Amor em Quatro Acordes

By YOUGOT7JAMS

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Kyungsoo é um universitário falido que está prestes a trancar a faculdade por falta de pagamento. Quando seus... More

Desgraça em dó menor
Súplica em sol maior
Acordos em si bemol
Introdução em fá sustenido
Encontro em ré menor
Amigos em lá menor
Mentiras em mi bemol
Explosão em si sustenido menor
Fantasmas em fá diminuto
Sinestesia em dó maior
Jaquetas em ré maior
Terremoto em mi bemol
Família em fá sustenido
Confissões em sol menor
Cemitério em dó bemol
Hora mágica em sol maior
Chuva em ré diminuto
Namorados em lá maior
Perdidos em dó maior
Resgate em ré diminuto
Amor em lá, mi, fá, sol (FINAL)
Epílogo
Notas finais

Ensaio em sol maior

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By YOUGOT7JAMS

Essa é uma história sobre opostos que se atraem.

Não é uma história sobre dois garotos que fazem um pedido a uma Fonte dos Desejos e, no dia seguinte, acordam milionários ou com os corpos trocados. Não há nenhuma reviravolta milagrosa na vida de Jongin.

Na manhã seguinte, ele acorda o mesmo de sempre, com os cabelos rebeldes, as pálpebras ainda pesadas e sua mãe mandando mensagens cafonas de "Bom Dia" no grupo do KakaoTalk.

Sua família é como qualquer outra. Todas as cinco mulheres da sua vida se encaixam nos padrões de família tradicional no seu sentido mais puro: a mãe quarentona que envia figurinhas bregas no grupo da família, a tia que bebe e dá vexame, a avó amante de crochê que sempre pergunta das namoradinhas e suas irmãs mais velhas que vivem brigando como gato e rato.

Desde que seu pai faleceu e Jongin se mudou para um apartamento alugado próximo à universidade, não é mais tão próximo da família como costumava ser. Ele se mantém atualizado pelo grupo do KakaoTalk e por ligações cada vez menos frequentes. Sua tia, Hwajung, é a única que o visita de vez em quando para conversar e dividir um bolo de cenoura.

Enquanto toma café, assiste a uma guerra cibernética se desenrolando na tela do celular. Jungah e Junghee estão discutindo sobre um vestido emprestado que parece ter sumido do guarda-roupa. Ter irmãs gêmeas é um pesadelo, porque ele tem a impressão de que elas possuem um vínculo incomparável — para o bem ou para o mal — e que nunca se sentirá incluído nessa conexão.

Jongin e sua mãe têm um acordo. Quando as duas começam a brigar, a estratégia para silenciá-las é enviar uma sequência de fotos e vídeos de Xerife, o cachorro grande e babão da família. Nunca falha.

Ele envia uma foto e espera o milagre acontecer.

As mensagens mudam.

Junghee envia:


Você é tão feia que parece que pegou fogo e apagaram com um tamanco


Jungah rebate:


Que fofo ele sorrindo 🥰

Feia??? Eu tenho a sua cara!


Bom, quase nunca falha.

Jongin não acompanha a discussão até o fim. Precisa se apressar e se arrumar para o ensaio da banda, porque Baekhyun ameaçou arrancar suas bolas caso se atrasasse de novo. Ele não sabe se um dia vai querer contribuir com a reprodução da espécie humana e colocar um guri no mundo, mas prefere que seus testículos fiquem onde estão, muito obrigado.

Os ensaios acontecem na casa de Park Chanyeol. De todos os integrantes da Cloud 9, ele é o único que mora afastado do centro da cidade e de 95% dos lares de idosos da região. Eles podem ligar o som no máximo e fazer barulho à vontade.

Jongin estaciona na rua de paralelepípedos em frente à casa, porque a van está ocupando todo o espaço no quintal de grama sintética. Ele entra carregando o baixo em uma case que é preta por fora e de veludo vermelho por dentro, como a cama-caixão de um vampiro. O estúdio fica nos fundos, seguindo uma trilha de lajotas de pedra.

— E aí! — ele cumprimenta alto, atravessando o cômodo às pressas.

— Finalmente! — exclama Sehun.

— Chega aí, chega aí — chama Baekhyun, sentado em cima de um amplificador.

Só depois que se livra dos anéis pesados, tira o baixo da case e o posiciona no suporte é que Jongin se levanta para saudar os amigos com apertos de mão. Como de costume, Ha Sooyoung já está sentada no sofá, com as pernas longas e botas enormes apoiadas em cima da mesinha.

A namorada de Chanyeol assiste a quase todos os ensaios. Ela é como uma erva daninha que brotou no gramado e que, mesmo arrancando, sempre dá um jeito de voltar. Sooyoung é parte da família — uma irmã irritante que todos aprenderam a amar.

Ele se estica para dar um beijo na bochecha da garota, que o encara por trás dos óculos grandes de coração. A armação vermelha é sua marca registrada, como os óculos de Neo em Matrix, Walter Sobchak em O Grande Lebowski ou Holly Golightly em Bonequinha de Luxo. Ela parece ter saído do videoclipe de Heart-Shaped Glasses.

— Brother, tira a boca da minha mulher — Chanyeol resmunga de brincadeira quando entra na sala.

Sooyoung bate as botas uma na outra e sorri de um jeito travesso.

— Não acho que você precise se preocupar com isso. Pelo que andei sabendo, Jongin já está com a boca ocupada em outro lugar.

Baekhyun, que está ajustando o microfone no tripé, olha para trás com uma careta enojada.

— Você criou um monstro, Chanyeol — ele grunhe. — A bichinha tá cada vez mais desbocada.

Todos caem na risada. Exceto Jongin, que continua encarando Sooyoung como se tivesse acabado de descobrir que ela roubou cinquenta pilas da sua carteira.

— Como você ficou sabendo? — questiona.

— E tem como não saber? — ela rebate, inclinando os óculos para encará-lo com seus olhos de águia treinada. — Vocês dois estão deixando tudo bem óbvio. Dá pra notar que ainda estão no limbo.

Ele levanta uma sobrancelha.

— Limbo?

— É, limbo. Um estágio indefinido que não é nem um lance casual e nem um namoro. Aquela fase confusa onde vocês estão saindo e as coisas começam a ficar sérias, mas ainda não querem se assumir, então ficam postando fotos enigmáticas no Instagram pra todo mundo unir as peças como um quebra-cabeça. Todo casal tem sua fase limbo.

Sehun ergue os olhos da guitarra em seu colo, interessado, embora sua expressão contemplativa não seja nada além de cética.

Baekhyun e Chanyeol também estão prestando atenção, quase de orelhas em pé, como se ouvissem alguém falar em uma linguagem alienígena. É como assistir a uma palestrante recitando termos científicos rebuscados.

Limbo? Jongin não quer estar no limbo. A essa altura, esperava que as pessoas já reconhecessem o relacionamento como oficial.

Mas, pelo menos, isso significa que sabem sobre eles, não é? Estão no caminho certo.

— Fala sério, Jongin. Você colocou um story dos seus tênis juntinhos! — Sooyoung continua, cruzando as pernas sobre o sofá e ajustando a jaqueta jeans por cima do macaquinho florido. — E ontem também postou foto comendo no Sem Frescura, e mesmo você não tendo marcado o arroba dele, deu pra ver o braço de alguém no canto. Vocês estão oficialmente no limbo!

Ele dá uma risada nervosa e pergunta:

— Por que você tá me stalkeando?

— Se não queria que eu visse, não devia ter me incluído no seu Close Friends — ela responde e encolhe os ombros. — Aquele círculo verdinho sempre desperta meu lado fofoqueira.

Espera. Ele não postou a foto em modo público?

Em resumo, além de seus amigos mais próximos no Instagram e algumas pessoas que estavam na Babilônia, ninguém mais sabe sobre o namoro deles?

Um mês. Precisam completar um mês de namoro, mas se ainda estão presos no limbo, isso os leva de volta à estaca zero.

— Então? — ela insiste.

Jongin pisca devagar, como que em transe.

— Então o quê?

— Não vai chamar o boy pra assistir ao ensaio?

— Ele vem — promete Jongin, sem saber por que está mentindo. — Só tá... atrasado.

O boy em questão está atrasado porque Jongin se esqueceu de convidá-lo.

A essa hora, Kyungsoo deve estar quase saindo do trabalho. Antes que o ensaio comece, ele envia uma mensagem com um pedido de socorro e o endereço da casa de Chanyeol. É a oportunidade perfeita para conversar com ele sobre o tal limbo.

— Beleza — Sehun decide, batendo palmas. — Bora fazer um som!

Baekhyun posiciona os dedos em volta do microfone. Sehun dedilha a guitarra e pisa no pedal, testando um acorde e arrancando um WAH-WAAAH de um dos amplificadores. Jongin atravessa a alça do baixo no corpo, inclina o braço do instrumento e sua franja cai na testa. Chanyeol se senta no trono da bateria como um rei, as pernas bem abertas, e brande as baquetas.

— Um, dois... — conta. — Um, dois, três e...

E começa.

No início, parecem enferrujados, como um grupo de robôs músicos criados por inteligência artificial. Jongin se concentra e troca olhares com Chanyeol para se conectar com a melodia, porque a bateria é a base da música. Sehun faz o mesmo com Baekhyun.

De alguma forma, tudo começa a se encaixar, e a mágica acontece.

Jongin sente seu corpo todo pulsar. Elétrico, frenético. Cheio de vida. E de luzes. Embora o estúdio seja escuro e tenha apenas a luz do sol entrando pela janela, tudo parece mais iluminado. Até a poeira rodopiando no ar parece fascinante.

A sintonia é incrível. Sehun faz o chão tremer e Baekhyun atinge as notas perfeitas, curvado sobre o microfone. Chanyeol faz BA-BUM! BA-BUM-TSS! e os amplificadores zumbem. Jongin abaixa a cabeça, vendo os próprios dedos trabalhando nas cordas do baixo como se tivessem vida própria. O som grave range, elétrico, selando a harmonia.

(Ele precisa pintar as unhas. Gosta de olhar para baixo e vê-las pintadas quando está tocando.)

É apenas um espaço comum. Sem luzes coloridas, gelo seco ou uma plateia vertiginosa. Nada de solos de guitarra ajoelhados no chão ou refrões agoniados de bate-cabeça. Só um monte de caras tocando num antigo ateliê de pintura. Ainda assim, é a melhor sensação do mundo.

O cômodo costumava ser uma oficina quando a mãe de Chanyeol trabalhava vendendo quadros e outras peças de artesanato, por isso é cheio de pinturas excêntricas nas paredes e manchas históricas no piso. A mesa feita com cavaletes de madeira que suporta a televisão antiga de tubo é toda colorida, como se Kandinsky tivesse regurgitado tinta a óleo em cima dela e criado uma nova versão de Composição VII (1913).

Fazem uma pausa depois de tocar God Save The Queen, do Sex Pistols — o cover preferido de 97% das pessoas que acompanham a banda, segundo a revista Oh Sehun.

O protocolo é quase sempre o mesmo. Chanyeol enrola uma toalha no pescoço suado e desaparece nos fundos para fumar um cigarro, acompanhado de Sooyoung. Baekhyun e Sehun costumam usar a pausa para discutir e trocar farpas em algum canto, porque esse é um hobby secreto que deve acabar em beijos escondidos.

Hoje, porém, o vocalista vai direto para o banheiro e Sehun fica na sala, quieto, observando Jongin com seus olhos inexpressivos de coiote.

Será que tem alguma coisa no seu rosto?

Jongin pega uma garrafa d'água, se joga no sofá e passa a mão no queixo, tentando limpar uma sujeira invisível.

— Então... — Sehun começa, afundando ao seu lado no estofado. — O que tá rolando entre você e aquele carinha?

Jongin tenta engolir saliva para ganhar tempo, mas sua garganta está seca. Antes de responder, bebe um gole de água e dá de ombros, tentando parecer indiferente.

— Nós estamos indo bem.

— Indo bem? — pergunta, com as sobrancelhas levantadas.

— É, indo bem — ele repete.

Sehun massageia os dedos cheios de calos e solta um longo suspiro. Realmente longo. Daria para tocar Bohemian Rhapsody nesse espaço de tempo.

— Jongin, eu te conheço. Sei que está fingindo.

— Fingindo? — Ele continua repetindo as palavras como um papagaio imitador, porque já perdeu a capacidade de criar orações gramaticais convincentes.

Um pouco tarde, ele se lembra de que precisa entrar no personagem. Sua expressão ganha um vinco na testa e sobrancelhas muito expressivas, demonstrando confusão.

— Há alguns dias você nem conhecia o moleque. O que você tá pensando? — Sehun volta a perguntar. — Que sair com esse cara vai te livrar de conversar e dar um fora na Hyejin?

Ele abre a boca.

— Não! — mente, porque é exatamente o que está pensando.

Jongin costuma ser bom em mentir. Excelente, na verdade. Quase um profissional. O inventor do "Meu cachorro comeu meu dever de casa" e do "Minha mãe não deixou eu sair". Mentia o tempo todo no ensino médio quando queria matar aula e tocar com os novos colegas de banda.

Dessa vez é diferente. Ele não está preparado para esse tipo de ataque surpresa. Não tinha imaginado que um de seus amigos pudesse desconfiar do namoro, muito menos tão cedo.

Com os dedos amassando a garrafa, ele bebe mais um gole e umedece os lábios. Depois dá dois tapinhas no joelho de Sehun.

— Cara, acho que você tá pensando demais. Sei que parece meio repentino, mas o Kyungsoo... Ele é...

Jongin para.

Ele se lembra da pergunta de Kyungsoo na noite anterior.

Que tipo de cara você acha que eu sou?

— Ele é... gentil — continua, tentando visualizar o rosto dele na sua cabeça e lembrar de mais detalhes. O resto vem fácil. — Embora tenha esse jeitão arisco pra se proteger de tudo, Kyungsoo é a pessoa mais gentil que eu já conheci. E é sempre muito honesto, mas de um jeito cínico que eu acho bem divertido. Ele é cheio de regras pra tudo e me deixa maluco na maior parte do tempo, mas também pode ser bem fofo quando está relaxado, com aquele cabelo na testa, os olhos e...

O som estridente da campainha corta sua frase.

— E ele chegou! — Jongin termina e força um sorriso, aliviado pela interrupção.

A campainha toca mais uma vez, só por precaução, o que é tão Kyungsoo. De repente, todos estão correndo para o quintal como cachorros recebendo o dono após um longo dia de solidão. Menos Sehun. Ele segue atrás de Jongin, rastejando com desconfiança, como um cão velho, sarnento e ranzinza.

A recepção é uma festa. Todos o recebem com abraços apertados e Sooyoung faz um verdadeiro estardalhaço, com gritinhos e tudo. Ela tira os óculos de coração para analisá-lo de cima a baixo, desde as calças jeans folgadas até aquele moletom azul-escuro que ele sempre usa. Depois sinaliza para Jongin com um sorriso enorme e a mão fazendo joinha.

— Mandou bem, otário — Sooyoung sussurra quando se afasta. — Ele é uma gracinha.

Por fim, só restam ele e Kyungsoo frente a frente no gramado, como reflexos estáticos e esquisitos um do outro, enquanto os outros assistem em expectativa. Todo mundo espera Jongin recebê-lo com um beijo, como namorados fazem. Mas eles não são namorados ainda. Estão no maldito limbo.

— Oi — ele fala.

— Oi — Kyungsoo responde, arrastando os pés.

— Tô suado — diz, como se isso explicasse tudo.

Kyungsoo olha para ele como quem diz: E daí?

E não é um E daí? do tipo "E daí? Eu não ligo pra isso, vá em frente". Está mais para um "E daí? O que eu tenho a ver com isso?"

O amor é lindo.

Os amigos se cansam do teatrinho barato e do clima estranho. Perdem o interesse aos poucos, e é nítido. As sobrancelhas pesam, seus ombros caem e vagarosamente fazem o caminho de volta até o estúdio, como se alguém tivesse desligado o botão Curiosidade e acionado o botão Piloto Automático.

— Bom — Baekhyun diz para quebrar o gelo —, quem quer fazer um pouco de barulho?


🎸


Jongin já se apresentou em vários lugares e tocou para públicos diversos. Casas de shows lotadas, bares quase vazios, eventos beneficentes e até para bêbados de rua.

Por algum motivo, tocar para Kyungsoo é diferente. Ele tem vontade de dar tudo de si, de parecer legal — o que é estranho, porque ele não é seu namorado de verdade. Não precisa impressioná-lo. Ainda assim, lá está ele, dedilhando as cordas de aço como um verdadeiro astro do rock.

