Secrets Segunda Temporada

By sweetcabello21

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Quatro anos após o casamento, Lauren e Camila decidem aumentar a família e dar a David, o primogênito do clã... More

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV
Capítulo XXXV
Capítulo XXXVI
Capítulo XXXVII
Capítulo XXXVIII
Capítulo XXXIX
Capítulo XL
Capítulo XLI
Capítulo XLII
Capítulo XLIII
Capítulo XLIV
Capítulo XLV

Capítulo IV

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By sweetcabello21


Me adicionem no Twitter, eu juro que sou legal: @harmolylas97

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Lauren POV

Quinta-Feira

Há certo ditado que diz que para tudo tem um remédio, menos para a morte, e, a partir desse ditado surge o dizer popular, que fala que o tempo resolve tudo, às vezes leva mais tempo que se imagina, mas ele é capaz de lavar as dores do peito e da alma. Minha mãe sempre me dizia quando eu estava doente, que eu precisava de remédio e repouso, e o tempo curaria minhas dores e levaria consigo toda enfermidade. Para o braço quebrado podemos engessá-lo, para a gripe comprimidos.

Vacinas, injeções, curativos, pomadas, chá, e inúmeras fórmulas, mas o que usar quando seu coração quebra? Qual remédio tomar quando a alma adoece? Que procedimento é o mais recomendado para costurar os nossos pedaços?

Meu filho havia brigado e todas as perguntas e motivos rondavam minha cabeça. Pedi desculpas educadamente ao casal, pois nada me faria ficar naquela reunião sabendo que meu filho poderia estar machucado, chorando, triste, acuado, e com medo. Passei rapidamente por Amanda e pedi que ela cancelasse todos meus compromissos e remarcasse para outro momento. Dirigia desesperadamente pelas ruas controlando meus pensamentos para que não tornasse aquele momento algo pior com um acidente de trânsito.

Eu olhava meu celular várias e várias vezes, tanto que já havia decorado de quanto em quanto passavam cinco minutos. Cogitei ligar para a Camila, mas a ideia foi descartada momentaneamente, primeiro porque ela deveria estar em uma reunião, segundo porque não queria alarmá-la quando eu não sabia o que tinha acontecido, e terceiro, eu também era mãe dele e egoistamente queria resolver isso sozinha, apenas para provar que eu podia lhe dar com situações como essa, mas estava quase entrando em colapso, pois minha mente sempre traiçoeira imaginava o pior. Incontáveis vezes senti vontade de jogar meu celular em alguma parede apenas para descarregar a frustração de não saber os detalhes que havia levado David a se meter em uma briga.

O caminho entre meu escritório e a escolha do meu filho nunca havia sido tão longo, senti como se séculos tivessem passado.

Ser mãe está além de gerar um filho e alimentar, ser mãe é muito mais que um papel social que a mulher desempenha. Ser mãe é ter todas as respostas para as perguntas curiosas, ser mãe é saber quando o choro é manha, ou quando é sono, ou dor, é ler cada minúscula expressão fácil, é ler pensamentos e o olhar. Algumas pessoas supõem que toda mulher nasce para ser mãe, mas ser mãe é muito mais que nascer para ser. É ser médica, psicóloga, enfermeira, professora, palhaça, contadora de história. Ser mãe é encarar os medos e tudo que a sociedade impõe para criar um filho. Ser mãe é uma carga que nem todas são capazes de carregar.

David estava sentado no canto da sala do diretor ao lado de Rachel e três garotos que nunca vi na vida. Quando entrei na sala ele levantou a cabeça, nos encaramos por breves segundos, meus olhos suplicando por respostas e os deles apagados e envergonhados, depois ele baixou a cabeça e voltou a encarar as mãos.

- Bom dia senhora Jauregui. – o diretor me cumprimentou.

- Bom dia. – respondi sem olhá-lo, meus olhos fazendo uma vistoria em meu filho. Suas roupas estavam sujas de terra, seu braço ralado, no canto da boca até o queixo uma linha quase apagada de sangue coagulado, sua boca estava vermelha e inchada. – Por que não o levou a enfermaria? – exigi, voltei meus olhos para o diretor. Então notei que o pai da Rachel estava sentado em uma cadeira me frente ao diretor. Ele parecia tão sem jeito quanto eu em está naquela situação.

- Oi Lauren. – a voz de Peterson Wood saiu cansada, ele coçou a barba, olhou para sua filha e depois suspirou angustiado.

- Oi Peter! - forcei um sorriso.

- Quando o professor – o diretor começou a falar. – separou a briga quis levá-los a enfermaria, mas David disse que não precisava e pediu para vir direto para cá, Rachel prontamente concordou. Os outros foram à enfermaria e depois foram trazidos para cá. – olhei para os três garotos no canto. Todos estavam de braços cruzados e um ar de superioridade no rosto. Um estava com o olho avermelhado e outro com algo no nariz. Imaginei que fosse para estancar o sangue. – Perguntei o ocorrido, mas David disse que não falaria sem a presença de um advogado e que ele sabia de seus direitos. – controlei a vontade de rir. – Rachel não abriu a boca até agora, acredito que tenha feito um voto de silêncio como o amigo. – o diretor rolou os olhos. – Antes de a senhora chegar estava explicando ao senhor Wood, que primeiramente achei que ele estivesse debochando de minha cara e até me surpreendi porque conheço David e ele é um dos nossos melhores alunos...

- Desculpa. – pedi. – Mas não sei se o senhor lembra, eu sou advogada. – ele assentiu. – Então David às vezes gosta de perguntar como é meu trabalho ou me ajudar nele mesmo que mais atrapalhe que ajude, então ele conhece algumas coisas da minha área assim como da área da Camila. Além de que eu sempre repeti para ele que se for pego fazendo algo errado – cocei a nuca sem jeito - ele recorra ao direito silêncio. Pois entre os direitos fundamentais, ele garante a impossibilidade de aquele que está sendo preso ser obrigado a produzir provas contra si próprio. – comecei a divagar. Sacudi a cabeça. – Bom... – pigarreei. – Mas o que aconteceu?

- Como eu estava dizendo. – retomou o discurso. – Como David e Rachel não falaram nada até agora, Richard, o garoto do meio – olhei para ele e percebi que era o mais alto de todos e parecia ser mais velho que David. – disse que estava em seu horário vago e havia decidido caminhar até a biblioteca para pegar alguns livros, quando encontrou os dois amigos, Antony e Raphael, esses estão em problemas maiores, pois estavam como os jovens dizem – fez aspas. – matando aula. – voltou ao foco. - Então os três decidiram ir para o lado onde fica o campo de futebol, onde a turma de David e Rachel estava tendo Educação Física. Eu conversei com cada um individualmente e os discursos batem. – ajeitou o óculo redondo no rosto. – Eles estavam caminhando para as arquibancadas quando toparam com David e Rachel e começaram a conversar amistosamente, brincando entre amigos quando sem querer Raphael fez com que Rachel caísse e a partir disso uma discussão foi gerada e depois de muitos insultos, David socou Richard no nariz e a briga começou, mas logo o professor Johnny chegou e separou eles.

- Eu não acredito que minha filha tenha se metido em uma briga! – Peter resmungou. – Ela é uma princesinha e princesas não brigam. – torceu a mão e virou o rosto com desdém. – Não sem necessidade.

- Pois saiba que essa menina é tudo menos uma princesa. – o garoto de olho machucado se pronunciou. – Além de ter um vocabulário muito baixo, ela soca que nem homem, também criada por dois. – torceu o nariz em repulsa.

- O que você quis dizer? – Peter perguntou visivelmente irritado. O garoto se encolheu.

- Meu amigo não sabe o que diz. – Richard olhou sério para o amigo e depois nos encarou. – Ele apenas está chateado porque realmente não fizemos nada demais e ele levará para casa um olho roxo. – o garoto parecia ser o líder do grupo. – Na verdade não entendo porque estamos aqui, já disse que não começamos a briga, por isso, eu acho que nós três deveríamos ser liberados e as devidas punições aplicadas aos arruaceiros. – comentou prepotentemente.

- Onde estão os pais dos garotos? – indaguei.

- Me pergunto isso desde que cheguei. – Peter falou.

- O senhor e a senhora Mendes estão viajando. – arqueei a sobrancelha por não saber de quem o diretor falava. – Os pais de Richard. – explicou. – Raphael e Antony são irmãos, o pai disse que estava em uma reunião e não poderiam vir, e, a mãe disse que estava na aula de ioga. – ajeitou o nó da gravata desconfortavelmente. – Então o motorista está vindo com a babá pegá-los. – senti certo remorso pelos garotos serem criados pelos empregados e não terem contato com os pais, isso muitas vezes levava a comportamentos violentos, apenas para chamar a atenção. – Mas agora que a senhora Jauregui está presente talvez David e Rachel sintam-se à vontade para contarem a versão deles dos fatos, pois antes de tudo, nossa escola presa pelo diálogo. – todos nós olhamos para o canto da sala onde os garotos se encontravam. David lentamente ergueu a cabeça e eu vi seus olhos marejados, ele lutava para não chorar. Olhou diretamente para mim, um pedido gritante de desculpa estampava seu rosto.

- Bom... – puxou o ar com mais força. – Aconteceu exatamente como eles disseram. – arregalei os olhos assustada sem conseguir imaginar que meu filho havia começado uma briga por lago tão fútil. Uma pequena dúvida desabrochou em meu peito. Será se Camila e eu estávamos desempenhando um bom papel como mães? Minha mente girou tentando buscar nossos erros e falhas durante nossa. Uma, duas, três vezes minha mente vasculhou cada detalhe procurando às vezes que não o repreendemos ou quando deixamos de colocá-lo no castigo.

Cinco palavras foram capazes de me jogar no abismo da dúvida. E naquele segundo que sua confissão foi dita percebi Rachel arregalar os olhos assustadas, reparei em sua fisionomia e ela parecia muito surpresa com as palavras de meu filho. Ele olhou para ela e acenou e ela pareceu ler o que aqueles olhos, que estavam quase cinzas, queriam dizer.

- Eu peço desculpa. – ele prosseguiu. – Acabei agindo de sangue quente e o que era para ser apenas uma conversa acabou virando isso. – disse sério. – Rachel entrou na briga para me ajudar mesmo eu não pedindo – olhou para ela e pude ver a repreensão em seus olhos. Rachel rolou os olhos. – Eu assumo a culpa.

- E nos deve desculpas! – Antony disse com um sorriso debochado. David pareceu querer avançar, mas se refreou rapidamente, sua respiração tornou-se mais pesada, seu rosto se contraindo em uma carranca.

- Aconteceu desta maneira senhorita Wood? – o diretor perguntou.

- Sim. – ela disse visivelmente a contra gosto. O pai dela olhou para mim, nós sabíamos que algo não estava batendo na história. – Antony topou em mim e achei que ele tinha feito de propósito.

- Mas não foi Raphael que topou em você? – perguntei desconfiada. Ela corou profusamente.

- Sim... É... – pigarreou. - Foi o Raphael, apenas troquei... – pigarreou novamente. – Errei os nomes. Mas o que importa que aconteceu desse jeito e eu tenho tanta culpa quanto David.

- Não tem nada. – meu filho retrucou rapidamente. – Eu comecei a briga. Fiz algo errado e sei que devo levar a punição. – olhou para o diretor. – Eu sou responsável por essa confusão.

