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By olimpia_valdez

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๐จ๐ง๐ž, choice
๐ญ๐ฐ๐จ, had not notice
๐ญ๐ก๐ซ๐ž๐ž, fair
๐Ÿ๐จ๐ฎ๐ซ, liar
๐Ÿ๐ข๐ฏ๐ž, fault
๐ฌ๐ข๐ฑ, fear
๐ฌ๐ž๐ฏ๐ž๐ง, empty promises and apologies
๐ž๐ข๐ ๐ก๐ญ, count on me
๐ง๐ข๐ง๐ž, audience
๐ญ๐ž๐ง, sober
๐ž๐ฅ๐ž๐ฏ๐ž๐ง, illusory euphoria
๐ญ๐ฐ๐ž๐ฅ๐ฏ๐ž, hope
๐ญ๐ก๐ข๐ซ๐ญ๐ž๐ž๐ง, trust
๐Ÿ๐จ๐ฎ๐ซ๐ญ๐ž๐ž๐ง, invisible barriers
๐Ÿ๐ข๐Ÿ๐ญ๐ž๐ž๐ง, jealousy
๐ฌ๐ข๐ฑ๐ญ๐ž๐ž๐ง, failed love
๐ฌ๐ž๐ฏ๐ž๐ง๐ญ๐ž๐ž๐ง, relapse
๐ž๐ข๐ ๐ก๐ญ๐ž๐ž๐ง, shame
๐ž๐ฌ๐ฉ๐ž๐œ๐ข๐š๐ฅ, 50k!
๐ง๐ข๐ง๐ž๐ญ๐ž๐ž๐ง, save him
๐ญ๐ฐ๐ž๐ง๐ญ๐ฒ, mirror
๐ญ๐ฐ๐ž๐ง๐ญ๐ฒ ๐จ๐ง๐ž, time traveller
๐ญ๐ฐ๐ž๐ง๐ญ๐ฒ ๐ญ๐ฐ๐จ, good luck
๐ญ๐ฐ๐ž๐ง๐ญ๐ฒ ๐Ÿ๐จ๐ฎ๐ซ, favorite person
๐ญ๐ฐ๐ž๐ง๐ญ๐ฒ ๐Ÿ๐ข๐ฏ๐ž, selfish
๐ž๐ฌ๐ฉ๐ž๐œ๐ข๐š๐ฅ, 100k!
๐ญ๐ฐ๐ž๐ง๐ญ๐ฒ ๐ฌ๐ข๐ฑ, darkness

๐ญ๐ฐ๐ž๐ง๐ญ๐ฒ ๐ญ๐ก๐ซ๐ž๐ž, useless

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By olimpia_valdez






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CW/TW: início de um ataque de pânico e consumo de drogas licitas





Tem muitas variáveis que definem um jogo de futebol, além de times bem treinados e bons jogadores. Na verdade, qualquer esporte tem fatores externos que podem determinar a performance de um atleta, como condições de um gramado, por exemplo, ou até o emocional, algo que influencia até mesmo como o dia de alguém pode ou não funcionar, complexo em sua essência natural.

Mikey sabe muito bem disso, ele mesmo já teve jogos difíceis por tais contextos, ele nunca vai esquecer do primeiro jogo que teve depois da morte de Shinichiro.

É natural, chega a ser injusto para alguém se tornar "sem coração" ao ponto de colocar toda e qualquer carga emocional de lado antes de uma partida, mas infelizmente essa é a realidade de todo e qualquer esporte. Afinal, você está ali pelo objetivo de vencer e tudo que pode estar atrapalhando alcançar a vitória deve ser descartado, mas como descartar a própria mente?

Complexo, não acha?

Complexo e praticamente impossível.

Mikey, como quarterback, possui a responsabilidade de observar seu time e a defesa dos adversários, escolhendo a melhor jogada em poucos segundos. É uma posição difícil, não é sem motivo que é a mais importante do time, além de ser a mais valorizada em todas as categorias, desde o nível escolar até o profissional, mas por baixo disso tem o próprio quarterback como pessoa e indivíduo. No caso de Mikey, a mente dele estava gritando por causa do melhor amigo dele.

O jogo até que estava indo bem, estavam ganhando, mas assim, na altura do terceiro quarto, ele já imaginava que teriam uma diferença bem maior contra Stanford, mas o placar ainda estava 18 X 14, o que o deixava levemente nervoso, afinal, ele sabia porque a distância entre as pontuações estava tão curta. Kazutora é um excelente jogador, não pode negar o óbvio, mas é por esse mesmo princípio que se entende que não pode mentir e dizer que ele está fazendo um bom jogo, o que não é só frustrante para o time em si, mas principalmente para ele.

Não é fácil não conseguir se concentrar em algo em que você precisa estar 100% focado e a situação piora ainda mais quando se trata de uma atividade que você gosta.

Kazutora tentou respirar fundo, realmente tentou, mas não parecia que o oxigênio estava circulando pelo corpo dele, o que fazia a mente dele ficar cada vez mais nublada, sem contar a enorme quantidade de barulho e o constante choque que estava sofrendo perante a defesa de Stanford. Ele tinha uma certa noção de que começaria a ser ainda mais marcado do que antes por causa do último jogo, mas porra, os ombros dele já tinham começado a doer, e nem estavam nos 15 minutos finais, o que definitivamente é uma merda.

Sem falar que as costas dele ardiam como brasa.

Tudo parecia desajeitado, a mente, a respiração e ele nem ia entrar no mérito do uniforme, em que cada peça de roupa parecia estar no lugar errado de uma forma que ele nem conseguia colocar em palavras, ou até mesmo em algum pensamento que fizesse um mínimo de sentido. Parecia que estava acontecendo de novo o que tinha ocorrido no dia anterior ao voltar para casa, mas com certeza em um lugar mil vezes pior. Dessa vez, definitivamente o futebol não estava sendo um lugar de conforto para Kazutora, e você também estava percebendo isso.

