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By prettiestziam

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Aos dezessete eu aprendi a verdade Que aqueles de nós com rostos feios Desprovidos de encantos sociais Des... More

I
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítul0 Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
II
Capítulo Treze
Capitulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Agradecimentos

Capítulo Dezoito

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By prettiestziam



"Zayn Malik!"

"Prefeito Dave."

Dave abraçou Zayn, que retribuiu de forma sincera. Zayn notou que ele estava longe de parecer com a pessoa que era na época da escola. Seu rosto estava tão mais masculino do que o seu próprio e o cabelo era comprido e liso.

Ele usava um paletó fino - afinal, era prefeito -, e aparentava seriedade e competência, mesmo assim Zayn notou que ele tinha algumas tatuagens nos braços, que a sua camisa de mangas compridas não conseguiam esconder.

"Tempos de rebeldia?", Zayn perguntou, apontando para os braços dele, que apenas fez um movimento com a mão.

"Deu muito trabalho ganhar as eleições com essas tatuagens nos braços", disse com graça, fazendo os outros da banda, que também estavam no gabinete da prefeitura, rissem. Eles não falavam muito porque Dave não lhes dava muita atenção. "Pintura legal no seu rosto, Zayn. Lembra os Misfits. Você os adorava né?", Zayn assentiu. "Passado doido."

"Confesso que fiquei surpreso quando soube que você era prefeito", Zayn comentou em tom de deboche, o que fez com que todos no lugar se surpreendessem com sua espontaneidade.

"Muitas coisas mudaram, Zayn", afirmou o prefeito, acariciando uma pequena estátua que estava em cima de seu birô.

"Nada mudou, apenas as pessoas envelheceram", Zayn disse. "Isso aqui parece que parou no tempo."

"Nisso você está certo", Dave respondeu com um sorriso. Olhou para os outros rapazes que se sentavam nas cadeiras e voltou a olhar para Zayn. "E é meio sobre isso que eu queria falar com você."

"Hm..."

"Tenho tido muito trabalho em Jersey. Esta cidade não se move com o relógio pregado no topo da catedral."

"Aquela porcaria ainda funciona?", questionou Louis certa altura.

"Eu mesmo compro as pilhas!", afirmou Dave, fazendo todos rirem.

Após ele falar sobre os inúmeros problemas da cidade, como se aquilo fosse um discurso para um monte de eleitores e um tanto de demagogia sobre o que ele fez, entediando James, dando sono em Drew e deixando Zayn e Louis atentos, Dave parou e pigarreou.

"As verbas municipais não tem sido muito bem divididas em Jersey. Belleville não consegue nem cinco por cento de tudo, parecemos uma vila. Mesmo sendo particular, a escola onde estudávamos está quase parando de funcionar por falta de investimento público e privado."

Zayn quase disse "ainda bem".

"E é por isso que eu queria... bem... pedir a sua ajuda, Zayn."

"Que tipo de ajuda? Não seria financeira, seria?"

"Claro que não", Dave afirmou. "Para conseguirmos erguer aquela escola, precisamos que ela apareça na mídia, que as pessoas queiram que ela cresça, que se mobilizem. E como fazer isso a não ser com uma figura pública como você indo visitá-la na festa dos veteranos e mostrando que subiu na vida!"

Louis quase interveio quando Zayn levantou-se da cadeira onde estava e passou as mãos pelos cabelos.

"Desde quando astros do rock são exemplos para alguém?", questionou a Dave.

"As pessoas não querem saber se um fulano virou médico ou se sicrano virou advogado. Hoje em dia as pessoas querem ser rock star, querem ser famosos, atores, toda essa porcaria. Qual é, Zayn, você pode fazer isso!"

"Não vou fazer isso", disse com muita ênfase.

"Mas Zayn..."

"Mas nada, Dave", encarou-o e olhou para Louis, como quem dissesse "eu sabia que algo assim aconteceria".

"Não há como argumentar sobre?", perguntou mais uma vez, ao que Zayn bufou e Louis levantou.

"Zayn..."

"Louis, meninos, podem me deixar a sós com o prefeito?", perguntou, fazendo-os afirmar. Louis ainda quis ficar, mas como sabia que isso seria pior, apenas foi.

Dave recostou-se sobre a sua poltrona e indicou a cadeira para que Zayn sentasse novamente, mas ele meneou a cabeça e cruzou os braços de modo impassível, tentando parecer não somente bravo, mas indignado.

"Você lembra o que aconteceu comigo naquela escola?", perguntou chateado.

"Sim, Zayn, eu me lembro, mas eu pensei que você tinha superado aquilo."

Ele deu uma risada cômica.

"As pessoas falam de superação como se soubesse alguma merda a respeito."

Ele finalmente sentou-se e Dave ergueu-se, indo a um frigobar e servindo a Zayn um pouco de água. Torceu a boca em um remorso meio bobo e sentou-se novamente, tossindo um bocado só de mania.

"Me desculpe. Eu não pensei que isso ainda fosse um dilema para você", falou, enquanto Zayn bebia a água lentamente. "Sabe, essa festa dos veteranos... a maioria das pessoas do nosso tempo nem vai lá... os únicos dos quais me lembro são o Dean e o Sam, aqueles irmãos estranhos, e a Kiki que tinha espinhas pelo rosto todo. E ah, minha esposa, Laura."

"Você casou com a Laura?", Zayn perguntou um tanto surpreso.

"Yeah! Temos três lindos filhos. Claro, puxaram a mãe."

Zayn sorriu um tanto e negou para si mesmo alguns pensamentos que apareceram em sua mente. Pior do que estar em Jersey eram as lembranças de um tempo em que ele pensava que era feliz. Essas lembranças que ameaçam perturbar o seu presente com um passado que teve nenhum respeito por ele.

Quando ele era jovem, gostava de pensar em como seria quando o tempo tivesse passado e ele estivesse velho. Bem, o tempo havia passado e ele ainda não era um velho, mas já era uma pessoa marcada pela vida, a qual tentava com todas as forças superar certas situações.

"Dave...", falou, chamando a atenção do prefeito, que também estava perdido nas memórias, "... você conhece boa parte das pessoas que moram em Belleville, Monroeville e nos arredores, não é?"

"Sim, a maioria delas. Pessoas do nosso tempo."

Zayn parou um tanto para pensar se realmente queria fazer a pergunta que iria pronunciar. Mexer com esse assunto, ele pensava, iria trazê-lo muitos problemas, mas ele acabou decidindo-se por perguntar assim mesmo.

"Me diga, por onde anda o Troy e o grupo dele?"

"Troy? Troy O'Neil?", perguntou, recebendo um aceno de Zayn. "Senador O‟Neil. Em Washington, claro. Acho que todos nós sabíamos que ele seria político, assim com o resto da família dele. Se você quer saber, ele continua o cretino que era nos tempos de escola. Lembro-me muito bem do que ele fazia com pessoas como nós."

"Eu também me lembro", enfatizou Zayn com desgosto. "E o resto dos meninos?"

"A quem você se refere especificamente?"

"Lucas, Alex, Li...Liam..."

"Ah, sim, claro. Os jogadores. Como esqueci", Dave riu. Zayn não. "Lucas Turner jogou futebol profissional por uns tempos e depois de um divórcio, acabou o bêbado que é hoje. Vive nos bares enchendo a cara e o saco das pessoas. Um perdedor", parou e pensou. "Alex Carter... este veio para algumas visitas em Jersey, mas não mora aqui. O Liam... bem, eu nunca mais vi o Liam. Vocês não...?"

"E o Brian?", Zayn cortou, antes que Dave perguntasse algo sobre Liam e ele.

"Que Brian?"

"Brian Thompson", Zayn disse.

"Brian Thompson... Brian... Thompson... Ah claro, o reverendo Thomspon!"

"Reverendo?"

"Sim! Logo após a escola ele entrou para o seminário. Nem foi para a faculdade, que eu saiba. Estudou filosofia e sociologia dentro do seu retiro espiritual. É o pároco da catedral."

"Reverendo...", Zayn riu em descrença. "Inacreditável."

"Eu nem acho tanto assim...", Dave comentou. "Não foi ele que salvou a sua vida naquele... bem, você sabe. Não fosse ele ter avisado ao professor Williams e ao Smith você... bem, enfim..."

"Eu sei."

Tinha tanta informação na cabeça de Zayn que ele pensou que podia morrer de uma overdose delas. Olhou para Dave, que naquele momento parecia o mesmo de dez anos antes, com seu cabelo curto e dentes de coelho.

Tempo filho de uma cadela, Zayn pensou, dando um forte suspiro. Um tanto longe em seus pensamentos, mas levado por uma verberação inesperadamente presente, ele encarou Dave determinado.

"Tudo bem, Dave", disse, soando cansado. "Se você quer que eu vá para a festa dos veteranos, eu vou", o prefeito quase deu um salto de sua cadeira.

