A Viajante - O Outro Mundo (L...

By autoratamiresbarbosa

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"Você acredita em universos paralelos?" Uma menina órfã, movida pela curiosidade, acaba se vendo diante de um... More

Sobre o livro
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Agradecimentos
Mandem suas teorias
Curiosidades sobre o Livro

Capítulo 20

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By autoratamiresbarbosa

Ficou imóvel, observando o carro, tendo certeza de que não estava disfarçando e, seja quem fosse que estivesse dentro do veículo, já teria percebido que ela notara sua presença. Estariam tentando matá-la novamente?

Recuperou o movimento do corpo e olhou ao redor. Estavam sozinhos em uma rua deserta. O momento perfeito. O desespero dentro de si foi crescendo cada vez mais. Iria colocar Heliberto e Godofredo em perigo. Precisava alertá-los.

Se virou na direção dos dois, que ainda conversavam.

— ...eles acham que têm direito de matar nossa espécie, mas eu não posso matar a deles. — Godofredo comentava, parecendo furioso.

— Gente! — Os dois se viraram para olhá-la.

— O que aconteceu? — Heliberto perguntou. — Está pálida. Bem, mais do que já é normalmente. Aprendi em Himériologia que alguns humanos perdem a cor por ficarem assustados. — Ele pareceu analisá-la por alguns segundos. — Espera, está assustada? Não se preocupa, já conseguimos roubar a carne.

— Não é isso! Temos que sair daqui agora!

— Por quê?

— Porque aquele mesmo carro preto de sempre está parado bem atrás de nós.

Heliberto olhou na direção do veículo e boquiabriu-se.

— Estão seguindo a gente? Quem aquele humano acha que é para me seguir? — Godofredo começou a caminhar em direção ao carro, irritado.

— Espera! O que você está fazendo? Isso é loucura! — Camila correu até Godofredo e se colocou em sua frente. Heliberto fez o mesmo. — Ele pode ser a pessoa que está tentando me matar!

— Que ele te mate então, mas não vou deixar um humano me seguir. — Ele desviou de Camila e de Heliberto e andou mais rapidamente em direção ao carro. — EI, VOCÊ! SEU HUMANO NOJENTO! POR QUE ESTÁ ME SEGUINDO?

Camila e Heliberto correram novamente até Godofredo.

— SAIA DO CARRO E NÃO ME IGNORE!

Camilaescutou o barulho de motor sendo ligado ecoar pela rua deserta. Em seguida, osfaróis do carro se acenderam, e o veículo começou a se movimentar, fazendo umacurva para o lado, tentando manobrar. Godofredo correu até ele, que rapidamentedeu ré, parecendo tentar virar para o lado oposto deles e sair dali. O carrotentou rapidamente avançar para seguir seu caminho, mas Godofredo havia sidomais ágil e se colocou na frente do veículo assim que ele tentou avançar.

— HUMANO COVARDE! SAIA JÁ DESSE CARRO!

Camila se aproximou do carro preto, ficando mais perto do que já esteve todo esse tempo. Um arrepio passou por sua espinha. Poderia estar perto do assassino de Leyla. Porém, não conseguia ver nada de dentro do carro, por conta do vidro fumê.

O carro tentou dar ré, mas quase atropelou Heliberto, que parou atrás dele, de repente. Então, o veículo parou. A pessoa estava tomando cuidado para não os matar, mas por quê? Se quisesse, poderia ter saído do carro e matado todos os três ali mesmo.

"...a pessoa não quer matar outras pessoas, quer matar somente você."

— Me dê isso! — Godofredo foi rapidamente até Heliberto, tirou o pedaço de carne de suas mãos e com toda sua força, a atirou contra o vidro da porta do motorista.

O barulho do vidro se quebrando tomou conta da rua deserta. Camila olhou espantada para Godofredo. Não sabia se o feito se devia pela raiva de ser sido atirado contra o chão por humanos ou porque ele era Godofredo. Talvez os dois.

Um grito veio de dentro do veículo. Camila olhou para Heliberto, que estava boquiaberto olhando para o amigo, também parecendo espantado.

