Reféns do Medo

By AurlioSimes

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Sinopse: O famoso e rico estilista Emílio de Sant esconde um segredo obscuro: ele é adepto de snuff movies, f... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23

Capítulo 5

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By AurlioSimes

Rio de Janeiro, 2014

NA loja, O expediente iniciava às 9h. Porém, Brenda, metódica incorrigível, chegava todos os dias uma hora antes de abrir com o intuito de averiguar tudo na loja, que deveria estar em completo controle. Quando percebia algum problema, na maioria das vezes, tinha tempo para resolver o que fosse antes mesmo de abrir as portas ao público. Todo esse cuidado era para garantir o atendimento mais primoroso ao cliente.

Naquele dia, faltando vinte minutos para abrir a loja, percebeu que estava tudo em ordem. As funcionárias começaram a chegar, e Monique, a gerente, também. Todas rapidamente vestiram seus uniformes no provador e aguardaram o horário da loja abrir. Cinco minutos antes das 9h, Monique percebeu a ausência de Renata, a funcionária que frequentemente estava se atrasando. Sabia que mais uma vez ela se atrasaria. Aproximou-se de Brenda para comentar sobre o problema:

- Hoje eu vou ter uma conversa séria com a Renata - disse Monique.

- Não, Monique. Pode deixar que eu mesma falo. Eu vou para o escritório. Assim que ela chegar, pede para ela me encontrar lá.

Monique assentiu com a cabeça.

Renata só deu as caras na loja por volta de 9h30. Chegou como sempre apressadamente, pedindo desculpas à gerente. Esta deu o recado de Brenda. Renata gelou. Quase que a voz não saiu para responder:

- Tá. Vou lá.

Dirigiu-se até o escritório com os pensamentos mais negativos possíveis. Os olhos queriam lacrimejar, no entanto, controlou-se. Meu Deus, não posso ser mandada embora agora. Não agora.

Brenda cuidava da contabilidade da loja no computador, sentada à mesa do escritório, quando ouviu as batidas na porta. Deduziu ser Renata.

- Pode entrar, Renata.

A funcionária entrou branca como se tivesse visto um fantasma. Brenda fez sinal para que ela se sentasse. E, desconfortavelmente, sentou-se. Brenda ajeitou a cadeira mais para frente e, olhando firme para a funcionária, começou:

- Renata, há um bom tempo venho percebendo que você não está bem. Anda chegando atrasada, não se concentra direito no trabalho, faltou algumas vezes nesse mês.

Ai, meu Deus, vou ser demitida mesmo.

Brenda continuou:

- É claro que deduzi que você devia estar passando por um problema. Porém, você nem me procurou para dizer o que era. Lembra que assim que te contratei, eu disse a você para contar comigo quando estivesse com algum problema? Mas você não fez isso. Fui obrigada a investigar a sua vida. Quis saber o que tanto te incomodava. Confesso que eu errei em ter feito isso. Sei que nenhum chefe tem o direito de investigar a vida de seus funcionários. Mas juro que só queria ajudar. Eu acabei descobrindo algo que não devia.

Renata não entendia mais nada. Pensava que seria demitida, entretanto, o rumo da conversa tomava uma direção que ela jamais esperava. Se antes estava preocupada com o emprego, agora a preocupação era outra. Estava quase deduzindo o que a chefe pretendia dizer, no entanto, torcia para que estivesse errada. Não queria ouvir o que tinha medo de ouvir.

Foi então que Brenda, falando em um tom mais baixo, indagou:

- Renata, por que não me contou que recentemente descobriu que seu filho é soropositivo?

Renata ficou mais branca ainda. Estava estupefata. Infelizmente, Brenda usara a palavra que ela jamais desejava ouvir; o assunto que nunca quis comentar; o segredo que não queria compartilhar. Porém, agora, não tinha escolhas. Precisava responder. No mesmo tom baixo, falou:

- Eu... Não queria que ninguém soubesse disso. Eu... - lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Renata.

Brenda solidariamente pegou nas mãos de Renata e disse:

- Pode se abrir, Renata. Não se preocupe. Só eu sei disso. Não contei pra ninguém. O que conversarmos aqui, ficará aqui. Prometo.

- Eu... Descobri tem um mês e meio. Meu filho ele... Pegou de uma namoradinha. E, é claro, que depois daí, tudo desabou.

