THE HOPE • Rick Grimes

By Normaniacos

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Depois de uma longa jornada procurando por alguma esperança, eu o encontrei... O mundo havia acabado, mas eu... More

✓ INTRO
✓ GALLERY
00. PRÓLOGO
01. HUMANO
02. SUICIDA
03. CONTROLE
04. OCEANO
05. ROMÂNTICA
06. COMPANHIA
07. BONS AMIGOS
08. SOB PRESSÃO
09. QUATRO PAREDES E UM TETO
10. FEITOS PARA SOFRER
11. FERIDAS
12. AQUELE MALDITO SORRISO
13. PARAQUEDAS
14. FIM DO MUNDO
15. INATINGÍVEIS
16. POR NÓS
17. ANTES DO CAOS
18. NOVO MUNDO
19. OQUE FOI, E OQUE É
20. MEU LAR
21. ENTRELAÇADOS
22. ENTREGUE
23. NAMORADOS
24. SEM FREIOS
25. ATRAINDO CONFUSÕES
26. RUINAS DE UM LAR SEGURO
27. SONHOS
28. HILLTOP
30. BATALHAS
31. LAÇOS DE FAMÍLIA
32. UNI-DUNI-TÊ
33. DE CARONA COM O CAPETA
34. SANTUÁRIO
✓ DESABAFO ANTIGO

29. A ESCOLHA É SUA

500 27 2
By Normaniacos

" Eu falei com Deus hoje, e ele disse que está envergonhado com oque eu me tornei, oque eu fiz? Eu falei com o diabo hoje, e ele jura que não é culpado e eu entendi, porque eu sinto o mesmo. "

Five Finger Death Punch | Wrong Side Of

*Hope Alisson

O barulho da água caindo do chuveiro me dava uma sensação de satisfação, apesar de cansada e contrariada com os últimos acontecimentos, chegar em casa e ouvir Rick no banho me trazia a lembrança de um mundo normal, um mundo em que a morte não dominava tudo, um mundo onde as pessoas ainda podiam fazer as coisas simples do dia a dia, eu nunca havia sido casada antes, bom, eu e Rick estávamos vivendo juntos, e eu nunca havia dividido minha vida e um quarto com ninguém, tudo bem que antigamente eu tinha muito mais a oferecer, aposto que o Grimes também, mas diante da atual situação do mundo, ter uma cama limpa e um chuveiro para dividir já é uma grande coisa.

Me atrevi a abrir a porta do banheiro e a observar o Grimes na intimidade do seu banho pelo box de vidro, ele estava de costas então não me viu chegando, a mão sobre o rosto enquanto a água escorria abundante de seus cabelos, sorri ao examinar aquela imagem, era uma vida difícil, mas não deixava de ser perfeita tudo porque eu o tinha, ter alguém a quem amar era como ter de volta toda a esperança que me fora arrancada um dia quando o mundo caiu. Admirei as costas largas e molhadas do xerife, era engraçado que mesmo depois de tanto tempo eu ainda o amasse como no começo, nunca pensei que sentir algo assim fosse possível, eu amava aquele homem, e justamente por isso precisava tentar colocar um pouco de juízo na cabeça dele, poucas vezes eu via Rick errar em alguma coisa, e algo me dizia que poderíamos nos arrepender se comprassemos aquela briga com estranhos.
Rick havia dado o seu melhor para nos manter a salvo, ele fez oque poucas pessoas tiveram coragem de fazer e eu me orgulhava disso nele, Rick era bom, corajoso e dava o sangue pelas pessoas, eu sempre fazia de tudo para estar ao seu lado, mas éramos humanos e as vezes tínhamos divergências de pensamentos, oque era completamente normal dentro de um relacionamento, no demais eu sabia que tudo ficaria bem no final, errando ou acertando Rick sempre dava um jeito.

Alguns segundos e o chuveiro foi desligado, me retirei sem que ele percebesse minha presença, e então voltei para o quarto procurar uma roupa confortável para vestir, aquela pequena viagem havia mesmo me deixado exausta, agora pelo menos Judith estava dormindo bem a noite, os pesadelos haviam parado, aquela criança era forte demais, havia nascido em meio a todo o caos do fim do mundo, e parecia se adaptar cada vez melhor as suas condições, tudo oque eu queria mesmo era que Judith fosse forte, porque se um dia a gente faltasse, ela saberia oque fazer.
Ouvi os passos do xerife e então me virei para enxerga-lo, ele já havia atravessado o batente, uma toalha cobria sua cintura, deixando a mostra apenas seu peito desnudo, nunca imaginei que teria tanta intimidade com alguém, apesar de ultimamente estar fazendo tantas coisas das quais nunca imaginei que um dia faria.

- Oi, você está ai.
- Sorriu enquanto se aproximava para beijar o topo da minha testa com carinho e cuidado, todo o cuidado que me fazia se apaixonar por ele cada dia mais, era torturante amar alguém tão perfeito.

- Já coloquei as crianças para dormir!
- Sorri enquanto apertava o pijama em minhas mãos, Rick se sentou na beirada da cama, como ele sempre fazia quando queria conversar sobre algo, ignorei fingindo ter pressa para o banho, a verdade é que eu não sabia por onde começar.

- Vou te esperar!
- Avisou com a voz autoritária, como se anunciasse que não desistiria da conversa, mesmo que fosse algo que eu viesse tentando fazer.

Quando sai do banheiro já vestida com o meu pijama ele realmente estava esperando, deitado na cama com os braços apoiados atrás do pescoço, olhos fechados, apenas relaxando, vestindo um shorts que fazia parte de um pijama ao qual ele sempre só vestia a parte de baixo, de uma coisa eu tinha certeza, ninguém naquela comunidade jamais veria Rick Grimes assim, vestido tão a vontade, descansando de mais um dia de trabalho, aquele era um privilégio só meu e eu me sentia sortuda por isso.
Me deitei ao seu lado e no mesmo instante ele esticou o braço para que eu me acomodasse em seu peito, fiquei calada, até que ele mesmo começasse a falar.

- Aconteceu denovo.
- Seu tom de voz era calmo e paciente como ele sempre usava para falar comigo, continuou.
- Aconteceu denovo da gente discordar de um assunto, eu vi no seu rosto hoje a tarde, e eu quero muito te ouvir, não quero que pense que não me preocupo com a sua opinião, eu me preocupo, eu juro...
- Pontuou.

- Eu sei... Não se preocupe com isso, somos humanos, somos diferentes, não podemos pensar igual em tudo.
- Levantei a cabeça para o encarar e sorri.

- É... Não podemos! Mas eu quero te escutar, sabe que eu não gosto de deixar coisas mal resolvidas... Não com você Alisson.
- Ponderou e eu acabei soltando um riso nasal, todas as vezes em que ele achava que eu estava chateada usava meu sobrenome, era engraçado vê-lo tentando consertar qualquer pequeno desentendimento comigo.

- Eu juro que não estou chateada! Uma vez eu te disse, eu sempre vou ficar do seu lado, eu não menti. Eu só acho que não precisamos nos arriscar tanto, a idéia de matar pessoas que não conhecemos me incomoda, não somos assim, não podemos ser.
- Confessei.

- Precisamos disso, a comunidade precisa, as pessoas daqui contam comigo.
- Sorriu enquanto se sentava na cama, fiz o mesmo, me sentei de frente para ele.

- Alem do mais Jesus disse que essas pessoas não são do bem, vão acabar chegando até nós, vão acabar matando alguém do nosso grupo, vão acabar roubando oque a gente tem, se chegaram em Hilltop é questão de tempo para chegarem em Alexandria e eu não posso permitir, não podemos perder mais.
- Rick me fitou sério, enquanto fixava sua atenção nas minha próximas palavras.

- A gente sempre sobreviveu por aí procurando coisas, caçando, tentando plantar algum alimento, porque não pode continuar assim?
- Perguntei esperançosa.

- Porque não funciona mais.
- Respondeu sincero.
- O mundo mudou Hope, nós também temos que mudar com ele!

- Nós estamos vivos não estamos? Então é porque funciona.
- Sorri enquanto gesticulava com as mãos.

- Estamos vivos, mas não estamos saudáveis, eu não aguento mais assistir você tirando comida da sua boca para não ver meus filhos passando fome.
- Tentei rebater mas fui impedida.
- Não adianta negar, deis de que Alexandria caiu estamos passando dificuldades, olha o quanto você emagreceu em alguns meses, todos nós, não estamos vivendo bem, e essa é a verdade, estamos vivendo de migalhas, precisamos de mais, urgente.

- Eu não me importo em emagrecer, portanto que estejamos em segurança, eu não me importo.
- Falei com sinceridade e Rick sorriu enquanto acariciava meu rosto.

- Eu sei meu amor, esse não é o ponto, você é minha mulher, aqueles dois são nossos filhos, e vocês e aquelas pessoas todas lá fora são minha responsabilidade, que tipo de líder eu seria se continuasse os vendo passar fome e não fizesse nada a respeito?
- Arqueou uma sobrancelha na minha direção, os seus olhos azuis eram intensos e frios, naquele momento eu soube que nem mesmo eu o faria mudar de idéia.

- Você está exagerando, Hilltop já nos deu algo, não vamos morrer de fome, vamos encontrar mais.
- Pontuei.

- Não é o suficiente Hope, no fundo você sabe que não, quanto tempo até as coisas começarem a ficar apertadas novamente, uma semana?

- Eu não me importo, não concordo com o seu plano, não concordo em matar pessoas enquanto elas dormem, é frio demais, é sombrio, não combina com você, não combina com a gente.
- Respondi com sinceridade.

- Eu sei, mas é necessário, é melhor assim doque de dia, com eles acordados, corremos muitos riscos, podemos perder nosso pessoal, eu armei esse plano porque era o mais pratico, não pense que eu gosto, eu só faço oque é preciso.
- Rick soltou um suspiro cansado, era chato estar conversando com ele sobre o assunto, eu já sabia o quanto a carga era pesada para ele, mas era necessário.

- Você está preocupado que eles encontrem nossos portões, você está preocupado que eles nos matem, mas oque nos torna diferente deles? Oque nos torna diferente das pessoas que invadiram a comunidade e mataram nossos moradores se vamos fazer o mesmo com os Salvadores? No fundo somos todos iguais, somos todos maus, acho que não existe salvação para esse mundo, não podemos ser salvos doque nos tornamos, ou viramos mortos-vivos, ou viramos monstros que matam a troco de coisas fúteis, a sangue frio, como criminosos que invadem na calada da noite, esse é o futuro que nos espera.

- Me deitei novamente, de costas para o xerife, eu estava irritada e triste, não com Rick, eu sabia que ele estava fazendo oque precisava, eu estava triste com oque tudo havia se tornado, eu não me reconhecia mais quando olhava no espelho, não era só pela minha pele envelhecendo, não era só pelo tanto que eu estava magra e desnutrida, nem mesmo pelo cabelo que já não penteava, era pelas coisas que eu tinha que fazer, era pelas pessoas que eu havia matado ao longo do caminho, não eram muitas, mas eu não esquecia seus rostos, elas ainda me assombravam, eu não queria matar mais, mas sabia que mataria, e eu não gostava mais de quem eu havia me tornado.

- Você não precisa, não precisa ir, deixa que eu cuido das coisas por nós, você não precisa sujar suas mãos de sangue.
- Rick se deitou e abraçou minhas costas tentando me tranquilizar enquanto segurava uma de minhas mãos.

- Minhas mãos já estão sujas Rick, eu já decidi, eu vou, pela Judith e pelo Carl, eu vou a qualquer lugar, eu faço qualquer coisa, não sou muito diferente das pessoas que estão lá fora, eu não vou deixar você e meus amigos fazerem isso sozinhos, eu não vou deixar você sozinho... Nunca.
- Falei com sinceridade, embora eu ainda não concordasse eu ia para aquela guerra, Rick precisava de mim, se algo desse errado eu não queria que ele carregasse a culpa sozinho, éramos uma dupla, éramos companheiros, um dia eu prometi que estaria sempre com ele, eu não menti, embora soubesse que vencendo ou perdendo as consequências seriam caras.
Uma guerra fria se formava dentro de mim.

***

Adormeci nos braços do meu xerife, embora a situação entre nós estivesse difícil estar com ele era muito bom, saber que quando eu acordasse pela manhã ele estaria lá me trazia alívio, saber que eu o tinha mesmo quando as circunstâncias se complicassem me trazia uma certa paz.
Os sonhos vieram aos montes naquela noite, me mexi de um lado para o outro até decidir que a insônia me venceria, eu não conseguia mais dormir, não com tantos pesadelos. Tirei o braço de Rick de cima de mim lentamente e me levantei bem devagar para não o acordar, por sorte obtive sucesso, o observei ressonando tranquilamente por alguns segundos e sorri.
Alguns minutos depois eu desci as escadas e sai para fora, sabia que a está hora não haveria ninguém lá, pelo menos foi oque eu pensei, já era muito tarde, e geralmente todas as pessoas estariam dormindo, estranhei quando passei pela sala e não vi Daryl deitado no sofá como de costume, o caçador certamente também estava com insônia ou estava cumprindo seu turno na guarda dos portões, caminhei pela comunidade coberta pela escuridão da noite, quando o vi sentado na beira do lago, resolvi me juntar a ele mesmo sem que tivesse sido convidada, Daryl sorriu de canto enquanto me observava se aproximar.

- Sem sono também?
- Perguntou e eu assenti.

- É difícil ter sono quando se sabe oque vamos fazer amanhã, essas coisas ainda me assombram!
- Falei com sinceridade enquanto me sentava.

- Eu sei como é, não posso dizer que me acostumei, eu estaria mentindo, fazemos oque é necessário, isso não significa que gostamos. - Ergueu as mãos em sinal de rendição.
- Bom eu não gosto!
- Me encarou mais uma vez enquanto fazia uma pedra pular por cima das águas do lago.

- E eu não quero me acostumar, nunca!
- Sorri e ficamos calados por um longo tempo, apenas olhando o nada, o barulho dos sapos me fez se lembrar do passado, o tempo em que as coisas não eram difíceis, era bom desligar um pouco.

- Você não devia ir, deveria ficar!
- Daryl quebrou o silêncio depois de alguns minutos e eu sorri pela tentativa de me proteger, as pessoas tinham esse costume o tempo todo, era como se me achassem fraca, ou intocável, eu não sabia qual das opções.

- Não, eu não posso. Seria covardia demais deixar vocês fazendo todo o trabalho sujo enquanto eu brinco de casinha, bom se tem uma guerra, vamos a guerra!
- Sorri enquanto o olhava, os olhos tímidos e azuis me encararam por alguns segundos para desviar logo em seguida, Daryl Dixon era tão decidido e forte, mas em alguns momentos ele parecia frágil como um cristal prestes a quebrar, as vezes eu tinha vontade de o colocar em um pote e proteger da maldade do mundo, ele parecia já ter sofrido tanto.

- Você não brinca de casinha Hope, não seja estúpida em escutar as mentiras que o Spencer diz por aí.
- Respondeu rude enquanto encarava o nada.

- Bom é oque as más linguas dizem por aí não é, você sabe. Eu gosto de ter uma família, eu gosto de cuidar da Judith, eu gosto da minha vida, mas eu sei que eu preciso ajudar mais, sei que preciso sair para fora desses muros como todo mundo faz.

- Você não é todo mundo!
- Me encarou intenso pela primeira vez, e daquela foi eu quem desviou o olhar automaticamente, eu não estava acostumada a vê-lo olhando alguém assim cara a cara.

- Não me coloquem em um pote de cristal Daryl, todos vocês fazem isso, eu sei que eu sou a amiga da vizinhança mas eu não sou mais especial doque ninguém, vocês não tem que tentar me proteger o tempo todo, eu quero ser mais útil. Sinceramente eu não quero atacar aquelas pessoas, não por medo, mas sim porque eu não acho que é o certo a se fazer, mas eu vou, por vocês, pela minha família!
- Mais uma vez o silêncio se instalou por alguns minutos, até que eu fui surpreendida por um pacote que Daryl entregou em minhas mãos.