— Saia já daí de dentro! — Godofredo meteu o braço dentro do carro por entre o grande buraco que a carne havia deixado ao ser atirada e puxou alguém, que começou a gritar.

— Espera, espera! Tá, eu vou sair, mas me solta! — A pessoa disse, com um sotaque estranho, que se assemelhou para Camila com os dos filmes norte-americanos que assistia com Tiago, na sala do Diretor Walter.

Godofredo pareceu hesitar, mas alguns segundos depois, retirou o braço de dentro do carro e olhou fixamente para a pessoa que estava li.

Camila e Heliberto se aproximaram de Godofredo, relutantes, e se puseram atrás dele, olhando para a porta do carro que se abria.

Um homem de cabelos grisalhos saiu do carro, passando as mãos pelas as vestes — que se assemelhavam a trajes de médico — e nos cabelos, para limpar os cacos de vidro.

Aolevantar a cabeça, a luz dos postes que já se acendiam na rua refletiu-se emseu óculos oval, fazendo-a se lembrar da pessoa que viu na casa de Lia. Sabiaque era ele, e tal conclusão fez seu coração se acelerar.

— Por que está nos seguindo? — Godofredo perguntou, enraivecido.

Náo estou seguindo vocês. — O homem respondeu, despreocupado, colocando um sorriso amigável no rosto.

— Mentira! — Camila afirmou, se assustando por ter feito tal coisa. Mas decidiu continuar, tinha que esclarecer essa história uma vez por todas. — Vo-você está me seguindo há meses, desde o dia em que fui à casa de uma colega minha. Desde então, está tentando me matar!

—Oh, espera aí! — O homem ergueu os braços para cima, em sinal derendição. — Tudo bem, eu admito que estou seguindo você há algum tempo, e sim,eu estava na casa da sua coleguinha princesado país. Mas eu náo tentei matar você.

— Mentira! — Contrapôs, tentando vencer a ansiedade e o medo dentro de si.— Eu vi o seu carro preto parado em frente ao posto de gasolina, onde tentaram me matar.

— Ah sim, eu fiquei sabendo daquilo. Mas náo era eu, náo tem motivos para eu tentar te matar. E existem muitos caros pretos, tem certeza de que era o meu?

Não respondeu. Na hora de que tudo aconteceu não pôde ver muito bem, apenas sabia a cor do veículo.

— Eu não quero saber quem está tentando matar ela! — Godofredo interviu na conversa. — Só quero saber por que estava me seguindo.

— Estou seguindo todos vocês há tempos, mas parece que só a Kemila percebeu.

Camila arregalou os olhos. Ele a tinha chamado pelo seu nome verdadeiro?

— Como ousa me seguir, seu humano nojen...

— Camila? Meu nome não é Camila. E-eu so-sou Leyla Scarlett. — Disse, aflita. Como ele sabia? Então realmente estavam atrás dela para a estudarem?

O homem sorriu brevemente.

Náo precisa tentar me enganar, eu sei que você se chama Kemila. Aliás, sei quem sáo todos vocês. Heliberto — ele apontou para Heliberto, e para Godofredo em seguida. — e Godofredo.

— Como sabe quem nós somos? — Heliberto perguntou, recuando um pouco para trás, assustado.

— Bem, como náo saber? Vocês sáo bem famosos por serem o Trio de Zumbis de Telúria, como chamam vocês em algumas partes. Ou apenas Os Zumbis, ou Bruxos Membros de Seitas e Rituais.

— Mas isso não explica como sabe nossas reais identidades. — Camila comentou. — Todos nos conhecem como Leyla, Oliver e Leon.

— Bom, vocês foram o caso de Viajantes mais famosos que tivemos por serem de famílias importantes, ou estarem relacionados à alguma. Apenas tirando você e sua irmã, Ximú. — Ele olhou para Heliberto. — Angelina náo tinha muito contato com a família dela, ao que parece. Se isolou e tentou construir a própria vida e conseguir construir tudo porrito próprio, e não por conta de seu sobrenome.

