A Viajante - O Outro Mundo (L...

Autorstwa autoratamiresbarbosa

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"Você acredita em universos paralelos?" Uma menina órfã, movida pela curiosidade, acaba se vendo diante de um... Więcej

Sobre o livro
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Agradecimentos
Mandem suas teorias
Curiosidades sobre o Livro

Capítulo 9

339 78 255
Autorstwa autoratamiresbarbosa

O carro freou bruscamente após acertar o médico, produzindo um barulho alto de pneu esfolando no asfalto. As pessoas foram até o local onde o homem havia sido jogado. Um falatório começou a ser ouvido na rua; pessoas curiosas se aglomeravam no local. Cada vez mais e mais gente chegava para ver o que havia acontecido.

Camila assistiu tudo isso do mesmo local de onde estava. Não havia se movido desde que vira a cena. Nunca havia presenciado ninguém sendo atropelado antes. Pela velocidade em que o carro havia o atingido, ele não devia de estar mais vivo. Se estivesse, seria muita sorte, ou quem sabe, um milagre.

Por sorte, o acidente havia ocorrido em frente a um hospital. Caso houvesse alguma chance de salvar o médico, poderia ser testada mais de pressa.

Rapidamente, pessoas começaram a sair de dentro do hospital também, para ver o que havia ocasionado aquele barulho de batida. Não demorou muito para Heliberto e Juliana também saírem de lá e irem em direção à Camila.

— O que aconteceu? — Heliberto perguntou chegando até Camila; Juliana ao seu lado.

Explicou o corrido, o que fez com que Juliana levasse as mãos até a boca, horrorizada.

Olhou para a direção do carro vermelho. Viu Bartolomeu ir em direção do veículo e abrir a porta, e depois puxar alguém pelo braço. Um garoto de aproximadamente doze anos saiu sendo arrastado pelo braço para fora do carro, Miguel. O garoto estava com a testa sangrando, provavelmente por conta do impacto contra o painel do carro.

Ainda em choque, Camila foi ao encontro dos dois, junto de Heliberto e Juliana. Ao se aproximar, pôde ouvir a voz zangada de Bartolomeu enquanto berrava com Miguel de uma forma que ainda não tinha o visto fazer. Bartolomeu geralmente, quando perdia a paciência, sabia como se controlar.

Se aproximando, percebeu que o carro agora continha um pequeno amassado no para-choque frontal. Por conta disso, não conseguiu descobrir se o motorista estava daquele jeito por conta de uma fatalidade ter ocorrido ali, ou pelo estado do carro depois disso tudo. Talvez os dois.

Maria logo em seguida saiu do carro também. Ela, ao contrário de Miguel, parecia ilesa fisicamente, mas abalada psicologicamente. Seus olhos arregalados deixavam à amostra a expressão de espanto que a garota carregava consigo.

— Você podia ter matado a sua irmã! — Bartolomeu gritava com Miguel.

— Eu só queria me divertir um pouco! — Miguel se defendeu, parecendo não se importar com a situação.

— Oi, eu queria dizer que aquele sanduíche ainda não matou minha fome. — Jean chegou perto enquanto ignorava tudo o que aconteceu.

— Alguém chame um médico! — Uma pessoa que passou correndo perto de Camila gritou enquanto ia em direção ao hospital, a procura de ajuda.

— Vamos ajudar ele, Oliver! — Juliana disse indo na direção do Dr. Leon.

Heliberto ficou parado por um tempo, pensando no que fazer, aparentemente. Então resolveu seguir a garota.

Alguns segundos depois, algumas pessoas vestidas de jaleco branco saíram do hospital e correram na Direção de Leon, empurrando o tumulto de pessoas que se aglomeravam em volta do homem.

Camila decidiu ir ver o ocorrido mais de perto. Saiu de perto de Bartolomeu, que ainda estava aos berros com Miguel, que se encolhia diante de suas palavras. Porém, assim que chegou no local se arrependeu de ter feito tal coisa.

Viu Leon jogado no asfalto; o sangue saindo de sua cabeça. O homem estava virado para cima com os olhos agora vazios e sem expressões aberto, encarando o nada.

Com os olhos arregalados, estava certa de que nunca iria esquecer essa cena. O barulho do impacto do veículo contra o corpo do médico ecoava em sua cabeça, como se estivesse se repetindo várias vezes.

— