Amor em Quatro Acordes

By YOUGOT7JAMS

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Kyungsoo é um universitário falido que está prestes a trancar a faculdade por falta de pagamento. Quando seus... More

Desgraça em dó menor
Súplica em sol maior
Acordos em si bemol
Introdução em fá sustenido
Encontro em ré menor
Ensaio em sol maior
Amigos em lá menor
Mentiras em mi bemol
Explosão em si sustenido menor
Fantasmas em fá diminuto
Sinestesia em dó maior
Jaquetas em ré maior
Família em fá sustenido
Confissões em sol menor
Cemitério em dó bemol
Hora mágica em sol maior
Chuva em ré diminuto
Namorados em lá maior
Perdidos em dó maior
Resgate em ré diminuto
Amor em lá, mi, fá, sol (FINAL)
Epílogo
Notas finais

Terremoto em mi bemol

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By YOUGOT7JAMS

Tudo está indo maravilhosamente bem.

Kyungsoo chega na Snacks & Co vinte e cinco minutos atrasado, contabilizando um recorde de três atrasos semanais. Ele veste o avental do avesso e derruba uma pilha de caixas de batedeiras inox 400 W. Como punição, recebe a tarefa de atualizar as etiquetas de preço da seção de brinquedos, onde é bombardeado por um vômito de bebê que agora estampa o lado direito da camiseta do uniforme.

Ele é um cara de sorte. Podia ser pior.

Podia ter esquecido de vestir as calças ou derrubado uma pilha de Air Fryers.

Ou sido atingido por um tipo diferente de resíduo do organismo humano.

A tarde passa como um borrão de luzes brancas ofuscantes, clientes se amontoando nas filas, funcionários gritando "Próximo!" nos caixas e gôndolas multicoloridas se embaralhando como pinturas à tinta óleo.

Ele descarrega caixas de mercadorias no depósito, ajuda um grupo de adolescentes a encontrar CDs antigos da Avril Lavigne em promoção e orienta uma senhorinha a escolher um bom hidratante para as mãos. Como não entende nada sobre hidratantes, recomenda um de baunilha, porque é o mais cheiroso e mais barato — e ele não está nem aí para o faturamento mensal porque não recebe comissão e odeia esse emprego.

Ainda na seção de cosméticos e perfumaria, Kyungsoo é automaticamente atraído por uma embalagem laranja. O shampoo promete uma experiência tropical inesquecível, não é testado em animais e tem a foto de um maracujá cortado ao meio.

Com cuidado, retira a embalagem da gôndola e manuseia a tampa como se desarmasse uma bomba. Olha para ambos os lados e, após verificar que ninguém está prestando atenção, pressiona de leve para sentir o perfume.

Santo Deus, Kyungsoo está perdido.

Tem o mesmo cheiro dos cabelos de Jongin.

Ele fecha os olhos e inspira de novo, de novo e de novo.

É tão bom. Como um dia pôde odiar o cheiro de maracujá?

Quando volta à realidade, ainda extasiado pelo perfume, seu coração dispara ao ver um par de olhos escuros encarando-o por trás da prateleira. Uma voz do Além ressoa:

— Kyungsoo, você pode parar de cheirar os shampoos e voltar ao trabalho, por favor? — a gerente pede, com a tranquilidade de um robô aspirador. — Preciso de você lá nas araras de pijamas. Uma mãe com trigêmeos revirou a coleção limitada da Marvel para encontrar três blusinhas iguais do Batman. Parece que um furacão passou por lá.

Ele pisca, confuso.

— Mas o Batman não é da Marvel.

— Exato.

— Ah — Kyungsoo aquiesce, compreendendo a gravidade da situação. — Entendi. Estou a caminho.

Seu coração ainda está acelerado quando percorre o caminho até a seção de pijamas infantis, esfregando a ponta do nariz para se livrar do cheiro tropical.

Segura a onda, Kyungsoo. Segura a onda.

Ele decidiu que vai aproveitar os dias que restam como namorado de mentira de Jongin, mas não vai se apaixonar. Não vai deixar esse sentimento evoluir.

O amor é apenas uma confusão de hormônios criada pelo hipotálamo, uma invenção do cérebro humano. Além disso, um namoro de verdade jamais caberia no seu orçamento. O que vem sentindo desde a arena de paintball deve continuar lá, escondido em algum lugar entre os contêineres e carros enferrujados.

Jongin é como uma abelha-operária. Elas vivem uma vida curta, mas intensa, que dura cerca de um mês. Aparecem para cumprir sua missão e depois vão embora.

É assim que deve ser. Um namoro falso de trinta dias e, então, tudo volta ao normal.

Kyungsoo agacha para pegar algumas peças de roupa que caíram no chão. Enquanto recolhe, tênis da Nike puídos e familiares entram no seu campo de visão.

Ele se levanta na velocidade da luz.

— Jongdae?

O amigo parece pego de surpresa, porque tenta se esconder entre as roupas, mas desiste ao bater o dedão na quina do suporte de metal.

— Veio me procurar? — Kyungsoo insiste.

— Não, não, não. Eu só estava... — Ele gesticula de modo exagerado e se pendura despretensiosamente em uma arara de camisetas minúsculas de super-heróis. — Dando uma olhadinha.

Kyungsoo ergue uma sobrancelha.

— Na seção de pijamas infantis?

— Claro. Meu... — Ele faz uma pausa enquanto pensa em uma boa desculpa, e solta tudo de uma vez: — MeusobrinhoéfãdosVingadores.

— Você não tem sobrinho.

Ele bufa. Depois de um ou dois segundos de autodepreciação silenciosa, Jongdae enfim admite:

— Tá bom, eu vim te procurar. Feliz?

Kyungsoo abre o mais meigo dos sorrisos.

— Claro que eu tô feliz. Isso significa que você tá pronto pra conversar comigo de novo. Eu espero. — Ele franze a testa. — Você tá pronto, né?

— Acho que sim.

Jongdae o encara em silêncio, ainda apoiado de modo despreocupado com o antebraço pressionado nos cabides. Seus olhos carregam uma expectativa que Kyungsoo não sabe se conseguirá cumprir. Talvez ele é quem não esteja pronto.

Em dois anos de faculdade, todos os atritos entre os amigos foram resolvidos de maneira madura. Às vezes, decidiam quem estava certo com três partidas decisivas de jokenpô, e vida que segue. Outra resolução, menos complexa, consistia em agir como se nada tivesse acontecido. Sempre funcionava.

Se Jongdae está esperando um monólogo emocionante, ficará bastante desapontado.

Após um longo suspiro, Kyungsoo deixa os ombros caírem.

— Nem sei por onde começar.

— Você pode começar pelo início — o amigo sugere, cruzando os braços. — Por que você mentiu?

É estranho ver Jongdae tão sério. Ele costuma ser o mais pacífico e risonho do grupo.

Kyungsoo organiza pijamas da Viúva Negra em escala de tamanhos P, M e G. Ao terminar, se vira para Jongdae.

— Você lembra do primeiro semestre, quando assistimos àquele documentário da BBC sobre o drongo rabo-de-forquilha?

Como previsto, Jongdae faz que não com a cabeça, porque passou o documentário todo dormindo.

— Era sobre uma ave africana que avisa aos suricatos quando um predador se aproxima, e assim conquista a confiança deles — Kyungsoo continua. — O drongo sabe que é pequeno e tem poucas chances de sobreviver no deserto. Então, quando vê um alimento interessante, emite um alarme falso e engana os suricatos pra ficar com a comida. Ele trai os próprios "amigos" pela subsistência. Essa é a história. Eu sou o drongo e vocês os suricatos.

Qualquer outra pessoa acharia a metáfora repugnante.

Jongdae, apesar de rígido e estoico como um soldado da Guarda Real Britânica, parece ligeiramente curioso.

— O que acontece quando os suricatos descobrem?

— Ainda não sei — Kyungsoo murmura —, mas eu entenderia se não o perdoassem.

Eles não estão mais falando sobre drongos e suricatos de verdade, mas de drongos e suricatos hipotéticos.

— O drongo se arrepende? — Jongdae pergunta.

Dessa vez, ele diz a verdade.

— Não.

O amigo não parece irritado, mas genuinamente surpreso.

— Por quê?

A resposta para aquela pergunta é um mistério até para Kyungsoo. Enganar os melhores amigos em troca de dinheiro nunca lhe pareceu uma opção agradável, mas toda vez que a decisão conveniente o aproximava de Jongin, o sentimento de culpa desaparecia.

Jongin, com seus sorrisos bonitos, sua lábia bem-humorada e seu talento absoluto para lhe arrancar risadas. Jongin, que odeia filmes musicais, mas que respira música em cada acorde que toca no baixo. Quando se lembra das conversas de madrugada, das colheradas compartilhadas de sorvete de flocos e todos os silêncios mais confortáveis do mundo, não se arrepende. Nem por um segundo.

Mesmo se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo.

Como explicar isso a Jongdae sem magoá-lo?

— Porque... — ele sussurra. — Porque...

Kyungsoo não percebe, mas está sorrindo.

Para Jongdae, o gesto não passa despercebido.

— Ah, não — o amigo murmura, pesaroso. — Você gosta dele... — Conforme assimila a informação, seu semblante muda e sua carranca confusa se transforma em um sorriso. — Kyungsoo, você gosta dele!

Ele responde com uma careta.

— Não é gostar. É só... um deslumbramento momentâneo.

— Aham.

— É só a dopamina e a ocitocina agindo de forma esquisita no meu organismo, só isso.

— Aham.

— Você não acredita em mim. Fica dizendo aham o tempo todo.

Jongdae ri e abre a boca, mas Kyungsoo o acerta com um cabide antes que possa repetir pela terceira vez.

Ele suspira, abraçando uma blusa minúscula do Capitão América como se fosse um cropped.

— Eu acho o Jongin um cara muito gente boa, e recentemente percebi que também tenho achado ele mais bonito que antes. Ah, e ele fica superlegal tocando baixo. Gosto do jeito que ele cuida de mim, mesmo eu sendo só um namorado de mentira, e adoro quando ele me faz rir. — Ele pensa um pouco mais, e seu sorriso vai desaparecendo. — Mas a gente nem combina. Ele é alto e as costas dele são largas. Dá pra colocar um outdoor nelas...