Encarava a tela da televisão apreensiva, os amigos do seu pai não entendiam completamente porque parecia tão nervosa com o jogo que estava praticamente decidido para a vitória do time da UCLA, mas como explicaria que sabia que tinha algo de errado com o seu melhor amigo só de o ver jogar? Claro que alguns também diriam a mesma coisa, mas só você tinha uma ideia do que poderia estar passando na cabeça dele e com certeza não é algo necessariamente bom.

Então foi aí que uma luz do túnel surgiu para você, uma salvação que apareceu na figura de um homem ruivo em pé, a alguns passos atrás do treinador Scott, assistindo o jogo da lateral do campo. Pegou o celular no bolso da calça e se levantou do puff, saindo um pouco da sala, mas ainda conseguindo assistir o jogo. Buscou rapidamente o contato de Tony no celular e em menos de um segundo estava ouvindo as chamadas da ligação na orelha, tinha que conseguir falar com Kazutora de alguma maneira.

— Alô?! — a voz de Tony levemente abafada pelo barulho do estádio logo se fez presente e um suspiro de alívio saiu da sua boca.

— Oi, Tony! Preciso muito da sua ajuda! — falou um pouco mais alto para que ele pudesse te escutar com clareza.

— Eu não sei se vou conseguir te ajudar de alguma forma, [Nome]. Estou no meio do jogo do Kazutora.

— Eu sei! Te vi passando rapidamente na TV quando a câmera focou no Scott. Mas é por você estar aí que eu te liguei.

— Como assim?

— Acho que o Kazu precisa de ajuda.

— Então não foi só eu que percebeu que tem algo de errado.

— Estou angustiada desde o início da partida.

— Digo o mesmo — você escutou um resquício de suspiro e o seu coração apertou, principalmente pelos segundos de silêncio que se sucederam — Vou ver o que consigo fazer, mas, por favor, fique na ligação.

— Faço tudo o que você precisar, Tony.

O mais velho sorriu fraco pela sua voz, com os olhos azuis atentos ao acompanharem o jogo, mais especificamente Kazutora, com a figura do jogador nunca saindo de seu campo de visão. Ele sabia que tinha sido uma péssima ideia ter concordado em o deixar jogar depois de ontem, mas Tony ainda não tinha aprendido a dizer "não" para Kazutora, principalmente quando se trata de situações que interferem diretamente com o maior trauma da vida dele.

— Scott — chamou o treinador, ao se colocar ao lado dele — Sei que não tenho moral para dizer o que você deve ou não fazer com o seu time, mas, por favor, tire o meu filho de campo, nem que seja por cinco minutos.

O pedido de Tony foi recebido com um suspiro por parte de Scott, que via Kazutora correr para receber um lançamento de Mikey e completar a segunda descida.

— Ele não está bem.

Não foi uma pergunta e isso doeu de diversas formas em Tony.

— Não está, mesmo que ele queira fingir que sim.

— Acho que ele vem fingindo há muito tempo — Scott respirou fundo, chamando integrantes da comissão técnica para que já arrumassem a troca de Kazutora, mandando um dos calouros começar a se aquecer propriamente — Ontem foi tudo o que vocês não esperavam, não é?

Tony não conseguiu responder com palavras, um curto aceno de cabeça foi o que conseguiu, suspirando ao encarar a tela do celular, onde a sua chamada ainda continuava, mesmo que no mudo para que você não tivesse que escutar a confusão do estádio. Ontem tinha sido um pesadelo em formato de dia só pelo o que aconteceu na parte da noite, mas depois que Kazutora e Madeleine contaram como tinha sido a visita durante o almoço, simplesmente parecia que estavam vivendo com o próprio mal encarnado.

Mary ficou lívida, nunca tinha visto a namorada com uma expressão tão possessa enquanto escutava o que o ex-marido tinha falado para os filhos, sem contar que teve que explicar coisas que não queria, como o primeiro tapa que recebeu de Jacob ao descobrir que estava grávida. Tantas coisas e sentimentos que explodiram em um único dia, uma situação extremamente delicada, principalmente para pessoas que se acostumaram e foram forçadas a crescer escondendo tudo o que sentem.

Tony respirou fundo ao ver Kazutora começar a sair do campo, em uma corrida rápida para que não atrapalhasse o tempo curtíssimo para, agora, a quarta descida. E mesmo que se sentisse um pouco mais aliviado só por o estar vendo fora de campo, o aperto do coração se manteria, principalmente ao ver com clareza a expressão que tomava o rosto do mais novo, após a retirada do capacete.

Transtornado.

Kazutora estava transtornado.

E tudo só piorou quando algumas câmeras que transmitiam o jogo se voltaram para ele, sem falar da própria comissão técnica e dos outros companheiros de time.

Muito barulho, muitas pessoas, o suor, o cansaço, a dor de cabeça e o desconforto muscular.

Tudo estava sendo demais.

Estava sentindo demais.

E Kazutora nunca tinha se permitido sentir tanto.

Ele queria gritar, sumir e queimar tudo até o último canto do mundo, porque assim não sobraria nada.

E no vazio, não existe nada para que se possa sentir.

Sentiu uma mão firme o puxar pelo braço e foi instintivo tentar se soltar, completamente reativo, um comportamento quase que intrínseco ao modo de sobrevivência que Kazutora tinha sido forçado a ter, mas logo um par de olhos azuis entraram em foco e a figura de Tony se materializou.

— Respira, Kazutora — a voz de Tony, de alguma maneira, parecia baixa demais, mas Kazutora ouviu e tentou respirar.