- Pensei que isso te serviria de consolo, então eu roubei hoje cedo em Hilltop, não é muito, mas é um bom começo, pense que depois doque vamos fazer amanhã vamos ter muito mais, não queremos a guerra, mas é preciso, Rick sabe oque faz...
- Sorriu de canto enquanto eu abria o papel pardo contendo três pequenos morangos dentro.
- Sorri agradecida enquanto encarava o semblante do caçador, ele parecia mais feliz doque de costume, não parecia tão ranzinza como sempre, me deitei em seu ombro enquanto saboreava a fruta, me senti feliz por ele ter lembrado do quanto eu queria aquilo, embora não fosse certo roubar, naquele momento parecia a coisa certa quando o gosto doce invadia meu paladar me trazendo lembranças de um passado distante, era louco pensar que nem mesmo o mais básico da natureza havia sobrevivido ao fim do mundo.
Daryl não era só o melhor amigo de Rick, ele também era o meu, ele era o mais próximo que eu tinha de um irmão, era parte da família, tínhamos sorte em tê-lo.

Alguns minutos foram o suficiente para o caçador chegar ao limite, inventou uma desculpa qualquer para que voltássemos para casa, na verdade eu sabia muito bem que ele queria fugir da aproximação, Daryl odiava que o tocassem, odiava ficar muito perto, algo me dizia que ele jamais conseguiria se livrar desse trauma, eu me sentia triste por ele, porque o mais próximo que ele ficava de alguém era com Judith, a menina conseguia ultrapassar essa barreira impenetrável dele, era uma pena porque o caçador era um homem incrível, ele merecia ter alguém, merecia ser amado como eu e o Rick nos amávamos, eu não queria o ver sozinho a vida inteira, mas as vezes tinha a sensação de que isso aconteceria, quem conseguiria ultrapassar aqueles muros impenetráveis? Caminhamos de volta antes do sol se pôr, quando chegamos Rick estava no sofá, no lugar onde Daryl costumava dormir sentado calculando os próximos passos do nosso plano de ataque, pelo menos foi oque ele disse como desculpa quando nos viu entrar, as vezes eu sentia que o xerife tinha um pouco de ciúmes da minha aproximação com o amigo, eu sabia o quanto Rick amava Daryl Dixon, e o quanto o admirava, talvez por esse motivo eu enxergasse uma ponta de insegurança da sua parte com o caçador e eu, isso também era uma coisa da qual eu tinha que consertar, afinal Daryl era meu melhor amigo, e Rick o homem que eu amava, e ambos eram melhores amigos um do outro também e nada podia estragar isso, eu não gostava de deixar as coisas subentendidas por isso na primeira oportunidade tocaria no assunto com o xerife afinal aquele ciúme era bobo e sem fundamento.

Subi me deitar mais um pouco antes do amanhecer, antes passei espiar as crianças, os dois estavam dormindo tranquilos, e isso também me trazia tranquilidade, tudo oque eu queria era os ver bem, por isso eu tinha que ajudar Rick, embora não concordasse eu tinha que lutar para trazer melhorias para a comunidade, mesmo que o preço a pagar fosse alto.
Na manhã seguinte todos estavam reunidos para combinar os últimos detalhes e todos os passos que percorreriamos ao atacar o posto avançado dos Salvadores, Maggie mesmo grávida queria participar a qualquer custo, e por fim foi aceita, algo que eu não concordei também, mas quem conseguiria deter aquela mulher, ela era uma verdadeira força da natureza quando se tratava de defender os seus.
Spencer se recusou a ajudar oque não era nenhuma novidade, todos sabíamos o quanto o homem era covarde e medroso, agora não nos falavamos mais, deis de que Deanna morreu para ser específica, era melhor assim, finalmente ele havia desistido de me perturbar e eu agradeci aos céus por isso, era chato ter que ficar ouvindo os comentários sobre o nosso namoro do passado, antigamente quando cheguei em Alexandria ele me elogiava aos quatro ventos, ultimamente ele só tentava manchar minha índole pela comunidade, Rick quis dar um jeito nisso, mas eu não deixei, estava cansada de confusão, e preferia que Spencer me odiasse a gostar de mim, ele era a última pessoa no mundo a qual eu queria alguma aproximação, então até me sentia satisfeita em ver que ele me odiava, Spencer era o tipo de pessoa que nunca mudava, ele havia me provado isso recentemente.

A manhã se arrastou nos preparativos da missão, deixei Judith e Carl com Olivia e o Padre Gabriel, eles ficariam responsáveis de cuidar deles enquanto estivéssemos fora, Gabriel se mostrou arrependido dos últimos atos, agora ele havia se transformado em um homem digno e fazia sempre o possível para ajudar, ele havia errado no passado, mas estava fazendo o possível para se redimir e eu e Rick demos um voto de confiança para ele, afinal todo mundo merece uma segunda chance.
Um pouco antes do sol se pôr viajamos para Hilltop acertar os últimos detalhes e encontrar com Jesus e o outro cara que nos ajudaria na missão, a cada quilômetro que a Van avançava mais meu peito ficava apertado, algo dentro de mim dizia que estávamos entrando em um caminho sem volta, uma sensação ruim invadia meu peito sempre que eu pensava naquela comunidade com a qual acabaríamos, eu só esperava estar errada, eu só queria que os Salvadores morressem e que não levassem nenhum de nós junto com eles para a cova.

Daryl me arrumou uma faca de caça, segundo ele a arma seria mais fácil quando eu estivesse acertando o crânio do inimigo. Pensar no que eu faria ainda me causava um certo arrepio, mas não havia mais como voltar atrás, eu precisava ser forte, eu não podia fugir da luta e deixar as pessoas que eu amava fazerem aquilo sozinhos, eles precisavam de mim.
Paramos alguns minutos para respirar, e eu Suspirei aliviada, sair daquela van era como ter o ar devolvido aos meus pulmões, eu estava ansiosa, e com medo ao mesmo tempo.

- Você está bem?
- Abraham se aproximou e no mesmo instante Rosita que estava ao meu lado recuou, encarei o ruivo e sorri, ele parecia feliz, era estranho ver o homem tão animado e minha amiga ainda tão triste pela separação.
- Eu estou, não vou te fazer a mesma pergunta porque está óbvio o quanto está bem! - Respondi.

- Novos ares, novos planos, uma nova vida começando, sinto que apartir doque vamos fazer hoje, as coisas vão melhorar muito.
- Sorriu pelas narinas enquanto alisava sua arma em punho.

Assisti Rosita nos encarando de longe, e confesso que senti um pouco de pena, Abraham e Sasha estavam cara vez mais próximos um do outro, e eu sabia que não devia ser fácil para a minha amiga assistir aquilo.
- Porque você decidiu largar tudo oque vocês tinham assim do nada? Você e a Sasha, oque vocês tem é tão forte assim, não estou te julgando, é só uma curiosidade.
- Tratei de deixar claro, eu estava procurando qualquer assunto que me fizesse esquecer oque eu faria a algumas horas.

- Quando eu a conheci, - Olhou na direção da hispânica. - Eu pensei que ela fosse a única mulher no mundo, não me leve a mal! - Ergueu os braços em sinal de rendição.
- Também tinha você, mas eu sabia que eu e você era uma coisa que não aconteceria, eu te conhecia muito bem, deis da primeira vez em que nos vimos, eu sabia que não ia dar em nada, com a Rosita era fácil demais.
Com a Sasha é um lance diferente, eu me sinto vivo, eu tenho vontade de fazer essas coisas, essas coisas que você e o Rick tem, viver junto, formar uma família, eu não sei explicar, eu só senti que era o certo, então segui minha intuição.

