A VERDADE ESTÁ LÁ FORA

By SCampelo2014

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Lúcia leva uma vida tranquila, sem muitas emoções. Isso até retornar para buscar sua melhor amiga numa boat... More

CONTATO IMEDIATO
ESTOU SONHANDO?
O QUE É REAL
UMA MULHER SEM CORAÇÃO
EXPERIÊNCIA
SAINDO DO CONTROLE
MUDANÇAS
UM ALIEN FRIO
NOITE CAÓTICA
O QUE ME TORNEI
LIBERDADE?
VIGIADA
"OSSOS DO OFÍCIO "
UM ALIEN MORTO
ENCONTRO CONVENIENTE
PERSEGUIÇÃO
EU QUERO ESQUECER
O LAR QUE ESCOLHI
EPÍLOGO
☆CAPA DO PRÓXIMO LIVRO☆

O FIM QUE ESCOLHI

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By SCampelo2014

Lyontus

Ter minha irmã a cada fração de hora checando meus sinais vitais não estava me ajudando em nada. Estávamos cortando a galáxia numa velocidade acima do recomendado para nossa nave e tudo que ela se preocupava era com se eu ainda conseguia respirar e não com o fato de que as forças atuando sobre nós pudesse nos destroçar. Realmente sua aparente calma divergia do semblante dos outros tripulantes na ponte. Imagino que nenhum deles desejava morrer numa missão suicida, ainda assim continuavam comigo, mesmo com o perigo eminente de meu atual descontrole os afetar.

Tudo que eu conseguia pensar era em resgatar Lúcia ilesa. Salvar minha própria pele sequer fora cogitado durante esse tempo de perseguição. Havíamos perdido contato visual com a nave fugitiva há muito, estando, inclusive, fora dos nossos radares, porém o dispositivo de rastreamento funcionou como previsto. Sabíamos que estavam se dirigindo para a parte mais longínqua no quadrante 5, o que não representava qualquer surpresa; estávamos cientes do que tinha ali, o que me fazia temer o que estava por vir. A estação de Zephyrus era a única conhecida nesse quadrante por sua imensa gama de trabalhos e produtos ofertados. Era o ponto de comércio mais próspero de que se tinha notícia e também o ponto de encontro de toda espécie catalogada.  Zephyrus era o dono do lugar, porém, como numa grande civilização, haviam muitos serviços ali, portanto comerciantes, mercadores, compradores e afins, que pagavam como tributo ao dono uma pequena parcela de seus lucros e tudo que ele podia fazer como dono de um império, era manter a ordem para que tudo fluísse sob os estatutos da lei que ele criou para o lugar.

O que eu mais temia era o fato de saber que fêmeas de outras espécies eram comercializadas ali como produtos caros em suas prateleiras e se o destino final dos raça cinzenta era aquele local, o motivo não estava encoberto; eles pretendiam negociar sua preciosa carga recém adquirida. Quando conseguimos interceptá-los, já estavam saindo da estação. Após um breve confronto soube que as fêmeas foram deixadas na área de venda e foi para lá que segui, mas não antes de explodir a nave desses bastardos, com eles dentro.

Ao adentrar o lugar por um dos acessos de emergência, fomos direto para a ala onde as fêmeas são comercializadas, mas tudo que encontramos foi um cenário caótico; semblantes assustados à nossa volta, das fêmeas nas jaulas e nenhuma delas era a minha e um  “cinzento” jazia ao chão, com a cabeça esmagada, o que me levava a crer que algo saíra muito errado para ele.

— Vocês são realmente rápidos! — Zephyrus aparece atrás de nós e ao encará-lo percebo seu semblante provocativo — a humana não mentiu! — a afirmação flui por seus lábios como algo sombrio enquanto seu olhar pousa sobre mim.

— Onde elas estão?! — indaguei sem me ater a protocolos, mesmo sabendo sua linhagem. Se ele está se dando ao luxo de me provocar, certamente sabe a razão da minha vinda.

— Eu pretendia libertá-las, mas fui mal interpretado… não se preocupe, já mandei que fossem encontradas e trazidas de volta em segurança. — fala tranquilamente e parece nos sondar, um por um, até seu olhar se deter no humano ao meu lado — Interessante! Achei que não procriavam com outras raças! — seus olhos cintilavam e eu podia ver a acusação nas entrelinhas.