Mas como se fosse um eterno looping, a sensação de que não tinha puxado o ar suficiente entrou em alta velocidade na mente dele e pânico começou a se instalar no peito dele.

— Ei, não desvia o olhar, continua olhando pra mim.

Kazutora ouvia a voz do padrasto quase como se fosse um eco, abaixo das infinitas camadas que existiam agora na mente dele, uma mente que tinha sido engatilhada da pior forma possível. O corpo dele queria se mover, fugir daquele campo, pra qualquer lugar, talvez até se esconder, como no armário debaixo da pia, onde tinha se acostumado a passar longos minutos esperando que o pai se "acalmasse" ou ficasse bêbado o suficiente para esquecer que queria dar uma surra no filho.

Chega até ser irônico pensar que antes de bater de frente com Jacob, Kazutora sempre fugia do pai. Na maior parte das fotos que possuem em família, sempre está ao lado da mãe ou no colo dela, sem contar dos vídeos que demonstram claramente que até mesmo antes de saber do que acontecia entre os pais já não se sentia confortável com o mais velho. Passou anos e anos correndo e fugindo dentro da própria casa e agora joga em uma das posições que mais correm no futebol americano.

O pensamento fez com que um gosto amargo surgisse na boca de Kazutora, pensou que talvez essa pudesse ser a razão de ser tão bom, afinal, sempre correu de tudo.

As lágrimas ameaçavam cair e tentou mais uma vez respirar fundo, mas se sentia ainda mais frustrado por não conseguir, tentando se mover contra a maré de problemas empurrados para dentro de um cofre, mas que tinha sido arrombado à força. Porém, no meio a tudo isso, sentiu mãos o segurarem pelos braços e alguém o forçar a sentar na grama, com dois pontos azuis sendo praticamente a única coisa que estavam em foco na visão dele.

— Que dia da semana é hoje?

— O que? — perguntou quase que sem fôlego e confuso.

— Que dia da semana é hoje, Kazutora?

— Sábado?

— Isso mesmo. Agora, onde você está?

— Eu...

— Qual cidade? Você está em qual cidade?

— San Francisco.

— Perfeito. E o que você estava fazendo?

— Jogando.

— Quanto é vinte e um dividido por sete?

— Três.

— Cinco vezes cinco?

— Vinte e cinco.

— Isso, agora, tenta respirar fundo.

Kazutora tentou de novo e não conseguiu, mas já foi bem melhor do que a última vez, com o peito ficando menos apertado. Conseguiu identificar a figura de Tony, que estava agachado na frente dele com uma expressão preocupada, enquanto o segurava pelos braços e indicava para que tentasse respirar mais uma vez. O mais velho sentiu uma pontada de alívio ao ver que as perguntas tinham funcionado, uma maneira de tirar a mente de Kazutora de onde ela poderia estar presa.

— Água? — perguntou, depois de mais alguns instantes e recebeu um aceno positivo com a cabeça.

Logo entregou a garrafa de água, desviando rapidamente o olhar do enteado para o treinador para poder erguer o polegar em um sinal de positivo, avisando que estava lidando com a situação. Scott sentiu um pouco mais de paz com a confirmação de Anthony, mas uma sensação ruim ainda o balançava, principalmente por nunca ter visto o seu jogador dessa maneira. Não poderia dizer que nunca tinha visto Kazutora de uma maneira "diferente" do habitual, já tinha pego o mais novo em completos momentos de dissociação, com a mente perdida em lugares que Scott não gostaria de imaginar.

Ele só sabia o que tinha saído na mídia e o que lhe tinha sido confidenciado e isso já era ruim o suficiente para uma vida inteira.

— Agora, uma pergunta mais difícil: qual é o seu nome?

— Sério, Tony? — Kazutora o olhou em descrença, conseguindo que um sorriso mínimo se formasse no rosto do mais velho.

— Seríssimo.

— Kazutora Hanemiya — respondeu, sentindo até mesmo uma vontade leve de rir, mas sentia a cabeça completamente pesada pra isso.

O corpo parecia ter o mesmo cansaço de ontem, o cansaço que o fez dormir por uma quantidade de horas muito maior do que tinha se habituado, sem falar do formigamento que ainda passava pela pele. Ele não queria pensar demais no que tinha acabado de acontecer, faria de tudo para não voltar àquelas memórias, mas ele sabia que não conseguiria mais fugir do passado.

— Melhor?

— Um pouco — respondeu, meio incerto, e aproveitou para tentar respirar fundo mais uma vez, finalmente conseguindo.

— Tem uma pessoa que quer falar com você.

— Quem?

Tony respondeu erguendo o celular, com o seu contato brilhando na tela, o que fez o peito de Kazutora apertar um pouco, não sabendo necessariamente se gostaria de ouvir a sua voz em um momento como esse.

— Ela me ligou preocupada com você.

— Por que?

— Ela tá assistindo o jogo, percebeu que tinha algo de errado.

Por um momento, Kazutora quis que você não o conhecesse tão bem, mas logo esse pensamento foi expulso da cabeça dele, porque foi por isso, essa intimidade, que te fez não só salvar a vida dele, mas como também as de Mary e Madeleine.

— Eu vou falar com ela.

— Estou aqui do lado.

Tony entregou o celular e se levantou, dando alguns passos de distância, o suficiente para trazer uma espécie de privacidade, além de garantir que ninguém necessariamente incomodasse o enteado.

— Tony? — você perguntou, ao perceber que a ligação não estava mais no mudo, ouvindo de fundo os resquícios de barulho do jogo.

— Não é ele — foi o que Kazutora conseguiu responder, depois de longos segundos em silêncio.

— Oi, Kazu.

— Oi, [Nome].