- Tenho certeza que a Rosita vai encontrar alguém para ter tudo isso também, ela merece mais doque qualquer outra pessoa.
- Suspirei cansada, eu não sabia oque dizer, me sentia em uma sinuca de bico, eu entendia Abraham, se ele não amava minha amiga a melhor coisa a se fazer era se afastar deixa-la viver, por outro lado eu sentia pena do quão triste ela estava com a situação, ela o amava, mesmo que ele fosse um babaca e não merecesse.

***

Quando chegamos em Hilltop alguns minutos depois, Jesus e o homem nos reuniram em uma pequena sala, e então o estranho começou a desenhar um mapa do posto avançado dos Salvadores, Rick observava atentamente cada detalhe, e conforme ia recebendo algumas informações, ia explicando oque cada um de nós faria, não demorou para que as coisas parecessem complicadas demais, apesar de ser um plano bom havia muitas lacunas, muitos riscos e a cada instante aquela mesma sensação ruim me dominava.

- Eles não querem a cabeça do Gregory? É oque eles vão ter!
- Rick teve uma ideia ousada, procurar entre os mortos algum que se parecesse com o líder de Hilltop, e então minutos depois saímos para uma busca, paramos em um ponto aleatório da estrada e nos separamos em grupos de duas pessoas, eu fiquei com o xerife, caminhamos pela mata e encontramos alguns cadáveres, possíveis candidatos daquele plano maluco, dei uma rasteira em um deles, e o corpo podre caiu imediatamente ao chão, e então Rick pegou uma espada pequena e arrancou sua cabeça.

- Parece bom!
- Conclui enquanto mantinha as mãos apoiada nos joelhos, eu estava cansada, não era um cansaso físico mas sim mental.

- Talvez esse dê certo se cortamos o cabelo e a barba, e estiver escuro!
- Rick sorriu irônico, e então eu balancei a cabeça em negativo, ele estava apenas tentando me manter entretida.
- Sabe que suas piadas costumam ser péssimas não sabe? - Perguntei enquanto o olhava.

- Eu sei, só que eu não te vi sorrir hoje, quando isso acontece parece mal agouro, eu não gosto, quando você sorri para mim parece que eu tenho mais sorte, por isso eu arrisquei a piada!
- Ergueu as mãos em sinal de rendição.

- Vamos matar aquelas pessoas hoje, eu tive sorte, nunca tive que matar tantas pessoas assim antes, eu não sei, Abraham fazia o trabalho sujo, eu já matei duas pessoas para me defender, mas eram pessoas que queriam me ferir de alguma forma, um tiro certeiro, agora matar alguém com uma faca me parece tão diferente, eu não posso mentir para você, eu estou com medo, medo de quando eu tiver que fechar meus olhos eu não esquecer, mas enfim , eu sabia que um dia eu ia precisar fazer isso...
- Forcei um sorriso, e Rick largou a cabeça no chão para me abraçar.

- Não vou mentir, não vai ser fácil, mas eu já te disse, é necessário.
- Suspirou cansado, não havia mais oque explicar, não havia mais oque ser questionado, e não havia mais como voltar atrás, nosso plano já estava armado.
Ouvi as batidas do seu coração enquanto ele me apertava em seus braços, e instantaneamente me acalmei.

Nos reunimos novamente, Rick nos passou os últimos detalhes do plano, todos paramos para o escutar atentamente.

- Três horas antes do amanhecer, todos já estarão dormindo e os guardas já estarão cansados, se não for uma boa não vamos entrar, vamos voltar e fazer um novo plano, eles não sabem quem somos, vamos manter o Jesus nas sombras, é para nossa comida. - Rick me olhou e eu baixei a cabeça para não o encarar, eu não queria mais demostrar minha insatisfação.
- É para nossa comida, vamos começar a meia noite!
- Anunciou antes de se afastar, o segui, Rick foi verificar como ficaram as cabeças que estávamos providenciando. Jesus e o seu parceiro haviam escolhido a cabeça que mais se parecia com o Gregory, encarei a escolhida e sorri enquanto encarava o xerife, eu queria que ele me visse sorrir, um sorriso de verdade, eu não queria que nada roubasse sua atenção, eu não queria que ele pensasse que eu estava contra ele.
- Que bom que vamos fazer isso de noite!
- Toquei sutilmente sua mão, e ele sorriu devolta para mim.
- Oque foi, oque tem de errado?
- Perguntou enquanto me olhava.