— Viajantes? Como assim? — Heliberto perguntou.

— É assim que vocês sáo chamados.

— Chamados por quem? — Camila perguntou, um pouco assustada.

— Por nós, a O.P.U. Ou por eles...

— Quem é O.P.U? — Heliberto perguntou.

— Édifícil explicar. — O homem suspirou.

Ele olhou para os três a sua frente por alguns segundos e suspirou novamente, como se estivesse tentando tomar coragem para dizer algo.

— Aqui náo é um local seguro para falar disso, podemos ir a outro lugar?

— Por mim tudo bem. — Heliberto disse dando de ombros.

— Não! Mal conhecemos você. Acha que iremos com você em algum lugar? — Camila tentou parecer firme. — E você quer nos levar como a outro lugar? De carro? No seu carro? O carro que supostamente é o que está por trás das tentativas de assassinato contra mim?

— Eu já disse que náo tentei matar você! — Ele suspirou novamente. — Okay..., deixa eu me apresentar primeiro. Meu nome é Henry Danly.

— Henry Danly? Esse nome... me é familiar. — Murmurou para si mesma. Vasculhou sua mente, tentando se recordar onde já havia escutado esse nome antes.

De repente, sua mente se clareou e uma breve lembrança passou por sua cabeça. Enquanto ela e Tiago estavam sentados nas confortáveis poltronas na sala do diretor procurando algo para assistir, um documentário chamou sua atenção.

"De acordo com o Cientista Henry Danly, universos paralelos existem sim. Um universo paralelo seria nada mais do que um universo semelhante ao nosso, mas com acontecimentos diferentes, o que faz com que os universos não sejam totalmente iguais."

— Henry Danly! O cientista do documentário! — Concluiu mais alto do que esperava, fazendo sua voz ecoar pela rua deserta.

— Ah, sim! Você assistiu, entáo. — Henry ajeitou os óculos no rosto. — Isso vai ser mais fácil de explicar. Como deve se lembrar, eu afirmei que universos paralelos existiam e, como podem ver, existem. — Ele olhou a sua volta.

— Mas por que viemos para cá?

Náo se lembra de que eu havia falado que dois universos iriam vibrar na mesma frequência naquela madrugada?

— Mas por que isso aconteceu?

— Porque eu fiz acontecer... — Henry olhou para o chão, soltando outro longo suspiro.

— O quê? Está dizendo que estou no corpo de um humano por sua culpa, seu humano nojento? — Godofredo perguntou.

— A ideia náo era essa! A ideia era apenas fazer com que vocês viessem para cá, mas em seus corpos.

Todos se calaram. Pareciam que estavam tentando processar o que ele acabara de dizer. Então era por causa dele que Camila estava ali? Por causa dele havia se separado de seu amigo e agora corria risco de vida?

— Seu humano nojento! — Godofredo rosnou. — Eu agora tenho que conviver com essa espécie nojenta que vocês são, por sua culpa! Você separou o Heliberto, Ximú e eu do nosso povo! Isso por acaso é uma tentativa para exterminar a minha espécie?

Náo! A ideia náo era trazer as baratas, só humanos. Mas tudo deu erado. Eu nem sabia que vocês... pensavam.

— Então deu errado porque não veio só os humanos? — Camila perguntou, a raiva crescendo dentro de si. — Então você arranca a minha vida de mim, que apesar de ser uma droga era minha, e me diz que o único problema foi ter vindo outra espécie para cá?

— Isso.

— Como pode dizer isso? Qual era seu plano, Cientista Maluco?

— Talvez isso esclareça as coisas. — O Cientista entrou no carro. Os três avançando um pouco para tentar impedi-lo caso ele tente fugir, mas alguns segundos depois, Henry saiu do carro com algo nas mãos, o que pareceu ser para Camila um pedaço de jornal velho. Ele entregou em suas mãos. — Leiam.

Godofredo e Heliberto se curvaram atrás de Camila para ler o conteúdo. A garota desdobrou o jornal e percebeu que ele estava um pouco machado, como se fosse antigo.

