Capítulo 20

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Ficou imóvel, observando o carro, tendo certeza de que não estava disfarçando e, seja quem fosse que estivesse dentro do veículo, já teria percebido que ela notara sua presença. Estariam tentando matá-la novamente?

Recuperou o movimento do corpo e olhou ao redor. Estavam sozinhos em uma rua deserta. O momento perfeito. O desespero dentro de si foi crescendo cada vez mais. Iria colocar Heliberto e Godofredo em perigo. Precisava alertá-los.

Se virou na direção dos dois, que ainda conversavam.

— ...eles acham que têm direito de matar nossa espécie, mas eu não posso matar a deles. — Godofredo comentava, parecendo furioso.

— Gente! — Os dois se viraram para olhá-la.

— O que aconteceu? — Heliberto perguntou. — Está pálida. Bem, mais do que já é normalmente. Aprendi em Himériologia que alguns humanos perdem a cor por ficarem assustados. — Ele pareceu analisá-la por alguns segundos. — Espera, está assustada? Não se preocupa, já conseguimos roubar a carne.

— Não é isso! Temos que sair daqui agora!

— Por quê?

— Porque aquele mesmo carro preto de sempre está parado bem atrás de nós.

Heliberto olhou na direção do veículo e boquiabriu-se.

— Estão seguindo a gente? Quem aquele humano acha que é para me seguir? — Godofredo começou a caminhar em direção ao carro, irritado.

— Espera! O que você está fazendo? Isso é loucura! — Camila correu até Godofredo e se colocou em sua frente. Heliberto fez o mesmo. — Ele pode ser a pessoa que está tentando me matar!

— Que ele te mate então, mas não vou deixar um humano me seguir. — Ele desviou de Camila e de Heliberto e andou mais rapidamente em direção ao carro. — EI, VOCÊ! SEU HUMANO NOJENTO! POR QUE ESTÁ ME SEGUINDO?

Camila e Heliberto correram novamente até Godofredo.

— SAIA DO CARRO E NÃO ME IGNORE!

Camilaescutou o barulho de motor sendo ligado ecoar pela rua deserta. Em seguida, osfaróis do carro se acenderam, e o veículo começou a se movimentar, fazendo umacurva para o lado, tentando manobrar. Godofredo correu até ele, que rapidamentedeu ré, parecendo tentar virar para o lado oposto deles e sair dali. O carrotentou rapidamente avançar para seguir seu caminho, mas Godofredo havia sidomais ágil e se colocou na frente do veículo assim que ele tentou avançar.

— HUMANO COVARDE! SAIA JÁ DESSE CARRO!

Camila se aproximou do carro preto, ficando mais perto do que já esteve todo esse tempo. Um arrepio passou por sua espinha. Poderia estar perto do assassino de Leyla. Porém, não conseguia ver nada de dentro do carro, por conta do vidro fumê.

O carro tentou dar ré, mas quase atropelou Heliberto, que parou atrás dele, de repente. Então, o veículo parou. A pessoa estava tomando cuidado para não os matar, mas por quê? Se quisesse, poderia ter saído do carro e matado todos os três ali mesmo.

"...a pessoa não quer matar outras pessoas, quer matar somente você."

— Me dê isso! — Godofredo foi rapidamente até Heliberto, tirou o pedaço de carne de suas mãos e com toda sua força, a atirou contra o vidro da porta do motorista.

O barulho do vidro se quebrando tomou conta da rua deserta. Camila olhou espantada para Godofredo. Não sabia se o feito se devia pela raiva de ser sido atirado contra o chão por humanos ou porque ele era Godofredo. Talvez os dois.

A Viajante - O Outro Mundo (Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora