— Filha, você está bem? — Solange tinha reparado o quão pálida a nora estava e se apressou a chegar perto. — Parece que está passando mal. — Toda atenção foi virada pra Raquel.
— Eu acho que estou passando mal. — Comunicou recebendo mãos a abanando. — Do nada, foi bem repentino.
— Aí, céus! — Sol disse com certa empolgação. — Será que vem um netinho? — O filho arregalou os olhos pensando naquela possibilidade. — Quer um copo de água?
— Preciso ir ao banheiro. — Balançou a cabeça negando e nem se lembrava mais o que estava negando.
— Eu acompanho você. — Micael se prontificou, mas foi impedido pela mãe. — Ela é minha namorada!
— Eu sei, mas precisa de privacidade. — Avisou e ele aceitou de boa. — Vamos, filha. Eu te mostro onde é. — As duas saíram juntas, Micael pediu licença e foi se sentar nas cadeiras ao lado de fora. Não ficaria ali naquela cozinha ouvindo mais desaforos do pai.
— Filha? — Sophia resmungou com cara de bunda. — Solange conheceu essa garota quando? Hoje?
— Você tem ciúme até da mãe do Micael? — Augusto perguntou levemente irritado. — Difícil hein!
— Eu só comentei, não precisa ser estúpido. — A loira saiu dali também, Augusto achou que era por estar com raiva, mas ela só precisava de uma desculpa pra ir atrás de Micael.
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— Fiquei surpresa em saber que você ainda tem uma namorada. — Sorriu de lado, sentado-se á mesa em que Micael estava sozinho. O moreno virou o rosto e ergueu uma sobrancelha pra loira que parecia prestes a parir. — Estou muito contente.
— Não seja falsa, você tentou acabar com o meu relacionamento. — Desviou o olhar de Sophia e focou no guardanapo que tinha entre seus dedos. Dobrando e desdobrando o papel. — Foi ridículo, aliás.
— Eu não fiz nada demais, não sabia que você havia mentindo.
— Dá um tempo. — Bufou e não fez questão de dar atenção. — Vai atrás do seu marido.
— Você vai ficar me tratando com toda essa frieza de verdade? — Ganhou a atenção dele novamente. — Fala sério!
— Sophia, você quer o que de mim? — Falou sério, talvez mais do que Sophia já tinha visto. — Deixa de ser egoísta.
— Eu não sou egoísta.
— Claro que é! — Falou mais alto, mas não queria escândalo ali, na festa de Andressa. — Você não consegue saber que eu estou bem e feliz.
— Não seja ridículo! — Ela disse baixo, chateada.
— Sabe que é verdade, você quer que eu fique cheirando seu rabo aceitando as migalhas que você me dá enquanto tenta restaurar essa bosta de casamento. — Os olhos da loira encheram de lágrimas devido as palavras rudes. — Eu estou bem, estou feliz com a Raquel, reconstruindo minha vida, daí você foi lá e tentou me jogar na lama.
— Que horror! Não foi o que aconteceu! Eu só fiquei com ciúmes. — Confessou e ouviu uma risada debochada.
— Te dei muitas chances de ficar comigo de novo. — Ele tinha um olhar penetrante. — Você sempre escolheu voltar pra casa e pro seu casamento.
— Fiz isso pelo meu filho. — Repetiu a ladainha e o moreno rolou os olhos, não aguentava mais aquela história. — Você acha que a Raquel está grávida?
— Tomara que sim. — Sabia que não estava. — Quero muito que esteja!
— Já entendi o seu recado, não quer nem amizade.
— Errado. — Corrigiu ao vê-la começar a ser levantar. — Você é esposa do meu amigo. Gostaria que fôssemos amigos! Isso é, se você parar de tentar sabotar o meu namoro.
— Me desculpa. — Pela primeira vez parecia arrependida de verdade. — Não farei mais nada.
— Obrigado. — Pediu e apareceu ali um garçom com alguns salgadinhos. — Seu bebê nasce quando?
— Esse mês. — Sorriu ao contar. — Mal posso esperar para tê-lo nos braços.
— É um menino, não é mesmo? — Empurrou os salgadinhos pra ela, que assentiu. — Qual é mesmo o nome?
— Levi. — Micael a encarou sério, muitos pensamentos passavam por sua cabeça. — Sim, eu escolhi o nome que daríamos ao nosso filho.
— Não tinha mais nenhum nome disponível? Augusto sabe que Levi era o nome do nosso filho hipotético e que fui eu quem escolhi?
— Não sabe. — Deu de ombros. — E também nem quis muito saber de onde eu tirei o nome, Guto não anda muito envolvido com as coisas do bebê.
— Que beleza de marido, que beleza de pai. — Ergueu uma sobrancelha com deboche. — Onde foi que você se enfiou hein?
