O Segundo Caçador: vencedor...

By BrCrispim

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ROMANCE VENCEDOR DO III PRÊMIO UFES DE LITERATURA "Bruno criou uma história que tem tudo a ver com o nosso te... More

Apresentação
Parte I - Frankestein
Capítulo 1 - Um assalto
Capítulo 2 - Um assassinato
Capítulo 3 - Um levante
Capítulo 4 - Uma investigação
Capítulo 5 - Um retorno
Capítulo 6 - Uma lista
Capítulo 7 - Um fim
Capítulo 8 - Uma investigação
>>> Um anúncio rápido 1 <<<
Capítulo 9 - Um compromisso
Capítulo 10 - Uma mentira
Capítulo 11 - Um alvo
Capítulo 12 - Um reencontro
Parte II - Drácula
Capítulo 13 - A repercussão
Capítulo 14 - O descompasso
Capítulo 15 - O monstro
Capítulo 16 - A rotina
Capítulo 17 - O banquete
Capítulo 18 - O erro
Capítulo 19 - O expert
Capítulo 20 - O resgate
Capítulo 21 - O último
Capítulo 22 - A descoberta
Capítulo 23 - A verdade
Parte III - Duende
Capítulo 24 - Minha nova vida
Capítulo 25 - Meu chamado à ação
Capítulo 27 - Meu novo amigo
Capítulo 28 - Minha guerra
Capítulo 29 - Meu legado
Capítulo 30 - Minha fuga
Capítulo 31 - Meu adeus
Capítulo 32 - Minha punição
Ebook com 2 capítulos bônus!!!

Capítulo 26 - Minha decisão

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By BrCrispim

O que ele está me pedindo é que eu arruíne minha vida e a de Aninha para tentar salvar a vida de pessoas que nem conheço. Não sei o que poderia fazer contra tanta gente armada, mas é isso que ele está me incitando a fazer. A mim e ao outro Caçador. Quando não se pode confiar nem em nossos policiais, seria certo confiar nos assassinos mais bem-intencionados?

Já não sou mais um Caçador. Estou aposentado. Alguns jornais até me noticiaram como morto, quando passei mais de um mês inativo. Ele, como delegado da região, deveria saber disso. Mesmo assim, está na televisão pedindo minha ajuda.

Isso tudo é uma loucura. Senador não seria tão petulante a ponto de matar todas as testemunhas e provar que Delegado estava certo. Ou seria? É uma dúvida idiota. Ele não acredita em consequências, nunca as sofreu. Acredita que de fato está acima da lei. Mais do que isso: em sua fazenda, ele é a lei. Nunca o que fez lá dentro foi usado contra ele do lado de fora, nem quando matou seu todo-poderoso pai. E um vídeo não vai mudar isso.

Fecho os olhos. Respiro devagar até que me acalme. Desta vez, não vou agir guiado pela raiva. O monstro já não tem voz. Mas, se eu ficar em silêncio e prestar atenção, consigo ouvir seus uivos por sangue. Agora, ele não passa de um animal trancado para fora de casa, sem conseguir entrar.

Meu coração me diz para fugir com Aninha para outro país e aproveitar a vida com ela. Ter filhos, ficar velho. Ter uma vida plena e feliz ao lado da mulher que amo.

Meu senso de justiça não grita como no passado, apenas me faz uma pergunta: "Você conseguiria ser feliz com a culpa de saber que dezenas de pessoas morreram porque escolheu aproveitar a vida?". Desde pequeno alguma coisa dentro de mim dizia que eu era grande por um motivo. Se eu era mais forte, é porque deveria proteger os mais fracos. Foi por isso que entrei em tantas brigas na escola. Foi por isso que me aproximei de meu amigo, fraco e abusado. E é por isso que deveria proteger essas vidas, mesmo ao preço da minha. É esse senso de dever que me diz para ser o herói que sempre deveria ter sido.

A questão, no entanto, é mais prática do que emocional. Qual seria o benefício de desperdiçar a vida e a felicidade, se eu morrer sem conseguir salvar uma pessoa sequer? E qual seria minha chance real contra todos os capangas da fazenda armados de fuzil? Se tivesse a ajuda de Primeiro, seria possível. Enquanto eu cuidasse dos bandidos próximos, ele me daria cobertura com os de longe. Seria uma boa equipe. Mas, sem ele, só com um milagre ou uma bazuca.

A porta se abre num arroubo. Nem preciso olhar para saber quem chegou.

– Você viu? – Pergunta, aflita.

Balanço a cabeça, ainda sem abrir os olhos. Ela vem até mim e me abraça com toda a força que tem, para que eu não fuja dela. Não diz nada. Eu também não. Não sei o que falar. Nem para ela, nem para mim mesmo.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, sem que seus braços se afrouxem. Mas as decisões têm que ser tomadas antes que não haja tempo suficiente. Prefiro errar agindo a errar sendo omisso. Abro os olhos e ela está com uma expressão desesperada.

– Diz pra mim que você não vai lá.

Eu não digo nada.

– Diz pra mim, Will! – Grita.