— Pensei que era o Tony que ainda estava na ligação — falou, se encostando na parede do corredor e deixando que o seu corpo escorregasse para que sentasse no chão.

— Ele me disse que você queria falar comigo.

— Assim, querer falar com você eu quero, mas não sei se o sentimento é mútuo.

Kazutora se viu em silêncio por um tempo, com os olhos observando o decorrer do último tempo do jogo.

— Eu também não sei, [Nome].

— No seu direito — soltou uma risada sem graça e curta, enquanto os seus dedos, inquietos, mexiam nos fiapos da barra da sua calça jeans — E você não precisa, se não quiser.

— Só... — aconteceu uma pausa no outro da linha, como se Kazutora estivesse tentando organizar os próprios pensamentos — Só aconteceu muita coisa ontem.

— Por que sinto que isso é você tentando se justificar pra mim?

— Tem como, sei lá, por cinco minutos, você não me conhecer tão bem?

— Você sabe que isso já é intrínseco a minha própria natureza — respondeu, tentando controlar a risada, sabendo muito bem que seu melhor amigo estaria revirando os olhos.

— No momento, estou achando isso um saco.

— Não posso fazer nada — deu de ombros, mesmo que ele não pudesse ver — Mas não quero que você se justifique.

— Mas eu gritei com você.

— Eu também gritei com você.

— Não ouvi o que você queria me dizer.

— E eu errei em tentar te fazer me ouvir logo ontem.

— Agora é você quem está tentando se justificar.

— Com certeza.

— E por que eu não posso?

— Porque a errada na situação sou eu.

— Mas eu não sei o que aconteceu com você.

— E eu não vou falar sobre isso no telefone.

— Por que?

— Não é uma situação que só me envolve.

— Mas você está bem? — a preocupação na voz dele foi nítida para você e isso te machucou mais do que pensava que fosse.

— Estou e acho que não preciso fazer essa pergunta pra você.

— Com certeza não — Kazutora riu fraco, passando a mão no cabelo — Só tá sendo muita coisa ao mesmo tempo.

— Eu... Eu quero que saiba que se eu pudesse, tentaria mudar tudo que aconteceu ontem para poder estar do seu lado quando você mais precisou de mim.

— Ontem eu fui bem babaca com você ao duvidar disso.

— Você não foi babaca comigo ontem, eu sei bem a diferença entre alguém que está realmente sendo e alguém que não.

— Tem alguém sendo babaca com você?

— Modo de falar.

— Mesmo?

— Mesmo.

Teve mais um momento de silêncio antes que Kazutora voltasse a falar, e você aproveitou para se levantar.

— Amanhã, quando eu voltar com o time para Los Angeles, você se importaria em ir na fraternidade pra gente conversar?

— Já estou lá.

— Eu te mando mensagem depois.

— Tudo bem — suspirou, distribuindo o peso entre os pés — Você sabe que pode me ligar se precisar de qualquer coisa, não sabe?

— Sei —  ele riu fraco — E você? Sabe que pode me ligar se precisar de qualquer coisa, não sabe?

— Sei sim, Kazu.

— Até amanhã, [Nome].

A ligação foi encerrada antes que pudesse necessariamente se despedir e respirou fundo ao encostar a parte de trás da sua cabeça na parede, segurando o celular com uma certa força. Mesmo que a conversa que acabaram de ter na ligação tivesse sido melhor do que qualquer coisa que poderia ter imaginado, a sensação de que ainda não estava tudo bem te assombra, afinal, ficar em um conflito silencioso com alguém importante é uma das piores formas de tortura que pode existir no mundo.

— Está tudo bem? — a voz do seu pai tomou a sua atenção, te fazendo abrir os olhos e o encontrar na ponta do corredor.

— Acho que vai ficar.

— Vem, o jogo já está acabando.

Assentiu com a cabeça antes de andar até ele, com pelo menos um peso muito menor sobre os ombros. Tem muita coisa pra tentar resolver? Tem, mas só de ter conversado com Kazutora parecia que o mundo estava voltando a entrar nos eixos, ou pelo menos sentia que talvez a sua vida poderia se simplificar, pelo menos um pouco.

Claro que isso é só uma sensação, afinal, a vida gosta de surpreender, mesmo que não seja algo que nós realmente gostemos que aconteça, afinal, atingir um ponto de paz na própria vida é o desejo de, pelo menos, a maior parte da população mundial.

É até engraçado pensar que tem momentos que só queremos paz, simplesmente que a vida parasse, nem que seja por cinco míseros minutos, ou o tempo necessário para recuperar o fôlego para poder continuar.

Kazutora tem esse desejo de sentir paz desde o instante em que começou a ter consciência de si como pessoa, e ele consegue contar nos dedos quantos foram esses momentos, tão poucos para uma vida de quase vinte e três anos.

Suspirou ao finalizar a ligação, vendo Tony se aproximar, não demorando a devolver o telefone para o padrasto.

— Você sabia que a gente tinha brigado? — perguntou para o ruivo, que se agachou ao lado.

— Tinha uma hipótese. Foi uma conversa boa?

— Aceitável — deu de ombros, não sabendo ao certo como definir — É só estranho sentir algo ruim em relação a ela.

Não demorou a perceber que tinha vacilado no dia anterior, ao te encurralar daquela forma, quase que desabando tudo o que estava sentindo sobre você. Porém, o ressentimento ainda não tinha desaparecido completamente.

— As pessoas erram, algumas muito mais do que as outras. A diferença é o que elas fazem depois do erro, se realmente tentam mudar ou preferem fingir que nada aconteceu e se protegerem com a armadura da ignorância, continuando no erro. E nós dois sabemos que a [Nome] nunca será a segunda possibilidade.

— Sei lá, é complicado.

— Não estou dizendo que não é e tá tudo bem se sentir assim, vocês são próximos, com certeza algo assim machucaria.

— Só não esperava.

— Ninguém espera ser machucado por quem ama.

Uma frase nunca representou tanta coisa para Kazutora como essa, tão ampla e aplicável para muitas fases da vida dele, o que genuinamente o assusta.

— Obrigado por ter vindo.

— Não precisa me agradecer por isso.

O sorriso de Tony era caloroso e Kazutora se permitiu retribuir, mesmo sendo só com um simples repuxar de lábios, mas não é como se o ruivo fosse cobrar algo dele. Voltaram a atenção para o jogo, acompanhando a vitória da UCLA ser concretizada, mesmo que a diferença no placar não tivesse sido a melhor possível, mas esse era só o segundo jogo da temporada, eles tem até o final de novembro para garantir a campanha perfeita para se elegerem para as semifinais do campeonato.

— Você tá bem?! — Mikey perguntou, depois de chegar correndo na frente de Kazutora, completamente suado e com o cansaço estampado no rosto.

— Vou ficar.

— Não gostei dessa resposta — resmungou ao colocar o capacete ao lado do melhor amigo e se jogar na grama, encarando o céu já escuro e quase sem estrelas de San Francisco.

— Não posso fazer nada em relação a isso.

— Sinceramente...

A risada de Kazutora foi fraca, mas o suficiente para roubar a atenção de Mikey, que tinha preferido correr até o melhor amigo que comemorar com o time.

— O que aconteceu?

— Não vamos falar sobre isso agora — disse, se levantando do chão.

— Mas essa conversa vai acontecer?

Um aceno de cabeça como confirmação foi a resposta e Mikey se permitiu suspirar, estava cansado, com uma dor de cabeça se formando, mas a noite não tinha terminado, sabia que teriam uma festa pra ir, na casa do capitão do time de Stanford, e ele bem sabia que tudo mundo pilharia de ir, até o próprio melhor amigo que, agora, oferecia as mãos para o colocar de pé. Talvez devesse convencer Kazutora a não ir, ou até mesmo apelar para Tony, mas não tem o direito de fazer algo assim, principalmente pelo próprio passado.

Não foram poucas vezes que Kazutora acordou de madrugada para o procurar nas mais diversas boates que frequentava nos finais de semana, e olha que ele nem entraria no mérito do que aconteceu quando Shinichiro morreu.

Assim, simplesmente deu de ombros para a situação e puxou o melhor amigo para finalmente comemorar a vitória com o time, o guiando pelos ombros na direção do vestiário, para que pudessem, também, tomar banho e saírem do estádio. Nesse meio tempo, ele não esperava que Kazutora acabaria falando alguma coisa, pensava que só conversariam no dia seguinte, mas foi só entrarem no ônibus que percebeu que estava enganado.

Sentados na última fileira e com conversas altas e paralelas ao redor, Mikey o ouviu sussurrar o que, naquele momento, Kazutora estava disposto a falar, o que já era muito.

Foram minutos e minutos de coisas que aconteceram de ontem para hoje, inclusive o porquê da mão enfaixada.

Foram minutos e minutos dos mais variados pensamentos, memórias e frustrações.

Foram minutos e minutos de Mikey sentindo o coração ser esmagado por uma das pessoas que mais merece paz nesse mundo.

Desceram do ônibus em silêncio, um que só foi interrompido pelo som de surpresa que saiu da boca de Kazutora quando Mikey o puxou para um abraço, um abraço que não sabia que precisava. Ficaram naquela posição por um bom tempo e trocaram olhares ao se afastarem, na intenção de irem até o quarto que estavam dividindo.

Afinal, tinham uma festa para ir e Kazutora só queria apagar a própria mente, nem que fosse por somente uma noite.






(...)






Falar que a casa não era grande seria um eufemismo, além de ser extremamente bonita, seguindo o padrão arquitetônico da cidade, e ficar na esquina de uma das ruas mais bem conceituadas de um dos bairros mais caros de San Francisco, Pacific Heights. Resquícios de uma música eletrônica tomavam a noite, o que indicava que o som deveria estar estrondoso dentro da construção de três andares.

Kazutora respirou fundo, ao colocar as mãos dentro do bolso da jaqueta de couro preta e seguir os amigos, que conversavam animadamente. Sempre existia um risco de ir em festas do time perdedor, já passou por algumas situações bem engraçadas com pessoas extremamente bêbadas tentando arrumar confusão, mas festas universitárias são festas universitárias, se não tem no mínimo um problema, não são festas de verdade.

— Alguma dúvida antes de entrarmos? — Mikey perguntou para o grupo, que era uma mistura de líderes de torcida e jogadores de futebol.

— O horário que a gente tem que tá no ônibus para irmos pro aeroporto é meio dia, né?

— Isso mesmo, Dylan. Eu não me importo como vocês vão embora daqui, só espero que apareçam no horário porque temos que pegar nosso voo pra casa. Mais alguma coisa?

Cabeças balançaram em negação e Mikey suspirou, passando o braço pelo quadril de Senju antes de se virar e começar a subir as escadas que davam acesso para a enorme porta branca da casa.

— Você sabe que podemos vazar daqui quando quiser — a platinada sussurrou contra a orelha dele.

— Eu sei, princesa.

— Promete que vai me avisar?

— Prometo.

Senju se deu por vencida e puxou a saia que usava um pouco mais pra cima, se sentindo pronta para mais uma festa, com a letra de No Hands, Waka Flocka Flame, invadindo os ouvidos ao adentrar a festa. Um sorriso satisfeito tomou o rosto dela, estava completamente lotada e levantou um pouco mais o queixo ao notar uma boa quantidade de olhares acompanhando o novo grupo de convidados.

