Emily
Fico um pouco distraída o observando dirigir, ele segurava o volante com uma confiança surpreendente e ao mesmo tempo relaxada, as veias que davam para ser vistas saltando iam até a manga da blusa preta que vestia e para completar usava uma calça também preta com botas pesadas de guerrilha . Não podia negar, ele ficava bem de preto, parecia um bad boy com seus cabelos negros rebeldes, seus olhos verdes se movimentavam constantemente vendo a estrada a frente e de vez em quando se dirigindo rapidamente para mim. Desde que saímos , ele ficava nessa de olhar-estrada-olhar-a-Emily.
- O que você tanto olha? - pergunto
- Você realmente esta bem?
- Sim, quantas vezes terei que falar isso até você acreditar?
A tontura que senti ainda pouco me pegou de surpresa, tudo ficou escuro de repente e se ele não tivesse me segurando eu tinha caído da escada.
- Você precisa ser sempre tão ignorante?
Não o respondo e permanecemos assim em silencio o resto da viagem, passei o tempo alternando entre olhar pela janela e olhar o carro e de vez em quando, raramente mesmo, olhar as veias saltadas. Qual o meu problema? O sol já começava a ir embora quando finalmente chegamos ao shopping, saltei do carro o mais rápido possível e segui na frente até a entrada. Odiava ter que escolher um vestido, por mim entraria em qualquer loja mas prometi a mim mesma que iria tortura-lo um pouco .
Sigo até a parte que ficavam as lojas , entro e saio delas fingindo desinteresse nas peças. Ele me segue em silencio mas percebo que está entediado porque não para de suspirar cada vez que não demonstro interesse na loja. Chegamos a ultima loja de roupa, o que era triste pois teria que escolher um vestido aqui mesmo.
A vendedora, uma mulher ruiva de trinta anos no minimo se aproxima sorrindo. Ela vê o Tayler e seu sorriso dobra de tamanho, perderia ate para o gato sorridente do País das Maravilhas.
- Olá, meu nome é Eva. No que eu posso ajuda-los ?
- Preciso de um vestido.
- E eu de um terno - ele fala e a vendedora quase tem um mini ataque na minha frente, ela se afasta rapidamente para procurar o que pedimos e volta menos de um minuto depois com um terno branco. Olho para o teto pedindo paciência.
- Eu encontrei esse aqui - ela mostra para ele - espero que seja do seu agrado senhor. Podemos até fazer um preço especial para você se quiser.
Apostava que sim.
- Obrigado.
Ela sorrir e sai para procurar o meu vestido, aleluia. Cruzo os braços e ergo um sobrancelha na direção dele.
- O que!? - ele finge cara de desentendido
- Espero que seja do seu agrado senhor - faço uma imitação barata da voz da vendedora enquanto ele tenta sufocar a risada.
- Não tenho culpa se sou tão atraente para as mulheres.
- Não é tudo isso, senhor - que ótimo, agora você mente até para si mesma? - Vá logo provar isso.
Ele pisca e segue em direção ao provador masculino, meia duzia de mulheres seguem sua bunda ate ele desaparecer pela porta. Reviro os olhos e sorrio.
Vou me sentar no banco que ficava de frente aos provadores para esperar ele sair. A vendedora me aborda novamente com uma montanha de vestidos no braço, mas um vestido bege com alças finas e saia rodada chama a minha atenção, era bastante simples e bonito com um laço vermelho que amarrava nas costas. Quando eu ia pega-lo , a ruiva deixa todos os vestidos caírem ao chão sem mais nem menos, olho para a mulher para perguntar qual era o problema dela e vejo que ela olha algo atrás de mim
Me viro e vejo o Tayler sair do provador, o terno tinha caído como uma luva e destacava o corpo musculoso dele. Não tinha uma única mulher no recinto que não estava estancada no lugar olhando para ele, até os maridos de algumas olhava de rabo de olho.
- E então ? - ele pergunta sem perceber o que passava ao redor ou fingia não perceber.
- O que?
- Ficou bom?
- O que? - pergunto feito uma retardada.
- O terno?
- Não sei, tanto faz - desvio o olhar dele e encontro o olhar da vendedora que me olhava como se eu fosse alguma marciana.
- O que achou? Você quer que eu passe vergonha ? Olhe que eu posso ir até sem roupa.
- Você não teria coragem
- Quer apostar? - o encaro e ele me encara de volta.
- Está ótimo. Satisfeito?
- Sim, já escolheu o seu?
Pego o vestido do chão, já que a vendedora ainda estava paralisada no mesmo lugar encarando o Tayler.
- Sim.
- Okay. Espere eu me trocar - e some novamente no provador.
- Senhorita? - a tal Eva do decote volta a vida - ele é seu namorado?
- Q-que ?
- Seu namorado ? Ou seu irmão ?