- Ele admitiu a culpa, então podemos ser liberados? – um dos garotos que eu não sabia se era o Antony ou o Raphael disse.

- Essa história está muito estranha. – olhei para o diretor. – Não quero bancar a mãe defensora e nem que me julguem está defendendo os interesses do meu filho, mas vejo claramente furos nessa história. – olhei para Peter. – E eu conheço Rachel tanto quanto meu filho e seu que eles são incapazes de entrar em uma briga. Logo porque eu criei um homem de verdade e não um moleque, um arruaceiro, que resolve tudo na briga...

- Mama. – David me chamou me interrompendo. – Eu comecei a briga, não falei nada antes porque estava assustado e envergonhado, mas não precisa me defender. – olhou para o chão por longos segundos e depois me encarou. – Eu só quero... – olhou para o diretor. – Senhor White qual é minha punição?

- Devido a circunstância e nenhum deles terem nenhum registro de mau comportamento ou notas baixas deixarei passar apenas com um trabalho de cinco laudas – os garotos resmungaram de forma audível. – e agradeçam por eu não está colocando uma advertência ou detenção. – disse olhando diretamente aos garotos, que se calaram em um piscar. – Como eu dizia, esse trabalho deve falar sobre violência na escola. E espero não ter que ver nenhum de vocês metido em confusões, pois na próxima vez não serei complacente. – olhou para mim e para Peter. – Agradeço a presença de vocês, logo porque não imaginava vê-los nessa situação, mas quero dizer que o diálogo é a chave para tudo. – apertou a mão de Peterson e depois a minha. – Vou liberar os garotos hoje e apenas hoje porque sei que vocês têm muito o que conversar. – Peter e eu acenamos em concordância. O senhor White olhou para os garotos. – Quero o trabalho em dois dias, estão liberados. – os garotos se levantaram. – Vocês não. – disse aos irmãos. – Nós precisamos de uma conversinha sobre matar aula.

- Obrigada por toda a compreensão senhor White. – disse ainda sem jeito por estar ali. - E não se preocupe que David aproveitará o tempo para fazer esse trabalho e pensar em seus atos.

- Excelente!

- Desculpa por toda essa confusão. – Rachel pediu. David estava com as mãos nos bolsos e uma expressão séria.

- Vamos minha pequena. – o pai dela chamou. – Temos uma longa conversa pela frente e acho que seu pai não estará nenhum pouco complacente. – ela encolheu os ombros. – Mas espero ouvir fielmente sua versão. – olhou com desdém para Raphael e Antony, Richard tinha saído da sala. Peter abraçou o corpo da filha de lado. – Vamos pegar suas coisas. Está muito machucada? – perguntou preocupado.

- Estou bem pai. – disse isso e afastou-se rapidamente do pai e foi para próximo de David – Obrigada por me defender. – disse baixinho e beijou à bochecha dele. David corou surpreso.

- Não foi nada. – deu de ombros. – Na próxima vez não precisa se meter, eu cuido deles sozinho...

- Mas nem pense em dizer isso. – repreendi. – Não terá próxima vez rapazinho. – disse irritada. – Pegue suas coisas, te esperarei no carro.

[...]

O caminho de volta para casa foi um completo silencio, tentei de todas as formas e maneira descobrir o que aconteceu, mas ele nada disse. Sentia-me de mãos atadas. David passou a viagem encarando a janela e imerso em seus pensamentos. Eu queria respostas, mas tudo que eu fazia era reclamar, brigar e exigi-las. Eu não sabia como abrir caminho até chegar aos seus pensamentos e isso era frustrante, ver meu filho sofrer calado e não conseguir descobrir que motivos o levaram a briga. Eu conhecia plenamente meu filho e sabia que ele era incapaz de machucar uma flor, aceitar que ele havia brigado e, principalmente, que era o responsável pelo início da briga simplesmente não descia.

- Você não vai fugir de mim. – toquei seu braço assim que estacionei em frente à garagem. – Você precisa me dar respostas. – exigi. David suspirou derrotado.

- Eu comecei a briga. – seus olhos nunca me encaravam.

- David eu sei que está mentindo. – disse séria. – Me diga o que aconteceu!

- Eu estou dizendo. – retirou o cinto. – Será se é tão difícil de acreditar? – me olhou, seus olhos pareciam quebrados e revoltos. – Eu comecei a briga... Eu não sou uma criancinha. – sua voz saiu extremamente irritada. - Comecei empurrando ele...

- David

- EU COMECEI A BRIGA. – gritou, tampou a boca assustado. – Eu vou... Eu... – começou a gaguejar quando percebeu que gritou comigo. – Eu... Hmmm... Eu... - David pegou a mochila e saiu rapidamente do carro. Desliguei o carro e encostei a cabeça no volante me sentindo frustrada, exausta e sem saber o que fazer. Peguei minhas coisas, desliguei o carro.

- Você pensa que vai aonde David? – disse assim que abri a porta, David subia as escadas. Coloquei as chaves no porta-chaves que ficava em uma cômoda no hall, aproveitei e coloquei minha pasta. – Você é meu filho e eu lembro te ter lhe ensinado que deixar os outros falando sozinho é falta de educação. – massageei minhas têmporas. – Desça e vamos conversar. – David voltou a subir as escadas, ignorando-me completamente. - DAVID CABELLO-JAUREGUI. – ralhei. – Desça agora, ou eu...

- Ou o quê? – disse sério, cortando minha fala. – Vai me deixar de castigo, mas eu já estou de castigo por ter começado a briga... – deu de ombros. – Vou apenas para o quarto fazer meu trabalho.

- Eu sou sua mãe, eu exijo a verdade... – falei com a voz mais baixa. – Lembra... – tentei outra abordagem. - Você pode confiar tudo a mim assim como em Camila. – minha voz saiu mais calma. Percebi que brigar não o faria se abrir, pelo contrário, ele se fecharia ainda mais. – Você não é assim meu anjo. – disse olhando diretamente em seus olhos. – Diga a Mama o que aconteceu... Eu preciso que confie em mim...

- A senhora nunca entenderia. – disse com a voz mais baixa. Aproximei-me da escada.

- Meu amor. – chamei-o. – Eu não quero brigar, quero apenas entender o que te levou a isso... – meus olhos estavam marejados, suplicando por uma explicação.

- Não chora Mama. – pediu angustiado.

- Eu preciso entender por que meu bebê brigou... Você está com o lábio inferior inchado, todo ralado... Não foi essa educação que lhe demos... Eu prometo não julgar, mas eu preciso da sua versão.

- Eu já disse minha versão...

- David. – cortei-o. – Eu te conheço com a palma da minha mão e preciso apenas saber a versão verdadeira.

- A senhora não entenderia... – disse receoso.

- Tente, apenas tente meu amor...

- Eu menti. – suspirou pesadamente. – Eu só... Eu só... – olhou para o chão sem consegui me encarar. – Eu sou uma aberração? – falou mais baixo. Arqueei a sobrancelha sem entender aquilo. – Foi assim que o Richard me chamou... – seus olhos estavam presos em seus tênis da Nike, brancos. – Eu faço educação física com a Rachel e dia de quinta ela é no primeiro horário. – fungou. – Nós estávamos correndo porque o professor pediu que corrêssemos duas vezes no campo, então eles apareceram... – David ficou em silêncio. – Eu... Eu... Eu tentei ignorar... A senhora e a Mama Camila sempre disseram que briga não é a solução. Rachel disse que deveríamos quebrar os dentes dele, mas eu disse que era só ignorar e continuar correndo...

- Eu não entendo meu amor... – falei suavemente quando ele não falou mais.