- Acho que é o nariz, não sei. - Encarei a cabeça mais uma vez enquanto mantinha minha sobrancelha arqueada, analisando o morto, e então Rick pegou a cabeça na mão, e disferiu dois socos no nariz daquela coisa nojenta.

- Ele resistiu, por isso o nosso amigo ali acabou até machucando a mão.
- Apontou para o amigo de Jesus e o mesmo o olhou assustado.
- Oque foi? - Rick o olhou analisando sua expressão, afinal aquela atitude inesperada acabou pegando todos de surpresa.

- Os Salvadores até metem medo, mas eles perdem feio para você!
- O homem falou antes de se retirar, encarei Rick e ele parecia descontente e confuso.

- É, vamos lá!
Murmurei enquanto me retirava, percebi o quanto o comentário do rapaz havia atingido o xerife.

Algumas horas depois estavamos prontos para ir a caminho do posto avançado dos Salvadores, quando Rick começou a falar novamente oque cada um de nós faria.

- Hope e Maggie, as duas vão ficar vigiando no carro, observando qualquer movimento suspeito e nos avisando sobre qualquer problema.
- O encarei sem entender o porquê de ele ter mudado o plano naquela hora, antes que eu pudesse pedir qualquer explicação ele mesmo a deu.

- Gleen acha melhor que a Maggie não fique sozinha, e o Daryl acha melhor que você fique com ela, para nos ajudar aqui de fora, e também para protege-la.

Os encarei com a sobrancelha arqueada, eu sabia que eles haviam inventado tudo aquilo até porque Maggie sabia se defender muito melhor doque eu.
- Alguém perguntou oque eu acho melhor?
- Questionei irritada, eles e essa mania de sempre querer me proteger, como se eu fosse intocável, como se eu fosse quebrar a qualquer momento, como uma criança que precisa ser poupada de qualquer perigo.

- O plano é meu, eu decidi a função de cada um, e eu concordo com o Daryl, também acho que você é a melhor opção para manter a Maggie segura!
- Rick foi rápido, e de certa forma grosseiro, deixando claro que quem mandava era ele.

- Sim Senhor, pode deixar que a Maggie vai me manter segura, se é isso que te deixa preocupado.
- Sorri pelas narinas, e então caminhei irritada para traz da van, meus nervos estavam a flor da pele, eu não queria aquele plano, mas já que eles iam mesmo fazer aquilo acontecer, eu havia decidido fazer parte, e agora Rick havia me tirado, sem perguntar nada, como se ele tivesse as rédeas da minha vida, como se ele tivesse o poder de decidir por mim.
Me sentei enquanto ouvia eles descarregarem as armas, encarei a maldita faca de caça no meu coldre e senti vontade de faze-la voar para longe, como uma criança mimada faria, sorri com a ironia daquilo.
Encarei um cigarro e um esqueiro no canto da van, eu não tinha o costume de fumar, Rick também não, a gente sempre comentava que isso era uma coisa que tínhamos em comum, então resolvi fazer o contrário, só para tentar o irritar de alguma forma, acendi enquanto o assistia se aproximar.

- Hope, me escuta!
- Começou, mas eu mal o deixei terminar.

- Estou ocupada, pode ficar tranquilo, eu vou fazer oque você mandou, afinal é você quem decide, você é nosso líder não é!
- Puxei a fumaça para meus pulmões e a soltei rapidamente, por fim bati continência enquanto me afastava, o deixando falando sozinho.

Eu amava Rick, mas odiava o excesso de cuidado que ele tinha comigo, era como se nada pudesse me atingir, era como se a minha vida fosse mais importante doque qualquer outra para ele, e eu sabia que as pessoas se sentiam excluídas quando ele fazia isso, eu odiava ainda mais o quanto as pessoas me achavam fraca!
- Só mais uma coisa na interminável lista de tudo oque eu odiava, maldito fim do mundo e Malditos Salvadores.

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