— Ele não é assim. Está chateado porque eu traí ele com você, tem esse direito. — Deu de ombros ao defender o marido. — Quando Levi nascer, tudo vai mudar.
— Vou chamar seu bebê de "pequeno grande milagre" então, já que ele vai nascer e salvar o fiasco do seu casamento. — Voltou a debochar e recebeu um olhar fulminante da loira que já tinha comido todos os salgadinhos do pote.
— Pra quem quer manter uma amizade, você não está indo pelo caminho certo. — Ele sorriu e mudou de assunto novamente. Tentariam se manter amigos, pelo menos até a página dois.
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— Já estou melhor. — Raquel disse a sogra que não saia do seu pé. — Será que posso ficar um pouco sozinha?
— Claro que sim, sabe que qualquer coisa é só chamar, não sabe?
— Sei sim, obrigada pela ajuda. — Solange saiu do banheiro e encostou a porta.
Aquele banheiro ficava no quarto dos pais de Augusto, era afastado e Solange havia levado a menina pra lá, afim de ter privacidade, mas assim que a deixou sozinha, Guto invadiu o banheiro e trancou a porta atrás de si.
— Que merda você está fazendo na minha casa?
— Casa dos seus pais. — Corrigiu assustada. — Eu não sabia que era você. O Micael falava "Augusto", mas é um nome bem comum.
— Fala a verdade, vagabunda! — Disse alto, mas ninguém ouviria. — Você apareceu pra me chantagear? Cadê a piranha da sua amiga?
— Ela se mudou pra fazer o tratamento da mãe. Ela mora no sul agora. — Se apressou em dizer. — Ninguém voltou pra mexer com você.
— Escuta aqui. — Se aproximou e segurou seu rosto com uma mão. — Você vai sair daqui e terminar esse namoro ridículo com Micael. Essa porcaria não era nem pra ter começado.
— Ele não tem nada a ver com a história, eu estou com ele porque gosto dele.
— Foda-se, piranha. — Soltou com um empurrão que a mulher cambaleou. — Você está perto demais do meu ciclo de amigos. Não sei como acabou amiga da Laura, mas vai se afastar, por bem ou por mal. E você sabe que eu te acho no inferno se precisar.
— Tá bom, eu faço o que você quer.
— E depois some. — Avisou. — Que vá morar no inferno junto com sua amiga. Eu não quero nunca mais ter notícias suas, ou você vai se arrepender. — Então ele saiu do banheiro, deixando ali a mulher em choque.
Caminhou pela casa e então encontrou a esposa e Micael á mesa, haviam sido servido a janta. Puxou uma cadeira e se sentou, entre os dois.
— Demorou. — Sophia resmungou, esquecendo que havia saído da cozinha com "raiva".
— Te dei um tempo pra se acalmar. — Tinha a voz doce. — Cadê sua namorada, Micael?
— Por aí com a minha mãe, eu duvido que dona Solange a deixe em paz. — Soltou uma risada gostosa. — Já já eu vou atrás, salvar a garota das garras da minha mãe.
— A essa altura sua mãe já contou a história de você com quatro anos fazendo cocô embaixo da mesa. — Sophia brincou e arrancou risada deles.
— Também já contou a que você caiu da goiabeira porque subiu depois da chuva. — Guto completou. — E digo mais, ela digitalizou as fotos antigas, deve estar enchendo a Raquel com fotos suas bebê e criança.
— Tá legal, vocês são engraçadinhos demais. — terminou de comer e jogou o guardanapo de pano na mesa. — Vou lá tirar a Raquel de perto da minha mãe antes que a garota surte.
Micael caminhou pela casa e soube pela mãe a localização da namorada. Quando chegou ao quarto falado, a morena estava sentada na grande cama, chorando.
— Ei, gatinha?! — Se desesperou e agachou frente a ela. — Aconteceu algo com você? Está realmente passando mal? Eu sei que não está grávida.
— Precisamos terminar. — Falou rápido e baixo, ficando de pé e se afastando de Micael que permaneceu abaixado sem entender.
— Que merda aconteceu? — Disse ao se recuperar. — Estava tudo ótimo! Minha mãe disse algo? Foi o meu pai me humilhando? Ele não é totalmente ruim, só tem vergonha de mim.
— Eu vou embora!
— Como embora sem me contar o que aconteceu?! — Segurou o braço da mulher que tentou passar por ele. Aquela altura já estava de pé. — Vamos conversar sobre o que aconteceu, tenho certeza que vamos nos entender.
— Micael, não. — Puxou o braço. — Eu apenas quero ir embora!
E ela foi, deixando Micael com olhos arregalados e respiração pesada. Não entendia os motivos, mas um dia, muito em breve passaria a entender.