Amor em Quatro Acordes

By YOUGOT7JAMS

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Kyungsoo é um universitário falido que está prestes a trancar a faculdade por falta de pagamento. Quando seus... More

Desgraça em dó menor
Súplica em sol maior
Acordos em si bemol
Introdução em fá sustenido
Encontro em ré menor
Ensaio em sol maior
Amigos em lá menor
Mentiras em mi bemol
Explosão em si sustenido menor
Fantasmas em fá diminuto
Sinestesia em dó maior
Jaquetas em ré maior
Terremoto em mi bemol
Família em fá sustenido
Confissões em sol menor
Cemitério em dó bemol
Chuva em ré diminuto
Namorados em lá maior
Perdidos em dó maior
Resgate em ré diminuto
Amor em lá, mi, fá, sol (FINAL)
Epílogo
Notas finais

Hora mágica em sol maior

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By YOUGOT7JAMS

O cenário é perfeito.

Um antigo casarão abandonado se esconde atrás de árvores altas, encoberto pelas folhagens densas e alaranjadas. A estrutura bege envelhecida com tijolos aparentes foi danificada pelo tempo e por algumas pichações aqui e ali. As portas e janelas em arco são a parte preferida de Jongin. Elas fazem a casa de dois andares parecer uma construção do século XVIII. Um pedaço do passado esquecido no presente.

Na adolescência, seus colegas da escola costumavam inventar lendas urbanas sobre aquele lugar. Sobre uma família antiga muito rica, tragédias misteriosas e fantasmas de longos vestidos.

A história verdadeira não é tão emocionante: o casarão é uma construção embargada pelo governo há muitos anos. A obra, por algum motivo, nunca foi finalizada. Ainda assim, é um lugar cheio de charme e personalidade.

Jongin sempre quis filmar ali.

— É lindo — Kyungsoo sussurra, maravilhado, quando Jongin leva a câmera ao rosto para tirar uma foto. — De um jeito meio bizarro.

Eles são os primeiros a chegar. Os dois sobem para o segundo andar e Jongin imediatamente começa a agir. Escancara as janelas, retira seus equipamentos da mochila e monta o tripé no centro do salão. A câmera continua pendurada em seu pescoço.

Está tão imerso no trabalho que mal consegue acompanhar a movimentação de Kyungsoo, que iniciou uma exploração detalhada e agora está observando as teias de aranha no alto das paredes.

— Por que eu tenho a impressão de que você só me leva a lugares assombrados?

Jongin sorri e dá de ombros.

— Qual é. Tem um estilo vitoriano e tal — ele responde, tentando soar convincente. Se o argumento não funcionar, o sorrisinho charmoso talvez funcione. — Parece romântico.

— E nem um pouco perturbador — Kyungsoo acrescenta, encarando os entalhes em gesso.

Jongin ri e aponta para uma das janelas em arco, por onde o sol atravessa os galhos das árvores até tocar o piso de madeira. Partículas de poeira rodopiam no ar, flutuando lentamente para o chão. Se eles conseguirem filmar ao entardecer, será o cenário perfeito.

— Kyungsoo, você pode ficar ali pra mim rapidinho? Quero fazer uns testes primeiro.

Kyungsoo se move até ficar de frente para a janela.

— Aqui? — ele pergunta, fazendo uma pose desajeitada.

— É.

— Vai me pintar como uma de suas francesas?

Isso arranca uma gargalhada gostosa de Jongin.

— Não. — Ele ergue os olhos da câmera. — Mas posso te filmar como um dos meus franceses.

Jongin se arrepende no segundo seguinte.

Te pintar como um dos meus franceses? Sério?

Onde ele estava com a cabeça?

Constrangido, aperta os olhos e franze o nariz, voltando a se esconder atrás da câmera. Sempre que Kyungsoo está por perto, ele continua dizendo coisas esquisitas.

Kyungsoo não diz nada, mas suas bochechas ficam coradas. Ele continua com as mãos em frente ao corpo, balançando de um lado para o outro, como um garoto de treze anos na sua foto de formatura do fundamental. Ele não faz nada de especial. Só fica ali parado, com sua camiseta verde listrada e o sol beijando sua pele, mas a composição da cena deixa Jongin maravilhado.

— Uau, a luz está ótima aqui — ele comenta para quebrar o gelo, e também porque a luz está ótima ali. — Sabe, eu até que gosto das suas camisetas listradas. Combinam com você.

