A Viajante - O Outro Mundo (L...

By autoratamiresbarbosa

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"Você acredita em universos paralelos?" Uma menina órfã, movida pela curiosidade, acaba se vendo diante de um... More

Sobre o livro
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Agradecimentos
Mandem suas teorias
Curiosidades sobre o Livro

Epílogo

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By autoratamiresbarbosa

— Tem certeza de que não quer ler o jornal? — Paty perguntou, enquanto estavam sentadas no sofá de veludo vermelho, na sala da mansão Scarlett. — Estão te chamando de "Heroína Escarlate".

— Sério? — Camila a olhou, surpresa, e pegou o celular de Paty para ler a matéria no site do Telúria Tagebuch.

No alto da página, havia uma foto de Leyla, embaixo do título.

"Heroína Escarlate" consegue deter o assassino de Anna Anorié e salvar a si mesma.

Ontem, dia 1 de junho, a Instituição de Ensino de Telúria (I.E.T) se envolveu novamente em uma polêmica. Duas mortes aconteceram na escola, envolvendo um homem desconhecido e Daniel Scarlett, marido de Carla Scarlett.

A Polícia não conseguiu saber quem era o homem misterioso nem de onde veio, mas acharam, ao lado de seu corpo, alguns objetos que confirmaram ser da Universidade de Pesquisas Científicas de Telúria (U.P.C.T), que haviam sido roubados há algum tempo. A instituição não soube informar o porquê de aqueles objetos de pesquisas estarem ali, mas ao que tudo indica, os ladrões os colocaram lá.

Diversas dúvidas surgiram sobre essa questão. Teria esse homem misterioso, uma ligação com o roubo dos objetos? E além disso, quem era ele?

Angelina Scarlett, irmã de Carla Scarlett, foi interrogada pela polícia, já que estava no local, e disse também não saber de nada.

De acordo com Leyla Scarlett, seu pai foi o assassino de Anna Anorié, Professora que lecionava na I.E.T antes de morrer misteriosamente. Disse que a Professora sabia do envolvimento de Daniel em sua tentativa de assassinato contra a própria filha, e que por conta disso, ele a matou.

Leyla também contou que seu pai foi quem esteve por trás do incidente no posto de gasolina, no ano passado, e no incidente de ontem, onde uma bomba havia sido encontrada no carro de Carla Scarlett, que explodiu no estacionamento do Albária Armentô.

Daniel estaria tentando matar a filha por ela ter descoberto seu plano de assassinar sua esposa, Carla. Ao que aparentava, Daniel também já havia executado várias tentativas de homicídio contra ela, para ficar com sua fortuna, onde seus filhos ainda sendo de menor, ele ficaria com tudo.

Isso tudo poderia ser apenas uma invenção fantasiosa de Leyla Scarlett, mas dessa vez, há fontes que confirmam: Willians Barton.

"Ele pagou a nós dois para faltarmos no dia, nós não soubemos o porquê, mas aceitamos. Afinal, era uma boa quantia. Porém, quando vimos da notícia sobre o acidente de Leyla, a ficha caiu. Ficamos chocados, e depois de algumas semanas, eu havia dito que não queria mais participar disso. Eu estava planejando denunciar tudo. Mas ele me ameaçou, e mandou irem na minha casa me jogarem do segundo andar."

"Eu não sei se ele quis me matar, mas deixou bem claro que era um aviso." Continuou Barton. "E depois de alguns meses, ele matou a Anna... Fiquei desesperado, apenas pensando que eu seria o próximo. Me pergunto que tipo de pessoa tenta matar a própria filha."

A polícia declarou o caso como encerrado, assim como a investigação a respeito do assassino de Anna Anorié.

Alguns dos pais dos estudantes da I.E.T disseram que uma morte na família Scarlett já era esperada de acontecer em algum momento.

"Essa família sempre foi esquisita, não estou nem um pouco surpresa." Disse Arnaldo Miranda, dona da maior empresa de Odontologia do país.