— Você devia cursar Publicidade — Jongdae opina.

— ...e eu sou, sei lá, compacto como a traseira de um fusquinha.

— Todo mundo ama fusquinhas.

— Cala a boca.

Os dois riem alto e recebem um "Shiu!" de uma cliente. De longe, a gerente passa a vigiá-los com seus olhos de águia. Por instinto, Kyungsoo desaparece entre os pijamas e Jongdae começa a remexer nas araras, atuando como um cliente comum.

De costas um para o outro no corredor, eles fingem não se conhecer.

— Quando isso aconteceu? — Jongdae pergunta, agora sussurrando.

Kyungsoo ajeita uma calça do Homem-Aranha no cabide com mais força do que o necessário. Ao responder, inclina a cabeça para trás, de modo suspeito para meros desconhecidos em um corredor.

— Não aconteceu e nem vai acontecer — ele grunhe. — Eu entrei em pânico quando comecei a sentir... coisas, e tentei acabar com tudo aquele dia no banheiro. Jongin é uma abelha-operária. Não vai durar muito tempo. O contrato acaba em menos de duas semanas. Depois disso, só preciso esperar o sentimento sumir.

— E se não sumir?

Precisa sumir, Jongdae. Ele tá desalinhando os meus chakras!

— Sssssh — a cliente mal-humorada chia de novo.

Eles a ignoram.

— O amor é isso — Jongdae diz, sorridente. — Mas e aí? Você acha que ele também sente o mesmo?

Kyungsoo balança a cabeça.

— Acho que não. Não sei, é difícil saber. O Jongin é um espírito livre e é naturalmente carinhoso. E ele já disse que gosta de contato físico. Quando ele me toca, nunca sei se é um toque do tipo "Eu gosto de você" ou só um toque do tipo "Protocolo padrão de toques". — Ele suspira. — Estar em um relacionamento de mentira é difícil. Não sei mais dizer o que é real e o que é inventado.

A frase que ouviu na arena de paintball ainda ressoa em sua mente.

Mais do que deveria.

Quanto disso é genuíno e quanto faz parte do disfarce?

Jongdae dá de ombros, mas Kyungsoo não vê, porque ainda está de costas.

— Bom, se quer saber, acho que você deveria investir.

— Mesmo? — Ele se anima, e uma pontada de esperança faz seu coração disparar. — Não quero quebrar o clima, mas já quebrando, isso quer dizer que você já me perdoou? Sei que o drongo rabo-de-forquilha pisou feio na bola com os suricatos e eu entenderia se...

De repente, Jongdae segura seus ombros e o força a se virar. O amigo revira os olhos.

— Podemos pular as metáforas com animais e fazer as pazes logo? Você sabe que eu odeio Zoologia.

Ele sempre tirava notas horríveis na matéria. Só não vai dizer isso a ele agora porque sua intenção é ser perdoado, e não começar uma guerra.

Kyungsoo sorri e abre os braços, oferecendo-lhe um abraço, mas recebe uma careta em troca.

— Foi mal, Soo — Jongdae murmura, dando um passo para trás. — Podemos deixar as demonstrações de afeto para quando você não tiver vômito de bebê na roupa?

Kyungsoo olha para baixo. Quase tinha se esquecido da mancha leitosa no uniforme.

Ele devolve a careta.

— Com certeza.

Os dois continuam conversando e compartilhando risadas até o fim do expediente. Quando seu turno na Snacks & Co termina, caminham juntos até o ponto de ônibus — Jongdae a pé e Kyungsoo com sua bicicleta a tiracolo.

Esse é o momento do dia em que as pessoas se esbarram pelas ruas, apressadas, e os feirantes começam a desmontar suas barracas. O sol alaranjado está se pondo atrás dos prédios e o calor morno aquece seus braços, arrancando-lhe um sorriso.

Agora, todo pôr do sol o faz lembrar de Jongin.

Eles param lado a lado sob a área coberta do ponto de ônibus.

— Olha, só pra você saber — Jongdae diz —, não apoio o que você tá fazendo. Mas, graças a uma emergência intestinal, ouvi toda a conversa que vocês tiveram no banheiro assombrado, e entendo por que você fez o que fez. Bom, eu te devo desculpas também. Exagerei com você no calor do momento. E, sendo bem sincero, a gente não foi muito legal te desafiando a conquistar o cara por dinheiro. — Ele suspira e dá de ombros. — Se você tivesse me contado antes, eu com certeza teria te emprestado a grana pra mensalidade, porque sei o quanto isso é importante pra você. O Junmyeon e o Yixing também merecem saber.

Kyungsoo segura os guidões com força, apertando a parte emborrachada. Ele usa o peso do corpo para equilibrar a bicicleta.

— Eu sei. Vou contar tudo, prometo. Só preciso de mais tempo. Só até o fim do mês.

Pode parecer bobagem, mas sua maior preocupação agora não é quitar a dívida com a universidade. Seu prazo como namorado de mentira de Jongin está se esgotando, e ainda não sabe dizer se o término do contrato será uma bênção ou uma maldição.

Quanto mais cedo acabar, mais fácil será reprimir o que sente.

Por outro lado, ele não quer que acabe.