— Obrigado. Eu até que gosto das suas camisetas horrendas de banda também.

Jongin abaixa a câmera de novo.

— Ei! Você não pode usar "gosto" e "horrendas" na mesma frase.

Kyungsoo encolhe os ombros.

— É claro que posso. Acabei de usar.

Ele faz ajustes no ISO, diafragma e velocidade da câmera. Tira alguns cliques e grava vídeos curtos para teste. A luz está realmente boa. Se der um pouco de zoom, consegue ver as pintas que Kyungsoo tem perto da boca. Elas são lindas, como pequenas estrelas despontando numa noite de verão.

Jongin engole em seco e posiciona a câmera no tripé.

— Já me decidi — ele comenta casualmente, apontando para a janela. — A gente vai se beijar aqui.

Kyungsoo quase se joga do segundo andar.

Em vez disso, ele responde com as três palavras mais eloquentes da sua vida:

— Ah... Hum... Tá.

Uma reação ambígua que Jongin interpreta como "Estou ansioso pra te beijar" ou "Não quero te beijar de jeito nenhum". Ele espera que seja a primeira opção.

Por favor, que seja a primeira.

Jongin sempre sentiu que a relação que tinha com Kyungsoo era especial, mas nunca entendeu onde foi o ponto de virada. Quando saíram do limbo de amigos para se tornar algo mais — algo ainda sem definição própria.

Para ele, talvez tenha sido quando Kyungsoo deitou em seu ombro na varanda. Mas foi só quando se beijaram pela primeira vez que as peças se encaixaram. Beijar Kyungsoo foi como encontrar o oásis depois de um longo dia de caminhada no deserto. Ele não sabia o quanto estava louco para beijá-lo até sentir o rosto dele em seus dedos.

E ele quer fazer de novo.

Ele vai fazer de novo. Em poucos minutos.

Caramba. Sua nuca não para de formigar.

— Aliás, segui seu conselho — ele conta, tentando se distrair, porque o tempo passa mais devagar toda vez que pensa em beijar Kyungsoo. — Hoje de manhã, eu gravei o instrumental do baixo e enviei a letra da música para a Sooyoung.

— Mentira! — Kyungsoo exclama, animado. — E o que ela achou?

Ele parece tão feliz e esperançoso. Jongin decide se divertir um pouquinho.

— Bom, ela disse que o título é uma merda.

— Ah, não...

— Que é brega e muito longo.

— Meu Deus.

— Mas também disse que é melhor que qualquer música de romance que o Sehun já escreveu.

Agora mais relaxado, Kyungsoo desencosta do parapeito da janela e se lança para a frente, uma mão cobrindo a boca.

— Então... Isso quer dizer... — ele diz, com uma alegria contida na voz, mas que irradia de seus olhos castanhos. — Vocês vão tocar a sua música!

— Vamos tocar a minha música! — Jongin repete.

Os dois se aproximam como ímãs, sem saber se batem as mãos em um high five ou se abraçam. Eles fazem as duas coisas ao mesmo tempo, e o resultado é desastroso: eles se atropelam, trocando sorrisos acanhados e cotoveladas desajeitadas. Estão prestes a se fundir em um abraço quando alguém diz:

— Desculpa estragar a alegria do casal — Sooyoung comenta com uma tosse forçada —, mas daqui a pouco já vai escurecer e precisamos começar a gravar logo. Temos um beijo pra filmar.

Eles se entreolham por um instante, e esse único segundo é suficiente para que Jongin perceba que estão pensando na mesma coisa: o beijo. Não conseguem nem se abraçar sem acertar as costelas um do outro. Como vai ser quando tiverem que se beijar na frente da câmera?

Sooyoung não está sozinha. Chanyeol caminha ao seu lado quase como um acessório. Ele carrega a bolsa dela, que parece pequena demais atravessada em seu tronco comprido, e leva os óculos vermelhos de coração pendurados na gola da camiseta.

Sehun vem logo atrás, ostentando uma carranca que diz "Não queria estar aqui". Ele parece o filho do casal que foi obrigado a comparecer em uma reunião de adultos.

— O Baekhyun não veio — Sooyoung explica, já se posicionando detrás do tripé. — Ele disse que tá resfriado ou algo do tipo. — Ela dá tapinhas no braço de Sehun. — Esse meninão aqui vai ficar sem seu par romântico nas filmagens de hoje.