"Bom, menos um Scarlett no mundo." Comentou Otávio Mudry, que havia se envolvido com comércio de drogas ilícitas.

Alguns estudantes da I.E.T, estão chamando Leyla Scarlett de "Heroína Escarlate".

"Leyla é minha amiga! Minha amiga! Ela quem salvou todos nós de um assassino e fez justiça à professora que morreu. O nome dela pode ser Heroína Escarlate ao invés de Leyla Scarlett." Disse um estudante de bolsa da I.E.T, morador de Pandiógeis que diz ser amigo da futura herdeira da família Scarlett.

Alexandre Bennist fez um pronunciamento depois do ocorrido:

"Saber que a pessoa que fez este ato horrível contra um dos funcionários da minha escola, era membro de uma família que eu admiro muito, e algo grave e triste. Mas  a justiça foi feita, e tudo acabou bem no final, graças a uma pessoa: Leyla Scarlett. O povo de Telúria é muito grato, assim como eu também."

O corpo de Daniel Scarlett seria enterrado, ou cremado hoje. Quando perguntamos à Carla Scarlett o que queria fazer com o corpo, ela apenas respondeu:

"Por mim podem jogar fora. Coloquem na caçamba de um caminhão de lixo e o triturem. Eu não me importaria."

Aparentemente, ela não ficou nem um pouco abalada com toda essa notícia. De fato, a família Scarlett é estranha.

Paula Medsi, Telúria Tagebuch

Camila terminou de ler com um sorriso. Era a primeira vez que havia saído em uma matéria do Telúria Tagebuch sem ter sido criticada.

— Não é um nome tão ruim assim. — Comentou. — Mas você merecia ter tido destaque. Você quem pensou em tudo!

— Eu sou de Pandiógeis. Nós não ganhamos destaque. Você viu o Lucas, com certeza era ele nessa matéria. Esse apelido foi coisa dele. E você viu também que nem mencionaram o nome dele. Lucas foi o "Estudante de bolsa, morador de Pandiógeis". Além disso, você fez bastante coisa. Você quem enfrentou o Daniel, no final.

— Sabe, eu continuo achando toda essa história de barata e multiverso uma loucura. — Ela continuou, depois de um tempo. — Mas..., eu pesquisei sobre qualquer coisa que tivesse a ver com pessoas dizendo não serem elas mesmas e achei uma matéria de um jornal pequeno, o "Notícia do Dia", onde dizia exatamente sobre isso. E outra que dizia sobre objetos que apareceram no meio misteriosamente.

Camila a olhou, confusa.

— Sabe, se você veio por um Portal, ele deve ter trazido objetos, não? — Paty explicou.

Se recordou das coisas que haviam sido arrastadas pelo Portal, no orfanato.

— Sim, eu lembro de algumas coisas que caíram no Portal.

— Eu vi também sobre pessoas que apareceram do nada dizendo estarem em outro local, e que ninguém sabia dizer quem elas eram. Mas isso tudo foi em Pandiógeis e Manilópes, então não teve tanta repercussão. E isso me fez lembrar do Cientista que você falou, que morreu e ninguém sabia quem ele era.

— Então... — Sorriu. —, isso significa que você acredita?

— Não. — O sorriso de Camila murchou. — Mas eu vou tentar.

Havia contado para Paty o que realmente aconteceu no Andar Proibido. Mesmo sabendo que teria grandes chances de ela não acreditar, achou que Paty merecia saber da verdade, por tê-la ajudado nisso tudo.

— Aliás, eu sei que me ajudou nisso tudo apenas pela Leyla, então..., vou entender se não quiser mais falar comigo. Até porquê, não é todo dia que você descobre que a sua melhor amiga está morta e que tem uma pessoa de outro mundo no lugar dela.

— Claro que não. Bem, no começo foi apenas por causa dela, mas eu quero continuar te ajudando com essa coisa maluca de multiverso.

