes... Mas não. As mulheres possuem voz, direito e temos lutados todos os dias, não queremos ser superiores, buscamos apenas uma igualdade de direitos, que ainda não acontece na realidade de muitas mulheres... Então assim como não é feio um homem chorar, expor seus sentimentos, ajudar nos afazeres domésticos, não é errado uma garota tomar a atitude de pedir em namoro, pagar a conta em um encontro... Se você gosta de alguém, apenas tome uma atitude... – acariciei sua bochecha. – Minha avó sempre dizia que o não nós já temos, não custa tentar ou perguntar, você pode se surpreender e ganhar um sim. – olhei para Lauren, que sorriu orgulhosa de minhas palavras e ao mesmo tempo saudosa do quanto àquela pequena frase representava. David me olhou maravilhado com a resposta, concordando veemente com a cabeça. – Sobre como eu soube que gostava de sua mãe, não há uma resposta exata para isso, eu apenas a vi e me encantei pelos olhos, eu apenas quis me afogar nesse mar verde... Eu não sei explicar o que eu senti, apenas estava hipnotizada, pronta para viver no universo do seu olhar, morar em seu sorriso, e me envenenar com seus beijos. – David girou a cabeça e franziu o cenho, sorri, amava quando ele fazia isso, Lauren tinha esse mesmo gesto. – Sobre você nascer em minha barriga, eu escolhi isso. Sua mãe e eu estávamos querendo aumentar a família, e eu achei que seria uma ótima surpresa, você era meu presente. – engoli em seco, relembrar como as coisas fugiram do nosso controle mexia em uma pequena cicatriz, que ganhei do tempo que Lauren e eu estávamos em lados opostos, em uma guerra. Lauren acariciou minha mão, mostrando que estava ali, um pequeno gesto, mas que significava mundos para mim. – Eu decidi ter você!

- Como eu coube em sua barriga se sempre fui grandão.

- Você já foi uma sementinha, que foi crescendo até virar um bebê e depois você começou a chutar minha barriga e reclamar avisando que não queria mais ficar lá dentro, você apenas disse que estava pronto para sair e desbravar o mundo. – David encostou a cabeça na mesa, apoiando-a em sua mão esquerda que servia como travesseiro, ele me olhava intensamente, como se cada palavra fosse processada freneticamente em sua cabeça, sorriu e tocou minha cabeça.

- Daqui a pouco o Batatinha começa a chutar para avisar que está pronto e quer sair e eu irei mostrá-lo tudo que descobri... – acenei em concordância.

- David, que história é essa de garota, que você começou a falar, mas acabou se atrapalhando – David coçou a nuca. – eu não entendi direito. – Lauren perguntou, seus olhos cravados no menino.

- Eu recebi um bilhete hoje. – suas bochechas ganharam uma tonalidade avermelhada.

- Que bilhete? – acariciei seus cabelos, David continuava com a cabeça apoiada no braço, seus olhos estavam um pouco acuado. Ele puxou um bilhete do bolso e me entregou. Sorri maravilhada e contendo uma gargalhada. Em uma letra praticamente desenhada, tinha a mensagem:


"David, eu gosto da cor dos seus olhos... Quer ser meu namorado?

( ) Sim ( ) Não ( ) Preciso pensar mais

P. S.: Deixe o bilhete na minha mesa amanhã

- Olívia"


- Quem é Olívia? – entreguei o bilhete a Lauren, que se levantou rapidamente da mesa.

- Você vai marcar um X no não com caneta vermelha. – resmungou enquanto passava a mão nervosamente pelo cabelo. – Que menina abusada... Meu filho não está no mercado. – começou a andar de um lado para o outro enquanto resmungava, David se encolheu, afundando a cabeça nos braços, em cima da mesa. – Meu filho tem apenas dez anos e já estão se assanhando. – negou com a cabeça. – Preciso falar com os pais dessa garota. – chegou a conclusão, parou abruptamente. – Quem é essa garota? – perguntou afobada.

- LAUREN. – gritei. – Coloque essa bunda branca na cadeira e deixe desses surtos de ciúmes. – ela sentou à contra gosto. – Parece uma louca!

- Agora sou louca? – arqueou a sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios. – Quando a senhora resolve arrancar meu coro está tudo de boa, não é! – David levantou a cabeça e nos olhou sem entender.

- Não mude de assunto. – bufei. Lauren gargalhou e voltou a encarar David. – O foco é nosso filho, ele é novo, eu sei, mas pare de agir como se fosse um erro a menina ter mandado isso. – entreguei o bilhete de volta ao meu filho. – Eles são apenas crianças descobrindo o mundo, eu quando era criança casei com minha amiga imaginária, acho que foi o primeiro indício que seria lésbica. – neguei com a cabeça ao ver que estava desviando do assunto principal. – David...

- Eu não fiz nada. – cortou-me rapidamente. – Eu juro mães... – choramingou. – Eu cheguei do recreio e achei esse bilhete... Eu... Eu...

- Tudo bem meu anjo. – toquei em seus ombros. – Parabéns. – disse debochada pra Lauren. – Assustou o garoto. – resmunguei, Lauren rolou os olhos. – Não vamos brigar, nem com você e nem com ela. – Lauren tentou abrir a boca, mas não permiti. – Calada. – ordenei, ela bufou e cruzou os braços. – Você ainda é novo para namorar, há um mundo de coisas para explorar, você precisa dedicar-se aos estudos, brincar e aproveitar a infância... Nós temos tempo para tudo, e você não precisa se apressar... Mas se você realmente achar que gosta dela, eu adoraria conhecê-la... – Lauren arregalou os olhos. – Quero que entenda que pode nos contar tudo, daqui há alguns anos você conhecerá o mundo dos adultos na visão de um adolescente e essa fase é sempre conturbada, e eu não quero que nos veja como inimigas, estamos com você sempre, só apenas não quero que comece a querer descobrir o mundo e se envolva com coisas erradas.

- Sua mãe está certa, mesmo eu não querendo... Você vai crescer, vai querer provar coisas, descobrir mundos nunca imagináveis e mesmo que eu não goste da ideia de você namorando, quero que saiba que ela sempre será aceita... Se você – pigarreou. – quiser marcar um sim... – torceu a cara em desgosto. – Só queremos que sempre converse conosco.

- Eu não gosto dela. – fez cara de nojo.

- ISSO! – Lauren levantou os braços em comemoração. – Quer dizer... – pigarreou e baixou o braço rapidamente. – Bom saber disso.

- Os olhos dela são bonitos, mas ela não gosta de futebol, não gosta de vídeo game e acha que casa na árvore é uma perca de tempo... Ela é cheia de frescura e o perfume dela me faz espirrar. – resmungou. Baguncei seus cabelos. – Mama, eu posso mexer no computador? – perguntou manhoso, seus olhos brilhando em expectativa.

- Nem pensar.

- Você está de castigo. – Lauren completou.

- Mas eu já fiz meus deveres.

- Bom que pode dormir cedo! – dei a ideia. David jogou a cabeça para trás em desespero.

- Então o que vou fazer? – perguntou zangado.

- Um bom livro cairia bem. – Lauren sugeriu. – Você já leu o que sua tia Sofia te deu? – ele negou a cabeça. – Então...

- Tome um banho e depois tenha uma ótima leitura. – levantei-me da mesa, beijei sua testa. – Vou tomar um banho e tirar essa roupa, estou desejando há horas meu pijama.

- Vou terminar de limpar a cozinha.

- Então... Eu e novo livro. – colocou os cadernos e os livros na mochila de qualquer jeito e a jogou no ombro. - Acho que faremos uma boa equipe essa noite.

[...]

- David está deitado de pijama, de banho tomado e lendo o livro. – Lauren disse assim que entrou no quarto, após meu banho, deitei na cama e comecei a ver algumas plantas no Tablet, para um projeto que realizaríamos. Coloquei o aparelho na cama e retirei os óculos. – Eu estou assustada e feliz ao mesmo tempo.

- Com o quê? – Lauren pulou na cama e tive que pegar rapidamente o Tablet. – Presta atenção, sua descuidada. – dei um tapa em sua cabeça.

- Foi mal... – deitou a cabeça em meu colo. – Tão estranho saber que já tive a idade dele, e também tinha minhas curiosidades, e uma enorme vontade de ser adulta, de estar entre as longas conversas que meus pais tinham com seus amigos, mas ao mesmo tempo morro de medo do que ele pode descobrir no percurso e em como a vida adulta vem lotada de problemas e dores de cabeça... – comecei a acariciar seus cabelos, que se esparramavam por minhas coxas. - Adolescência é um estágio confuso, em que grande parte acha que é adulto ou que o mundo é liberado para fazer tudo...

- Temos apenas que confiar na nossa criação.

- Eu sei... – ajeitou-se para me encarar. – Mas ainda assim tenho medo.

- Eu também, a cada segundo que ele está longe de minhas asas, eu tenho medo que alguém o leve... Não falo no sentindo físico, essa possibilidade também me assunta, mas tenho medo que as pessoas destruam seus sonhos, destruam a vida e o brilho em seu olhar, que carreguem seus sorrisos ou simplesmente apresentem a ele a fácil vida da ilegalidade, a ideia de ter tudo as mãos em apenas um estalar de dedos, as drogas, as festa loucas, as bebidas...

- O contraditório é que bebemos e mesmo assim não queremos imaginar que ela vá beber algum dia... Nós fizemos e provamos coisas que nossos pais surtariam se ao menos sonhassem e tememos todos os dias que ele siga algum desses passos ou prove alguma dessas aventuras...

- Somos livres de pensamento até sermos pais! – concluí. - Depois a caretice se apossa de nosso espírito. – sorri com as lembranças que a conversa me proporcionava. – Mas temos um bom garoto, aposto que ele vai saber escolher uma boa pessoa para namorar.

- Para mim garota nenhuma será boa o suficiente para estar com ele.

- Garota... – repeti. – Engraçado, sempre falamos, garota, menina, mulher... Mas e se ele gostar de garotos? – comecei a pensar.

- Ele é um Jauregui. – resmungou.

- E um Cabello. – completei. – O que o seu sobrenome tem com essa conversa? – arregalei os olhos quando entendi o que ela disse. – Você não disse isso... – neguei sem acredita. – Eu não acredito. – continuava espantada com aquele comentário. – Isso... – parei sem ter palavras para definir meu estado. - Recuso-me a acreditar na ideia oculta que seu comentário emana. – Lauren levantou-se e ficou sentada nos joelhos. – Lauren você é lésbica!

- Eu sei, mas... – tentou defender-se.

- Não acredito... Quer dizer que um Jauregui pode ser lésbica, mas não gay... – disse ainda chocada. - Isso foi tão preconceituoso. – passeis as mãos pelo cabelo sem querer acreditar no que ouvi. – Não fala. – fiz um gesto para que ela se calasse. – Não quero ouvir suas explicações. – levantei da cama e comecei a andar pelo quarto. – Lauren você é lésbica. – aumentei o tom de voz. – Você é a porra de uma lésbica que não quer que seu filho seja gay?

- Camila você não entendeu. – ficou em pé na cama.

- Pois me explica. – coloquei a mão na cintura.

- Eu... Eu falei por reflexo, é claro que eu vou apoiá-lo se...

- Mentira. – cortei seu discurso.

- Eu nunca parei para pensar nisso, mas eu não quis soar da forma que você interpretou. – ela retrucou alarmada.

- Mentira. – repeti. – Eu te conheço e sei quando está mentindo. – acusei. – E você – apontei o dedo em sua cara. – está mentindo... E fique sabendo que meu filho será o que ele quiser... Médico, advogado, professor, dançarino, musicista, dentista, surfista, jogador de futebol... E inclusive gay!

- Camila, acalme-se... – pediu ainda alarmada, ela desceu da cama.

- Não me peça calma, Lauren... – rebati. – Amor... – a chamei ainda com certa dor do que ouvi. - Não me venha com discurso de reflexo ou que foi sua criação, pois vivemos juntas há tempos, você já esteve com outras mulheres e tenho certeza que quando colocou essa aliança – levantei a mão esquerda. – nesse dedo, você não lembrou que grande parte da sociedade repugna o fato que nos relacionamentos, não seja como eles... Apenas, nunca mais repita isso. – clamei. - Eu não me importo com quem meu filho se relacione, contanto que seja alguém que ele ame e que correspondas aos sentimentos do meu bebê...

Lauren escorregou seu corpo até o chão encostando o corpo na cama, apoiou seus braços nos joelhos e escondeu a cara nas mãos, parei assim que a vi fragilizada. Sentei-me ao seu lado e puxei seu corpo para um abraço lateral, ela escondeu a cara na curva do meu pescoço.

- Desculpa. – murmurou com a voz embargada. – Eu... Nunca é fácil expor seus sentimentos, ser julgado constantemente... São inúmeras dúvidas que sugam nossa paz... Eu apenas quero que ele não sofra... Não me importa que seja uma garota ou um garoto, por mim ele nunca se relacionava - ri, Lauren sempre teria ciúmes dele. -, ele não crescia e nem iria embora de casa ou se casaria... Apenas meu bebê, para sempre... Amar é uma droga viciante, mas que afunda as pessoas.

- Não fale assim do amor, nós damos certo... – acariciei seus cabelos. – Do nosso jeito, nós funcionamos muito bem!

- Não interprete mal minha frase, mas até nós tivemos anos no fundo do poço por causa do amor...

- Quem era a pessoa que brigava sempre comigo quando David era mais novo e eu não o deixava ser criança e quebrar as coisas e se machucar? Você disse que ele precisava disso para crescer e saber apanhar e se reerguer das rasteiras que a vida dá... Hoje sou eu que digo, ele precisa quebrar a cara e escolher, mesmo que não queiramos, caminhos errados para no fim, definir o certo... Ele vai sofrer, vai magoar e ser magoado e sempre estaremos de braços abertos para acolhê-lo, mas não seja ingênua ao achar que ele nunca sofrerá, pois isso é inerente às pessoas... A vida é um constante carregar de pesos e fardos, quando nos livramos de um, outros são jogados as nossas costas.

- Eu te amo... – sussurrou em meu ouvido. – Desculpa por minha mente pequena, às vezes a gente escolhe o caminho mais fácil apenas para não sofrer.

- Somos um emaranhado de medos e covardias... – acariciei suas bochechas. – Eu te amo. – beijei seus lábios, um lento dançar, um movimento em sincronia, delicadamente ela passou a língua por meu lábio e eu cedi passagem, ansiosa para que sua língua tocasse a minha e o sentimento de derretimento dominasse meu corpo. Um beijo calmo, em que nossas línguas se acariciavam, separamo-nos assim que o ar nos faltou.

- Sou completamente sua... Um emaranhado de amor e entrega. Meu doce pecado, meu vício inebriante... – selou nossos lábios. – Sou escrava do seu corpo, empregada das suas palavras e dona do seu coração. – Lauren sentou em meu colo e voltou a conectar nossos lábios, seus lábios massacrando o meu, enquanto suas mãos desfilavam sem pudor por meu corpo. – Somos como um bom vinho, quanto mais velhas, melhor é o sexo. – mordiscou o lóbulo da minha orelha.

- Então apenas embriague-se de mim!

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E aí, como estamos?

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