— Vai à merda, Sooyoung — ele rebate carinhosamente.

Jongin reconhece o traço de um sorriso na expressão dele. É quase imperceptível, mas ele sabe, porque também já precisou esconder seu sorriso apaixonado de Kyungsoo milhares de vezes.

Após uma reunião rápida, eles decidem deixar o beijo para o final. Jongin insiste que a cena seja gravada durante o pôr do sol. Ele começa filmando Sehun fumando sentado abaixo de uma das janelas. Depois, com uma playlist de músicas melosas tocando no celular de Sooyoung, ele capta imagens dela e de Chanyeol no jardim em frente à casa.

Ele deixa o casal à vontade para fazer o que quiser — dançar no gramado, rodopiar em um abraço ou conversar naturalmente — enquanto Sehun segura um rebatedor de luz para amenizar as sombras em Sooyoung.

Kyungsoo acompanha tudo com seus olhos grandes e curiosos.

Durante uma pausa, pouco antes da temida cena do beijo, eles assistem juntos aos vídeos na câmera. Jongin sorri para a tela, e Kyungsoo surge atrás dele para ver mais de perto, o queixo roçando em seu ombro.

— Sabe, eu queria que essa cena falasse com o público de forma visual — Jongin confessa, falando baixinho para não atrapalhar a conversa de Chanyeol, Sehun e Sooyoung acontecendo ali ao lado. — Quem assiste nem percebe, mas eu tentei construir as cenas para contar uma história.

— É? — Kyungsoo sussurra de volta, as sobrancelhas levantadas. — Que história?

Ele parece genuinamente curioso. Isso é tudo que Jongin precisa para começar a tagarelar.

— Essa cena aqui, por exemplo. No canto esquerdo, temos muitas sombras e contraste no rosto do Chanyeol. É bem mais escuro desse lado, tá vendo? — Jongin aponta, e Kyungsoo faz que sim com a cabeça, o queixo fazendo cócegas em sua camiseta. — Ele quase desaparece na escuridão, no vazio. E do outro, temos um plano over the shoulder da Sooyoung, onde tem luz do sol. É muito mais iluminado e com um contraste bem mais suave.

Kyungsoo assente mais uma vez, respirando em seu pescoço.

— É verdade. Dá pra notar.

Jongin se esforça para fazer seu cérebro continuar funcionando. Kyungsoo provavelmente não sabe, mas ele cheira a capim-limão, hortelã e coisas frescas. É tão gostoso.

— As cores também interferem em como as pessoas vão absorver e interpretar tudo. Eu escolhi os cenários e essa paleta de cores de propósito. Em todos os vídeos, se você perceber, o personagem caminha por lugares escuros. Sempre na sombra. Sempre azul-escuro. Mas ele encontra luz perto dela, e essas cenas são alaranjadas.

Kyungsoo sorri.

— Deve ser lindo enxergar o mundo pelos seus olhos.

Jongin desvia o olhar da tela e foca sua atenção nele, admirando-o em segredo.

— É lindo — diz, com um suspiro. — Muito lindo.

Quando não obtém resposta, limpa a garganta e aponta para a câmera de novo.

— No início da cena, ela aparece no canto, como se quisesse compartilhar do espaço dele — Jongin continua, todo empolgado. — E aqui, quando ela surge no enquadramento e o puxa pela mão, eles aparecem juntos no canto direito. É ela quem traz luz para o quadro. Sempre que se tocam, os dois mergulham no sol.

Kyungsoo suspira.

— Um amor simples, confortável e brilhante.

— É, é isso. Alguém quente como um sol de fim de tarde.

De repente, ele se afasta de Jongin. O calor em suas costas desaparece. Ele observa enquanto seu pequeno sol sai de órbita e caminha até a janela, mantendo distância. Kyungsoo está agindo estranho hoje. Pensou ser reflexo da madrugada anterior, mas não tem mais certeza.

Ele está envergonhado porque Jongin viu sua bunda?

(Bom, ele não tem do que se envergonhar. Kyungsoo tem uma bunda muito bonita).

Ele se lembrou da declaração de Jongin na noite passada?

(Tudo bem. Ele pode lidar com a rejeição).

Ou talvez seja por causa do beijo?

(A câmera pode deixar as pessoas nervosas. É compreensível).

Por que ele parece tão desconfortável, afinal?

O olhar de Kyungsoo vaga para fora da janela. Ele começa a cutucar as próprias unhas, mas Jongin finge não notar.

— Você já... — Ele hesita, engolindo em seco. — Você já se sentiu assim por alguém? Já encontrou a pessoa que te faz mergulhar no sol?

Jongin não esperava essa pergunta.

Com um meio-sorriso, observa o perfil de Kyungsoo, parado sob o sol que invade o salão. O nariz bonito, os lábios bem desenhados e as pintinhas criando uma constelação em seu pescoço. Ele é luz da cabeça aos pés.

— É, acho que encontrei.

Ele dá um passo à frente e se junta a Kyungsoo na janela, permitindo que a luz alaranjada toque seu rosto também. Seus braços se esbarram. Seus ombros quase se tocam. O calor retorna.

É quente como o sol.


🎸


Em Cinema, existe um conceito chamado "Hora Mágica".

Quando o sol se põe, há um período curto do dia onde a luz solar ainda não desapareceu por completo. A luminosidade permite captar imagens com uma tonalidade dourada e efeito noturno, utilizando a luz natural. A Hora Mágica transmite um misto de sensações sutis: beleza, melancolia, efemeridade, silêncio e uma beleza singular pincelada de laranja.

É assim que eles aparecem na tela: as silhuetas de Jongin e Kyungsoo uma de frente para a outra, tensas e rígidas como estátuas gregas se encarando em um museu. Atrás deles, o céu pintado de rosa-alaranjado oferece a luminosidade e o contraste perfeitos. Duas figuras azul meia-noite em frente ao pôr do sol.

É azul e laranja, como Jongin imaginou. E é lindo.

Jongin normalmente fica atrás das câmeras, mas não é sua primeira vez sob o olhar atento da lente. Quando não está filmando, Sooyoung costuma ser sua substituta. Dessa vez, a câmera está com os ajustes configurados e posicionada corretamente no tripé. Tudo que ela precisa fazer é saber qual é o botão de gravar. E ela é ótima nisso.

— O que tá acontecendo com você hoje? — reclama Sooyoung, pausando a gravação pela milésima vez.

Jongin já errou a cena várias vezes e eles ainda nem se beijaram.

Ele só precisa aparecer no enquadramento e deixar seus rostos se fundirem. Sem roteiros ou ensaios.

Por que é tão difícil?

Não foi assim que imaginou beijar Kyungsoo. Com Sooyoung mascando chiclete atrás da câmera, Chanyeol jogando Blue's Journey no celular e Sehun observando tudo, estático como um guarda-costas.

Sooyoung sopra o chiclete e estoura uma bola de tutti-frutti na boca. Sua mandíbula não para de mexer, e é um pouco desconcertante de assistir. Aquilo a faz parecer apática e desinteressada, como a Violet Beauregarde de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

— É só agir naturalmente — ela diz o óbvio, tentando encorajá-los. — Como vocês fazem quando estão juntos, só vocês dois. Fiquem à vontade e finjam que não estamos aqui.

Sehun solta uma risadinha. É mais vento exalando pelo nariz do que uma risada de verdade. Ele deve estar enfrentando algum problema nas articulações, porque não descruzou os braços desde que chegou.

Chanyeol concorda, batendo palmas.

— Isso! Mas não muito à vontade, porque não queremos que o YouTube derrube nosso vídeo por teor sexual.

— Amor — repreende Sooyoung, entre dentes. — Não tá ajudando.

— Foi mal, amor.

Jongin ignora, ocupado demais tentando não pensar em nada de teor sexual, principalmente agora que a bunda de Kyungsoo já saiu do plano da imaginação e ganhou uma imagem mental própria. Não é justo carregar todas aquelas memórias sozinho.

Kyungsoo puxa o tecido da sua jaqueta e abre um sorriso fofo.

— Ei — chama ele, baixinho. — Nosso beijo oficial, lembra? A gente fez uma vez, e pode fazer de novo. Vai dar certo. Não precisa ficar nervoso ou se preocupar comigo.

Há algo em seus olhos luminosos, no seu tom de voz ou no jeito que ele o segura pela sua jaqueta preferida. Algo que faz Jongin abrir um sorriso brilhante. Ele sorri de corpo inteiro — com a boca, os olhos, o nariz, o estômago formigando e o coração pulsante.

Ele se tornou um robô programado para sorrir sempre que Kyungsoo abre a boca.

— Obrigado — agradece, quase sussurrando.

E, então, algo esquisito acontece.