Uma foto grande, abaixo do título chamava a atenção. Um local que parecia ser um antigo oceano tinha algumas rachaduras no chão. Algumas poças de água ainda jaziam ali, refletindo um pôr do sol de cores estranhas e distópicas. O céu, que deveria estar laranja com cores como rosa, azul, ou outras cores normais em um pôr do sol, estava escuro e cinzento. Um pouco mais a frente, haviam algumas árvores secas e sem folhas.

Terceira Guerra Mundial mata aproximadamente 4,6 bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Vários países do Oriente Médio, Leste da Europa, Sul da África, Ásia e as Américas sofreram danos fatais devido a bombas nucleares, por conta da Terceira Guerra Mundial.

Camila arregalou os olhos e olhou confusa para Henry.

— Continuem lendo. — Ele disse com um aceno de cabeça.

Olhou novamente para o jornal e começou a lê-lo; a curiosidade crescendo.

Há muito tempo, as grandes potências mundiais já se encontravam em conflitos, e até mesmo, as menores. Desde o começo do século e, até mesmo antes, alguns países do Oriente Médio já se encontravam em conflito por conta de recursos naturais, e o principal deles, a água.

A água sempre foi uma dascoisas mais valiosas — senão a mais — para nós, humanos, e paratodos os seres vivos da terra. Com sua escassez em vários países, e o usoincorreto, não demorou para que este recurso se tornasse limitado ao redor domundo.

Em 2056, alguns países já sofriam as consequências da falta de água, principalmente os subdesenvolvidos. O desperdício desse recurso, sem dúvidas, foi muito grande ao decorrer dos anos. Desmatamentos também se tornaram frequentes, reduzindo o oxigênio do planeta, além de temperaturas elevadas por conta do aumento de Co2 na atmosfera.

Em 2073 o oxigênio já não era mais o mesmo. Se tornou poluído, e em alguns locais, quase escasso. Algumas organizações e pequenos grupos de pessoas tentaram reverter a situação com o plantio de árvores, mas já era tarde demais.

Em 2086, a situação piorou,e muitos países começaram a entrar em conflitos para obter os recursos naturaisuns dos outros, assim como tomar regiões onde o oxigênio era melhor. Osconflitos foram ficando muito mais graves depois de diversos atentados, até queos países com posses de armamentos nucleares entraram em conflito, levandomuitas vidas a óbito, em 2090.

A população mundial de 13 bilhões de pessoas, caiu para aproximadamente 5,4 bilhões. 234 mil pessoas ficaram feridas, a maioria não resistindo e vindo a óbito em seguida. As que sobreviveram ao ataque, começaram a falecer por conta de doenças decorrentes do ar, que se tornou ainda mais poluído e escasso, devido aos armamentos nucleares.

Alguns dizes que a humanidade não irá sobreviver até 2150.

Acabamos com o nosso mundo, o mundo que demorou para ser formado. Todas as espécies, todas as nossas conquistas, tudo se acabou e está se acabando por conta da ganância humana. Tantas vidas perdidas por conta do egoísmo do ser humano.

Atualmente, a população caiu para apenas 1 bilhão de pessoas e estima-se que o número irá começar a cair novamente até não sobrar mais ninguém no planeta. Talvez assim, quem sabe daqui há milhares de anos outra espécie melhor que a nossa não evolua? Uma que saiba dar valor aos mínimos detalhes que nos fazem continuar vivos.

Nós somos a natureza, devíamos ter cuidado dela; devíamos ter cuidado de nós.

A situação em muitos países, nos poucos que restaram, principalmente no nosso, está bem ruim. Será o nosso fim?

— O-o que é isso? — Camila perguntou ao terminar de ler. Olhou chocada para Henry, que retribuía com um olhar vazio. — I-isso... isso aconteceu em outro universo? Em um universo paralelo? — Olhou novamente para o pedaço amarelado de papel em suas mãos, trêmula. Se o que estava descrito ali de fato aconteceu, havia sido uma tragédia.

No. Foi no nosso universo. No universo de vocês.

— I-isso é... é impossível. Nós estamos em 2025.