"Muito obrigado, Zaynie, eu sabia que podia contar com você", falou, saindo detrás da mesa e indo abraçar o velho amigo, que o retribuiu.

"Por nada. Não faço nada que você já não tenha feito por mim no passado. Ajudo-lhe por uma boa causa. Considere isso o meu passe para você."

Dave sorriu, entendendo do que Zayn falava. Dizendo estar cansado da viagem e ter um show para fazer no outro dia, Zayn se retirou e os meninos da banda o aguardavam com ansiedade do lado de fora do gabinete.

Eles olhavam para Zayn como se esperassem uma resposta ou alguma coisa.

"Okay", Zayn disse em desdém. "A escola municipal de Belleville terá um visitante ilustre no dia dos veteranos!"

Sorriu, dando tapinhas no ombro de Louis, que se preocupou com isso de imediato, torcendo as mãos em nervosismo e imaginando coisas que somente ele poderia imaginar sobre tudo aquilo.

***

"Pai."

"Que?"

"Paiê."

"O que é Scott?"

"Acorde."

"Sai daqui."

"Pa-ai!"

"Cristo!", Liam sentou-se, olhando para o lado e vendo o filho de pijamas ao seu lado com um rosto pidão. Coçou os olhos e quando olhou para o outro lado, lá estava Justin, com uma cara de sono que parecia a sua.

"Ele me obrigou", disse o filho, apontando para Scott, que apenas deu um sorrisinho.

Justin subiu na cama do pai e deitou a cabeça sobre as pernas dele, que tinha uma cara abatida e de sono mal dormido. Apenas Liam sabia como tinha sido sua primeira noite em Jersey depois de nove anos morando fora da cidade.

Quando ele casou com Cloe, seu pai havia acabado de abrir uma filial das empresas Payne na Califórnia, que também era o local onde Liam estudaria e jogaria futebol profissional, o que lhe conveio como um presente.

Depois do fim do namoro dele com Zayn, a cidade parecia um grande deserto e os rostos conhecidos sempre pareciam lhe olhar como se perguntassem o que havia acontecido com ele e com seu antigo namorado ou o fitavam com pena pela sua mãe ter estourado a cabeça.

E quando ele pensou que seria fácil apenas chegar na cidade e relaxar, teve uma noite de cão. Andou por toda a casa onde estava hospedado - que era sua, como muitas outras em Jersey - e tomou alguns comprimidos, para apenas duas horas antes de ser acordado, dormir.

Ele acariciava o cabelo do filho, que já cochilava em seu colo quando olhou questionador para o outro.

"O que você quer, Scott James?"

"Ih...", fez Scott. "Você nem me afeta hoje me chamando com esse nome duplo ridículo", riu, fazendo Liam rir também e continuou. "Temos muita coisa para fazer, você se esqueceu?"

"Do tipo o que?", perguntou, ouvindo um gemido de Justin quando ele parou de fazer carinho em sua cabeça.

"Do tipo hoje tem um puta show, um puta show dos Frogs para vermos e o senhor estar dormindo!", Scott falou certa parte de forma afetada e Liam continuou a rir.

"Que horas são?"

"Sete e meia."

"Scott, faltam mais de doze horas para o show. Vá dormir, rapaz!"

"Não vou conseguir, paiê", choramingou, puxando a parte de cima de sua camisola infantil. "Eu estou ansioso, eu quero ver os Frogs!"

O garoto olhou para o pai, que ajeitou Justin ao seu lado na cama, que já dormia pesadamente e o cobriu. Liam deu um riso cansado e puxou parte do edredom que cobria a cama, dando tapinhas no colchão.

"Deita aqui comigo e com seu irmão. Eu coloquei para despertar daqui umas horinhas. Precisamos de descanso se quisermos agitar num show de rock."

Scott hesitou por um momento a proposta, querendo debater com o pai sobre o fato de que eles deviam mesmo irem se arrumando, mas logo subiu na cama e o pai o cobriu da mesma maneira que fez primeiro com o outro filho.

"Agitar num show de rock." Scott imitou o pai. "Você é tão velho!"

A risada nasal de Liam foi ouvida quando ele estava com os olhos fechados, fingindo começar a dormir. Depois de alguns minutos, Scott abriu um de seus olhos e percebeu que o pai já havia pegado no sono, seu rosto em uma calma que poderia tranqüilizar qualquer um.