- N-não - gaguejo.
- Oh! Tá certo
Escutamos quando ele sai e entrega o terno a vendedora que já sabendo que não é nada meu volta a flertar com ele, dizendo que existia outra opções de terno e que ficaria muito feliz em mostrar. Ele olha para mim e move os lábios silenciosamente dizendo 'namorado?' e aponta para si mesmo.
Maldita maldição vampírica.
Entro no provador feminino para ver se o vestido ficava realmente bom. Me dispo e penso no que a vendedora perguntou. Namorado? Nunca!! Eu não poderia gostar de um egocêntrico metido a besta.
Anjo...
A voz me surpreende tanto que ofego e quase caio na manobra de tentar vestir o vestido. Mas de onde essa voz vinha? E por que aparecia do nada?
- Esta tudo bem ai ? - a voz do Tayler é abafada do outro lado da porta.
- Sim.
Respiro fundo e resolvo tentar entrar na jogada.
Tem alguem ai? - pergunto mentalmente.
Nenhuma resposta. Que ótimo! Agora eu andava escutando coisas. Termino de me vestir e saio do provador, vejo o Tayler sentado no banco que eu estava antes com a mão no queixo e pensando na vida, quando sente minha presença ele pára por uns instantes e se levanta.
- O que acha?
Ele abre e fecha a boca algumas vezes.
- Não é a hora de parecer um peixe morrendo - falo, mas ele ainda não responde.
Me viro para entrar no provador e tirar a roupa quando sinto sua mão no meu ombro. Ele me gira e olha para mim tao perto que eu conseguia ver a íris esverdeada dele com pequenas listras douradas , ele olha para cima e vê meu cabelo no coque improvisado que tinha feito e o desfaz.
- Perfeito - ele fala vagamente.
Me afasto rapidamente dele que franze a testa para a minha reação.
- Obrigada.
- Por nada. Agora se troca para podermos ir?
Balanço a cabeça e entro. O que tinha acabado de acontecer?
Cinco minutos depois já tínhamos pagado as roupas, o que foi quase impossível já que a balconista ficava insistindo para ele comprasse outra peça e já que ele recusou, ela deu um desconto absurdo para que saísse todo sorridente. O que deu certo no fim das contas.
Seguimos para a saída do shopping, já passava das dez horas da noite e o nosso carro era um dos últimos nos estacionamento, enquanto caminhavam os até lá o Tayler não parava de olhar para os lados, como se procurasse algo. Ele estava fazendo isso tão visivelmente que eu comecei a procurar por alguma coisa que pudesse ter chamado a atenção dele.
- O que você está procurando?
- Nada. Rápido.
Ele acelera os passos e sigo logo atrás. Quando estou dobrando para ir para o lado do passageiro, sou rudemente puxada para trás e o encaro procurando alguma explicação mas tudo o que da para ver na escuridão são seus olhos negros em alerta. Ele põe o dedo na boca pedindo que eu fique em silencio e de dentro da borda da calça ele retira uma arma. Como eu não percebi essa coisa ? Fácil, você estava preocupada demais reparando as veias dele. Não sei que cara faço, mas ele fica mais serio e põe o dedo novamente na boca para enfatizar silêncio.
Ele se levanta e coloca metade da cabeça para fora perto do capô. Alguns passos são ouvidos e vejo suas costas tensionar, mas os passos não vinham da frente e sim da traseira do carro. Sem pensar muito, retiro a adaga que eu sempre levava mas ele segura meu pulso num aviso silencioso para que eu ficasse quieta, nego veementemente com a cabeça e ele faz cara de contrariado.
- Que diabos, fica aqui. Eu sou o sombra - ele sussurra
- Mas eu não preciso de um sombra, lembra? - sussurro de volta.
Nos encaramos por alguns segundos numa briga de olhares, que eu finalmente venço. Ele me põem atrás dele e ambos seguimos para averiguar quem era que estava vindo. Ele é o primeiro a virar com a arma em punho, mas pára logo em seguida e fica reto .
- O que porra você esta fazendo aqui ? - ele pergunta
Resolvo ver quem era. Um homem da altura do Tayler, mas muito mais forte se fazia ver na iluminação precária da rua, ele era loiro e parecia muito com os jogadores de futebol americano que tinha na escola. Ele estava com as mãos erguidas no ar, já que o Tayler não tinha abaixado a arma ainda.
- É bom ver você também cara - o estranho fala calmamente, como se apontar uma arma fosse algo banal.
- Me responda.
- Dá para você abaixar a arma? Assim ele responde - eu falo para o mandão ao meu lado. Ele me olha de esguelha, mas faz o que eu pedi. Olho para o estranho - quem é você e o que faz aqui?
- Prazer madame - ele faz uma mesura - meu nome é Jesse e estou atrás desse carinha ai.
