Destino MotoCiclista

By 3ricautora

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+ 18 | Completo | Há quem acredite em providência divina, propósitos ocultos. Igor não é uma dessas pessoas... More

• Notas da Autora •
• Personagens •
• Destino •
• Prólogo • Siga em frente •
1 • Parada obrigatória
2 • Proibido acionar buzina ou sinal sonoro
3 • Passagem obrigatória
4 • Declive acentuado
5 • Área de estacionamento
6 • Proibido trânsito de bicicletas
7 • Aeroporto
8 • Mão dupla
9 • Circulação exclusiva de caminhão
10 • Área escolar
11 • Pista escorregadia
12 • Pedágio
13 • Curva em S
14 • Área com desmoronamento
15 • Sinal amarelo
17 • Circulação exclusiva de bicicletas
18 • Proibido trânsito de motocicletas
19 • Junções sucessivas
20 • Sentido circular na rotatória
21 • Estreitamento de pista
22 • Animais
23 • Hotel
24 • Pista sinuosa
25 • Largura limitada
26 • Comprimento limitado
27 • Semáforo à frente
28 • Sinal verde
29 • Cruzamento de vias
30 • Passagem sinalizada de pedestres
31 • Sentido proibido
32 • Proibido ultrapassar
33 • Sinal vermelho
34 • Depressão
35 • Serviço mecânico
36 • Pronto socorro
37 • Proibido estacionar
38 • Rua sem saída
39 • Cruz de Santo André
40 • Proibido retornar
41 • Sentido único
42 • Obras
43 • Informação turística
44 • Bonde
45 • Abastecimento
46 • Dê a preferência
47 • Velocidade máxima permitida
48 • Ponto de parada
• Agradecimentos •

16 • Trânsito de ciclistas

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By 3ricautora

"Toda coincidência é inteligente."

Nelson Rodrigues

Preparava-me para o pedal matinal quando flagrei uma cena inusitada: o motociclista mais imprudente da cidade se despedia de uma mulher para lá de diferente de seus padrões.

De pele escura, quase da minha cor, era mais encorpada que as top models de costume e seu cabelo castanho, crespo, curtíssimo, contrastava com as tonalidades de loiro usuais. A diferença, de fato, era gritante.

Será que ele bateu a cabeça, não tratou a concussão e aí deu nisso?

Resolvi tirar a dúvida. "Perguntar não ofende", diziam os antigos. E, se ofender, será um bônus.

— E as suas coleguinhas nórdicas? Entraram com atestado? Foram filmar Legalmente Loira 3? — Com uma sobrancelha arqueada, observei a mulher se afastar.

— Sou eclético — gabou-se, dando de ombros e exibindo aquele quase-sorriso irritante em seus lábios.

— Rá-rá! — Forcei uma risada sarcástica para expressar minha descrença. — Muito engraçado. Conte outra piada! — pedi, fingindo ânimo. Detestaria ouvir outra mentira deslavada.

Ele se aproximou de mim devagarinho. Exalava a naturalidade invejável de quem se escora ao lado da porta da vizinha trajando apenas uma cueca boxer (justa demais para o meu gosto).

— Se tiver duvidando, posso te provar na prática — insinuou-se, chegando ainda mais perto. Seus olhos azuis, ainda mais claros depois da sugestão, cintilaram de luxúria.

Um calor anormal subiu pela minha garganta e fez meu rosto arder. Vinha de baixo, de baixo mesmo. O que tá acontecendo comigo?

— Dispenso. Já tenho conhecimento suficiente pra ganhar a causa — decretei, dando-lhe as costas. Pus um ponto final no assunto antes de a conversa escalar e tornar-se mais uma troca de ofensas. Só queria evitá-lo e seguir em frente.

Determinada a sair dali e esvaziar a mente enquanto pedalava, parti. Com um breve e desconcertado aceno de mão, despedi-me, antes de descer a escada saltando a cada dois degraus para me afastar o mais rápido possível.

Seu olhar obsceno havia me afetado mais do que antes. Provocara sensações diferentes em partes do meu corpo — aposentadas desde o término com Heleno — que não devia.

Recordei-me do fim de semana anterior, no qual acordei em seu apartamento e senti aquele olhar sobre mim pela primeira vez. Algo irrelevante naquela hora. Ele era só mais um homem cheio de lascívia, incapaz de lidar com uma mulher sem tratá-la como um pedaço de carne — e enxergar além do corpo dela.

Agora não dava para relevar. Não quando, apesar de infernizar a minha vida, seus escapes de boa índole se tornavam cada vez mais frequentes.

Igor dobrara a atenção com as aventuras sobre duas rodas e, nas poucas ocasiões nas quais batíamos cabeça, ele se retratava de imediato. Dispensava a intervenção oportuna do porteiro.

