O Segundo Caçador: vencedor...

By BrCrispim

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ROMANCE VENCEDOR DO III PRÊMIO UFES DE LITERATURA "Bruno criou uma história que tem tudo a ver com o nosso te... More

Apresentação
Parte I - Frankestein
Capítulo 1 - Um assalto
Capítulo 2 - Um assassinato
Capítulo 3 - Um levante
Capítulo 4 - Uma investigação
Capítulo 5 - Um retorno
Capítulo 6 - Uma lista
Capítulo 7 - Um fim
Capítulo 8 - Uma investigação
>>> Um anúncio rápido 1 <<<
Capítulo 9 - Um compromisso
Capítulo 10 - Uma mentira
Capítulo 11 - Um alvo
Capítulo 12 - Um reencontro
Parte II - Drácula
Capítulo 13 - A repercussão
Capítulo 14 - O descompasso
Capítulo 15 - O monstro
Capítulo 16 - A rotina
Capítulo 17 - O banquete
Capítulo 18 - O erro
Capítulo 19 - O expert
Capítulo 20 - O resgate
Capítulo 21 - O último
Capítulo 22 - A descoberta
Capítulo 23 - A verdade
Parte III - Duende
Capítulo 24 - Minha nova vida
Capítulo 25 - Meu chamado à ação
Capítulo 26 - Minha decisão
Capítulo 27 - Meu novo amigo
Capítulo 28 - Minha guerra
Capítulo 29 - Meu legado
Capítulo 31 - Meu adeus
Capítulo 32 - Minha punição
Ebook com 2 capítulos bônus!!!

Capítulo 30 - Minha fuga

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By BrCrispim

Abro a porta devagar. Estou aflito com a possibilidade de encontrar a polícia dentro do apartamento. Sei que estou preocupado à toa. Passei o dia vigiando o prédio. Nenhum policial entrou e apenas três viaturas passaram na frente. Nenhuma delas sequer parou.

Se entrar no avião foi um grande alívio, não ser recebido por policiais foi um ainda maior. Sei que isso vai durar pouco, mas me permito ficar feliz por estar em casa. Queria que Aninha estivesse aqui para me receber, mas fui eu mesmo que pedi que não viesse. Não é bom para ela ser encontrada na casa de um criminoso.

Agora, sou procurado pela polícia. Nunca acreditei que este dia fosse chegar. Acreditava que fosse morrer, não ser preso. Tive um cuidado especial para não deixar evidências em todos os meus alvos. Menos no primeiro e no último. No primeiro, Duncan me salvou. Desta vez, não havia quem pudesse me salvar. Além das armas que deixei na cena do crime, tenho certeza de que alguma câmera registrou meu rosto. Uma vez que vejam o que fiz, vão me ligar a todos os crimes dos Caçadores.

E ainda matei policiais. Muitos. Eram corruptos, é verdade, mas o corporativismo vai fazer deles heróis e não vilões. O que mais me preocupa é como vão interrogar as centenas de testemunhas. Não serão delicados, com a ânsia que têm por informações minhas.

É apenas questão de tempo para que seja preso. Mas não vou desistir sem lutar.

Me desfaço da roupa dos mortos e dou uma olhada nos ferimentos. Só minha barriga e meu ombro me preocupam. No final das contas, tenho sorte por estar vivo. Toda a minha habilidade não significaria nada se tivesse levado um tiro na cabeça.

Vou ao banheiro feliz por não ter jogado fora minhas provisões médicas. Me pareceu um desperdício. Agora, isso pode salvar minha vida. Esterilizo os ferimentos e troco os curativos de pano por curativos comprados prontos. Tomo uma injeção de antibiótico e um remédio para a febre. Agora é maneirar nos movimentos para não voltar a sangrar.

Vou até o quarto, pego uma bolsa de viagens e coloco alguns curativos e remédios. Volto ao quarto e visto calça jeans, blusa branca e um casaco de moletom com capuz. Separo algumas mudas de roupa para minha fuga. Arrumo a bolsa sentado na cama.

Acordo com batidas insistentes na porta.

Puta que o pariu! Eu dormi! Não acredito que peguei no sono na cama. Mais uns minutos e teria fugido. Mas vou ser preso em minha própria casa com a mala da fuga na mão.

Abro o cofre. Se existe alguma possibilidade de fuga, foi a que Duncan deixou para mim. E é. Na prateleira principal, cinco presentes. Um celular, três granadas de gás e uma explosiva.

A porta é arrombada.

Não tenho tempo para uma ideia melhor. Pego a granada. Não vou viver o resto da vida na cadeia.

Respiro fundo e seguro o pino.

Três.

Dois.

– Se eu fosse você, não faria isso.

Abro os olhos e vejo Delegado parado casualmente na porta de meu quarto.

– Pensei que você não era mais delegado.

– E não sou.

– O que você está fazendo aqui, então?

– Primeiro, impedindo que você se mate. Solta a granada.

– Quem mais está aqui?

– Só eu. Estou sozinho.