- Richard disse... Ele disse... – fungou. – Quando passamos correndo por eles, ele apontou para mim e me chamou de aberração e a Rachel de mulher-homem... – engoliu em seco. - Eu disse apenas ignore, mas eles não pararam... Tony falou que o mundo está entrando em colapso por existir famílias como a nossa... – sua voz estava ficando embargada. - Morte. – pela primeira vez David me encarou, meu coração quebrou lentamente ao ver a dor emergir de seus olhos. – Ele disse que somos aberrações e que merecemos a morte, eu tentei ignorar. Mama eu tentei... – secou rapidamente as lágrimas com o dorso da mão. – Eu comecei a correr mais rápido, mas Rachel freou, ela queria socá-los... Richard me chamou de galinha, de fujão e disse que esperaria isso de mim, ele disse que sendo filho de duas mulheres só poderia ser marica... – sua voz emergia dor, medo e raiva e eu me sentia incapaz de sugar toda aquele desespero enquanto relatava. - Mama ele chamou a Rachel de machinho, ela estava quase chorando... Eles riam da gente. Aberrações. Mutantes. Lixo da sociedade. Merdas. Ratos de esgotos... Eu tampei meus ouvidos não querendo ouvir... – sacudiu a cabeça seguidas vezes. - Mama Camila sempre disse que as pessoas podem ser cruéis quando querem... Mama, eu descobri que sim, elas podem... Eu sou uma aberração? – neguei rapidamente com a cabeça, as lágrimas caindo incontrolavelmente. – Mas ele disse – engoliu em seco e fez aspas com a mão. – As suas mães mereciam apanhar até virarem gente. Ele me empurrou enquanto falava. – voltou a repetir o que o garoto dizia. - Meu pai disse que pessoas como os pais de vocês merecem morte... – repetia as palavras ditas por um dos garotos. - Uma surra de... De... – o rosto de David ficou extremamente vermelho. – Mama ele pegou... – olhou para o lado para não me encarar. - Ele pegou nas coisas dele... Eu... – David ficou com uma expressão séria. – Pode falar de mim o que quiserem, mas eu nunca deixarei falarem das minhas mães... – sua voz continha amargura e ira. - A senhora pode brigar, Mama Camila também e eu posso até ficar de castigo, mas ninguém fala mal das minhas mães... Não na minha frente e já peço desculpa, mas se ele falar de novo, eu vou quebrar a boca dele. – seus olhos estavam escuros e revoltos.

- Dav... – tentei chamá-lo, mas ele correu e sumiu das minhas vistas. Cai sem chão no primeiro degrau da escada, tentando absorver cada palavra, tentando engolir cada dor, senti-me fraca e desarmada com toda aquela situação. As palavras fugindo covardemente da minha boca. Mexi no cabelo me sentindo inútil e uma péssima mãe. Meu corpo tremendo levemente sobre a intensidade que aquelas palavras me chacoalhavam.

Inspirei o ar profundamente.

Levantei e subi as escadas lentamente, eu senti medo, mas subi cada degrau com uma determinação crescente. Quando abri a porta do quarto do meu filho, David estava sentado abraçando os joelhos com a cara encolhida. Ele olhou assustado quando abri a porta.

Meu filho estava visivelmente quebrado.

Abri os braços timidamente e ele correu e se jogou. Abracei seu corpo com força.

- Mama está aqui! – afirmei. David apertou meu corpo fortemente, seus braços enlaçando minha cintura. Seu corpo tremendo pelo forte choro. – Eu estou aqui, meu amor... – apertei mais seu corpo enquanto ninava-o junto a meus braços. Senti-me inútil por meu filho estar desmoronando em meus braços e eu não saber o que fazer.

O que se faz para restaurar quem se ama? Como cuidar da alma de quem se ama se você não é capaz de consertar ou curar a sua. Eu queria apenas proteger meu filho em uma bolha que o afastasse desse mundo preconceituoso.

- Eu estou aqui meu amor, nada te fará mais mal... – eu queria ser capaz de restaurar sua inocência perdida pelas palavras cruéis. – Abraça a Mama com força. – pedi quase sem voz, minhas forças sendo sugadas pelo choro compulsivo. Beijei inúmeras vezes sua cabeça. – Mama te ama... Eu te amo muito... Você é meu bebê, meu campeão... Nunca. – pedi em desespero. – Nunca, mas nunca ache que você é uma aberração. – ordenei. – Você é a criança mais incrível que eu conheço, é o melhor filho, o melhor amigo, o melhor sobrinho e tenho certeza que será o melhor irmão... – acariciei seus cabelos. – Eu tenho orgulho do filho que tenho, pois você é corajoso, esperto, humilde, forte... – puxei seu rosto delicadamente para que ele pudesse me encarar. – Não é errado ser filho de duas mulheres e nem de dois homens ou como for à família. Errado é julgar, matar, roubar... – sequei suas lágrimas delicadamente. Seus olhos estavam tristes. – Não chore meu pequeno anjo... – beijei sua testa. - Eu estou aqui e não deixarei nada de mal lhe acontecer... – eu sentia correr por minhas veias uma profunda dor por ver meu filho tão frágil, vê-lo quebrado. – Eu quero tirar toda essa tristeza do seu coração, o mundo pode ser cruel muitas vezes, mas eu te amo de uma forma imensurável. Eu poderia dizer uma lista de pessoas que te amam e se orgulham de você... – David concordou timidamente. – Sempre que tiver problemas saiba que estaria pronta para te ouvir, eu sempre jogarei no seu time e nunca desistirei de você...

- Desculpa... – sua voz saiu rouca e baixa. – Desculpa por brigar, mas eu apenas... Ele falou coisas... – as lágrimas começaram a preencher seus olhos.

- Tudo bem. – falei calma. – Não vamos tocar nesse assunto por enquanto. – beijei sua testa.

- Desculpa por ignorar a senhora, desculpa por deixar à senhora falando sozinha, desculpa por gritar, desculpa por chorar...

- Por que pede desculpas por chorar?

- Porque homens não devem chorar e... – olhou para o lado sem jeito. – É feito um homem que chora.

- Não é feito chorar. – acariciei sua bochecha delicadamente. – Homens, mulheres, velhos, novos... Nunca mais se envergonhe de chorar. – pedi. - Chorar é lindo. – David me olhou curioso. – Mostra que você tem sentimentos, você pode chorar de alegria, de tristeza, de saudades, de amor, de emoção... As pessoas que dizem que homem não pode chorar são as mesmas que dizem que uma mulher deve apenas casar com um homem... Dizer que é feio ou que chorar é sinal de fraqueza é um preconceito que ainda hoje se perdura. – David concordou em entendimento. – Somos humanos e não é errado chorar. Não é feio demonstrar entre lágrimas o que aperta o coração, o que sufoca a alma, o que machuca o corpo. Chorar alivia a tristeza e diminui as dores. Nunca mais se envergonhe de chorar. – ele acenou timidamente. - E se alguém lhe disser que é feio chorar, você apenas responda que o choro é a demonstração mais nobre de sentimentos. – toquei seu nariz. David fungou, tentando estabilizar a respiração. - Verdadeiros homens são os que choram e não os que engolem o choro e se escondem em uma máscara de indiferença porque buscam provar para alguém sua masculinidade ou coisa do tipo. – expliquei. - Quem engole muito choro, no fim acaba se afogando por dentro. Então sempre que tiver com vontade de chorar, chore e se orgulhe disso! – beijei suas bochechas. David encostou a cabeça em meus seios e manteve o aperto em minha cintura. Ficamos em silêncio por longos minutos. Eu mexia despreocupadamente em seu cabelo e David brincava com seus dedos em minhas costas. – Deixe-me ver suas feridas. – pedi, após alguns minutos. David se afastou. – Vai ficar muito feio se não cuidarmos logo. – toquei o canto do lábio inferior e David gemeu. – Vamos, tire a roupa. – disse. – Eu vou te dar banho e fazer os devidos curativos.

