Olho ao redor do local, e a saudade que eu tanto sentia é preenchida quase que instantaneamente. Eu posso sentir os meus olhos brilharem ao analisar cada detalhe daquele aeroporto. É maravilhoso, ainda mais estando no meu país de origem. A sensação de estar de volta é única. Por mais que os Estados Unidos e Paris sejam totalmente incríveis, a energia do Brasil não chega aos pés de nenhum outro lugar. -Por mais caótico que possa ser, lá no fundo faz falta-.
Angelina aperta a minha mão, e eu olho para a mesma no mesmo segundo. Seu olhar estava curioso, e ao mesmo tempo intrigada. Ela não diz nada, apenas sorri e volta o seu olhar para sua frente.
-Eles já estão aqui, querida?- Ela franze o cenho, olhando ao redor do local a fim de achar algum resquício de qualquer outro ser humano que tenha passado por ali.
Antes de irmos para o meu lugar de origem, Rio de Janeiro-RJ, pousamos em Petrópolis-RJ, onde o meu pai está. Marquei com ele de me encontrar aqui, nesse mesmo horário. Conhecendo ele como eu conheço, ele provavelmente está em algum lugar desse aeroporto me procurando igual um doido. Eu contei por alto que eu estava vindo com a Angelina, mas ele pareceu não dar bola -Ou talvez, só não parou para analisar a situação calmamente, por conta da euforia de ver a sua amada filha depois de longos meses se comunicando apenas por uma chamada de vídeo-.
Passo o meu olhar mais uma vez pelo local, só que desta vez mais atento. semicerro os meus olhos, e eu consigo enxergar uma silhueta de uns 1,75 de altura, acompanhado de uma mulher, que, no máximo, deve chegar aos 1,69. É ele! só pode ser ele!
Angelina percebe a minha inquietação, e logo avista a mesma silhueta vindo em nossa direção.
A cada passo que dávamos, o meu coração ia falhando uma batida. Eu juro que pude sentir o meu corpo falhar de tanta ansiedade e euforia ao vê-lo novamente, ao vivo e a cores.
-Minha filhota!- Ele fala na mais pura animação enquanto eu paro de segurar a mão da Angelina para abraçá-lo.
-Pai!- Falo aliviada, ao sentir o seu abraço -Quente e acolhedor- envolvendo o meu corpo. Abraço ele o mais forte que eu posso, a fim de sanar minha saudade.
Depois de um bom tempo nos abraçando, nós finalmente nos distanciamos. Olho para a minha madrasta e apenas dou um sorrisinho, depositando um falso beijo em suas bochechas.
-Minha nossa!- Ele fala ao cair na real que está vendo a Angelina Jolie em sua frente. -É um prazer conhece-la, Angelina!- Ele fala totalmente envergonhado.
Olho para a expressão de Angelina, e um riso sai sem querer. Ela estava sorrindo educadamente, pois não havia entendido nada, além de, claro, o seu nome.
-Pai...- tento cessar o riso. -Ela fala em inglês!- Falo entre algumas risadas. Ele arqueia as sobrancelhas rapidamente, e após se dar conta disso, ele balança a cabeça em negação.
-It's a pleasure to meet you, Angelina!- Ele fala totalmente envergonhado, e ela apenas gesticula com a cabeça, sorrindo.
-É um prazer conhece-lo também, senhor Anthony!- Sua voz sai o mais suave possível.
Meu pai continuou estudando o rosto de Angelina por mais uns 30 segundos, o que fez a minha madrasta fuzilá-lo com o olhar. Percebendo o clima que se formaria caso isso durasse por mais algum tempo, Angelina apenas faz menção para seguirmos em frente, e assim fizemos.
Tomamos a frente. Acaricio sua mão enquanto alguns incansáveis sorrisos insistem em brotar no meu rosto. mordo o interior de minhas bochechas, encarando o chão.
-Seu pai é uma graça.- Volto o meu olhar para ela, franzindo o meu cenho ironicamente.
-Teria algo com ele, senhorita?- Falo, com a intenção de provocá-la.
-Sua madrasta não deixaria.- Suas sobrancelhas se abaixam, como se estivesse triste.
Arqueio os meus olhos e minhas sobrancelhas, dando um leve empurrão com o meu ombro no braço dela, sorrindo inacreditada. Angelina apenas solta um riso, encarando a minha expressão.
Seu olhar desce rapidamente para os mus lábios, mas logo depois voltando a me encarar. Quase que inconscientemente, paramos de andar. Meu pai ainda estava lá atrás, provavelmente escutando poucas e boas daquela mulher que ele chama de esposa.
Meu olhar fica mais sério, ao perceber o seu olhar perante a mim. Mordo levemente meu lábio inferior, a fim de saciar a minha vontade de sentir a seus lábios sobre os meus. Na posição em que estávamos, qualquer um que nos visse nos veria apenas como boas conhecidas conversando sobre qualquer assunto, pelo menos até ela por a mão em minha cintura e me puxar para mais perto de seu corpo. Nesse momento eu gelei.
Sinto os seus lábios, quentes e macios se encostarem nos meus, iniciando um típico selinho demorado. Apenas escuto o meu pai tossir, o que faz o meu coração acelerar. Como se já não bastasse isso, quando paramos de nos beijar, ela me olha como se fosse uma predadora, me deixando totalmente desconcertada.
Agora, nesse momento, eu juro que eu estou sentindo o meu rosto ficar vermelho a cada segundo que se passa.