Dessa vez, tocam uma música nova, de autoria própria. As apresentações são sempre assim: metade covers, metade autorais. Chanyeol cria as melodias e Sehun é quem trabalha na letra, porque ele é o melhor e mais subestimado letrista que a cidade já viu.

Jongin toca alternando os dedos indicador e médio com rapidez, demonstrando toda sua habilidade. Balança a cabeça e impulsiona o corpo para frente e para trás de leve, acompanhando o ritmo. Sua mão desliza no braço do baixo e, por algum motivo, sua perna esquerda não consegue ficar parada.

Cloud 9 vem da expressão to be on cloud nine. Escolheram esse nome porque ele representa um estado de absoluta felicidade, de êxtase, de euforia. Explodindo de satisfação. Isso define bem como se sente agora, ao tocar olhando nos olhos de Kyungsoo. Extasiado.

Quando a música termina, espera ouvir palmas ou elogios, mas a única coisa que recebe é uma pequena advertência.

— Acho que podemos suavizar o som do baixo — Sooyoung diz com delicadeza.

Talvez ele tenha exagerado na empolgação.

— Sehun, você também. Quase não consigo ouvir o vocal. Seria legal tentar mudar de legato para staccato no refrão. O que acha? Ah, e Baekhyun? Ajudaria muito se você dançasse um pouquinho menos. Essa coisa toda das pernas e braços e cabeça. É demais, e tá atrapalhando seu desempenho.

Baekhyun faz um joinha.

Ela se vira para Chanyeol, que parece querer desaparecer atrás de um dos pratos da bateria.

— Amor, achei que já tivéssemos conversado sobre isso — ela repreende, suspirando alto. O tom é o de uma mãe advertindo o filho de onze anos sobre colar pela terceira vez na prova de matemática. — Esse lance das baquetas voadoras não vai rolar. Você não vai ser o próximo Steve Moore.

Como estudante de Música e filha de um ex-produtor musical, Sooyoung é a melhor quando se trata de opinar e sugerir melhorias nas performances.

Na Cloud 9, as responsabilidades são divididas igualmente entre os membros para que tudo funcione como deveria.

Baekhyun cuida da parte executiva. Liga para os estúdios de gravação, marca ensaios, agenda horários, organiza o cronograma e avisa sobre os compromissos. Todos são desorganizados, mas, dentre os quatro, o vocalista é o menos terrível.

Chanyeol honra o curso de Administração que abandonou no segundo período e fica encarregado de registrar músicas, administrar o dinheiro e os documentos da banda.

Sehun é um monstro musical. Faz os arranjos, escreve as letras, define repertórios e escolhe a melhor versão. Mas, no geral, ele nunca está sozinho. Todos colaboram na produção das músicas.

Jongin, como estudante de Cinema, é responsável pela comunicação da Cloud 9. Postar nas redes sociais, subir videoclipes para o YouTube, tirar fotos, gravar vídeos e encomendar peças gráficas com seus colegas de Publicidade.

Sooyoung e Kyungsoo estão sentados lado a lado no sofá.

Durante um respiro entre uma música e outra, ela dá um empurrãozinho nele com o ombro e explica:

— Só estou aqui porque tenho um namorado que é desesperado por atenção e precisa da minha aprovação pra tudo. — A garota ri e coloca uma mecha do cabelo escuro para trás da orelha. — Mentira. Na verdade, sou meio que empresária deles, se empresária quer dizer cuidar da parte comercial.

— Comercial? — Kyungsoo parece impressionado.

— Vender CDs, camisetas personalizadas, negociar com donos de bares que pagam uma mixaria... Tudo que envolve dinheiro é por minha conta. Ah, e eu também faço Música, como o Yeol. — Ela aponta. — Aquele baterista com cara de quem não lava o cabelo há duas semanas parado bem ali.

Chanyeol sorri e emoldura o rosto com as mãos de modo cômico. Uma verdadeira flor desabrochando.

— Ah! — Baekhyun solta, de repente se lembrando de alguma coisa. — Kyungsoo, você é fã da banda, né? O que achou da música nova? Seria legal ter sua opinião também.

Sooyoung e os meninos o encaram, esperançosos. Jongin abaixa a cabeça para esconder um sorriso. Ele tem vontade de rir, porque sabe que o namorado deve ter odiado.