Ele não está usando o distintivo nem carregando uma arma. É difícil de acreditar, mas todo o país o viu abdicando do cargo e fazendo apologia ao justiçamento. Não pode ser possível voltar atrás numa situação como esta.

Devolvo a granada ao cofre.

– Durante todo esse tempo eu sempre soube que era você, Willian – garante –, mas você fez um bom trabalho para eliminar as evidências. Não deixou uma prova sequer. Nenhuma ponta solta.

Enquanto ele fala, pego a maleta de pôquer onde escondo meu dinheiro e coloco na mala. Não é o suficiente para me sustentar por muito tempo, mas vai me garantir por uns meses até que decida o que fazer. Posiciono as três granadas de gás do lado oposto da mala.

– Mas, desta vez, você foi descuidado demais – continua. – Não tem mais como você fugir dos seus crimes.

Eu olho para ele com raiva. Foi ele que implorou por minha ajuda. Foi ele que pediu para que alguém interviesse para salvar aquelas pessoas. Ele é tão responsável quanto eu.

Mesmo desarmado e abatido, ele não é páreo para mim. Ainda que ele tivesse uma pistola, eu o venceria com as mãos nuas. Mas o que matar um policial honesto poderia me trazer? Além disso, tenho a sensação de que estamos do mesmo lado, desta vez. Ele pode ser responsabilizado como mandante do assassinato de Senador.

– Você tem muita cara de pau pra vir aqui e me dar lição de moral, hein?

– Eu não vim aqui para isso – argumenta. – Vim pra que você finalmente entenda como foi ingênuo. Você achou que, matando algumas pessoas ruins, estaria consertando a sociedade. Você tem que entender que essas pessoas foram criadas pela nossa sociedade. Se você não mudar a sociedade, quando eliminar uma pessoa ruim outra já vai estar pronta para assumir o papel do morto.

– Então, foi mesmo pra me dar lições de moral... – Digo.

– Não. Eu vim aqui te dar um aviso – olha para o relógio e continua. – Em uns dez minutos, a polícia vai invadir a sua casa e te prender. Eles já devem estar se reunindo no entorno do prédio.

Eu o olho surpreso.

– Por que você está me ajudando?

– Você fez algo que seria visto de outra forma, se você fosse outra coisa. Um policial, por exemplo. Eu acho que você escolheu o papel errado, desde o princípio. Um justiceiro, por mais que tenha boa intenção, só quebra a ordem. E, sem ordem, o homem fica livre para fazer mais atrocidades. A ordem é tão necessária quanto a justiça. É por isso que os justiceiros sempre caem em desgraça.

O que ele diz faz sentido, mas soa mais uma utopia do que algo possível. Como seria possível atingir a justiça social sem quebrar a ordem? Para mim, a história humana é simples. Uma sociedade justa é mais facilmente comprada com sangue do que com suor e boas intenções.

Desvio os olhos, e quando torno a olhar para a porta ele já não está lá. Foi e me deixou com perguntas demais e respostas de menos.

Não há tempo para filosofia, agora. A polícia está chegando. São dez para as três da manhã. Antes das três, tenho que fugir.

Abro todas as bocas do fogão no máximo e deixo o gás encher a cozinha. Pego tudo que é minimamente inflamável e faço uma trilha ligando a cozinha ao quarto. Roupas, lençóis, travesseiros, edredom, toalhas, cortinas, papéis, livros, o tapete da sala. Jogo por cima o que pode ser usado como combustível. Infelizmente, isso se limita a uma garrafa de álcool anidro, uma de uísque e meia de vodca. Vai ter que servir.

Olho para minha casa. A casa que meus pais me deram para se livrar de mim. Eles achavam que algumas brigas de rua eram um problema grande demais. Vão se espantar quando souberem quem é o filho deles de verdade. Um assassino sanguinário procurado pela polícia. O temido Segundo Caçador.

Mesmo assim, ou principalmente por isso, tenho inúmeras lembranças maravilhosas no apartamento. Ainda que não tenha tempo para ser sentimental, não consigo parar de olhar para cada detalhe dele. A prateleira que Pedrão quebrou, bêbado. As marcas dos tiros de Duncan no chão. E o quadro que Aninha comprou porque o apê era muito "dark". Jamais vou poder voltar. Escolhi este caminho e perder minha residência é a menor das consequências.

Pego a bolsa com meus pertences e levo até a porta. Volto até o cofre e pego a granada explosiva. Quando estou saindo do quarto, lembro-me do verdadeiro motivo que me trouxe aqui. A aliança de Aninha. É a marca de minha culpa e de minha esperança. Vou mantê-la comigo para não me esquecer das consequências de minhas escolhas. E para me lembrar de que existem coisas boas na vida que valem a pena ser defendidas.

Por último, pego um porta-retratos com uma foto de Aninha sorrindo. Talvez nunca mais a encontre, e não vou permitir que minha mente me traia e comece a esquecer os detalhes de seu rosto de anjo.