— Cada espécie faz o que precisa para sobreviver! — minha irmã parece tão impaciente quanto eu ao dizer essas palavras.

— É claro! Acompanhem-me! — fez sinal para que nós os seguíssemos.

Fomos através do corredor vazio e sem atrativos, até entrar numa área restrita.

— O que está acontecendo?! Para onde o grandalhão está nos levando?! — Samuel questiona.

— É melhor não fazer perguntas! Ele não é alguém que possamos ofender livremente! — Caelestis o exorta.

A caminhada durou apenas alguns minutos, até estarmos numa sala ampla e com todos os requintes para atender a um soberano. Porém,  não foi isso que chamou minha total atenção, mas o fato do rei de Alfa-Centauri estar ali, e mais que isso, ao seu lado estavam as duas fêmeas responsáveis por essa incursão. Uma tremia sentada no canto do assento, com os joelhos junto ao corpo e os braços os abraçando, formando quase uma bola e a outra de pé, consolando-a; era a minha Lúcia.

— Eu quero ir pra casa e nunca me lembrar que alienígenas existem! — Carolina suplica com voz embargada.

Suas palavras me alvejaram de certa forma. Jamais tive intenção de machucar qualquer uma delas, mas o fiz. Sou mesmo um maldito bastardo!

— Majestade! Temos convidados! — Zephyrus chama a atenção do rei que parecia alheio à nossa presença enquanto encarava a humana assustada em seu canto. Conheço bem esse seu comportamento territorialista, porém ele está enganado se pensa que poderá levá-la tão facilmente.

Assim que ele nos olha, Lúcia se vira para nós e seu olhar percorre entre mim e Samuel, mas se detém em mim. Eu poderia jurar que está me avaliando.

— Até que enfim, Lyontus…— ela estufa o peito ao soltar essas palavras — como pode deixar SUAS FÊMEAS serem sequestradas bem debaixo do seu nariz?! Quase fomos vendidas como prostitutas! — suas faces estão vermelhas e por já conhecer algumas de suas manifestações de humor, sei que está muito irritada.

Não foi difícil entender o motivo dela estar enfatizando “suas fêmeas”, obviamente ela havia dado seu jeito de lidar com a situação da forma mais racional possível. Afirmando que são minhas companheiras diante dos dois, ela os punha num impasse e mesmo que o rei ali presente quisesse levar sua amiga, não poderia a menos que eu consentisse ou quisesse guerra comigo, o que duvido muito, já que temos negócios em comum; seu povo é consumidor de nossa tecnologia.

— Eu posso comprá-la…— o rei sugeriu dando alguns passos na minha direção.

— Perdão, majestade, ela não está à venda! — falo respeitosamente, fazendo uma breve deferência — Agradeço a hospitalidade, mas já estamos de partida!

— Compreendo! — seu olhar tem uma centelha de maldade — Não é como se você fosse viver muito, afinal…— o modo como aspira o ar à sua volta faz até meus ossos rangerem.

Definitivamente ele não é alguém que se possa subestimar e agora, com certeza, sabe que minha vida tem seus ciclos contados. Seu olfato é muito apurado e consegue sentir o “cheiro da morte” rondando. Em relação a Carolina, preciso resolver isso o mais breve possível.  Sei que assim que eu definhar, ele virá atrás dela.

A missão era de resgate, mas Caelestis deu seu jeito de envolver negócios e amenizar as tensões causadas por nossa partida iminente. Eu poderia apostar o que resta da minha vida que o soberano de Alfa-Centauri está tentado a nos impedir de sair da estação, mas Zephyrus agiu com prudência, contendo a fúria do seu rei, prestes a explodir e se derramar sobre nós. Conseguimos sair sem mais delongas, eu com o que vim buscar e minha irmã com milhares de moedas universais; ela conseguiu negociar a venda do protótipo de rastreamento. Não sei porque ainda me causa espanto que ela faça negócios numa situação tão delicada. Não duvido que ela fosse capaz de me vender se achasse um bom preço.

A viagem de volta duraria algum tempo, então me recolhi ao meu alojamento após deixar tudo encaminhado para deixar as fêmeas de volta em seu planeta natal. Sequer tenho forças para lidar com as emoções conflituosas que estão se abatendo sobre mim. E também,  não havia motivos para adiar o inevitável. Eu não tinha direito algum sobre a Lúcia, então deixei o caminho livre para aquele bastardo híbrido.