— Olhe a data, Kemila.

Procurou alguma data de publicação. Ao olhar no lado superior esquerdo do papel amarelado, viu escrito:

22 de setembro de 2104, Jornal Angola.

— Como assim "Jornal Angola"?

— Angola foi o único país que fala português que ainda existia na época.

— Ma-mas e o Brasil?

— Com toda a reserva de água subterânea que o seu país tinha, você acha que iriam poupá-lo? — Henry deu um sorriso amargurado.

Olhou novamente para o papel, se sentido angustiada. Era esse o destino que seu mundo havia tido? Ou melhor, teria?

— Sei o que deve estar pensando. Quando eu li esse jornal, eu náo me senti muito bem também. Saber que o nosso futuro estava assim... corompido e com um prazo de validade, me fez sentir... pequeno.

Olhounovamente para o Cientista, e viu que ele possuía uma expressão amargurada no rosto.

— Humanos. — Godofredo disse de repente. — Eu sabia que um dia vocês iriam se dar mal pela ganância e egoísmo de vocês. Merecido.

— Mas isso significa que as baratas também morreram? — Heliberto perguntou, o temor em sua voz.

— Eu náo sei. — Henry respondeu. — Como eu disse, eu nem sabia que vocês pensavam ou tinham sentimentos. E isso é bastante interessante. Quando isso tudo acabar, vocês querem fazer parte de um estudo?

Camila escutou de longe Godofredo falar alguma coisa, a voz com o mesmo tom de desprezo de sempre. Mas não estava interessada em saber o que era.

Várias coisas passavam por sua cabeça no momento. Como isso explicava tudo? Que relação um acontecimento do final do século tinha a ver com a ida dela para aquele lugar? E se aquilo era do futuro, como foi parar nas mãos de Henry?

Suacabeça já doía por tentar processar o tanto de informação que recebeu. Tudo quequeria era ir ao mercado comprar algo para não passarem fome na casa deHeliberto, mas deu tudo errado e se depararam com aquele carro preto que semprea seguia. Achando que conseguiria respostas, conseguiu ainda mais dúvidas, queestavam fazendo sua cabeça quase explodir.

— Você... — Começou. Instantaneamente Godofredo parou de falar. Todos a olharam. — Como você... conseguiu este jornal se ele é de 2104?

— Viagem no tempo. — Henry respondeu como se fosse a coisa mais simples do mundo. — Se tornou possível em 2063.

— Você é um viajante do tempo?

— Sim. Náo da época da guera, mas sou de uma época próxima. Eu ainda tinha esperanças de que isso nunca acontecesse... — Ele suspirou com pesar. — Eu consegui esse jornal por meio de... — Ele pareceu meio tenso de repente. — ...uma conhecida que também era viajante do tempo.

— E o que isso tudo tem a ver com a gente? O que isso tudo explica a nossa situação atual? — Heliberto perguntou o que Camila queria saber. Agradeceu mentalmente pelo ato, pois as palavras não saíam de sua boca no momento.

—Como vocês puderam ler, a guera se iniciou porconta da falta de recursos. — Henry começou. — E a falta de recursosaumentou ainda mais devido ao crescimento acelerado da populaçáo.Tudo que nós... tudo que eu tinha que fazer era... — Ele deu umapausa. — ...era diminui-la de algum jeito. 

— Então nos mandou para cá. — Camila sentiu os olhos arderem. Não sabia se era o cansaço tomando conta dela, ou se estava com vontade de chorar. De angústia e de raiva. Angústia pelo futuro contado e horrível que a humanidade tinha em seu universo e raiva pela atitude de Henry, uma que nunca havia sentido antes. Ele havia a colocado naquela situação, eagia como se não tivesse sido nada?

— Mas foi por uma boa causa, Kemila.

— Boa causa? — Riu sarcasticamente. — Olha para gente e vê se tem algo de bom nisso! Eu sou um alvo humano nesse lugar! E esses dois aqui atrás são baratas! Baratas!

— Qual o problema? — Godofredo perguntou.