- Mama. – David falou acanhado. – Eu tenho dez anos. – suas bochechas ficaram mais vermelhas que já estavam por conta do choro. – A senhora não pode me dar banho, não mais... – disse sem jeito. Rolei os olhos.

- Eu sou sua mãe e se você tiver trinta anos e precisar que eu te der banho, eu te darei banho... Agora sem reclamar mocinho. – puxei sua camisa para cima com delicadeza e David levantou os braços para ajudar na passagem.

- Mama, por favor... Eu tomo banho e a senhora espera aqui. – neguei com a cabeça e desabotoei a calça. David tirou os tênis e desceu as calças. Beijei seu nariz e saí lhe empurrando para o seu banheiro.

No banheiro David tirou as meias e a cueca indo direto para o Box. Ele ligou o chuveiro e entrou debaixo da água, mas gemeu quando os cortes entraram em contato com a água. Sorri nostálgica, pois há um bom tempo nem Camila e nem eu o dávamos banho, pois segundo ele, já era homem suficiente para fazer isso, sendo terminantemente proibida uma mulher no ambiente. Desliguei o chuveiro e comecei a passar sabão em suas costas com a esponja enquanto ele ensaboava outras partes.

- O grude em pessoa. – brinquei.

- Eu tomei banho hoje. – disse com um bico enorme na cabeça.

- Sábado iremos corta o cabelo.

- Eu gosto dele desse tamanho. – falou baixo. - Mama. – gemeu quando eu passei a esponja delicadamente pelos arranhões em seu braço direito.

- Quem manda se meter em briga. – resmunguei. – Isso é coisa de ogros!

- Mas eu dei um belo soco no nariz dele. Richard pensará duas vezes antes de falar mal de alguém que eu gosto. – se gabou. - Tio Siope ficará orgulhoso quando eu contar. – dei um tapa em sua cabeça. – Aí Mama!

- Não ache que está livre do castigo. – reclamei. – Não quero você falando dessa briga como se fosse algo bonito a se falar. Está sem computador, sem celular, sem tablet e sem vídeo game por uma semana.

- Mas Mama... – liguei o chuveiro.

- Quer ficar duas?

- Uma semana é um ótimo castigo e muito merecido por ter me envolvido em brigas. – respondeu triste.

- Só isso? – coloquei a mão atrás do ouvido esperando ele continuar.

- Aprendi com isso que briga não resolve as coisas... – murmurou mais baixo. Depois que ele tirou todo o sabão, desliguei para passar shampoo. – Como farei o trabalho sem computador? – perguntou em um fio de esperança.

- Terá o computador apenas para fazer o trabalho e depois ele será confiscado.

- Mas...

- Quer ficar mais tempo sem?

- Eu só ia dizer – fechou os olhos para o shampoo não cair neles. – Que.. Que a senhora tem razão de... De... De tirar o computador depois que eu fizer o trabalho, pois estou... Estou de castigo. – improvisou uma desculpa. Ri com a forma nervosa que ele disse. – Mama... – chamou enquanto lavava o cabelo. Murmurei para que ele prosseguisse. – Obrigado por tudo... – disse sem jeito. – Eu te amo.

- Eu também te amo. – respondi rapidamente. - E nunca esqueça que Camila e eu, nós sempre estaremos aqui. E enfrentaremos todos os dragões, fantasmas e adversidades que forem impostas para proteger você e ter como recompensa o sorriso mais lindo do mundo. – David sorriu. – Mas... – baixei o tem de voz. – Não conte a sua mãe porque eu sempre digo a ela que o sorriso dela é o mais lindo. – pisquei, David gargalhou gostosamente.

E aquela gargalhada que me movia e me dava forças para lutar contra tudo e todos.

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E aí, como estamos?

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