— Pensei que vocês nunca iriam aparecer! — Bernard, ou mais conhecido como Ben, capitão do time de Stanford, logo apareceu, com um copo vermelho em mãos.

— Você sabe que entradas triunfais fazem bem mais o nosso estilo — Mikey brincou, aceitando o abraço lateral do amigo.

— Não muda nunca, né?

— Por que faria uma coisa dessas?

Ben balançou a cabeça em negação, soltando uma risada que praticamente foi coberta pelo volume da música, e cumprimentou os outros jogadores de uma maneira mais geral, dando abraços somente em Baji e Kazutora, por realmente serem amigos fora do campo. Não demorou para explicar o esquema da casa, quais cômodos poderiam entrar, inclusive os quartos que poderiam usar, e onde estavam as bebidas, pulverizando os alunos da UCLA.

— Vem, vocês ficam comigo — indicou para o trio de outro, que o seguiu, desviando das várias pessoas que curtiam a festa.

Chegaram a uma parte mais "exclusiva" da sala de estar, relativamente perto da pista de dança improvisada, mas de forma que não seriam incomodados. Um sofá em formato de "L" e de couro caramelo estava empurrado na parede e sentados nele estavam a elite do time de Stanford, com algumas garotas por perto.

Os cumprimentos acontecem, mesmo com o clima do jogo ainda no ar, mas não é como se algumas bebidas não fossem mudar a atmosfera completamente.

— Vou pegar bebidas pra vocês — Ben falou, já chamando um amigo para ir com ele.

— Não, eu te ajudo — Kazutora falou, nem se sentando no sofá, como Mikey e Baji, que inclusive já estava conseguindo seda para poder bolar um baseado.

— Não precisa, cara.

— Você não vai me convencer do contrário.

Ben revirou os olhos empurrando Kazutora de leve, o guiando na direção da cozinha.

— Ele tá bem? — Senju perguntou para Mikey, ao se ajeitar em seu colo, com as unhas, recentemente pintadas de azul royal, traçando desenhos na nuca do loiro.

— Não necessariamente, tem muita merda rolando.

— Pelo seu tom, não é algo que eu vou poder saber.

— Não é nem isso, princesa. Só não vai ser pela minha boca — se ajeitou melhor no sofá, apoiando a cabeça no encosto e envolvendo o quadril de Senju com o abraço, de forma que uma das mãos ficasse apoiada na coxa dela.

— Entendi, só fico preocupada.

— Eu também estou, mas é algo que até está fora do meu alcance.

Senju assentiu com a cabeça, levando os olhos azulados para a pista de dança avaliando o ambiente, sentindo o nariz de Mikey traçar a linha da curva do pescoço dela, mas logo sendo substituído pela boca, com um beijo suave sendo depositado bem na região embaixo da orelha.

— Não vai querer dançar?

— Não agora, quero beber pelo menos alguma coisa antes.

— O estímulo necessário?

— Com certeza, principalmente porque estou bem confortável aqui — respondeu, passando o dedão sobre o lábio inferior de Mikey.

— Só me promete que vai me achar quando for perto da meia-noite.

— Quer passar a virada comigo?

— Eu tenho que ser o primeiro a te desejar "feliz aniversário".

— Você é impossível.

— Mas você gosta.

Pra caralho.

Mikey sorriu ao ter os lábios de Senju se juntando aos dele, em um selinho demorado, ele não conseguia colocar em palavras o tanto que se sentia bem ao lado dela e é por isso que faria de tudo para que o aniversário dela fosse perfeito. Já estava organizando uma festa surpresa na semana que vem, juntando a comemoração com o de Kazutora que seria no próprio sábado, e com eles tendo o jogo na sexta, tudo indicava que seria uma festa foda.

Quase resmungou ao ter a platinada se afastando, e se fosse em uma outra época, não teria problema algum em continuar a beijando ali no sofá, mas ele sabe como Senju é e não iria forçá-la a fazer o que não se sentia confortável. Ela sempre foi discreta com quem ficava e até se sentia meio contraditória ao ter noção de que não gosta desse tipo de atenção.

Gosta de quando a admiram por ser bonita e uma ótima cheerleader, mas por estar se agarrando com alguém? Parecia que algo se revirava no estômago dela só de pensar nessa possibilidade.

Mikey respeita isso com muita tranquilidade e logo estava entrando na conversa que acontecia ao seu redor e não demorou a começar a rir, mesmo com a rivalidade entre as duas universidades, sabia que havia pessoas legais no outro time. Se parar pra pensar, só teve um time que realmente teve problemas e o loiro prefere não se lembrar dele até ser obrigado a enfrentá-lo.

Depois de um tempo, Kazutora voltou junto de Ben e outro cara, que não fazia parte do time, com vários copos cheios de bebida.

— O seu é esse aqui — Kazutora entregou para Mikey, sentando ao lado do melhor amigo e ficando na borda do sofá.

— É sério que você pegou bebida pra ele? — Senju perguntou e o moreno soltou uma risada.

— Não tem álcool — sussurrou para o casal, aproveitando para tomar um gole longo do próprio copo — Sei que ficaria estranho se ele não tomasse nada.

— Por isso que você foi com o Ben?

— Aham.

— Não te valorizo o suficiente.

— Depois eu sou considerado seu "hater" e não sabe o porquê.

Mikey revirou os olhos, o que arrancou uma risada baixa de Kazutora, que desviou os olhos dourados para a multidão de pessoas à sua frente. Sentia uma certa inquietação dentro de si, talvez as várias vozes a redor de si, a música muito alta ou o fato de estar longe de casa, ele não saberia indicar necessariamente o que estava errado. Respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos, sentindo a queimação suave que a vodka praticamente pura, que antes estava em seu copo, causava na garganta.