— Por quê?

— Bem, porque se realmente existirem outros universos, vai ser incrível! E também, porque gosto de ajudar pessoas legais. — Ela sorriu. — Prometo que vou te ajudar. Além disso, você foi gentil me convidando para vir aqui, nessa casa enorme. — Paty passou o olho pela sala. — Leyla nunca me convidou para vir, com exceção das vezes que tínhamos trabalho escolar para fazer.

— Meus pêsames pela Leyla.

— Tudo bem. Eu já consegui lidar com isso. — Ela olhou para o chão. — Mas sinto falta dela.

Sentiu pena de Paty. Não devia de ser fácil perder um amigo. Não sabia o que faria se perdesse Tiago. Porém, de qualquer maneira, havia o perdido, certo? Já estava convencida de que não iria voltar para seu mundo. Talvez, tivesse que se acostumar a viver como Leyla Scarlett. Tudo que desejava era que, mesmo sabendo que poderia nunca mais ver seu amigo, ele estivesse bem. Pelo menos, Tiago estava longe de toda essa confusão, seguro no Mundo Um.

— Onde estão seus irmãos? Bem, não os seus, mas você entendeu. — Paty perguntou de repente.

— Foram ao enterro de Daniel, com a Rosa. Carla decidiu enterrá-lo, no final. Talvez percebeu que os filhos tinham direito disso.

As crianças não haviam aceitado muito bem a morte do pai, o que era compreensível. Na noite anterior, Camila subiu direto para seu quarto, e não viu quando Carla deu a notícia aos filhos, e ficou feliz por isso. A última coisa que queria ver era a reação de mais alguém ao receber uma notícia de morte.

Alguns minutos depois, Camila caminhou com Paty até o saguão de entrada, que já estava de saída e iria voltar para Pandiógeis. Quando chegou ao local, teve um déjà-vu ao ver Ximú parada no saguão, em frente à Carla.

— Vamos, ela passou por muita coisa. Vai ser bom para ela. — Ximú disse em tom de súplica à Carla. Quando seu olhar se pousou em Camila, ela abriu um sorriso. — Sobrinha!

— Oi! — Ela retribuiu, surpresa ao vê-la ali.

— Isso é muito esquisito, Angelina. Há anos você decidiu que queria viver como uma indigente e iniciar uma nova vida; você renegou o nosso nome. E agora, quer passar um tempo com a minha filha? — A expressão séria e indiferente de Carla continuou a mesma, porém, a curiosidade em sua voz era notável.

— Bem..., eu percebi que a família é mais importante do que qualquer outra coisa. — Ela deu um sorriso amarelo.

Carla pareceu pensar por alguns segundos antes de suspirar e se virar para olhar Camila.

— Leyla, quer passar alguns dias com a sua tia? Talvez seja melhor para você... — Ela pareceu hesitar. — ...se recuperar do que passou. E acredito que aqui em casa não seja adequado para isso. Eu não sou boa com... situações sentimentais.

Notou uma leve preocupação em sua voz, e mesmo que tenha sido pouca, foi o suficiente para surpreendê-la.

— Eu adoraria! — Sorriu e olhou para Ximú.

— Ah, ótimo! — Ximú deu pulinhos de felicidade, recebendo um olhar esquisito de Carla. — E você deve ser a Paty, não? — Ela olhou para a menina, que assentiu. — Está indo para casa? Se quiser te levo até lá.

— Não precisa, mas é muita gentileza. Obrigada. — Paty deu um sorriso amarelo. — Como uma suposta uma barata sabe dirigir? — Confusa, cochichou no ouvido de Camila, que apenas a olhou e riu.

— Bom — Carla começou. —, vá fazer suas malas, Leyla. — Camila apenas assentiu e se despediu de Paty, subindo as escadas rapidamente, em seguida.