Kyungsoo engole em seco.

— Eu... — ele murmura, forçando um sorriso. — Nunca vi tantas metáforas pra sexo na mesma música.

Todos assentem, muito sérios, tentando decifrar se é um elogio ou uma crítica construtiva.

Quando o silêncio contemplativo dura muito tempo, ele limpa a garganta e acrescenta:

— E achei bem maneiro.

Bem maneiro?

Jongin abafa uma risada com a mão, mas ninguém parece notar.

Tudo bem, ele precisa salvá-lo.

Discretamente, guarda o baixo no suporte, pega seus anéis de volta na mesinha e se senta no braço do sofá. Kyungsoo percebe a aproximação. Eles trocam olhares cúmplices.

Jongin sussurra:

— Podemos conversar lá fora?

Sooyoung olha para o lado com uma expressão divertida, interpretando a frase como um código secreto para um momento particular de libertinagem, quando na verdade ele só quer dizer "podemos conversar lá fora?"

— Graças a Deus — Kyungsoo diz assim que saem para o quintal dos fundos. — Achei que fosse vomitar no carpete.

Jongin ri.

— Acredite, faria um favor a todos nós.

Baekhyun não quer se livrar daquela velharia, porque diz que esconde 84,5% das manchas de tinta e resina visíveis no piso. Uma porcentagem obviamente inventada.

— Kyungsoo...

Jongin não o chamou apenas porque queria salvá-lo do constrangimento, mas porque realmente precisa conversar com ele.

Kyungsoo apoia as costas no muro de tijolinhos.

— Ah não — murmura. — Você quer mesmo conversar. O que foi?

— Acho que temos um problema. Na verdade, dois problemas.

Ele balança a cabeça.

— Sou todo ouvidos.

— Número um: todo mundo acha que estamos no limbo. Uma fase de transição ou sei lá o quê. Isso quer dizer que, aos olhos deles, não estamos namorando oficialmente ainda — explica, antes que Kyungsoo precise perguntar.

Ele parece aliviado.

— É só isso? Não é o fim do mundo. Não importa como seus amigos veem a gente, desde que os meus amigos comprem a ideia e que ninguém desconfie da farsa.

— Bom, vamos precisar fazer um trabalho melhor do que isso, porque o nosso segundo problema é que já tem alguém desconfiado — Jongin conta, e os olhos de Kyungsoo se arregalam. Ele exala o ar e continua: — É o Sehun. Ele me disse hoje que sabe que estou fingindo.

O olhar de Kyungsoo desvia um pouco para a direita.

— É por isso que ele está nos espiando pela janela?

— Ele o quê? — Jongin pergunta, mas Kyungsoo toca seu braço e o segura antes que ele possa se virar.

— Não olha.

É pior do que pensava. Se Sehun está curioso ou descrente a ponto de observá-los escondido, isso quer dizer que o namoro falso está por um triz. E isso não seria um grande problema para Jongin. Na verdade, ele só está tão aflito porque sabe que isso é mais importante para Kyungsoo do que é para ele.

— Estamos ferrados — lamenta Kyungsoo.

Mas a mente de Jongin trabalha de forma extraordinária às vezes. Em momentos de crise, ele é bom em improvisar.

Primeiro, tenta olhar para a situação de fora, analisando o ângulo de visão de Sehun, a posição de Kyungsoo perto da parede e a proximidade de seus corpos naquele espaço isolado. Seus olhos pousam na boca dele.

Sua expressão se torna sorridente, os lábios repuxando para a direita.

— Onde você vê um problema — Jongin diz —, eu vejo uma oportunidade.

— Isso é papo de Coach.

— Talvez — concorda. — Mas pode funcionar.

Ele dá um passo à frente, e depois outro. Observa seus tênis no chão de pedrinhas, movendo-se lentamente para perto da parede. Isso faz Kyungsoo recuar até estar com o corpo todo colado no muro: calcanhares, quadris, costas e, por fim, a cabeça.

— Jongin, temos uma regra...

— Eu sei, eu sei. Não vou te beijar — ele sussurra. — Confia em mim.

— No que você tá pensando?

Jongin ignora a pergunta.

— Ele ainda tá olhando?

— Quem? Sehun? — Kyungsoo responde e seus olhos vacilam para a direita outra vez. — Tá, ele tá olhando.