Só foi abrir os olhos ao perceber a movimentação ao seu lado, com Senju se levantando e deixando um selinho nos lábios de Mikey, antes de se afastar e adentrar na pista, encontrando outras líderes de torcida, para dançar ao som de Party On My Own, Alok ft. FAULHABER.

— Quando você vai pedir ela em namoro? — perguntou, se encostando de vez no sofá.

— Semana que vem.

— Sério? — virou o rosto na direção do meu melhor amigo — Jurava que você ia responder um "não sei".

— Sinceramente, eu sinto que ela é a única certeza na minha vida.

— Por que a única?

— Talvez essa seja uma conversa que a gente não vai ter agora.

— Usando o meu próprio feitiço contra mim?

— Uma hora o aprendiz supera o mestre.

— Se você é o meu aprendiz e tá me superando, com certeza sou um mestre bem bosta.

— Vai se lascar — resmungou, cruzando os braços, o que claramente fez Kazutora rir.

O moreno se levantou, aproveitando para bagunçar o cabelo de Mikey, que estava completamente solto, e terminou o copo em um único gole.

— Te vejo mais tarde.

— Não faça merda.

— Eu não sou você, aprendiz.

Foi automático para Mikey levantar o dedo do meio para Kazutora, que simplesmente balançou a cabeça em negação, entrando de vez na multidão de corpos dançantes. Passou por Senju e o grupo mais próximo de amigas, deixando um beijo no topo da cabeça da platinada, que o olhou de maneira que pudesse sentir a preocupação dela, mas deu de ombros, o que a fez o empurrar de leve, com um sorriso pequeno nos lábios.

Estava grato pela preocupação de seus amigos, mas também se sentia um pouco sufocado, sabia das melhores intenções; porém, acabava sempre lembrando dos motivos que os faziam estar preocupados e ele só queria poder esquecer de tudo.

Não perdeu tempo em voltar a andar até a cozinha para pegar mais um copo de bebida, com o jogo de luzes pela casa o seguindo, um jogo de luz e sombra quase infinito. Notava o olhar de algumas pessoas sobre si e se permitiu sorrir para algumas, enquanto se apoiava, agora, contra a parede e com uma mistura de energético com vodka descendo pela garganta, já prevendo a ressaca que ele teria. Além disso, com certeza estava odiando ter uma boa resistência a álcool.

— Sozinho? — uma voz feminina bem perto de si o fez virar a cabeça, encontrando uma pessoa bem conhecida.

— Acho que não mais — sorriu de canto para Katherine, que riu ao colocar uma das mechas do cabelo castanho para atrás da orelha.

— Espero não estar incomodando.

— Com certeza não está.

Um sorriso convencido surgiu no rosto da líder de torcida que se desencostou da parede para ficar na frente de Kazutora, que não perdeu tempo em passar o braço pela cintura da garota, que levou os dedos na direção do rosto do mais alto, traçando a mandíbula marcada com a ponta das unhas levemente afiadas.

Palavras não precisavam ser ditas, principalmente pela forma como as pupilas de Katherine estavam dilatadas, Kazutora já tinha percebido uma boa quantidade de LSD e MD circulando pela festa. Deu mais um gole no próprio copo antes de o largar para juntar a boca com a da líder de torcida, que arfou pelo contato. A música parecia estourar dentro da cabeça de Kazutora e sorriu ao sentir uma das mãos de Katherine adentrar por dentro da camiseta preta que usava.

O beijo era bom, instigante e a mão direita do moreno se emaranhou nos fios castanhos, ao quebrar o contato entre as bocas, que já estavam inchadas pela intensidade.

— Me mostre para onde devemos ir — sussurrou contra a orelha da garota, que sorriu antes de começar o puxar pela mão, enquanto balançava os quadris na batida da nova música que ressoava pela casa.

Mikey suspirou ao ter Kazutora novamente em seu campo de visão, o observando entrar em um dos banheiros da sala acompanhado de Katherine. Não poderia simplesmente dar pitaco pelo o que o melhor amigo fazia ou deixava de fazer, só não conseguia ficar tranquilo. Tentou prestar atenção na conversa que acontecia ao seu redor, com Baji já começando a ficar chapado e divagando sobre a vida e fazendo questão de dizer para todos como Chifuyu é uma pessoa foda.

Sim, com certeza o ser humano mais romântico do mundo.

Até agora, não tinha se sentido muito agoniado, por pouco não aceitou a oferta de usar MD, mas foi só olhar para Senju dançando, com um sorriso no rosto, que se forçou a negar, pequenos passos, um de cada vez. A festa estava boa, os amigos de Ben eram extremamente simpáticos, mas algo o incomodava.

E não estava afim de descobrir o que é.






(...)






Eram quase três da manhã quando voltou a ver Kazutora e foi automático pedir para que Senju saísse do seu colo para que pudesse ir atrás do melhor amigo. Tinha até pensando que ele já tinha ido embora pra onde estavam hospedados, mas infelizmente não foi o que aconteceu, principalmente pela forma que o moreno andava e segurava uma garrafa de Jack Daniel 's na metade.

Respirou fundo ao ter que empurrar pessoas para o alcançar, nunca o perdendo de vista enquanto rumavam em direção a saída da festa.

— O que foi caralho?! — Kazutora reclamou quando sentiu alguém o segurando pelo braço e tirando a garrafa da mão com certa brusquidão.

O vento frio da madrugada de San Francisco tomava a rua com maestria, abraçando a calmaria do resto rua, já que a frente da festa estava repleta dos mais diversos carros, além de algumas poucas pessoas que se encontravam por ali na calçada.

— O que foi?! — Mikey soltou uma risada ácida — Acho que é você quem tem que me responder essa mesma pergunta.