- Entendo. Nossa, como entendo. É claro que quando descobri, na mesma hora, pensei no Lucas. E posso confessar? Você é uma mulher muito forte. Nem sei como eu lidaria com isso. Com certeza desabaria como você disse. Mas o meu intuito ao te chamar aqui é outro. Depois disso, eu não posso fingir que nada está acontecendo e exigir de você que seja a mesma profissional de sempre. Não posso. Nesse momento, você não está em condições de trabalhar. Como é recente o problema do seu filho, você precisar estar com ele em todos os momentos. Por isso, eu tomei uma decisão. Eu antecipei suas férias. A partir de amanhã, você não precisa vir trabalhar. Acredito que com esse tempo, as coisas acalmem um pouco. E você também se acalme.

Renata estava emocionada. Jamais esperava ouvir isso de sua chefe. Com a voz sufocada pelo choro, agradeceu:

- Nossa, obrigada. Nem sei o que dizer. Realmente eu precisava desse tempo para ficar com ele. Obrigada mesmo.

- De nada, Renata. Agora se acalme um pouco, enxuga essas lágrimas e depois volte para a loja. Se as meninas perguntarem alguma coisa, e elas vão perguntar, diga que eu antecipei suas férias por um pedido particular seu. Eu farei o mesmo quando a Monique e as meninas perguntarem. Direi que foi um pedido seu particular.

- Tudo bem. Obrigada de novo.

- Se pedir mais uma vez obrigada, vou descontar sua comissão desse mês - falou brincando.

Bateram na porta do escritório.

- Pode entrar - autorizou Brenda.

Monique entrou e disse:

- Desculpa interromper, Brenda. Mas é que o bicho tá pegando lá na frente.

- Por quê? - indagou Brenda.

- Uma cliente tá arrumando maior barraco e disse que só sai se falar com a dona da loja.

- Geralmente, eles pedem para falar com o gerente, né? - comentou Brenda.

- Pois é. Mas uma das funcionárias tem a língua grande e acabou soltando que a dona da loja, que é você, estava. Fazer o quê?

- Por acaso é aquela gordona do chapéu? - quis saber Renata.

- Ela mesma - respondeu Monique.

- Ah, então é uma velha conhecida de vocês - percebeu Brenda.

- Ih, essa mulher é fogo. Vai se preparando porque ela é osso duro de roer - comentou Renata.

- É mesmo - reforçou Monique.

- Ah, é? Então já vi que vou me aborrecer hoje - disse Brenda se levantando. - Bom, meninas, vamos lá encarar a fera.

Assim que saiu do escritório, logo identificou a cliente problemática. Era exatamente a descrição que fizeram dela: uma mulher obesa, com um enorme chapéu na cabeça. Estava encostada ao balcão da loja, visivelmente impaciente, batendo freneticamente um dos pés no chão. Brenda se aproximou e a cumprimentou:

- Oi, bom dia, senhora.

A cliente rebateu:

- Bom dia nada. É você que é a dona dessa espelunca?

Brenda fingiu que não ouviu a afronta. Respondeu com cordialidade:

- Eu sou a dona dessa loja, sim. Em que posso ajudá-la?

- Não acredito que vou ter que explicar tudo de novo. As incompetentes das suas funcionárias não lhe passaram?

- Sim, passaram. Por isso estou perguntando. Em que posso ajudá-la? Eu quero entender qual a razão de você querer falar comigo.

- Meu Deus, mas que gente incompetente! Eu tive a infelicidade de comprar uma blusa aqui nesse lugar e quero trocar. Mas as suas funcionárias se recusaram.

- Senhora, não é que elas não quiseram trocar. Elas não podem. O prazo para troca se esgotou.

- Mas que absurdo! Eu sou consumidora, minha querida. Sei os meus direitos.

- Senhora, creio que esteja enganada. De acordo com o código do consumidor, a loja tem a obrigação de fazer a troca somente quando a mercadoria apresentar defeito. Embora as lojas deem um prazo de sete dias para troca, o consumidor tem, por lei, 30 dias para trocar a mercadoria. Saiba a senhora que trocas relacionadas à cor, modelo ou tamanho, ou qualquer outra hipótese, é uma liberalidade do lojista. Ele não tem obrigação de trocar. Aqui nessa loja, eu troco as mercadorias dos meus clientes sem nenhum problema. Acontece que a mercadoria da senhora, como já informei, tem mais de dois meses de compra. Aliás, para ser exata, amanhã faz três meses. Eu não posso e não vou trocar a mercadoria. Procure a justiça, se quiser.