O choro contrasta com a altura de sua voz, é suave e lento como se suas forças estivessem sendo drenadas pela lágrima anterior. Eu a abraço em silêncio. Uma parte de mim se contorce ao vê-la tão triste. Contudo, seria justo acabar com o sofrimento de uma pessoa, mesmo amando-a, e deixar tantas outras à mercê de um monstro cruel, sem o amparo de que precisam?

Não que ela vá perceber isso agora, mas, no fundo, sabe o quanto seria atroz se eu me detivesse aqui, no conforto de seu abraço. Mas, se não quero que ela sofra, da mesma forma ela não quer que eu arrisque a vida. Sua dor é minha dor, e o contrário também é verdade.

– A polícia já deve estar a caminho – anuncia. – Eles não vão precisar de você.

– Você sabe que a polícia vai chegar tarde demais.

– Ninguém sabe disso!

– Se um delegado pediu pra alguém resolver por ele, é porque a parte honesta da polícia não vai chegar a tempo.

– Não, por favor! Não vai, Will! Eu te imploro!

– Aninha, como eu posso viver sabendo que mais gente vai morrer por culpa minha? Eu não consigo...

– Não é sua culpa, Will! Você não é o dono do mundo.

– É sim, minha linda. É isso que você não entende. Por algum motivo eu nasci desse jeito, com essa terrível facilidade para matar pessoas. Não é uma coisa que me dê orgulho, mas não deixa de ser verdade por isso.

– Você é uma boa pessoa, Gatinho, não é esse monstro que você acredita – discorda, tocando minha bochecha suavemente. – Você é melhor que isso, você nasceu pra muitas coisas. Para qualquer coisa que você quiser... Você só fez umas escolhas erradas – continua. – Isso não é o seu destino nem o seu carma. Como você não consegue enxergar isso?

– Eu consigo – digo, cansado. – Só que as minhas escolhas já me fizeram o que eu sou. Eu sou uma das duas únicas pessoas que podem ajudar. E cabe aos que podem ajudar os que não podem. Aos fortes, defender os fracos. Se eu agir ou não, minha responsabilidade não muda.

– Se o Primeiro Caçador é tão nobre como dizem, por que ele não resolve isso sozinho?

– Eu gostaria de pedir a ajuda dele – digo –, mas não sei onde procurá-lo. E não tenho tempo para ficar esperando para ver se ele vai aparecer ou não.

– Will, você não vai! – Ruge. – Eu te proíbo de sair!

Sorrio para ela, infeliz. Tenho mais de duas vezes seu peso. Não há nada que ela possa fazer para me impedir. Não conseguiria me barrar nem com a ajuda outras três dela. Nem com uma arma na mão.

– Se você for – grita –, eu não vou estar te esperando quando voltar!

Minha pobre namorada ainda não entendeu gravidade de minha decisão. É a hora de despedaçar seu coração mais uma vez, e desta vez para sempre.

– Aninha, eu não sei se eu vou voltar.

Ela fica em choque ao me ouvir. Ela acreditava que estava tentando me proteger de meu lado violento. Que eu estava sendo o garoto sem juízo mais uma vez. Hoje, não estou abrindo mão de minha humanidade. Não. Desta vez, estou renunciando não só a ela em minha vida, mas a minha vida em si.

– Mas você é forte...

– Não o bastante.

Deslizo a mão por sua bochecha e mergulho na tarefa impossível de secar seus olhos. E são eles que me atraem. Sua beleza é soberana e nem mesmo a tristeza pode abalá-la. Tão linda... Não merecia passar por tudo isso. Sempre pensei nela como meu anjo, como a pessoa que, sozinha, carrega todas as minhas chances de redenção. E por seis semanas eu mudei. Não sei se foi o bastante para ter direito ao descanso eterno, mas gostaria de encontrá-la em outra vida, com as asas que lhe faltaram nesta.

– Aninha – digo, levantando-a –, eu queria ir para um bar e beber até esquecer as cenas que eu vi. Ou fazer uma lista com tudo que está errado e rasgar depois. Mas eu, simplesmente, não posso ficar sem fazer nada. Se eu nasci assim ou se foram as minhas escolhas que me fizeram assim, pouco importa, agora. O que importa é que eu sou diferente. Eu sou o monstro que conserta as coisas erradas da forma errada. E, depois de toda a dor que causei, Deus me deu essa última chance de redenção.

– Não vai – se ajoelha e segura minhas pernas –, por favor.

Eu a ergo com delicadeza e a beijo com todo o amor que tenho. Ela não retribui. A vida parece estar abandonando seu corpo. Respiração lenta. Batimentos fracos. Não fossem os tremores, ficaria preocupado. Observo-a por uns instantes com a visão embaçada, antes de sentá-la no sofá. Ela, parada, sem qualquer reação além de encarar a televisão desligada. Se a tristeza pudesse ser traduzida numa cena, seria essa.

Esvazio minha mochila e enfio nela uma muda de roupa. Pego um pouco de dinheiro no cofre, o suficiente para comprar minha passagem, uma diária em um hotel e as facas que achar. Gostaria de ter minhas armas de volta, especialmente a faca de caça, mas não conseguiria passar pelo aeroporto, de qualquer forma.