Vrrrr. Vrrrr. Como se pressentisse seus pensamentos, Jongin envia uma mensagem. Kyungsoo apoia a bicicleta no quadril para pescar o celular no bolso. Quando lê, quase se joga na frente de um caminhão.


Jongin:

Oi ❤


Por mais ridículo que seja, seus dedos tremem quando ele escreve:


Kyungsoo:

Qual é a do coração?


Jongin:

Passa maior credibilidade para o nosso namoro de mentira

Sabe, caso algum amigo tente espiar nossas conversas


Quando digita a resposta, ele pensa uma, duas, três vezes se deve enviar ou não um emoji. Na quarta, decide que sim, não tem nada a perder. E fica estranhamente feliz quando o coração aparece na tela.


Kyungsoo:

Você tem razão ❤


Jongin:

Já saiu do trabalho?


Kyungsoo:

Acabei de sair


Jongin:

Você não precisa mandar coração em toda mensagem


Kyungsoo sabe disso. Ele só queria uma desculpa para enviar corações, porque está se sentindo particularmente corajoso hoje.


Kyungsoo:

Grosso

Vou pedir o divórcio


Jongin:

Ah, é?

E se eu me recusar a assinar os papéis?


Kyungsoo:

Vou começar a cobrar um salário mínimo pra ser seu namorado de mentira


Jongin:

Ei, namorado de mentira

Amanhã é sua folga, né?

Quer vir aqui pra casa e me assistir tocando de verdade?


Kyungsoo:

Na sua casa?


Jongin:

É, fechamos uma noite no Hard Rock Cafe

Vamos tocar lá no fim de semana que vem, então eu preciso ensaiar

E quero muito você aqui comigo

Você vem?


Kyungsoo sorri para o celular por motivos desconhecidos. Quando percebe que está parecendo um idiota em público, pressiona os lábios para esconder o sorriso e bate no peito, mandando seu coração se acalmar.

Ele não vai se apaixonar.

Ele não vai se apaixonar.

Ele não vai se apaixonar.


Kyungsoo:

Claro

Como namorado de mentira de um rockstar, preciso fiscalizar se você está ensaiando direito


Jongin:

Não esquenta

Prometo só parar de ensaiar quando começar a suar a camisa


Kyungsoo dá risada, porque acha a ideia igualmente sensual e nojenta.


Jongin:

Passo na sua casa pra te pegar?


O duplo sentido é o que mata.


Kyungsoo:

Não precisa, vou de bicicleta


Jongin:

Esse é um bom momento para usar os emojis de coração

Sabe, pela credibilidade


Kyungsoo:

Tudo pela credibilidade


Jongin:

Então, até amanhã ❤


Kyungsoo:

Até amanhã ❤


Mesmo depois da despedida, continua encarando o celular, admirando os corações vermelhos na tela.

Céus. Kyungsoo está mesmo perdido.


🎸


Pela primeira vez, Kyungsoo sente seu coração palpitar de modo esquisito quando bate à porta de Jongin. Ele ajeita o cabelo na testa, checa se suas calças não sujaram na corrente da bicicleta e puxa o tecido para cheirar a própria camiseta, para ter certeza de que ainda está cheiroso mesmo após vir pedalando. Só então toca a campainha.

— Tá aberta! — Jongin grita de dentro do apartamento.

Quando entra e vai até o quarto dele, Kyungsoo se depara com uma cena digna de cinema.

Jongin está sentado na cama com headphones e o baixo vermelho apoiado na perna direita. Todas as cores parecem se encaixar. O cinza chumbo dos móveis e do edredom. O preto dos pôsteres, dos discos e de um amplificador antigo que virou mesa de cabeceira. O vermelho dos adesivos nos armários, dos quadros e almofadas. A luz do sol atravessando a copa das árvores e entrando pela janela.

Dessa vez, ele não usa calças de moletom, mas uma calça jeans sobreposta por uma regata preta do Nirvana que faz seus braços parecerem incríveis. O jeito que seu corpo se move a cada acorde, balançando a perna esquerda e mexendo a cabeça, é hipnotizante. Ele desliza os dedos pelo braço do baixo, alongando uma nota, e Kyungsoo perde o fôlego.

Assistir Jongin tocando sozinho é diferente de assistir à Cloud 9.

Ele poderia observá-lo por horas.

Mais do que nunca, tem certeza de que Jongin saiu de um filme.

Só o viu usando regata uma vez. Na época, ele era só um cara qualquer que tocava numa banda de rock e parecia intimidador por causa das tatuagens. Julgá-lo pela aparência foi seu maior erro. Kyungsoo nunca esteve tão enganado. Apesar das roupas escuras e da postura desleixada, ele é radiante e caloroso como o sol. É carinhoso, engraçado e...

E agora está olhando para ele com um sorriso lateral.

— Gostou?

Ele pisca e volta para a realidade. Mal se deu conta de que a música já tinha acabado.

— É, dá pro gasto — ele responde, dando de ombros. — Foi você que compôs?

Jongin franze a testa, como se a ideia fosse absurda.

— Não. Isso é Strokes.

— Ah.

De repente, o silêncio recai sobre o quarto. Kyungsoo não quer correr o risco de trocar mais um daqueles olhares infinitos, então fica encarando as folhas da árvore do outro lado da janela.