Talvez só houvesse cansado de me machucar no sentido físico da palavra...

Nem nisso eu acreditava.

Apenas evitar derrubar sua sócia não justificava as outras mudanças, especialmente as mais sutis, como deixar de parecer tão entediado durante as reuniões. O homem, que antes mal aturava minha voz — e, apesar de seu semblante grave, dormitava (ou pestanejava) a todo instante —, abandonara sua indiferença.

No lugar do olhar vago, sua atenção se tornava uma constante. Por vezes, podia jurar que o mesmo olhar aguçado aparecia de novo e de novo. Repetindo-se até alcançar seus objetivos indecentes. Despindo-me. Devorando-me.

Encaradas indiscretas, via de regra, me impactavam de maneira negativa — causavam um desconforto sem igual.

Elas me recordavam de olhares do passado, danosos, de homens torpes que importunavam mulheres em todos e quaisquer lugares. Incomodavam a ponto de eu querer me recolher, esconder-me até dentro de mim mesma no exato momento.

Igor me abalava de um jeito (muitíssimo) diferente. Desde o início me abalou com seus modos peculiares. Antes, de uma forma ofensiva. Depois, indefinidamente.

Ele começara a me atingir num ponto sensível. Na bagagem do desamor? No tesão acumulado ao longo do período sem sexo? Na carência, quem sabe? Eu não sabia definir. Apenas o sentia. Sentia bastante.

Até poucos dias atrás, a simples visão de sua pessoa, quando por descuido o observava, só provocava asco. Hoje não. Hoje eu sentira um rebuliço, uma sensação inquietante por ser tão agradável. Uma excitação?

Aos poucos, enxergava-o como alguém quase normal. Alguém capaz de desenvolver uma convivência minimamente pacífica comigo.

Esse pensamento me acompanhava desde quando acordei em sua cama — acabada, desorientada e com uma ressaca pesada. Ou melhor, desde a nossa desastrada dança, encarava-o sob uma diferente óptica.

Enquanto minimizar seus deslizes de cafajeste irrecuperável demandava um esforço sobre-humano, considerar a reparação de outras pequenas más condutas e enaltecer suas qualidades (escondidas por muito tempo sob infinitas camadas de defeitos) ocorria naturalmente. Inclusive, vinha com demasiada facilidade.

Havia também a questão mais superficial, porém, não menos importante: seu físico escultural. O sr. Asimov era dono de uma beleza que nenhum ódio poderia invalidar.

Era lindo até ao natural, sem requerer esforços. Ainda assim, Igor se esforçava. Exceto pelos seus looks de motoqueiro — com jaquetas de couro, calças grosseiras e botas —, andava sempre muitíssimo alinhado, de roupas sociais, barba feita e cabelos arrumados.

Não bastasse ser atraente e estiloso, tinha o borogodó. As pessoas orbitavam em torno dele a despeito da ausência de esforço de sua parte. Da beleza às ações, sobressaía-se um constante desinteresse, uma monotonia inofensiva, intrigante aos olhos de terceiros. Dava um gosto de "quero mais". Ficava nos espectadores de seu mistério a vontade de conhecê-lo para além das primeiras impressões.

Esse desejo só crescia ao incluir o seu beijo na equação. Aquele maldito beijo. Profundo, intenso, quente, uma experiência à parte. Não apenas um beijo entre as irrisórias dezenas de bocas que já experimentei. Ele me dera O beijo. O inesquecível beijo que nem altas doses de tequila deram conta de apagar da minha memória.

E não parava por aí. Isso tudo era sem contar com a ausência de suas roupas. Nos ombros largos, nos braços e pernas modestos, mas torneados, nos contornos de seu abdome que formavam uma linha em V e confluíam direto para o... Tome tento, Amanda!

Vê se pode uma coisa dessas! Qual será a próxima etapa? Fantasiar com esse imundo? É só um corpo bonito, nada mais. Um lindo e gostoso... Vixe! Saia dessa! Vá cuidar das tuas pedaladas, vá!

Assim, concentrei minhas energias na velocidade das pedaladas e em curtir a natureza ao meu redor — a muito custo, só para ressaltar. Seria mais frutífero do que me render àqueles pensamentos. Menos perigoso.

Esse tipo de inquietação não podia ganhar espaço em minha cabeça. Deixar a imagem dele governar minha mente? Permitir que seu jeito abusado continuasse me atazanando? Não. Eu não lhe daria este poder sobre mim.

A srta. Nkosi é outro caso sério, né?

Se tiver gostando, não se esqueça de votar e comentar pra ajudar a autora (✿◠‿◠)

Beijos mil! ✨

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