Sem se dar conta do que está fazendo, Jongin emoldura o rosto de Kyungsoo com as mãos e o puxa para um beijo. Não um beijão de cinema, mas um selinho morno e delicado. Seus lábios se tocam, macio como ele se lembrava. Dura só um segundo. Quando se afasta, Kyungsoo ainda está de olhos fechados, como se esperasse mais. Como se quisesse mais.

Os dois se encaram, os olhos arregalados.

E começam a conversar em monossílabas:

— Ah.

— É...

— Hum.

— Eu...

Do outro lado da câmera, Sooyoung solta um gritinho.

— Ahhh, isso foi fofo! — ela diz, comemorando com algumas palminhas. — Mas eu ainda não voltei a filmar, gente. Vamos tentar repetir isso. Eu achei bem natural.

Foi, sem dúvida, natural. Jongin só percebeu o que havia feito quando viu a expressão de choque no rosto de Kyungsoo.

Após receber permissão e incentivo, seu coração deveria estar muito mais tranquilo. Não é o que acontece. Tem um redemoinho em seu estômago, e no peito, e na nuca e em todas as outras partes do seu corpo. Ainda assim, ao ver a luz vermelha acender, ele reúne todo seu autocontrole para tentar mais uma vez.

Essa talvez seja sua última chance de beijar Kyungsoo.

O dia quase virou noite. Na tela, seus corpos se encontram lentamente. É muito mais azul do que laranja agora. Chanyeol está ouvindo o áudio que Jongin enviou mais cedo — o instrumental do baixo para a música nova. Os quatro acordes se combinam, flutuam no ar e criam a atmosfera perfeita.

Seus rostos se fundem um no outro. Narizes se tocando, olhos fechados, respirações misturadas. Jongin toca a boca dele, o dedo acariciando seu lábio inferior. Kyungsoo o agarra pela jaqueta, apertando seu braço com força.

Ele se sente feliz e leve e elétrico e extasiado.

Mas tudo desaparece muito rápido. Outro som surge em meio aos acordes do baixo, quebrando a harmonia. Os dois se afastam por instinto. Um celular está tocando dentro da mochila. Seu celular.

Sooyoung bufa, aborrecida, porque a cena foi interrompida mais uma vez e o sol já está desaparecendo. Ela pede permissão e atende antes que o toque se torne irritante. Com o celular esmagado contra o ouvido, ela vaga pela sala andando em círculos.

O salão mergulha na escuridão.

Quando volta, sua expressão não parece nada boa.

— Jongin, é o zelador do seu prédio — diz ela, com uma pitada de amargor e tristeza. — Ele disse que tem uma garota sentada no corredor, esperando na porta do seu apartamento.

Jongin prende a respiração.

Kyungsoo cambaleia para trás, como se tivesse levado um soco no estômago.

Sooyoung abaixa a mão que segura o celular, derrotada. Pela sua reação, há mais coisas implícitas naquela ligação do que ela quis revelar.

— Tudo bem — tranquiliza ela. — Nós conseguimos algumas imagens ótimas hoje. Podemos tentar outro dia.

Ele assente. Sua cabeça está girando.

Por que ela está lá?

Ontem, Hyejin respondeu suas mensagens. Eles combinaram de se encontrar assim que Jongin estivesse com a agenda livre. É difícil equilibrar a vida acadêmica, os horários de trabalho de Kyungsoo e a rotina atarefada do pessoal da banda para filmar o videoclipe. No fim, decidiram marcar uma conversa para sexta-feira, antes da viagem à chácara da família de Baekhyun.

Por que ela apareceu mais cedo?

O que está acontecendo?

E, de todos os dias possíveis, por que justo hoje?

— Desculpa, eu preciso ir — ele sussurra. — Desculpa.

Jongin nem consegue encarar Kyungsoo. O que ele deve estar pensando?

— Vai — Sooyoung incentiva, dando tapinhas em seu ombro.

Ele guarda suas coisas, pega a mochila e vai embora.

Jongin não olha para trás.


🎸


Ela está sentada no corredor como uma boia de piscina vazia e murcha. Os cabelos estão desgrenhados e há olheiras sob seus olhos castanhos-escuros. As pálpebras manchadas de maquiagem revelam que ela andou chorando. Se a infelicidade tivesse uma aparência física, seria o rosto de Choi Hyejin.

Não parece, nem de longe, a garota brilhante que um dia conheceu.

Ele fez isso? Jongin a deixou assim?