Ele tirou o cabelo da testa dele num carinho leve e deu um beijo nela, mostrando anonimamente ao pai que o amava, mesmo que não dissesse nem demonstrasse. Aproximou-se bem mais do pai e fungou em sua camisa, ao que sentiu o braço dele o acomodar.

"Boa noite...dia, pai", sussurrou, dando um bocejo e acabando por dormir também.

***

Após ouvir algumas batidas em sua porta no quarto do hotel, Zayn, que estava no banho, pediu para a pessoa entrar. Quem quer que fosse só podia ser algum conhecido, já que o hotel assegurou que nenhum fã conseguiria furar o bloqueio da segurança e que ninguém, além das pessoas da banda e sua mãe teriam acesso ao seu hall.

Quando ele saiu enrolado na toalha do banheiro, viu Louis um tanto nervoso o aguardando em pé em frente à sua cama. Ergueu as sobrancelhas, caçoador da maneira que estava o amigo e procurou na mala uma roupa íntima para vestir.

"Quanto custa?"

"Como?"

"Quanto custa a noite com você, querido?", zombou, e Louis deu uma risada. Zayn já vestia calças quando o encarou de frente. "Finalmente rindo. Não vejo sua risada imbecil desde que saímos da sala do prefeito da fantasmagórica Gothan city", brincou, e Louis ficou sério novamente.

"Sobre isso mesmo que vim falar", soou preocupado. "Zayn, viemos para um show, para fazer a apresentação e voltar para casa, lembra? Que idéia foi essa de aceitar ir à escola?"

O outro ergueu as sobrancelhas - a cicatriz da testa ficando bem mais visível com o leve franzir dela e ele deu um meio sorriso sadista, pois sabia o motivo de Louis estar daquele jeito.

"Você não quer relembrar os mágicos momentos escolares?"

"Você sabe que não, Zayn", foi grosseiro, o que surpreendeu o amigo. "E nem você quer, então o que pretende com isso? Quer me torturar porque eu pedi para você vir para Jersey, é isso? É uma vingança?"

"Por Deus, Louis, isso não é uma vingança!", respondeu, parecendo irônico. "O Dave me fez um pedido e ele era meu amigo, o que me custava dizer que sim? E outra, eu não vim aqui para provar a minha superação? Nada melhor que voltar aquela escola!"

"Você sabe, Zayn...", Louis parou e Zayn notou que ele já estava pairando chorar. "Você sabe que eu não posso pisar mais lá."

"Não pedi que você fosse!"

"Mas eu tenho que ir, porra!", pousando as mãos no rosto após tossir as palavras, ele grunhiu algo apenas para si e ergueu a vista. "Você sabe que eu tenho."

"Se você tem que ir isso é com você, não cabe a mim."

"O meu problema é..."

"O seu problema, Louis, é este seu celibato clerical auto imposto desde que você-sabe-o-que aconteceu. Eu estou cansado de suas palavras tão animadoras para mim. Soa pervertido. Seu problema está aqui, em Jersey, nos muros daquela escola, assim como o meu. A diferença é que você tem uma solução para ele e não quer fazer porra nenhuma a respeito, além de querer virar um mártir com essa sua cara de sonso!"

Louis parecia ter levado um tapa quando ouviu as afirmativas de Zayn.

"Como ousa me julgar?", falou em tom magoado. "Como ousa zombar de mim, Zayn? Logo você, que é um poço de angústia? Não se esqueça de que você não teria vindo encarar seus problemas se eu e sua mãe não tivéssemos insistido nisso", parou e sacudiu a cabeça. "O que você não precisa é ser um porco egoísta me tratando assim. Eu já tenho o meu peso na consciência, não preciso de você para medi-lo."

Quando Zayn ia responder algo, Trisha entrou no quarto e Louis saiu em disparada, fazendo-a ficar confusa, principalmente quando o filho sentou-se na cama e parecia ter acabado de lutar num ringue com alguém. Decidiu não se meter, saindo calada assim como entrou, deixando Zayn com suas mágoas e dúvidas.

Ele remoeu isso por alguns minutos, sabendo que havia ido longe demais com Louis, mesmo que tudo o que ele disse fosse verdade. Mas no final de contas, nem sempre a verdade é o que precisa ser dito, principalmente quando ela faz parte de um conjunto de fatores que levam uma pessoa ao abismo.

Zayn meneou a cabeça várias vezes antes de vestir uma camisa e sair de seu quarto, indo até o quarto de Louis, fazendo uma prece interna para que ele estivesse nele, e que eles pudessem conversar. Por sorte, ele estava.

"O que quer?"

"Lou, posso falar com você?", pediu quase com delicadeza. Louis deu espaço na porta e Zayn entrou, esperando que ele fechasse-a.

Havia muito a se dizer, muito a se pedir. Ambos sabiam que sabiam de tudo o que havia acontecido em suas vidas e isso era difícil. Na verdade, era bem mais do que difícil; para eles, saber disso era praticamente um fardo.

E evidente como era ruim, pior era quando um deles usava de suas feridas para se agredirem mutuamente. Melhor seria se eles decidissem sair nos tapas ou nos xingamentos banais que a maioria das pessoas acham que são algo que ofende e diminui alguém.

Se as pessoa soubessem... se elas soubessem que palavras e gestos não são nada quando não são as palavras e os gestos. Se soubessem que a expressão "pisar no calo" não é apenas um clichê banal, que é a mais pura realidade.

E neste contexto, Zayn ficou de frente ao amigo o qual acabara de "pisar no calo" e pensava em algo que pudesse dizer que diminuísse a gravidade do que fez, mesmo que ele achasse, particularmente, que ele foi um grande idiota por ter feito aquilo e que não tinha perdão, principalmente se tratando do que havia acontecido.

"Eu fiz de propósito sim", falou, colocando as mãos no bolso. "Eu sabia que aceitando a proposta do Dave... que você reagiria assim e que... que provavelmente ficaria puto comigo, mas eu não pude evitar. Me desculpe."

Louis piscou algumas vezes os seus olhos vermelhos e torceu a boca, talvez num ato inconsciente que dizia que ele pensava sobre o assunto.

"Você não precisava me dizer isso, porque eu já sabia."

"Eu sei que sabia", Zayn disse com certeza. "Mas eu quero que saiba que eu me sinto mal por isso. Que na hora soou certo, mas agora me sinto um puta de um idiota."

"E é."

"Tudo bem", falou Zayn. "Eu aceito isso. Aceito a sua mágoa comigo e que não me desculpe. Mas eu precisava falar algo para você."

"Zayn..."

"Louis, você tem que ir lá sim. Eu sabia que se eu dissesse que ia que você iria também, porque você me apóia e porque é um amigo inestimável. Mas eu quero que o motivo pelo qual você vá é ele."

"Não fale disso comigo, por nossa amizade, Zaynie."

"Por favor, Louis. Eu sei que eu não sou ninguém para te dar conselhos, afinal, quem sou eu, o capitão cicatriz e a sua mágoa filosofal?", parou e riu dolorido de sua própria piada. "Tente consertar o que aconteceu com você e ele."

O outro negou, bufando como um animal na defensiva.

"Não há conserto, este é o problema! Não tenho como consertar! Eu... Zayn... você sabe que não posso!"

"Mas deve, não é mesmo?", disse em tom de pergunta, mas sabia que era a resposta. Zayn sabia que estava provocando Louis na sua pior dor, mas sabia que era para o bem dele, mesmo que ele não visse isso de cara. Mesmo que o próprio Zayn soubesse que, em seu lugar, ele provavelmente estaria fazendo o mesmo que o amigo.

"Talvez não seja o certo a fazer, Zayn", Louis disse. "Talvez eu deva deixar como está..."

"Nem sempre fazer o certo é o certo a fazer", declarou Zayn, aproximando do amigo. "Pense nisso. Eu não vou te forçar a ir comigo, se não quiser ir, não vá. Eu chamo a minha mãe, o James ou o Drew. Isso é sobre superação, mas cada um tem o seu tempo", fez uma pausa e acarinhou o rosto de Louis. "Talvez o seu ainda não chegou. Mas se esta é a sua vez, Louis, você não deveria deixá-la passar."

Zayn deu um fraco sorriso e Louis o abraçou, agradecido. A parte boa de se ferir alguém, ele pensou, era a parte de que você quase sempre pode tentar curá-la. Mesmo que doa a cicatrização.

***

Ele caminhou atento ao movimento dos carros e das pessoas naquela rua fria e mal frequentada de Jersey. Suspirou, irritado, quando as prostitutas das esquinas chamaram sua atenção, insinuando-se evidentemente, o que ele recusou com nojo.

O papel que tinha em mãos o levou para o bar que estava bem em sua frente: L'amour dizia o letreiro apagado nas letras A e R. entrou, tomando todo o cuidado para não encostar em nada.

O lugar tinha poucas pessoas, não muito animadas e mal vestidas, os olhos de todas elas o encarando ameaçadores.

