Renan olha para Dani sem entender do que ela está falando. Ela pede para ele esperar e sai correndo, mas logo volta com uma caixa nas mãos.
— No dia do seu acidente, você ia se casar.
— Eu sei disso, a Flávia me falou!
— Esquece essa vigarista e abre essa caixa. Aqui está tudo que você viveu nesses 4 anos que foi apagado. Só olhe as últimas fotos se você realmente estiver preparado para saber a verdade.
Dentro da caixa tinha um celular e várias fotos. No dia do acidente, Flávia havia jogado o celular do Renan no lixo do hospital, e Dani estava chegando bem na hora e viu ela em uma atitude suspeita. Depois dela sair de perto do lixo, Dani pegou o celular e, na manhã seguinte, levou para consertar. Mesmo estando quebrado, ele funcionava certinho.
Dani trocou a tela, carregou e, ao descobrir a perda de memória, ela levou no hospital para ele ver quem realmente era a mulher que fingia estar com ele. Mas bem na hora, um médico chegou e falou do coágulo. Preocupada com seu amigo, ela recuou.
— Esse é o meu celular. Onde encontrou? Flávia disse que perdi no acidente.
— Amigo, nada que sai da boca dessa mulher é verdade. Então, senta aqui e olha tudo.
Renan, em silêncio, abriu o último vídeo, onde ficou surpreso com o que viu. Ive filmou ele escolhendo as coisas do bebê, a alegria dele passando a mão na sua barriga e conversando com ela como se o pequeno, que estava no tamanho de um grãozinho de arroz, pudesse ouvir. Cada palavra da Ive, cada demonstração de amor, fazia seu coração saltar em descompasso. Sem falar nada, ele vai assistindo ao pedido de casamento que ele fez no dia do seu aniversário, pois o único presente que ele queria ganhar era o sim, da mulher que ele amou por tanto tempo em silêncio.
— Amigo, você está bem? — Fábio toca no ombro dele, preocupado.
— Fica quieto, Fábio. Vai ser bom para ele sair dessa mentira em que ele está vivendo.
Lágrimas ardem nos olhos de Renan. Ali, em suas mãos, fotos de cada momento dos dois e a última ligação que ficou gravada por um aplicativo.
Gravação do dia do casamento.
"Renan: Já estou no carro, logo estarei com a mulher que Deus desenhou para fazer meus dias mais felizes.
Ive: Assim você vai me fazer chorar...
Renan: Chora, amor, só se for de felicidade, pois é isso que estou sentindo. Nem em mil palavras conseguiria descrever meu amor por você.
Ive: Ah, Deus.
Renan: Te amo além da minha vida.
Ive: Te amo infinitamente."
Renan abaixa a cabeça e coloca os dedos entre os cabelos, apertando com força porque sua cabeça começou a doer.
— Por que ninguém me falou nada?
— Por causa disso!
Dani pega o laudo falsificado e entrega para ele. Ela não havia desconfiado das coisas que o médico disse, e hoje de manhã ela foi atrás do médico e mostrou o laudo para o mesmo médico que o operou. Ela foi perguntar qual era o risco de mostrar a verdade para ele. O médico estranhou a pergunta até que Dani mostrou os exames. Quando ela descobriu a verdade, veio correndo, mas Ive já tinha ido embora.
A mãe do Renan pediu ajuda de Dani em uma das suas visitas, pois desde o acidente ela está sendo consumida pela culpa em ver Ive sofrendo tanto e por seu filho estar ao lado de uma mulher tão baixa como Flávia.
Ele olha todas as fotos que foram reveladas, até que ele chega na última. Era a foto do ultrassom do seu filho.
— Deus...
— Não saia assim, fica aqui!
Ele levanta atordoado. Seus amigos tentam impedi-lo de sair, mas ninguém consegue segurar Renan. No carro, ele passa a mão na cabeça nervosamente. Sua mente parece um disco arranhado, tudo está voltando de uma vez.
Ele dirige sem rumo até parar em um prédio. O porteiro o abraça e Renan explica o que aconteceu, que está sem memória. Ele sobe com o porteiro até o apartamento e fica sozinho.
Ao abrir a porta, o perfume de Ive invade seu nariz. Antes de ir para a ultrassom, ela foi ao antigo apartamento dele. Ive se sente bem estando perto de onde lhe traz tantas lembranças. Renan para na frente das fotos espalhadas pelos cômodos. Ele senta na cama e olha para tudo ali. Todas as suas lembranças vão tomando forma, elas já não são um borrão. O rosto de Ive sorrindo em seu colo, o gosto dos seus beijos, as noites de amor. Tudo faz sentido para ele agora.