— Oi — diz ela, esparramada no chão sujo.

Jongin sorri. Ou tenta.

— Oi.

— Desculpa aparecer assim, antes da hora. Eu precisava...

Ela termina a frase com um suspiro abatido. Hyejin parece prestes a chorar, então ele faz o que parece mais sensato no momento: tira a mochila das costas e se senta ao lado dela no corredor. Com uma busca rápida em um dos bolsos laterais, encontra o isqueiro de metal que tem sido sua válvula de escape nos últimos anos.

— Tudo bem. Eu queria mesmo conversar com você — confessa ele, estendendo-lhe o isqueiro. — Toma. Você sabe como funciona. É só acender e apagar.

Ela abre o primeiro sorriso verdadeiro do dia.

— Sabe o que eu mais odeio em você? — pergunta Hyejin, enquanto pressiona o objeto várias vezes seguidas, observando a chama aparecer e desaparecer. — Odeio quando você é legal comigo, principalmente quando estou tão brava com você. Odeio como é difícil te odiar.

Jongin abraça os próprios joelhos.

Planejou essa conversa milhares de vezes. Pensou em tantas coisas que poderia dizer quando tivesse a chance. Mas agora, frente a frente com Hyejin, é mais difícil do que pensava. Sempre que procura as palavras certas, elas não parecem boas o bastante.

— Desculpa. Eu devia ter sido mais legal com você.

Hyejin o ignora.

— Seu isqueiro... — Ela o chacoalha no ar. — Tá cheio.

— É, eu não tenho usado muito. Aliás, se quiser, pode ficar com ele. Acho que não vou precisar mais.

Vai ficar tudo bem, desde que ele tenha Kyungsoo para segurar a sua mão.

— Parece que seu namoro está indo bem — ela comenta.

Jongin suspira.

Ele é realmente um idiota. Que tipo de cara aceita um relacionamento de mentira para fugir de um rompimento inevitável? Do que ele tinha tanto medo?

Hyejin não olha para ele. Em vez disso, encara a porta do apartamento e as lâmpadas acesas no corredor. Ela alisa os braços descobertos, como se estivesse com frio e, por um segundo, Jongin pensa em tirar sua jaqueta e emprestar a ela. Mas é a sua jaqueta favorita, a jaqueta que Kyungsoo usou. Não parece... certo.

Jongin suspira.

— Tá com frio? Quer entrar?

Ela balança a cabeça.

— É melhor não.

— Hyejin — declara, a voz firme. — Eu devia ter sido sincero com você desde o começo.

Ela coloca uma mecha de cabelo para trás da orelha e abaixa a cabeça, parecendo envergonhada.

— Pare de dizer "Eu devia". Na verdade, eu...

— Não, você tem razão — Jongin interrompe. — Dizer "Eu devia" não vai consertar nada. Eu fugi, eu errei, e eu não pensei em como você se sentiria. Eu fui babaca. Mas eu quero que saiba que sempre tive carinho por você. E sinto muito que as coisas tenham acabado desse jeito.

Enquanto ele fala, Hyejin está cutucando a lateral das unhas.

— Jongin, eu sei...

— Fiquei com medo de magoar você, e não percebi que já estava te magoando enquanto fugia. Me desculpa. Eu sinto muito, muito mesmo. Se eu tivesse sido sincero, poderíamos ter continuado amigos.

— Jongin...

— Poderíamos...

— Jongin, cala a boca — manda Hyejin, muito séria.

Funciona. Ele para de falar.

Ela continua:

— Eu não vim aqui porque quero você de volta. Não foi por isso que te mandei as mensagens. Bom, no começo foi, sim, porque queria te encontrar. Mas as coisas mudaram. Eu entendi os sinais. Eu entendi os sinais desde o começo, na verdade, mas escolhi ignorar. Estou com raiva de você, mas não por causa disso. Estou com raiva porque pensei que você soubesse, e por isso estava fugindo de mim.

Ele franze a testa.

— Acho que não estou entendendo. Soubesse do quê?

Hyejin o olha pela primeira vez desde que chegou. Tem uma lágrima descendo pela bochecha dela, e ele deve estar com a expressão mais confusa e aérea do mundo, porque ela o segura pelos ombros para trazê-lo de volta à Terra.

O que está acontecendo, afinal?

Ela o encara, bem no fundo dos olhos, e depois olha para baixo.

— Jongin, eu estou grávida.

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