Revoltada e percebendo que Brenda não requisitaria sua exigência sem fundamento, cuspiu na face dela. Não satisfeita, a cliente ainda disse:

- Que a sua vida daqui por diante seja um inferno!

E a cliente foi embora aos olhares petrificados das pessoas que se encontravam na loja.

Com um lenço fornecido por Monique, Brenda limpava o rosto, sentindo o seu coração pulsar freneticamente. Nunca uma cliente a aborrecera tanto. Suas mãos estavam trêmulas. Voltou para o escritório e se sentou na cadeira. Procurava se acalmar. Monique apareceu e indagou:

- Amiga, calma, ela realmente te tirou do sério. Quer uma água com açúcar?

- Não, Monique. Me deixe aqui sozinha. Vai passar - respondeu em um tom irritado.

- Tudo bem.

Mas não passou. A raiva que Brenda sentia da cliente ainda corroía em sua alma. Após fechar a loja, comentou com Monique:

- Só existe uma coisa que vai fazer eu me acalmar um pouco.

- Ih, já até sei. Gente, você está com raiva dela mesmo, hein?

- Você não tem noção. Ah, se eu pego essa desgraçada na esquina.

- Ih, menina, então é melhor você ir lá mesmo no negócio pra ver se diminui essa raiva. Tô com medo de você, amiga.

- Fica tranquila, Monique. Não sou louca.

...

Era apenas a silhueta de uma pessoa parada, esperando ser alvejada, desenhada em um papel. No entanto, Brenda só conseguia ver a figura da cliente que havia cuspido em seu rosto. A raiva era tanta que, naquele dia, decidiu atirar com uma espingarda. Após proteger os ouvidos, mirou na cabeça e disparou. Acertou em cheio. Sentiu-se um pouco melhor. Mas queria mais. A mulher que tanto a irritara merecia muito mais tiros. E ela dera. Foram seis tiros certeiros na cabeça.

Brenda era uma exímia atiradora invejada por muitos homens naquele clube de tiro. No início, era apenas defesa. Queria aprender a atirar para que um dia precisasse se defender. Foi a mesma coisa com o judô. Após o trauma que passou, tratou de praticar vários tipos de defesa pessoal. Porém, o clube de tiro, com o tempo, tornou-se uma paixão que a fez até ganhar alguns campeonatos. Ela tinha registro de atiradora e porte de arma. Guardava uma pistola em sua residência, mais especificamente em seu quarto, para qualquer sinal de perigo.

Sentindo-se mais calma depois de ter acertado dez balas na cabeça da silhueta, Brenda resolveu ir embora. Antes de ir para casa, para melhorar ainda mais o dia, parou em frente a uma loja de doce. Dane-se a dieta. Hoje eu mereço comer um, ou melhor, dois pedaços de torta de chocolate, pensou.

...

Ficara traumatizada. Desde o acontecimento, nunca mais foi a mesma; nunca mais esteve tranquila. A sensação era de que, a todo momento, algo ruim poderia ocorrer. Mas não com ela, e sim com Lucas. Nem a sua própria morte a amedrontava tanto, pois o seu maior medo era que novamente acontecesse o que tanto a traumatizou; não poderia perder o seu filho. Afinal, Lucas era a única pessoa que havia sobrado de sua família. No entanto, ao perceber os problemas advindos desse trauma, resolveu, desde o início, tratá-los. Vera Lúcia era a psicóloga, que semanalmente, já há alguns anos, ajudava na recuperação de Brenda.

Devido à recente insônia que enfrentava, antecipou a consulta com a psicóloga a fim de buscar alguma ajuda.

Deitou-se no divã e desabafou:

- Foi horrível. Há um bom tempo que eu não sentia tanto medo. Nunca as lembranças foram tão fortes. Era como se tudo aquilo tivesse acontecido ontem. Eu faço de tudo para esquecer, mas... Elas, de vez em quando, me perseguem. E outro dia... Foi muito assustador. Por isso pedi para vir aqui antes. Estou preocupada. Eu acho que estou piorando em vez de melhorar. O que acha que aconteceu?