Jongin esfrega a calça jeans, os dedos alisando a própria coxa.

— Ei, hum, acho que quando te convidei pra vir, não pensei no que você ia ficar fazendo enquanto eu toco.

Kyungsoo se senta do outro lado da cama e se recosta nos travesseiros como se já fosse de casa.

— Não tem problema. Posso só ficar te assistindo.

Esse é o problema. Pensando agora, não sei se vou conseguir me concentrar com você me olhando.

— Mas eu te olho o tempo todo. — Ele tosse para limpar a garganta. Quando fala de novo, sua voz está ligeiramente rouca, nervosa e patética. — Digo, durante os ensaios.

Por algum motivo, Jongin também parece nervoso, mas nem um pouco patético.

— É... diferente.

Kyungsoo suspira, observando as paredes, a coleção de CDs na cômoda e os livros grossos de Cinema nas prateleiras.

— O que você quer que eu faça, então?

— Hum, você pode... — Ele olha ao redor, procurando algo que possa servir de distração durante o ensaio. Quando uma ideia faz sua expressão se iluminar, ele pega o celular na cama. — Já sei. Você pode me filmar ou tirar fotos e postar no Instagram. Não vou ligar se você olhar pra mim através de uma câmera. E, além disso, é uma ótima oportunidade de alimentar nosso namoro de mentira.

Kyungsoo aceita a proposta e passa os trinta minutos seguintes gravando-o de ângulos diferentes. Ele não parece se importar, e até olha diretamente para a câmera do celular algumas vezes. Quando se cansa, deixa o aparelho de lado e começa a vasculhar as prateleiras com seu olhar curioso.

Jongin tem uma coleção interminável de CDs — Beatles, The Doors, Pixies, The Strokes — e um acervo modesto de livros acadêmicos — A Arte do Cinema, Da Criação ao Roteiro, A Linguagem do Cinema. Com exceção de um caderninho de capa preta, que está perdido entre os CDs, tudo parece em ordem. Aquele museu audiovisual é a prova viva de que Jongin pode ser organizado às vezes.

Enquanto seu namorado de mentira está entretido com o ensaio, ele pega o caderno para colocá-lo com os outros livros.

Jongin cumpre sua promessa. Ele só para quando gotas de suor começam a escorrer pela clavícula até a regata folgada, desaparecendo peitoral abaixo. Com os dedos, joga o cabelo para trás, tentando afastá-lo do rosto. Obviamente não adianta. A franja cai na testa outra vez, porque os fios de Jongin são teimosos, mas, principalmente, porque o universo odeia Kyungsoo.

— Me mostra o que você gravou — ele pede.

Kyungsoo se afasta da cômoda e senta na cama.

— Aqui. — Ele mostra a tela do celular. — Esse vídeo até que ficou legal. Vou postar.

— Escreve alguma coisa — sugere Jongin.

— Tipo o quê?

— Sei lá. Alguma coisa que mostre que estamos juntos. Tenta fazer disso um momento romântico.

— "Tocando para o meu namorado" — ele recita enquanto digita.

— Não, assim não! — Jongin quase grita, segurando seu pulso. — Kyungsoo, você não conhece meus amigos. Se você postar isso, eles não vão me deixar em paz com as piadinhas de duplo sentido. E eu não quero ninguém comentando sobre a nossa vida sexual de mentira.

— Ah — ele murmura, finalmente entendendo. — Ah.

Kyungsoo joga o celular longe, como se ele estivesse pegando fogo, e faz um esforço descomunal para não imaginar Jongin com a mão dentro da sua calça.

Por sorte, o aparelho caiu em segurança no colchão. Jongin o recupera e acessa a galeria, analisando os vídeos com curiosidade. Até mesmo aqueles em que Kyungsoo desviava do foco principal — a música sendo tocada no baixo — e focava no rosto bonito e concentrado brilhando à luz do sol.

Kyungsoo pigarreia.

— Por que você me convidou hoje?

— Como assim? — ele responde, sem tirar os olhos do celular.

— Eu te conheço, Jongin. Você não me chamou aqui só pra te assistir tocar. Desembucha.

Por fim, Jongin ergue os olhos do celular. Mas, em vez de manter contato visual com Kyungsoo, como sempre faz, seu olhar desce até a boca dele.

— Bom, achei que devíamos conversar sobre... Sabe, o nosso beijo hipotético no videoclipe.

Para ser sincero, também andou pensando bastante nisso. Na verdade, sonhando com isso, com a promessa de um beijo que seria metade de verdade e metade de mentira. Seria real para Kyungsoo, mas e para Jongin?

É claro que quer beijá-lo.

Deus, quer tanto beijá-lo.

Ao mesmo tempo, seu coração lhe diz que aceitar não seria certo. Seria tirar proveito do acordo para satisfazer seus desejos mais secretos. Ele não quer fazer isso com Jongin. Já está sendo egoísta o suficiente levando aquele namoro de mentira adiante.

É por isso que diz:

— Não acho que seja uma boa ideia. Nós assinamos um contrato, lembra? Nada de beijos. Mas a gente ainda pode atuar no vídeo, se você topar. Um casal não precisa se beijar pra provar que é um casal.