Angelina, totalmente calma e tranquila, volta a segurar a minha mão e a andar, como se nada tivesse acontecido. Como diabos ela consegue agir assim, principalmente em "público" ?!
Olho para trás de canto de olho, e vejo o meu pai de boca aberta. Volto o meu olhar para frente, quase que imóvel.
-Você é muito envergonhada, Cameron.- Sua voz sai em um tom leve e brincalhão.
Olho para a mesma, com uma expressão indecifrável.
-Para a sua informação, "querida" -Falo em um tom irônico, mas logo ficando mais séria.- se meu pai me viu beijando alguém mais de duas vezes foi muito, sério! -Me refiro ao meu ex-namorado.
-Bom, agora ele pôde presenciar a terceira vez.- Ela me olha enquanto arqueia suas sobrancelhas, fazendo com que o meus olhos se revirem instantaneamente.
Ao chegarmos no carro, o segurança de Angelina põe nossas malas na mala do carro e abre as portas para nós entrarmos. Como o meu pai veio com o seu carro, apenas combinamos de segui-lo. Como íamos ficar por aqui apenas hoje, ele decidiu -Sem nem perguntar, só decidiu mesmo- que iriamos para uma doceria chamada Chocolates Katz, na qual era meio que uma tradição para nós três -Incluindo a minha madrasta-, pois sempre quando vínhamos à Petrópolis, parávamos lá na Katz para comer. Seja lá um bolo, um croissant, ou apenas beber algum café.
me despeço do meu pai com um leve abraço, e depois disso eu aceno com a cabeça e dou um sorriso fraco para a minha madrasta, antes de entrar no carro.
-Aparentemente você não vai muito com a cara da sua madrasta, não é?- O segurança fecha a porta, e eu olho para ela.
Franzo o meu cenho, a fim de formular alguma frase. -Não é que eu não goste...- Faço uma pausa- Eu só acho ridículo a forma que ela age com o meu pai. E, você sabe...Eu não consigo disfarçar isso.
um leve riso ecoa pelo carro, fazendo com que o meu corpo relaxe. -É, eu sei.- Ela suspira. -Mas, querida...Se ele está com ela ate hoje, das duas uma! -Olho para ela, curiosa- Ou ele gosta disso, ou tem algum motivo maior para ele não largá-la.- Ela dá um sorriso fraco, enquanto sua mão pousa sobre a minha bochecha. -Não se culpe ou fique desse jeito, meu amor. Ele é adulto, e sabe muito bem o que faz.
Balanço a cabeça positivamente, suspirando. Sinto os seus dedos passearem pelo local, fazendo com que o meu corpo se arrepie levemente.
Chegamos na doceria há uns 15 minutos. Escolhemos sentar na parte mais escondida do local, onde haviam bancos acolchoados e maiores. Dessa vez, quem ficou encarregada de não ser vista pelo público fui eu, o que era totalmente justo, já que a Angelina não conhece nada daqui.
-É diferente comer algo em algum lugar sem pessoas rodeadas a sua volta- Meu pai comenta após dar uma garfada em seu bolo de morango. -Se eu pudesse, faria isso sempre!- Todos da mesa soltam uma leve risada. Ele volta o seu olhar para Angelina. -Você não sabe o quanto eu odeio choro de criança em lugares desse tipo!- Seu inglês era totalmente impecável. Quase todos os dias eu agradeço a ele por ter introduzido o inglês na minha vida desde os meus 5 anos de idade.
Uma coisa que chegava ser cômica desde a nossa chegada aqui é que ele não tirava o olho da Angelina por um minuto sequer. Se ele não fosse o meu pai, eu com certeza voaria para cima dele. Mas conhecendo o Velho senhor Anthony como eu conheço, eu sei que o coitado ainda está tendo um choque de realidade, e eu não o julgo.
-Eu confesso que eu também não sou fã.- Angelina fala, dando um gole em seu café.
-Como foram as filmagens por lá, Cameron?- Minha madrasta, Danny (Apelido para Dannyelle), pergunta me encarando.
-Bom...- Passeio a minha mão pela mesa, antes de encará-la. - Foram excepcionais.- Um risinho bobo brota em meu rosto, ao me recordar de todos aqueles momentos. -E inesquecíveis.- Mordo o interior de minhas bochechas, olhando de canto para a Angelina.
-Que ótimo! E...Você sentiu alguma dificuldade em...Atuar?- Ela fala isso, claramente querendo me alfinetar. Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, Angelina toma a frente, com um olhar mortal.
-Joachim não contrataria uma atriz meia boca para esse papel!- Sua voz sai ríspida, mas ao mesmo tempo ainda conseguindo mantendo a calma. -E você pode ter certeza de que ela esteve acompanhada por excelentes profissionais para ajudá-la em qualquer dificuldade que possa ter sido adquirida ao longo das filmagens.- Ela se refere a si mesma, lá no início de tudo, quando ela me ajudou com isso antes das filmagens começarem.
-Inclusive, meu amor...- Falo, no tom mais inocente que eu consigo, fazendo com que o seu olhar se volte para mim.- Muito obrigada por isso.- Falo sorrindo, e ao ver a expressão de desgosto da minha madrasta, nós duas fazemos de tudo para conter um sorriso extremamente malicioso.
-Estou feliz que a minha filha tenha encontrado alguém tão especial- Meu pai fala totalmente sorridente, fazendo com que a Angelina perca a postura por alguns breves segundos.
Como resposta, ela apenas assente a cabeça positivamente com um sorriso tímido em seu rosto.