Abraçado no travesseiro de Ive, ele chora, sentindo-se mal por não ter lembrado desde o começo da única mulher que o amou de verdade.
Uma mensagem chega e ele olha, é de Dani.
Danielle: Espero que esteja bem. Se lembrou de algo, corre para a clínica **** Ive vai descobrir o sexo do filho de vocês.
Ele sai correndo sem nem esperar o elevador chegar. Já cansado de tanto correr, desce as escadas e chega no carro.
— Me espera, amor, que estou chegando. — Renan fica brigando consigo mesmo, mas agora não é hora de se lamentar. Depois de alguns minutos, ele chega na clínica. Ao ver Renan ali, Evelyn vai correndo ao seu encontro. — Cadê ela? Por favor, diz que ainda dá tempo de ver meu filho?
— Meu Deus, você lembrou.
— Entra, filho, ela acabou de ser chamada. — Rafael fala animado.
Em silêncio, ele entra sem fazer sequer nenhum barulho. Renan fica um pouco afastado, sem Ive perceber que ele está logo atrás, ouvindo o coração do seu filho, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Está tudo bem com meu bebê, Tereza?
— Sim, Ive. Parabéns, ele está se desenvolvendo direitinho. — Ive está deitada com os olhos fixos na tela, sentindo uma emoção gigantesca, misturada com a dor da falta do Renan, naquele momento tão especial e tão esperado pelos dois. — Olha o que temos aqui!
— O que, doutora? Algo de errado?
— Na última ultrassom que fizemos, desconfiei que algo estava errado, mas olha só, tinha visto... — Tereza congela a imagem e Ive não controla o choro. — Parabéns, Ive, você está esperando gêmeos.
— Meu Deus. — Ive fala rindo e chorando ao mesmo tempo.
Renan se encosta na parede, pois a emoção tomou conta dele, e se pergunta sem parar se ele é merecedor de algo tão maravilhoso.
— Aqui está nossa menina... e olha só, um menino! Parabéns!
— Sério? Meu Deus! Ah, meus filhos.
— Nossos filhos! — Renan desencosta da parede e se aproxima, assustando Ive, que senta num pulo na cama. A médica sai, ela sabe toda a história, então quando ela viu ele, não quis dizer que Renan estava ali.
— Amor, você lembrou?...
— Sim, minha vida.
Ive levanta rápido e pula em seus braços. Eles abraçam forte, muito emocionados.
— Nunca mais faça isso comigo.
— Prometo! Me perdoa, meu amor, me perdoa.
Após meses separados, o reencontro para eles foi repleto de emoção e saudade acumulada. O clima era de expectativa e alegria, com os corações pulsando ansiosamente pelo momento tão esperado.
Seus olhares se encontraram e um sorriso instantâneo surgiu em seus rostos. Sem conseguir conter o desejo e a intensidade do momento, ambos se aproximaram lentamente, seus corpos agora a escassos centímetros de distância.
Sua respiração entrelaçada revelava a troca de energia e a emoção que transbordava. Eles podiam sentir o cheiro do perfume familiar, que despertava memórias doces de momentos compartilhados e momentos inesquecíveis.
Então, sem mais hesitação, o casal finalmente entregou-se ao beijo tão aguardado. Seus lábios se encontraram com fervor, deixando para trás todo o tempo de separação. Os beijos agora eram cheios de paixão, carinho e um amor que se manteve forte mesmo diante as circunstâncias.
Cada toque era delicado e cheio de significado, como se o simples contato pudesse expressar todo o amor e falta que sentiram durante aqueles meses separados. O beijo era intenso e profundo, repleto de promessas e comprometimento, renovando a conexão entre eles.
Nesse momento único, todo o tempo afastados parecia desaparecer, deixando espaço apenas para o presente e para a força daquela relação. Era a confirmação de que, mesmo diante da distância e dos obstáculos, o amor persistiu e fortaleceu-se ainda mais.
Enquanto estavam unidos em um beijo inesquecível, nenhum pensamento sobre o passado ou futuro importava.
— Não tem ideia de como senti sua falta.
— Nunca mais vou te deixar, amor. Eu prometo.
— Ah, Deus! Como eu te amo, Renan. Nem imagina o quanto eu sofri.
— Também te amo demais.