Estava feliz por saber que iria passar um tempo com Ximú e Heliberto, principalmente depois de tudo que aconteceu. Achou que iria morrer e que nunca mais iria aproveitar nenhum momento com eles, nem com mais ninguém. Nunca valorizou tanto sua vida como valorizava agora.

Alguns minutos depois, desceu com dificuldade a escadaria, por conta da grande mala preta que carregava. Estava tão ansiosa para partir que resolveu não esperar por nenhum funcionário para ajudá-la.

Quando chegou no saguão, percebeu que Paty e Carla não estavam mais lá, apenas Ximú, lhe esperando.

— Vamos? — Ximú perguntou.

— Claro. Só mais uma pergunta. Nós iremos mesmo no seu carro? — Se lembrou da pergunta que Paty lhe fizera mais cedo.

— Claro! — Ela sorriu, entusiasmada. — Por que não? Eu amo dirigir!

— Bom, é que eu acabei de sair de uma situação de quase morte. Não quero passar por isso de novo.

Ximú riu.

— Não entendi.

— Esquece. — Camila riu também. — Vamos.

Se dirigiram para fora da mansão e caminharam pelo gramado do jardim até chegar ao local onde havia dois carros vermelhos — o novo de Carla e o de Bartolomeu. — e um branco, que era o de Ximú.

Notou a ausência do carro vinho de Daniel. Não o veria mais nos gramados da mansão, e se sentiu bem ao saber disso.

Quando chegaram ao lado do carro de Ximú, Camila se abaixou no gramado e olhou para debaixo do veículo.

— O que é que você está fazendo? — Ximú a olhou com curiosidade.

— Só verificando se não tem nenhuma bomba. — Respondeu enquanto se levantava, percebendo o olhar confuso de Ximú sobre ela.

Ao entrar no carro, a primeira coisa que fez foi apertar bem os cintos, no banco traseiro. Resolveu que não iria na frente com Ximú, pois sabia que as chances de ela bater com o veículo eram altas, e não queria acabar voando pelo para-brisa, como a Leyla. Mesmo usando um cinto de segurança, preferia previnir.

O veículo começou a se mover até os portões da mansão. Nada de freadas bruscas nem batidas até aquele momento. Quando chegaram na estrada que os levaria até Presépsis, Ximú ainda não havia feito nada de errado. Estava dirigindo perfeitamente bem.

Camila não pôde deixar de ficar admirada com sua boa condução. Ximú havia realmente progredido nesses últimos meses.

— Eu tenho que admitir, você está dirigindo muito bem. — Confessou, surpresa, quando haviam deixado a estrada e entrado em uma rua movimentada depois de vários minutos, parecendo já estarem em Presépsis.

— Ah! — Viu o sorriso entusiasmado de Ximú pelo retrovisor. — Você... você acha mesmo?

— Claro. Você melhorou muito. Não que você fosse péssima, mas... está bem melhor.

Ximú olhou para trás para encarar a menina, sorridente.

— Obrigada, Camila! Eu amo dirigir, sabia? Os humanos são tão...

Camila arregalou os olhos quando percebeu que ela não estava olhando para a frente. Notou que o carro estava prestes a ultrapassar um sinal fechado, onde algumas pessoas estavam atravessando a rua.

— CUIDADO!

Ximú olhou novamente para frente e freou bruscamente o carro, bem a tempo. Gritos foram escutados vindo da rua.

Camila tapou rapidamente os olhos, com medo do que poderia ver, como se isso fosse impedir de acontecer o que temia. Tirou lentamente as mãos do rosto, e notou que o carro estava parado no sinal. Havia ultrapassado apenas um pouco.

Percebeu também que algumas pessoas na faixa de pedestres olhavam assustadas para o veículo, começando a atravessar a rua apressadamente, em seguida.

— Acontece! — Ximú riu.

Camila apenas deu um sorriso amarelo para o retrovisor.