Como esperado, Caelestis não desistiria de mim tão fácil e tem mandado fêmeas para meu alojamento no decorrer desses dias; não importa quantas mande, recusarei todas. Se não posso ter aquela que amo, não há sentido em continuar vivendo. Então por que me esforçar para me vincular à outra?! Nem mesmo o poder de ser o supremo ancião me atrai tanto.
Deitado em minha cama, sob a penumbra, já nem sei dizer se é noite ou dia. Meu corpo debilitado está frio e letárgico, mas ainda consigo ouvir o sutil barulho da porta abrir e fechar.

— Não se dê ao trabalho, pode voltar! — ordeno e apenas o silêncio é minha resposta, o que me faz cogitar minha própria sanidade. Ao menos um resmungo tenho ouvido todas as vezes que as dispenso.

— Você ao menos se esforça para morrer com um pouco de dignidade?! — a voz inconfundível da Lúcia reverbera nesse ambiente silencioso.

— Você acredita mesmo que minha dignidade me preocupa nesse momento?! — É tentador me virar para contemplá-la e o desespero por tê-la em meus braços me faz agarrar os lençóis com força — Volte por onde veio! Não preciso de sermões e tampouco sou digno de pena! — Sei que a estou provocando deliberadamente, mas posso apostar que Caelestis tem um dedo nisso; certamente a convenceu a vir aqui “me salvar”. Talvez queira me convencer a aceitar o vínculo com outra fêmea.

— Acha mesmo que vim te dar sermões, seu idiota?! Você entende o quanto fiquei preocupada?! Não é mais fácil você me pedir desculpas pelas merdas que fez comigo?! — posso sentir o quão irritada ela estar agora. — Por que eu teria pena?!

— Um pedido de desculpas?! Isso resolve tudo?! — Questiono, realmente incapaz de entender se algo aparentemente tão simples seria suficiente.

— Não, não resolve! Mas já é um começo…— ouço um leve farfalhar e o som abafado de algo caindo, logo após uma sutil movimentação sobre a cama — não te conheci tão covarde! — Sua voz está mais próxima, ainda mais do que poderia esperar. — Você não pode morrer, a menos que eu te mate com minhas próprias mãos…— ela suspira baixinho ao se aconchegar sob as cobertas, colada ao meu corpo.

Sua pele nua em contato com a minha é, com certeza, a pior tortura pela qual já passei. Tudo em mim vibra por possuí-la, mas não farei isso.  Não depois de todo mal que lhe causei. Além do mais, sei que ela não está fazendo isso de livre vontade; conheço bem minha irmã para saber disso.

— Caelestis cometeu um erro ao mandá-la aqui! Você não me deve nada e não há motivos para me salvar! — Digo após breve silêncio e procuro me afastar, sentando-me na cama. — Eu não farei isso com você! Dou minha palavra de que não voltarei a feri-la novamente! Eu sinto muito por tudo que fiz! — Por fim confesso. — Agora peço que saia do meu recinto, não quero ser rude.

— Seu grande idiota! — ela praticamente grita, fazendo minha audição sensibilizada zunir. — Caelestis não me mandou aqui, eu que implorei para vir. — Não é como se eu fosse acreditar nisso de qualquer forma.

— Vá agora, Lúcia! — dito em tom de ordem, ajustando o roupão no corpo e tentando me levantar, porém minhas pernas fraquejam e caio de traseiro no chão, apenas amortecendo o impacto ao me segurar na lateral da cama.

— Eu não vou sair! — ela veio fungando e consigo sentir o cheiro de suas lágrimas — Deixe-me te ajudar! — diz agarrando meu tronco e me ajudando a deitar, então me abraça.

— Eu imploro, saia! — falo agarrando seus braços e afastando-a de mim. Ouço mais soluços e então uma forte picada em meu ombro faz eu me retrair ligeiramente. — O que você fez?!

— Eu tentei por bem, mas você é um idiota teimoso e não tem nem possibilidade de eu te deixar morrer,  então será por mal…— avisa vindo por cima de mim e se sentando escarranchada.

Maldita Caelestis! Por que você é incapaz de respeitar o fim que escolhi?

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