Faço uma última ligação e, sem dar uma última olhada, tiro o pino da granada. O apartamento está empesteado com o cheiro de gás e álcool. Vai ser suficiente para destruir tudo. Do corredor, jogo a granada. E disparo. Tenho uns três segundos para chegar até a escada antes que a casa exploda.

Quando passo pela porta da escada de emergência, o apartamento explode. Meu santuário está destruído, com quase todos os meus pertences. Oficialmente, não tenho mais um lugar no mundo. Tudo o que tenho agora cabe numa mala.

Deixo uma das granadas de fumaça no corredor, para que aumente a sensação de incêndio, e desço as escadas aos pulos. Em cada um dos andares, abro a porta do corredor e grito que o prédio está pegando fogo. Na terceira vez, nem é mais necessário. Todos estão no corredor.

Com o esforço, várias partes de meu corpo estão ardendo e posso sentir os ferimentos do ombro e da barriga molhados. Assim que puder, tenho que descansar. Perdi muito sangue e, mesmo sem risco de hemorragia, preciso de energia para evitar qualquer infecção. Contudo, não é hora de pensar em diminuir o ritmo. Primeiro tenho que fugir e depois repousar. E contatar Aninha assim que possível.

Meus vizinhos se amontoam nas escadas. Foram acordados no meio da madrugada por uma explosão e tentam entender se estão enfrentando um incêndio ou um desabamento. Até alguns adultos choram. As crianças estão em choque. Algumas nem choram, de tanto medo. O caos é grande demais para que entendam o que está acontecendo. Reconheço uma criança que morava dois andares abaixo. Ela está no colo da mãe e olha para o pai desesperada, à procura de um conforto que não vai ter.

Fui longe demais. Porém, não há como voltar no tempo. Apenas torço para que os bombeiros cheguem rápido. Assim, o incêndio não vai ser difícil de controlar. E, com sorte, ninguém vai se machucar seriamente.

No terceiro andar, uma multidão se forma e a fila para. Meus vizinhos xingam e empurram uns aos outros, mas não adianta. Algo está impedindo a saída das pessoas. Ao que parece, a polícia percebeu meu plano de fuga.

Espero, mas o ritmo da descida não aumenta. Hora da última cartada desesperada. Abro a mala e tiro o pino de segurança da segunda granada. Deixo que caia no chão, do lado do meu pé. Quando a fumaça sobe, chuto a última bomba para o andar de baixo.

Alguém grita. Depois outro, e então todos gritam e empurram, achando que vão morrer queimados. A situação fugiu do controle e as pessoas se jogam umas em cima das outras para escapar. Um pai, a meu lado, esquece o filho pequeno ao pular para o segundo andar. Olho para baixo e não o vejo mais.

O fluxo é liberado. É minha chance de fugir, mas não consigo deixar a criança para trás. Ela seria pisoteada. Empurro duas mulheres para pegar o menino no colo. É difícil me equilibrar entre os empurrões, mas consigo chegar ao térreo.

Do lado de fora, os bombeiros tomam conta da situação enquanto os policiais olham de longe, irritados. Um policial de terno e distintivo à mostra grita com o bombeiro que parece comandar a operação. O bombeiro dá pouca atenção ao policial e não parece se abalar com suas ameaças. Seu foco é combater o incêndio e seu objetivo é salvar as vidas que eu coloquei em risco.

Com a criança no colo, ninguém parece desconfiar de mim. Mesmo com nossa diferença de cor. É apenas um detalhe num momento de desespero.

Observo a equipe de operações especiais da polícia do outro lado da rua. São uns vinte, vestidos com o uniforme de choque e seus escudos transparentes, armados com metralhadoras. Estão entediados, aguardando a ordem para invadir o prédio. Estão preparados para me matar, independentemente de minha intenção de reagir. Não posso culpá-los. Se eu tivesse escolhido o papel certo, como disse Delegado, estaria no lugar deles, ansioso para eliminar qualquer criminoso que tivesse feito a mínima parte do que eu fiz.

Mas, hoje, eles perderam o jogo. Não é difícil me esconder entre as duzentas pessoas desesperadas. Peço a uma vizinha idosa que tome conta de meu sobrinho enquanto vou comprar um remédio para o garoto. Ela não me reconhece nem parece se importar com meu parente albino. Parece que, numa situação de emergência, nos concentramos em fatores mais urgentes e importantes do que a quantidade de melanina na pele.

Pego minha bolsa e ando pelos cantos da rua até chegar à multidão de curiosos que se forma no local. Sou perguntado alguma vezes sobre o que aconteceu. Digo que pareceu uma explosão de gás, mas que não tenho certeza, só estava passando pelo local.

Aceno para um táxi e peço que me leve a um motel distante.

Da janela do carro, vejo meu apartamento já bem pequeno. Está fácil de reconhecê-lo. É o que tem labaredas e fumaça preta saindo pelas janelas. Uma cena triste. Marca o fim de minha vida como uma pessoa normal. Só me restou a vida de Caçador.

***

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