Depois de alguns minutos, o carro foi em direção ao caminho de cimento, por entre o gramado, que dava acesso à garagem da casa branca de Heliberto. Um barulho foi escutado, e Camila foi jogada para frente.

— Droga. — Escutou Ximú dizer. — Acho que bati na porta da garagem de novo.

— Por que não coloca o carro lá dentro?

— Não vejo necessidade, só iria complicar ainda mais. — Respondeu enquanto tirava o cinto e saia do carro. Camila fez o mesmo. — Ah! — Ela grunhiu quando olhou para o para-choque frontal do carro. — Amassei de novo!

— Oi! — Escutou a voz entusiasmada de Heliberto e se virou para olhá-lo. — Camila! — Ele sorriu, indo ao seu encontro.

— Heliberto! — Sorriu de volta, animada em vê-lo.

— Quem está aí? — Escutou a voz de Godofredo, e o viu aparecer na porta em seguida. — Ah, a humana. — Ele estreitou os olhos para ela.

— Godofredo? Pensei que estava com a Mélia.

— Eu consegui fugir hoje de manhã daquela humana nojenta. Pensei que eu iria me livrar dos humanos. Mas você está aqui... — Ele fez uma careta de nojo para ela.

— Somos humanos agora, Godofredo. — Ximú comentou enquanto caminhava até ele.

— Não! Nunca!

— Bem, já que estamos todos aqui, precisamos falar sobre algumas coisas. — Camila disse enquanto entravam. — Não sei se vocês leram o jornal de hoje, mas...

— Eu não leio jornais. — Godofredo a interrompeu, fazendo uma careta de desprezo. — Só tem notícias sobre os humanos. — Ele se sentou no sofá, seguido pelos outros três. — Estou cansado de saber sobre vocês.

— Bem, mas tinha que ter lido. — Comentou rispidamente. — Teve coisas importantes lá. Coisas que todos nós deveríamos saber!

— Nós lemos. — Ximú apontou para si e para Heliberto. — Vimos sobre as coisas que levaram o pai da Leyla a fazer aquilo de tudo.

— Sim, mas eu troquei algumas coisas, como puderam ver. Eu seria dada como louca se eu contasse a verdade. Mas tem uma coisa que vocês precisam saber. A parte que consegui atirar no Daniel foi uma das coisas que eu mudei. Não fui eu quem o matou.

Ximú e Heliberto boquiabriram-se. Godofredo continuou a olhando com desinteresse.

— Quem atirou nele, então? — Heliberto perguntou.

— Bom, vai parecer estranho, mas... ao que tudo indica, o Portal.

Novamente, Ximú e Heliberto boquiabriram-se. Agora, Godofredo olhava para o nada.

— Mas... como? Henry... nós fechamos o Portal. — Ximú afirmou, confusa.

— Você havia me dito. Porém, ontem, ele apareceu bem na minha frente. O Daniel tinha disparado contra mim e pensei que eu iria morrer. Mas quando abri os olhos, eu vi o Portal na minha frente. Acho que a bala caiu dentro dele, e quando ele sumiu repentinamente, eu vi Daniel jogado no chão, baleado no peito. Acredito que o Portal poderia ter devolvido, de alguma forma, a bala.

Ximú e Heliberto arregalaram os olhos. Dessa vez, Godofredo olhava para o teto.

— Mas como isso é possível? Como ele se abriu? — Ximú se levantou, parecendo aturdida. — Então... o Portal não foi fechado? Todo os nossos esforços foram em vão? Henry morreu em vão?

— Não sei. — Bufou, se jogando contra o encosto do sofá atrás de si. — Eu queria muito saber.

— O que vamos fazer agora? — Heliberto pareceu assustado. — E quem matou Henry, afinal?

— Daniel não foi. Nós o escutamos chegar no Andar Proibido depois que todos nós estávamos lá. E a Polícia havia dito que a bala da arma dele não era a mesma que matou Henry, além daquela marca esquisita. Pelo o que pareceu, o local estava gangrenando mesmo depois de ele estar morto. E nenhuma conhecida arma pode fazer isso.