Jongin assente, olhando para um ponto fixo distante.

— Você tem razão. Não precisamos provar nada pra ninguém.

O universo, pressentindo mais um silêncio profundo se aproximando, gira uma chave, acionando as incontáveis engrenagens do mundo. O caderninho de capa preta na prateleira, ao lado de um exemplar de A Linguagem Cinematográfica, perde o equilíbrio e desaba como se empurrado por mãos invisíveis.

Kyungsoo se levanta para colocá-lo no lugar, mas Jongin deixa o baixo de lado e o alcança com uma velocidade impressionante. Suas mãos seguram a capa ao mesmo tempo. Seus dedos se tocam por cima do caderno.

— Não abre — Jongin pede. Ou melhor, implora.

Ele parece meio louco com os cabelos bagunçados e os headphones pendurados no pescoço. Nunca o viu com uma expressão tão séria.

— Tá bom — Kyungsoo responde gentilmente e o solta.

O problema é que Jongin também solta. O caderninho misterioso cai de novo, dessa vez aberto em uma página dupla.

Há o desenho de um esqueleto do lado esquerdo, com flores desabrochando entre as costelas. Espalhadas pelas folhas estão diversas figuras rabiscadas em caneta preta. Olhos enigmáticos, rosas detalhadas, crânios simpáticos, cigarros e luas crescentes.

Parece um caderno de desenhos. Até Kyungsoo notar que as ilustrações estão ali apenas para preencher os espaços vazios. No centro, em uma grafia descuidada, palavras se amontoam umas nas outras até contar uma história. Os versos de uma música.

Kyungsoo agacha perto do caderno.

— Foi você que desenhou isso?

Jongin desiste, suspirando alto e se sentando no chão.

— É, mais ou menos. Os desenhos são do meu pai. Ele gostava de desenhar, era um hobby que ele tinha. Eu só copiei pra cá.

— São lindos — Kyungsoo sussurra. — E a música? Não sabia que você escrevia.

Ele deu de ombros e se ajeitou sobre o tapete, dobrando os joelhos.

— Não escrevo mais.

— Por quê?

— Não sou bom nisso.

Kyungsoo estreita os olhos, fazendo sua melhor cara de "Não acredito em você".

— Posso? — ele pergunta, apontando para o caderno.

Jongin faz que sim com a cabeça.

Enquanto folheia e lê, letra por letra, canção por canção, Jongin começa a tagarelar:

— Ah... Não queria que você visse isso — ele confessa, coçando a nuca. Não como se detestasse a ideia, mas como se sentisse vergonha por ser exposto. — Na verdade, eu sempre escrevi em segredo. Você vai achar bobagem, mas lembra de quando jogamos moedas na Fonte dos Desejos? Sempre sonhei em ter uma música autoral minha na banda. Foi isso que pedi naquela noite. Mas, bom, na primeira vez que criei coragem de mostrar uma letra ao Sehun, ele riu de mim. Elas não devem ser boas o suficiente. Ele disse que meu estilo não tem nada a ver com a Cloud 9.

— Ele está certo. São bem diferentes das músicas da Cloud 9 — Kyungsoo murmura, os olhos brilhantes saindo das páginas e focando no rosto de Jongin. — É por isso que eu amei.

— Sério?

— Elas são sensíveis, cômicas e genuínas. Essa é a minha preferida até agora. — Ele vira a folha, mostrando uma página cheia de rosas, guitarras e notas musicais. — Ela fala do amor de um jeito que não é só "Me sinto deprimido e quero transar com você no chão imundo de um quarto de hotel" ou "Vou me atirar do oitavo andar se não puder ter você", mas de uma forma banal e...

— Simples? — Jongin completa.

Kyungsoo abre um sorriso.

— É, simples. Como se o amor fosse descomplicado.

— Engraçado você dizer isso. — Jongin sorri de volta, deslizando o indicador pela música intitulada Amor em Quatro Acordes. — Uma vez, meu pai me disse: "Se aprender a tocar três acordes, você pode tocar um monte de coisa. Se aprender quatro, você pode dominar o mundo." Acho que ele quis me ensinar que nem tudo na vida precisa ser complexo pra ser ideal. Essa música é sobre isso. Um amor simples, mas que pode dominar o mundo.

Kyungsoo desejou ser o amor simples de alguém.

Não, desejou ser o amor simples de Jongin.

— Você devia mostrar aos outros e à Sooyoung. Você não precisa da aprovação do Sehun, nem de uma Fonte dos Desejos. Faça sua própria sorte.

Jongin se aproxima e apoia uma mão no chão perto dele, os rostos perigosamente próximos. Suas sobrancelhas levantam, em animação.

— Você acha?

— Acho — responde, com uma lufada de ar.

Os olhos de Jongin pousam nele e sua boca se alonga em um meio-sorriso.

— Você é um ótimo namorado de mentira, Soo.

O apelido carrega algum poder desconhecido capaz de roubar-lhe as palavras. Ele observa, calado, enquanto Jongin observa de volta, seus olhos cintilando com as cores do pôr do sol. Ficam assim, presos um ao outro, como dois planetas partilhando a mesma órbita no espaço.