Mas Alex não os temia, muito menos se sentia recuado. Não tinha uma razão aparente para isso. Talvez fosse pelo seu profundo senso de superioridade perante os outros ou pela sensação que ele tinha de ser mais forte do que qualquer outra pessoa que lhe quisesse fazer algum mal.

E foi assim que ele se aproximou do balcão de bebidas: pedante, quase desafiador, olhando diretamente para o rapaz debruçado sobre a madeira fria e suja, que segurava em sua mão fraca um copo vazio.

"Sirva algo para mim e para o meu amigo aqui", Alex disse ao homem detrás do balcão.

O rapaz, que já ia se erguer para agradecer o estranho que lhe oferecia álcool, quase saltou de onde estava quando viu de quem se tratava.

"Alex?! O que você está fazendo aqui?", quis se levantar, mas Carter segurou-o pelo ombro e o forçou a ficar sentado. Quase que prevendo uma atitude escandalosa do rapaz, ele aproximou um tanto dele para poder sussurrar:

"Não se atreva a fazer a porra de um escândalo, Lucas."

Lucas meio que assentiu, meio que negou. Viu o atendente lhe servir whisky e bebeu todo o conteúdo do copo de uma vez, engasgando-se.

"Fica frio, Turner", falou o atendente. "Não vou te carregar até a sua casa novamente."

"Deixe comigo", Alex disse. "Eu o levo."

"Nã--"

Antes que Lucas pudesse falar, foi arrastado por Alex para fora do bar. Completamente bêbado e cambaleante, ele mal pôde reagir.

"Me largue, Alex...", sussurrou. "Eu te disse no telefone..."

"Você disse muita coisa pelo telefone", respondeu Alex com ironia.

"Eu disse pra me largar!", Lucas gritou, soltando-se do enlace de Alex. "Você acha que está fazendo o quê? Acha que pode fazer isso, vir aqui e me arrastar como um capacho seu? Pensa que ainda me assusta? Está enganado, seu arrogante de merda! Eu cresci, todos cresceram e você é um idiota por pensar que ainda pode comandar algo em minha vida!"

Carter o olhou surpreso pelas palavras de Turner. Ele estava certo. Não era como no passado, onde ele podia, com apenas algumas palavras, fazer as pessoas à sua volta o obedecerem. Eles haviam crescido.

Haviam crescido, amadurecido e sofrido as consequências da vida. Isso não tornava as coisas muito fáceis, principalmente para pessoas com o passado sujo por segredos e lágrimas.

"Isso aqui não é mais a maldita escola, Alex!", Lucas cuspiu, dando uma risada. "Isso é a vida real e eu sou muito diferente do que era antes. Quer me forçar pelo medo? Tente! Pela força física? Não vou resistir! Mas não vou mais ser seu bonequinho!"

"É sobre Zayn Malik!", o outro gritou, quase desesperado. Lucas o olhou como quem não acreditasse muito bem em seus ouvidos.

"O que diabos eu tenho a ver com Zayn Malik?", abriu os braços, como quem questiona.

"Tudo! Eu e você fizemos coisas com ele no passado e..."

"Sim, muitas coisas", rebateu. "Nada que eu me orgulhe, por sinal. Nada que eu recorde com nostalgia, seu idiota. Eu estou pouco me lixando sobre qualquer coisa relacionada a Zayn Malik", Lucas balançou a cabeça negativamente várias vezes. "Eu sinceramente nunca entendi essa sua fixação pelo Malik. O que diabos você tem contra esse cara? Você queria comer ele? Ou queria o Liam?"

"Cala a boca!", Alex gritou exaltado. "Você não sabe de nada!"

"Sei que você é um grande babaca."

"Ele está em Jersey. Você não se preocupa dele contar a todos o que nós fizemos?"

"Contar o quê? Que eu, você, o Brian e o Troy tentamos matá-lo? Ele não faria mais do que o certo", parou e tossiu. "Eu nunca devia ter feito aquilo e escondido por toda a vida. Nunca. Ainda tenho pesadelos com os gritos daquele garoto", suspirou e começou a andar, meio vacilante. "Estou cansado... muito cansado. Não tenho nada a perder, não tenho uma vida..."

Ele parou, virando para notar Alex de cabeça baixa.

"...nem você, pelo que estou vendo. Ainda vive do passado. Tenho pena de você, Alex Carter", Virou-se novamente, voltando a andar, num caminho que aparentemente ele sabia aonde ia dar. "Não conte comigo para as suas insanidades. É só o que tenho para dizer."

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