— Então, foi mesmo a O.P.U. — Ximú se sentou novamente, parecendo precisar de apoio.

— E tem mais. — Continuou. — A Coronel Minelli é uma Policial que parece estar me perseguindo quase sempre, e ela desconfia de que tem algo errado. Mas não se preocupem, ela nunca desconfiaria de uma viagem dimensional. — Acrescentou ao ver os olhares assustados de Ximú e Heliberto.

— Humanos vivem se metendo no que não são da conta deles. — Godofredo disse finalmente, ainda olhando para o teto. Então, ele estava escutando a conversa, ao contrário do que Camila pensou.

— Mas como você está com isso tudo? — Ximú pergunto a ela.

— Estou bem. Nada mal para quem pensou que estaria morta nesse exato momento.

— Poderia estar. — Godofredo comentou. — Seria uma humana a menos.

— Não diga isso, Godofredo. — Heliberto o olhou assustado. — Ela é nossa amiga!

— Minha não, só se for a de vocês! Tudo que eu vejo é uma humana nojenta. São todos iguais. — Ele olhou com desprezo para Camila.

— Mas como será que eles souberam que o Henry estava lá? — Ximú perguntou.

— Eles devem saber onde essa humana está. — Godofredo olhou para Camila. — Ela ainda é um perigo para nós. Não concordo que ela fique aqui.

— Não podemos deixar ela de novo. Temos que ficar juntos.

— Eu duvidei do Henry. — Camila sentiu o arrependimento tomar conta de si. — Ele morreu para fechar o Portal, e ainda acreditei que ele poderia estar com a O.P.U. Não era para eu ter tratado ele daquele jeito; o deixando daquele jeito.

— Ele mentiu para nós! Seu comportamento foi compreensível. — Ximú comentou. — Nós sabíamos que a O.P.U iria achá-lo uma hora ou outra.

— E vai nos achar também. — Godofredo insistiu.

— Não podemos fazer nada, então? — Heliberto perguntou, visivelmente assustado.

Silêncio. Se tinha ou não o que fazer, ninguém soube dizer. Ou pelo menos, não queriam responder em voz alta, pois Camila sabia que não possuíam um plano, assim como tinha noção de que os outros três presentes ali também pensavam assim. Porém, assim como eles, queria acreditar que haveria alguma saída.

Pensou que tudo havia acabado na noite anterior, mas se esqueceu da O.P.U. Eles ainda tinham bastante coisa para enfrentar. Se perguntou se algum dia iriam conseguir voltar à normalidade; para como sua vida era antes disso tudo. Porém, tinha em mente que, talvez, as coisas nunca voltassem a ser como antes.

Apesar de a única pessoa que podia lhes ajudar ter morrido, eles podiam continuar tentando. Agora eram apenas eles, e sem o Henry, seria muito mais difícil. Mas difícil não significava impossível. Iriam dar um jeito. Precisavam dar.

— Mais alguma coisa que devemos saber? — Ximú perguntou.

Camila pensou por um tempo, vasculhando sua mente e verificando se deixou algo escapar, até que se lembrou de um dos ocorridos no Andar Proibido.

— Eu sonhei com o acidente de Leyla antes de ele acontecer, no Mundo Um.

Heliberto e Ximú a olharam com confusão.

— O quê? — Heliberto perguntou.

— Eu sonhei com o acidente dela antes de ele acontecer, e eu ainda estava no Mundo Um.

— Você tem... certeza? — Ximú perguntou cautelosamente, parecendo não acreditar.

— Tenho. O acidente da Leyla aconteceu no dia dezoito de setembro. Eu sonhei com ele no dia dezessete, o dia em que o meu passeio para o planetário estava marcado. Eu lembro.