— Qual o problema? Por favor, vamos parar de agir como se isso fosse normal! Acabamos de descobrir que estamos em um universo paralelo porque um cara qualquer quis isso e você fica assim, nessa tranquilidade?

Godofredo abriu a boca para dizer algo, mas Camila o impediu.

— E sim, antes que fale, eu sou uma humana que não se adapta facilmente a coisas diferentes! Em menos de seis meses eu vim para um mundo totalmente diferente, tendo que agir como outra pessoa, com pessoas completamente desconhecidas. E sabe se lá até quando vai continuar assim! Descobri que baratas falam e isso não é uma coisa normal! A minha vida inteira eu acreditei no contrário. E sim, eu já matei baratas!

Heliberto arregalou os olhos e boquiabriu-se, olhando-a com uma expressão horrorizada.

— Eu falei! — Godofredo fez uma careta de nojo. — Todos são iguais.

— Todo esse tempo eu tentei agir como se tudo isso tivesse se tornado normal para mim; tentei ser otimista. Eu pensei que havia sido um acidente e agora... — Sua voz foi morrendo aos poucos. Não sabia mais o que pensar. Tudo era muito confuso e tentar raciocinar estava fazendo sua cabeça doer ainda mais.

— Me desculpem. — Henry lamentou. — Eu náo queria ter feito isso, mas era a vida de algumas pessoas para salvar bilhões. Apesar de a ideia inicial náo ter sido minha, eu aceitei. E assumo toda a culpa. Eu realmente sinto muito.

— E como apenas algumas pessoas iriam fazer diferença?

Na verdade, seriam milhões de pessoas, e indo para universos diferentes. Mas algo aconteceu. Eu náo consegui parar até hoje a vinda das pessoas para esse mundo, sem falar que as pessoas do nosso universo vieram apenas para esse e náo para os outros. Se continuar assim, será este planeta, desse universo que irá virar superpopuloso e irá sofrer com o que o nosso sofreu, até porque, ele é bem menor

Camila agora o encarava com raiva. Ele não havia se importado com a vida deles? Esse era o plano, então. Descartá-los sem nenhum tipo de aviso.

— Algumas pessoas moreram... Outras conseguiram atravessar o Portal Dimensional, mas nem todas vieram de um jeito normal. — Henry continuou. — Como no caso de vocês, algumas tiveram a consciência transferida para um corpo recém morto. Outras, continuam com seus corpos.

— Então há mesmo outros de nós?

— Sim. Há outros Viajantes.

— E por que isso aconteceu? — Heliberto perguntou.

— Eu náo sei. Mas estou tentando descobrir. Em breve iremos saber. Eu prometo, e irei contar a vocês.

— Se contar, não? — Camila comentou. — Se o Godofredo não tivesse ido atrás de você, você nunca ia contar isso para gente, não é?

— Eu... eu estava com medo da reaçáo de vocês. E eu estava envergonhado. Mas eu juro que eu ia. Fui eu quem mandei as mensagens para vocês.

— Então onde está nosso corpo de barata? — Godofredo perguntou.

— Creio que esteja com a O.P.U. Eles foram recolher alguns que chegaram desacordados e... mortos.

Todos ficaram em silêncio por conta da última palavra de Henry.

— E o que é O.P.U? — Camila perguntou, quebrando o silêncio e tentando ignorar a dor de cabeça que a atingiu juntamente com a confusão. Tentou se esforçar para obter mais informações. Precisava daquilo.

— Éuma organização que protege os universos, como o próprionome já diz. O.P.U significa Organização Protetora deUniversos. Eu trabalhava lá, e para protegero meu universo, eu tentei fazeissotudo, mas..., mas eu falhei. E agora estáo atrás de mim.Estou seguindo vocês porque a O.P.U náo tolera falhas. Elanáo tolera. Por contadisso, podem tentar matar vocês a qualquer momento. Assimcomo creio que estáo fazendo comigo.

Matar? Então seriam eles quem talvez estivessem tentando matá-la?