- Bom, me parece que algum fato recente a preocupou. Isso pode ter intensificado as visões a que se refere. Você lembra de algo que possa ter desencadeado isso?

- Hum... Eu acho que... Recentemente? Acho que foi quando fui à boate com a Monique. Meu filho ficou em casa sozinho e aí...

- Está explicado - interrompeu Vera. - Uma coisa levou à outra. Lucas sozinho em casa? Preocupação que gerou medo. Medo que levou você a lembrar do passado.

- É. Com certeza foi isso. Mas eu juro que tento melhorar. É por isso que estou aqui. Não é fácil estar aqui. É muito difícil alguém assumir que tem um problema. Procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica é mais complicado ainda. Mas... Estou aqui. Tentando ser uma mãe menos neurótica. Aliás, uma pessoa menos neurótica.

- Entendo. Mas, como já expliquei, a recuperação é lenta e demorada. Eu não pretendo aqui, em nenhuma hipótese, fazer com que você esqueça o que aconteceu. Você jamais irá esquecer. É um trauma. É como uma cicatriz que você levará para o resto da vida. O que nós trabalhamos aqui é o seu controle no dia a dia. O seu trauma não pode atrapalhar a sua vida social. Você não pode se tornar uma refém do medo. Outro dia, as visões impediram o seu sono. E amanhã? Elas impedirão você de trabalhar, de estar com a família, de namorar?

Brenda se calou, pensativa. Aquelas indagações da psicóloga a assustaram. Não tendo respostas e nem coragem de encarar Vera, virou-se, ficando de barriga para cima no divã, olhando para o teto, buscando alguma saída. E, assim, permaneceu por um bom tempo, até quase o fim da consulta. No entanto, a psicóloga, percebendo a aflição da paciente, sugestionou, antes de finalizar o encontro:

- Hoje, impreterivelmente, faça algo que te distraia por um bom período de tempo.

Brenda, enfim, virou-se na direção de Vera e assentiu com a cabeça, imediatamente se lembrou de algo que a distraía por um longo período de tempo.

...

Não era apenas uma questão de saúde ou estética. Para Brenda, fazer musculação era também um lazer. Enquanto trabalhava os músculos do corpo, os problemas da vida pareciam se tornar menores. Por isso, imediatamente lembrou-se da prática na consulta com a psicóloga. Distrair-se com atividades que proporcionavam prazer a ela fazia parte do processo de recuperação, e Brenda, mais do que nunca, estava disposta a se restaurar.

Chegou à academia, cumprimentou conhecidos, fez os exercícios de alongamento e depois subiu em uma esteira. Ligou-a e, como já havia andado alguns quilômetros, resolveu iniciar correndo no aparelho. Minutos depois, uma jovem muito bela, alta e magérrima começou a andar em uma esteira ao lado dela. De imediato, Brenda achou o rosto dela familiar, mas não da academia. Tinha certeza de que aquela jovem nunca havia malhado ali. Ou era a primeira vez ou era aluna nova. Indagava-se de onde a conhecia quando se lembrou de que ela era uma de suas clientes. No intuito de poder conversar com ela, diminuiu o ritmo da corrida. Tratou de puxar conversa:

- Oi.

- Oi - respondeu a jovem, sorrindo.

- Eu sou muito boa em lembrar de rostos. E tenho certeza que você já foi à minha loja. Eu sou dona da B&L.

- É? - indagou a jovem surpresa. ­- Nossa, eu adoro aquela loja. Lá encontro tanta coisa boa. Já recomendei pra várias amigas modelos também.

- Ah, você é modelo?

- Sou.

- Que bom que a minha loja é uma referência para modelos. Há quanto tempo você é modelo?

- Ah, há uns três anos.

Brenda se lembrou do filho e achou que aquela jovem poderia ajudá-la em algo.

- Meu filho também está querendo ser modelo.

- É? Que legal. E ele já fez algum trabalho? Tem book?

- Pois é, ainda não. Mas bem que você podia me ajudar. Podemos fazer uma troca. Você me dá algumas dicas e eu te dou de presente algumas roupas. E aí? Topa?

- Jura? Claro que topo.

...

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