— Perfeito.

De repente, Jongin leva uma das mãos ao rosto dele e acaricia sua bochecha com o polegar, tocando o contorno da sua mandíbula com as pontas dos dedos. Seus anéis pesados e gelados causam arrepios perto do queixo. Kyungsoo se encolhe.

— Olha pra mim — Jongin pede, quase sussurrando. — Você não precisa me beijar, apenas fingir que beija.

— Isso é loucura...

— Eu sei. A gente não precisa fazer se você não quiser.

Kyungsoo ergue uma sobrancelha.

— Você está duvidando das minhas habilidades de atuação?

— Nunca — ele diz, e então aproxima os rostos.

Jongin ergue o queixo dele e se inclina como se realmente fosse beijá-lo. Suas costas largas e o corpo mais alto fazem o trabalho de ocultá-los da vista de Sehun. Ele sente a respiração nervosa de Kyungsoo em seus lábios. Com a mão livre, aperta seu braço por cima do moletom para tranquilizá-lo.

Não é de muita ajuda, porque suas bocas estão muito próximas, os lábios pairando a milímetros de distância. Eles quase se tocam quando Jongin fala. Felizmente, sua voz doce acalma os ânimos de Kyungsoo.

— Relaxa — ele diz baixinho.

A primeira reação de Kyungsoo é derreter como um picolé abandonado no asfalto quente. A segunda é relaxar sob o toque, e a terceira é fechar os olhos.

Os dois deixam as pálpebras pesarem, mas Jongin apenas semicerra os olhos, porque tem medo de acabar beijando-o por acidente. Ele assinou um contrato, e as regras são claras: nada de beijos.

Kyungsoo parece não saber muito bem o que fazer com as mãos.

— Cintura — Jongin sussurra. — Segura na minha cintura.

— Você deveria... se mexer um pouco também.

— Hum — ele faz. — Verdade.

Kyungsoo obedece, apoiando as mãos em seus quadris, enquanto Jongin inclina a cabeça em outra direção e move a mão que estava em seu rosto até a nuca, segurando firme.

Eles se encaram por entre os cílios castanhos.

Respirando juntos. Narizes se tocando.

Essa é provavelmente a coisa mais esquisita e excitante que já fez na vida.

Quando se afasta um pouco, Jongin descobre um fato novo sobre ele. Kyungsoo tem várias pintinhas distribuídas pelo rosto. Quatro no queixo, duas na ponte do nariz, uma de cada lado da bochecha e até perto dos olhos. Se investigar mais, com certeza vai encontrar uma dezena delas espalhadas pelas orelhas e pescoço. Uma constelação inteira.

Mas ele se apega a uma pintinha inusitada na boca, no lábio superior, que é tão pequena e sutil que só pode ser vista assim, bem de perto. É sua preferida.

Kyungsoo espia na direção da janela e diz:

— Ele foi embora.

— Acho que ele caiu. — Jongin suspira, aliviado. — Podemos parar agora.

Eles se desprendem aos poucos. As mãos de Jongin recuam e param sobre seu peito, brincando com as cordas do moletom. Os antebraços tatuados parecem duas serpentes prestes a estrangulá-lo.

Kyungsoo também suspira e afasta as mãos da cintura dele, soltando os braços ao lado do corpo. Apesar da tensão, há um sorriso desenhado em seus lábios.

— Isso foi...

— Terrível — Jongin completa, também sorrindo.

— Muito terrível.

— O pior primeiro beijo falso de todos — ele concorda.

— Eu assino embaixo.

Jongin ri e sua cabeça desaba no pescoço de Kyungsoo, que ri ainda mais, segurando-o em seus braços por impulso.

— Somos um fracasso total, não somos?

— E só vai piorar — Kyungsoo murmura de modo sombrio. — O que vamos fazer sobre o lance do limbo?

Ah, o limbo.

Se planejam levar o acordo adiante e sustentar um namoro de mentira por um mês, não podem continuar no limbo. Sua principal missão é fazer todos acreditarem que são um casal de verdade, e, para isso, talvez precisem passar por cima de algumas restrições.

Eles precisam tornar oficial. De uma vez por todas.

E Jongin sabe como fazer isso.

— Eu tenho um plano — ele diz. — Mas você não vai gostar.

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