Ximú estava prestes a dizer alguma coisa, mas foi interrompida por um barulho abafado de vidro quebrando, que pareceu estar vindo do andar de cima. Passos apressados de mais de uma pessoa foram escutados. Camila se levantou imediatamente e olhou para o teto, como se pudesse ver através dele, a origem do som. Havia alguém ali?

Olhou para Heliberto e Ximú, que estavam olhando assustados e confusos para cima assim como ela. Godofredo também parecia assustado e interessado, agora.

De repente, os passos se tornaram mais audíveis, e pareceram não estarem vindo mais do andar superior. Camila olhou na direção da escada e viu dois homens carecas de óculos escuros e vestimentas pretas descendo as escadas apressadamente. Pulou para trás devido ao susto que levou. Não eram os seguranças de Mélia?

— Não se aproximem, humanos nojentos! — Godofredo ordenou. — Eu já disse que não vou voltar para a casa daquela humana!

Os seguranças se adiantaram na direção de Godofredo. Ximú e Heliberto se colocaram em frente ao amigo, mas foram empurrados pelos homens.

— ME LARGUEM! — Godofredo disse quando os seguranças agarraram seus braços, um em cada lado, e começaram o arrastar. — ONDE ESTÁ A VASSOURA? A VASSOURA!

Ximú correu rapidamente em direção a uma vassoura que estava encostada na parede, perto da porta que dava acesso à cozinha.

— Estamos preparados dessa vez! — Ela foi em direção aos seguranças, que já estavam perto da porta de entrada, levando Godofredo.

Ximú começou a bater com a vassoura nos seguranças, que largaram Godofredo no chão e correram apressadamente para fora da casa.

Camila conseguiu ver, pela porta aberta, Mélia olhando furiosamente para os homens, e em seguida, para dentro da casa. Seu olhar se pousou em Camila, e ela colocou uma expressão ainda mais furiosa no rosto.

Observou a mulher se abaixar, pegar alguma coisa e atirar na direção da casa. Um barulho de vidro quebrando foi escutado, juntamente com gritos. Camila olhou na direção de uma das janelas que haviam ao lado da porta, e viu que estava quebrada, assim como da vez que foi até ali, anteriormente. Notou uma pedra jogada em meio aos cacos de vidro, no chão.

— HUMANA MALUCA! HUMANA MALUCA! — Godofredo berrou.

Assistiu Mélia caminhar até a limusine e entrar, seguida pelos seguranças. Alguns instantes depois, viu o veículo de cor ciano ir embora.

— Droga! Mais uma janela quebrada! — Ximú grunhiu de raiva. — Estou cansada dessa humana!

— Eles entraram pelo segundo andar, dessa vez. — Heliberto comentou. — Com certeza tem mais janelas quebradas lá em cima.

Camila sabia que era para estar assustada com a situação, mas tudo que conseguiu fazer foi rir, e notou a careta de confusão dos três em sua frente.

— Claro. — Godofredo rosnou. — Tinha que ser uma humana para rir das nossas dificuldades.

Apesar de tudo, havia uma parte boa de ter ido àquele mundo. Havia conhecido Ximú e Heliberto. E mal ou bem, Godofredo. Nunca imaginou que em algum momento de sua vida, faria amizade com três baratas.

Se alguém lhe contasse isso há um ano, com certeza iria rir e chamar a pessoa de louca. Se não fosse a O.P.U e nem as tentativas de assassino de Daniel, estar no corpo de outra pessoa, ter ido para um universo paralelo e conseguir falar com três baratas, seria uma história interessante para contar. Claro, se alguém acreditasse, pois nem ela acreditaria.

Chegamos ao final da nossa aventura, mas apenas por enquanto, pois a Camila ainda tem muita coisa para contar. Espero que tenham gostado e se divertindo durante e leitura!

Quinta irei postar informações sobre o segundo livro, e algumas adicionais, então fiquem de olho. Nos vemos lá ;)

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