- Por que?
- Bem... - ele olha para o Tayler e engole em seco - a Jenny fugiu camarada e a capturaram.
Não fazia ideia de quem era essa Jenny, mas falar dela foi o suficiente para eu sentir uma pequena ventania quando o Tayler se deslocou rapidamente para segurar o colarinho do tal Jesse.
- O QUE???
- Merda cara, me larga.
- Não, até você se explicar.
Eu olhava para os dois estatizada sem me mexer. O Tayler estava furioso, dava para ver suas narinas inflarem toda vez que ele tomava um suspiro rápido. Toco o braço dele, isso o faz sair do transe e olhar na minha direção, ele suspira e larga o Jesse que cai de bunda no chão.
- Aai!! - o grandão se levanta - obrigado?
- Como assim a capturaram?
- Ela fugiu, quis ir atrás de você. Eu tentei detê-la e você sabe que sim, mas alguns lobisomens a capturaram.
- Você é um vampiro. Melhor, um sombra. Como uma garotinha escapou de sua linha de visão ? - Ele já estava perdendo a paciência novamente.
O estranho, que não era mais estranho, levanta a camisa e mostra uma pequena marquinha perto do coração. Já tinha cicatrizado, mas ainda dava para ver a rodinha rosa de um tiro.
- Porque ensinou a ela a atirar?
Não sei se foi a cara do Tayler ou se foi a cara de indignação do Jesse, o fato foi que eu simplesmente comecei a gargalhar loucamente. Ambos olhavam para mim como se tivesse criado outra cabeça , pouco tempo depois o próprio Jesse começa a rir e o Tayler não aguenta e dá umas risadinhas. Enxugo as lagrimas que brotaram no cantos dos olhos.
- Desculpa. Eu não sei quem é essa garota mas já sou muito fã dela.
- Pois é, doeu.
- Droga Jesse. E agora?
- Eu vou acha-la e traze-la de volta. Eu prometo. - ele põe a mão no coração e o Tayler o imita.
- Eu acredito.
Já não tinha mais ninguém no estacionamento e o barulho do celular do Tayler nos assusta. Ele retira do bolso e põe na orelha.
- Sim Alan? - Reviro os olhos. - sim, esta tudo bem. Só encontramos um velho amigo meu, veio me trazer algumas noticias.
Ele se afasta de mim e do Jesse para falar melhor.
- E então gracinha, qual seu nome?
- Se me chamar de gracinha, você morre - falo para ele ainda observando o Tayler andar de lá para cá - meu nome é Emily.
- Ah sim! Ele tinha me falado de você.
- Falou o que?
- Que tinha sido contratado para ser seu sombra. Todos da Shadows ficaram bastante surpresos na verdade.
- Não foram os únicos. Eu não sabia que ia ter ele me seguindo.
O Jesse da uma risadinha.
- Ele leva o trabalho muito a serio.
- Quem é essa Jenny?
- Ninguém que você precisa saber. - Tayler dá uma encarada para o Jesse que levanta as mãos - O Alan pediu para você nos acompanhar.
- Para que?
- Não sei. Vamos logo.
Vamos para o carro e me acomodo no banco do passageiro, enquanto ele e o Jesse vão na frente. Eu e o amigo do rabugento que não abriu a boca durante quase toda a viagem entramos numa conversa sobre armas e como a Jenny tinha dado um tiro nele. Rimos bastante quando ele conta, fazia tempos que eu não ria daquele jeito. O Jesse era engraçado e de fácil conversa, não tinha a cara cínica que nem o amigo e nem vinha com piadinhas.
- Sabe, acho que vou precisar de um aliado para irritar o Tayler .
- Uhul. Estou dentro, sei muitos podres dele e... Aaai! - ele esfrega o braço no local onde o Tayler tinha dado um soco. Olha na minha direção e sussurra - conversamos depois gatinha.
Ergo uma sobrancelha e ele pisca. E recebe outro soco no braço.
- Qual é o seu problema?
- Para de flertar com ela idiota - Tayler responde cerrando os dentes. A gargalhada estrondosa do Jesse enche o carro.
Depois dessa troca de gentilezas, eles entraram numa conversa sobre a Shadows. Os deixei falando enquanto pensava nessa tal Jenny, tinha tomado uma decisão e iria comunicar ao meu irmão assim que chegasse. Resolvo fazer uma ultima pergunta.
- Jesse? - ele se vira na minha direção - os sobrenaturais estão procurando abrigo? Para fugir de serem capturados.
- Alguns. Por que?
- Nada. Obrigada.
Olho para o retrovisor e encontro os olhos do Tayler franzidos me encarando. Dou de ombros e olho pela janela a lua clara no horizonte. Eu ia ajudar quem precisasse. O Clã queria guerra e guerra eles teriam.