— Eu não estou com paciência pra lidar com as suas merdas, Mikey.

— Minhas merdas?! Quem tá bêbado pra caralho aqui é você.

— E? — Kazutora inclinou a cabeça suavemente para o lado, o que fez a frustração de Mikey começar a se transformar em raiva — Na última vez que eu vi, quem manda na minha vida sou eu.

— Quer que eu bata palmas pra você por estar agindo que nem um moleque de dezesseis anos?

— Agindo que nem você de dois meses atrás?

O silêncio que se instaurou entre os dois melhores amigos só era quebrado pelos resquícios da música alta que ecoava da casa e pela forma que Kazutora o olhava, Mikey sabia que cada palavra que saia da boca dele era intencional.

Cada pessoa age de uma maneira quando está sob o efeito de drogas, lícitas ou ilícitas, algumas ficam mais sociáveis, outras mais engraçadas e outras até ficam sonolentas. Por outro lado, algumas pessoas ficam irritadas ou até mesmo ainda mais sinceras.

Mikey é o clássico palhaço do grupo, fica ainda mais piadista e tem péssimas ideias, que acabam sendo ótimas histórias para contar depois.

Kazutora, na outra mão, é um misto entre o sociável e a extrema sinceridade, o que, no momento, não está sendo a melhor combinação.

— Cala a boca, Kazutora.

— Agora é proibido falar sobre quando você faz merda?

— Você sabe muito que tá mudando a porra do foco da conversa.

— Estou? — agora, foi o moreno que riu — Porque pelo o que parece, é só você não gostando de estar na posição que eu ocupo na porcaria da sua vida.

Mikey se viu em silêncio, observando, calado, Kazutora se aproximar dele e evidenciar a maldita diferença de altura que existe entre os dois.

— Você passou os últimos quatro anos assim, não banque o irritado pra cima de mim por causa de uma noite.

— Uma noite? Então o que foi a festa da semana passada?

— Eu posso te garantir que hoje tá sendo bem diferente da semana passada. Não escutou o que eu te disse no ônibus?

O sorriso frouxo que antes estampava o rosto de Kazutora tinha sumido, dando lugar para uma expressão séria, desaparecendo totalmente com o brilho dos olhos dourados.

— Você é a única pessoa no mundo que não pode me julgar agora.

— Sério, Kazutora? Eu sou a pessoa que mais pode te julgar, porque eu sei o que esse tipo de escolha causa, independente do que esteja te motivando.

— Chega a ser hilário te ver pagando de moralista.

— Moralista?! Vai se foder! Estou tentando te ajudar!

— Ajudar?! Ajuda foi o que eu fiz por você todos esses anos! Você só não está em uma situação "pior", porque eu ainda tento colocar um pouco de senso na merda da sua cabeça!

O dedo de Kazutora estava apontado no peito de Mikey, que sentia as mãos tremerem suavemente, se sentindo cada vez mais encurralado.

Ele sabia disso, nossa, e como sabia.

— Nós não estamos falando sobre mim.

— Imagina se estivéssemos.

O sarcasmo de Kazutora era tão óbvio que Mikey se controlou absurdamente para não dar um soco na cara do melhor amigo, que estava conseguindo ser tão babaca quanto ele.

— Pode devolver a garrafa?

— Vai se foder.

Kazutora revirou os olhos e deu as costas para Mikey, tentando se concentrar para não cair dos degraus da entrada da casa, inclusive acabou rindo sozinho quando quase caiu no último.

Sentia a cabeça leve demais, provavelmente não se lembraria de metade das coisas que tinha acabado de falar para o próprio melhor amigo, mas agora, infelizmente, ele não poderia se importar menos com isso.

— Pra onde você vai?

A voz de Mikey o fez virar a cabeça para trás, encontrando o loiro na metade dos degraus, como se estivesse indeciso se deveria o seguir ou não.

— Por que quer saber?

— Cacete, não posso mais me importar com você?

Kazutora desviou o olhar, encontrando o uber que tinha pedido entrando na rua, passando reto só para poder fazer a volta e emparelhar corretamente com a casa.

— A Evangeline tá na cidade.

— Você realmente vai atrás da sua ex?

— Ela que me mandou mensagem primeiro e como falei antes, você não manda na minha vida.

Mikey sabe muito bem o que é se sentir inútil.

O maior exemplo disso foi quando não conseguiu chegar a tempo para salvar a vida do irmão.

Agora, vendo o melhor amigo entrar em um sedan preto, indo atrás de uma garota que não via há pelo menos três anos, voltou a ter essa mesma sensação se instalando no peito.

E Mikey odeia se sentir inútil.







Oi gente! QUE SAUDADE QUE EU ESTAVA DE ESCREVER E POSTAR WYB

Juro galera, às vezes eu me questiono se a humilhação para conseguir um diploma universitário vale a pena (MENTIRA VALE SIM SÓ TÔ SENDO DRAMÁTICA

Enfim, focando um pouco no capítulo, complexo né? Entendo totalmente o Kazutora e não o julgo, mas não posso dizer que o modo de autodestruição é uma saída boa para lidar com os problemas, porque isso seria uma mentira

TAMBÉM TIVEMOS PRIMEIRA CONVERSA DE [NOME] E KAZU E MEU DEUS COMO ESTAVA COM SAUDADE DELES

Inclusive! Caso vocês não se lembrem da Evangeline, eu mencionei ela no capítulo 18, mas vou falar mais sobre a personagem no próximo capítulo. Não se preocupem também, ela é um amor de pessoa e não é uma ex problemática ou algo do tipo!

Bem, mesmo com tudo o que aconteceu, espero que tenham gostado do capítulo! Não se esqueçam de votar e de comentar (AMO ler o feedback de vocês)!

Até a próxima! ♥︎

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