Kyungsoo deixa que um sorriso discreto cresça no canto dos lábios, porque percebe que, para ele, esse é um desses momentos simples que poderiam dominar o mundo. Pela primeira vez, ele se perde nos olhos, no cheiro, no calor dos corpos próximos, encarando-o com uma adoração ridícula.

De repente, ele dispara, sem pensar muito:

— Vamos fazer isso.

Jongin pisca, confuso.

— O quê?

— O beijo no videoclipe. Vamos fazer.

Sua primeira reação é dar risada. Mas é uma risada tão gostosa que Kyungsoo já se sente disposto a perdoar.

— Você deve ter gostado mesmo da música, se isso fez você querer me beijar — ele diz, mordendo os lábios para conter o riso. — Mas e o contrato?

— Podemos abrir uma exceção.

— Beleza.

E, assim, agem como se nada tivesse acontecido. Como se o beijo hipotético do videoclipe não tivesse deixado de ser hipotético. Flutuando em um silêncio confortável, os dois continuam observando os desenhos e músicas no caderno. A mente de Kyungsoo, porém, está bem longe dali.

Ceder à ideia do beijo parecia a escolha certa no calor do momento, mas, agora, já não tem mais tanta certeza. E se não souber onde colocar as mãos? E se o beijo não encaixar e todos perceberem que eles são uma fraude? E se estragar tudo?

Jongin parece pensar o mesmo, porque vira o rosto, a respiração roçando em seu ouvido.

— Quer saber? A gente devia praticar.

Os olhos de Kyungsoo dobram de tamanho.

— Praticar... o quê?

— O beijo.

— Ou — ele sugere, na brincadeira — a gente pode praticar uma DR e fazer você dormir no sofá.

— Essa casa é minha. Você é quem dormiria no sofá.

— Jongin...

Jongin gesticula vagamente e olha para baixo, os dedos puxando os fios soltos do tapete.

— Deixa pra lá. Foi uma ideia estúpida.

Não foi uma ideia estúpida. Foi uma ótima ideia. Mas Kyungsoo precisa de um tempo para assimilar a proposta e processar que o beijo está prestes a acontecer de verdade.

Seria mais fácil semanas atrás, quando Jongin era apenas o rapaz tatuado que tocava numa banda e sentava na praça de alimentação com os coturnos em cima da mesa. Seria ainda mais fácil um ano antes, quando Kyungsoo beijava caras que conhecia em aplicativos pela primeira e última vez — porque ele não era bonito o suficiente (ou gay o suficiente), não tinha um abdômen sarado, não queria transar no primeiro encontro ou era contra o mercado de criptomoedas.

Alguns beijos são só beijos. Não significam nada. Mas esse é um beijo que pode mudar tudo.

Há um silêncio constrangedor até que Kyungsoo se move, dobrando as pernas sobre o tapete e virando-se para ele.

— Tudo bem. Vamos tentar.

— Sério? — Jongin questiona, as sobrancelhas levantadas.

Subitamente, toda a areia do Saara se aloja em sua garganta. Ele assente e engole em seco, concordando. Jongin chega mais perto, endireita as pernas, apoia uma mão no tapete e Kyungsoo quase tosse um camelo. O sol já está se pondo. Então por que parece tão quente?

Uma mecha da franja cai na testa dele.

— Onde você costuma colocar as mãos?

Kyungsoo pisca, aturdido.

— O quê?

— Quando você tá beijando — explica. — Se vamos fazer isso na frente de todo mundo, precisamos entender melhor um ao outro. Onde você põe suas mãos?

— Em vários lugares? — ele responde, mas soa como uma pergunta incerta.

Jongin ergue uma sobrancelha, desconfiado. Suas sobrancelhas são muito expressivas. No entanto, são seus olhos que roubam a atenção de Kyungsoo. Graças à iluminação, as íris castanhas assumem um tom âmbar bonito que lembra mel orgânico, balas de caramelo e dias ensolarados.

Ele tira os headphones e empina o queixo. O movimento é desafiador, convidativo e atraente em medidas iguais.

— Então me mostra.

Ai. Meu. Deus.

Com uma análise rápida, Kyungsoo considera suas opções. Pode segurá-lo pela cintura, mas as pernas estão no caminho e não quer parecer desengonçado se seus corpos não se encaixarem como deveriam. Pode tocar o rosto dele, mas o gesto seria íntimo demais para um beijo experimental. Ou pode apoiar as mãos nas coxas, mas estaria entrando em um território perigoso.

Jongin espera, sem tirar os olhos dele, o dedo indicador traçando a caveira estampada em seu All Star de cano alto.

É só um beijo, Kyungsoo. Não uma prova de Parasitologia.

Só um beijo. Ele consegue.

Kyungsoo se move para a frente e cruza as pernas. Inspira, expira. Estica o braço. Com um cuidado exagerado, leva a mão até o ombro dele, onde o pescoço encontra a regata preta do Nirvana. Desliza pela clavícula, logo acima de uma tatuagem que diz Here I Stand as a Man. Quando rodeia o tecido com os dedos e segura a regata, percebe Jongin assistindo-o com olhos brilhantes, os lábios já entreabertos.

Os dois se inclinam lentamente, incertos sobre quem deve começar.

Kyungsoo se aproxima, mas desiste no meio do caminho. Em vez disso, usa o dedo indicador para afastar uma mecha do cabelo dele para trás da orelha. E isso parece ter algum efeito em Jongin, porque ele semicerra os olhos e diminui a distância. Inclina a cabeça, ergue o queixo e suspira perto da sua boca. A respiração morna acaricia seu rosto e Kyungsoo responde puxando a alça da regata, chamando-o para mais perto.

É quando seus lábios se encontram. A boca de Jongin é quente e macia contra a sua.

Um beijo de mentira com gosto de verdade.

De olhos fechados, todas as sensações se intensificam. Sente os cabelos dele em seu rosto, a pele da clavícula nos dedos, o queixo se movendo cada vez que ele o beija com mais certeza. Uma mão pousada em suas costas, quase pegando fogo. Um suspiro quando suas bocas se afastam e se encontram de novo.

Seu peito começa a vibrar e os joelhos tremem. Tudo está estremecendo, balançando e sacudindo. O piso, as paredes, os galhos das árvores lá fora e até mesmo o sol. Kyungsoo tem quase certeza de que um terremoto está acontecendo em algum lugar enquanto eles se beijam.

Jongin acaricia o dorso da sua mão, entrelaça seus dedos e o mundo vibra com mais leveza. Talvez o tremor estivesse, na verdade, na palma da sua mão direita.

Finalmente, mãos quentes o seguram firme pelo rosto, pescoço, nuca. O beijo fica mais profundo, e Kyungsoo percebe que está se agarrando aos ombros dele como se sua vida dependesse disso. Por sorte, se afastam antes que ele enlouqueça e tenha vontade de tirar a roupa.

Mesmo quando acaba, Jongin continua encarando-o com os mesmos olhos brilhantes, os dedos ainda segurando a lateral do seu pescoço.

Eles respiram fundo, em sincronia.

Por longos segundos. Por séculos.

E então caem na risada. Narizes franzindo, olhos lacrimejando e sorrisos tímidos. Kyungsoo deixa seu peito chacoalhar, agora muito mais relaxado, e abraça Jongin pelo pescoço quando a cabeça dele pende em seu ombro. Quando se olham de novo, percebem o que mudou. Tudo e nada ao mesmo tempo.

— Até que não foi tão ruim — Kyungsoo diz, tentando quebrar o gelo.

Ainda sorrindo, Jongin tenta enrolar seu cabelo escuro na ponta do dedo indicador, mas não consegue.

— Fala sério — ele acusa. — Foi o melhor beijo da sua vida.

Apesar do tom provocante, as palavras saem em um sopro. É quando Kyungsoo percebe que não sentiu tudo aquilo sozinho. Ele não é o único com o coração acelerado e a respiração esquisita, e nem precisa tocar o peito de Jongin para saber. Consegue ver tudo com aquela regata frouxa.

— Até parece — ele murmura, se afastando um pouco do calor de Jongin.

— Foi, sim.

— Não foi nada.

Jongin se inclina como se fosse contar um segredo.

— Kyungsoo, você estava suspirando no meio do beijo.

— Não estava, não.

Estava, sim.

É incrível o poder que um beijo pode ter. Não há ninguém além deles no quarto. Ainda assim, continuam conversando entre sussurros.

— Então, hum... — Jongin limpa a garganta e avança mais uma vez, segurando Kyungsoo pela nuca e dedilhando suas costelas por cima da camiseta. — Acho que deu certo quando fizemos assim. Eu segurando seu rosto.

Kyungsoo engole em seco e concorda com a cabeça.

— E se eu, sei lá, colocar a mão no seu cabelo? — ele pergunta para manter a conversa fluindo, e também porque está louco para tocar no cabelo dele.

— Por que você não tenta? — Jongin responde, a voz baixa e macia como veludo.

Sem dizer nada, Kyungsoo leva os dedos até a nuca dele, a mão mergulhando em seus fios castanhos. O segundo beijo acontece quase sem querer. Seus narizes se esbarram e eles riem, as bocas quase grudadas, até o riso morrer nos lábios um do outro. Jongin cheira a shampoo de maracujá e a sabonete. É deliciosamente intoxicante.

Ele se sente feliz e nervoso e encantado e eufórico.

Quando se afastam, os dois estão sorrindo.

— Acho que é isso — Kyungsoo diz.

— Esse pode ser nosso beijo oficial — Jongin concorda.

E Kyungsoo acredita que pode morrer com o jeito que ele diz "beijo oficial" com rugas de felicidade ao redor dos olhos.

Só agora a ficha começa a cair.

Meu Deus, ele beijou Jongin. De verdade. Duas vezes.

E eles têm um beijo oficial e tudo.

Alguns beijos são só beijos. Mas aqueles foram beijos repletos de significados, descobertas e certezas. Kyungsoo descobriu não só que beijar Jongin é sua nova coisa favorita no mundo, mas que os sentimentos que vem cultivando como sementes em um potinho secreto, no fundo do peito, já criaram raízes difíceis de arrancar.

Ele está apaixonado.

Inegavelmente apaixonado.

Alguns beijos são só beijos. E talvez aquilo não tenha mudado nada para Jongin.

Mas mudou tudo para Kyungsoo.

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