Pego o anel de Aninha. Pode ser a última vez que a vejo. Deveria entregá-lo, mas não consigo. Um momento tão trágico só iria ofuscar todo o amor que ele representa. Também não quero levá-lo e correr o risco de perdê-lo. Só me resta devolvê-lo ao esconderijo e rezar para ter outra chance de entregá-lo.

E por que não teria? Não estou morto ainda, nem sou uma pessoa fácil de ser morta. E muitos já tentaram. Já enfrentei uma dúzia de bandidos armados ao mesmo tempo, já entrei num dos presídios mais perigosos do país, tive treinamento ninja e aconselhamento de assassino experiente. Não sou qualquer um e, se alguém consegue sair de lá vivo, sou eu.

Fecho o cofre e volto para a sala. Aninha está no mesmo lugar. Uma estátua congelada por Medusa no terror de sua morte. Deixá-la assim me parte o coração.

– Você encheu essa mochila com as armas que escondeu de mim? – Pergunta.

– Eu não tenho mais armas. Eu joguei fora quando você pediu.

– E como você vai enfrentar os capangas? – Se vira com olhos arregalados.

– Eu vou dar um jeito...

– Por que você está tão desesperado para morrer? Sua vida é tão ruim assim?

– Meu amor, se eu não tivesse você, minha vida teria sido horrível e eu talvez fosse lá só pela chance de morrer. Mas com você minha vida é tão linda... – Continuo, embargado. – Eu nunca fui tão feliz quanto nessas últimas semanas. Queria que você soubesse disso.

– Se foi tão bom, fica aqui comigo!

– Eu não posso... Eu queria, mas não posso!

– Então você não me ama! – Grita, chorando. – Eu te odeio, Will! Eu te odeio muito!

– Será que um dia você vai me perdoar pelo que fiz com a gente? – Pergunto.

– Nunca! – Grita. – Você é um escroto, um egoísta! Só faz a merda que quer! Você nunca me amou!

Ela corre até o banheiro e se tranca. Então será assim a última vez que vou vê-la? Sem um beijo de despedida? Suas últimas palavras para mim sendo "Você nunca me amou"?

Estou triste. Não um pouco. Estou completamente acabado. Desolado, caminho devagar até a porta, esperando que ela venha correndo para dizer que me perdoa e que me ama. Isso não acontece. Olho uma última vez para o banheiro antes de sair do apartamento.

– Eu te amo, Aninha! – Grito. – Desculpa por tudo.

O elevador chega rápido demais a meu andar e eu entro. A sensação de perda é tão grande que até o velho elevador parece bonito. Toda a sua lentidão soando a elegância. Suas imperfeições, a irreverência. Sei que não vou mais voltar para cá. Em breve estarei ou morto ou preso. Se puder escolher, prefiro morto.

Queria não ter entrado naquele ônibus. Queria não ter visto meu amigo morrer. Minha vida teria sido ótima, mesmo sem Pedrão. Não seria perfeita, mas estaria quase lá. Infelizmente, se podemos escolher nossas alegrias, não podemos impedir as tragédias que nos colocam de joelhos.

Quando a porta está quase fechando, uma mão a impede. Não quero encarar nenhum vizinho desse jeito e ter que ouvir suas perguntas desinteressadas sobre meu bem-estar. Levanto a cabeça, irritado, e vejo Aninha, de olhos vermelhos. Ela entra e me abraça forte enquanto descemos. Não conseguimos conter as lágrimas.

Ah! Como queria ficar do lado dela. Esquecer o mundo e ser egoísta como ela pensa que sou. Só desta vez. Não mereço sofrer mais. Já paguei minha parcela. Deveria ter alguém para resolver essa por mim.

– Eu sei que você tem suas razões – sussurra em meu ouvido, com a voz rouca –, eu não vou questionar mais isso. Mas eu preciso que você prometa que vai voltar inteiro pra mim. Eu não consigo viver sem você...

Ela olha para mim com seus lindos olhos implorando por uma promessa que não posso cumprir. Mas Deus deve gostar dos heróis e esta é minha vez como herói. Hoje, vou ser o cavaleiro da armadura dourada. E Ele vai me ajudar. Mesmo que eu tenha que ir ao inferno uma última vez, Ele vai me buscar de volta. Sinto no coração que Ele vai estar ao meu lado, nessa.

– Prometo.

Ela me abraça mais forte.

– Eu te amo, Gatinho.

– Eu também, Aninha. Eu te amo muito.

– Eu sei.

Eu a abraço com toda a força e só paro quando sua coluna estala. Ela ri com o barulho. É uma risada fraca, mas me lembra que, por pior que as coisas estejam, sempre existe alguma alegria escondida onde antes não conseguíamos ver. Que eu não me esqueça disso nunca.

– Acaba com aquele merda pra mim – instiga, com um olhar sanguinário.

Eu sorrio.

– Vou destruir todos eles!

***

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