— Por isso, Kemila — Henry continuou, fazendo-a olhar para ele novamente após pronunciar seu nome. —, fique atenta e tome cuidado. Todos vocês. Essa pessoa tentando te matar, posso garantir que náo sou eu. Náo duvido muito que as pessoas desacordadas que a O.P.U tenha buscado, já náo estejam mortas.

— Mas..., também não pode ser a O.P.U. Estão tentando me matar, digo, matar a Leyla há meses. Não eu, a Leyla. Ela morreu em uma dessas tentativas.

— Pensei que havia sido um acidente.

— Não. Os freios foram cortados. — Explicou suavemente, já deixando de lado a raiva, e começando a ser tomada pela sensação de medo. Já não bastava estarem atrás dela, pensando que ela era Leyla e tentando matá-la, mas também estariam atrás dela como Camila. Ou será que eram as mesmas pessoas?

— Bem, entáo isso vai além de mim. Mas de qualquer forma, eu ficaria atento se fosse vocês.

O olhar de Henry percorreu rapidamente pelos três viajantes que estavam em sua frente.

— Bom, preciso ir... — Ele disse se virando para o carro.

— E-espera! — Camila o impediu, segurando seu braço. — Tenho tantas perguntas. Nós temos tantas perguntas. Onde você esteve esse tempo todo?

— Vocês poderáo fazê-las e eu ficarei feliz em respondê-las. — Ele deu um sorriso quase imperceptível. — Mas náo hoje. Como eu disse antes, aqui não é um local seguro. E como você também disse, você é um alvo humano agora. Mas tudo que posso te responder, é que estou perto de você, no local mais misterioso e improvável para alguém ficar. Talvez o mais alto de algum lugar, o mais quente.

Oolhou confusa. Henry tinha uma expressão enigmática no rosto. Em seguida, eledesviou o olhar para algum outro lugar. Camila percebeu que o Cientista sedemorou em um local um pouco mais à frente da rua. Decidiu acompanhar, e teve aimpressão de ver um vulto preto virando a esquina à direita. Mas não havianinguém além deles ali, ou talvez, não tivesse visto alguém passar, por contade tudo que aconteceu.

Olhou em volta. A rua estava deserta e mais escura que antes, assim como o céu.

Observou Henry, e o viu desviar o olhar de onde estava olhando. Ele a encarou de volta, acenando com cabeça e um sorriso amarelo. Percebeu que ele parecia bem cansado.

— Nos vemos por aí. — Ele entrou no carro. — Eu iria para casa se fosse vocês. Querem uma carona?

— Nunca aceitaríamos uma carona de um humano. — Godofredo disse com sua habitual voz que expressava nojo, quando o assunto era humanos.

Henry olhou para Camila.

— Não precisa, vamos ficar bem.

Ele acenou novamente com a cabeça e ligou o carro.

— Acho que isso é de vocês. — Ele jogou o pedaço de carne para Camila através da janela quebrada, que agarrou sem jeito por conta do peso.

Os três observaram o carro preto partir para a direção onde estava querendo ir antes de Godofredo o impedir. Depois de um tempo observando as luzes dos faróis traseiros irem se distanciando, o veículo virou em uma rua e desapareceu.

— Vamos. — Heliberto disse rispidamente enquanto começava a andar.

  — Mas ainda não temos o que comer. — Camila os seguiu. — Não podemos voltar sem comida.

— E essa carne? — Godofredo apontou enquanto andavam, indo na mesma direção em que o carro acabara de ir.

— Está cheia de caco de vidro! Se comermos isso, vamos morrer.

— E que diferença vai fazer caso eu, a Ximú ou o Godofredo morra? Somos baratas. Você já matou baratas. — Heliberto parou de andar e a encarou. A tristeza era evidente em sua expressão e olhar.

— Heliberto...

— Vamos, Camila. Você ouviu o Henry, vamos para casa. — Ele começou a andar novamente.

Sentiu um aperto em seu coração e um remorso ao ver a expressão de Heliberto. Havia o chateado.

Suspirou e resolveu não falar mais nada. Jogou a carne em um latão de lixo próximo antes de segui-los.


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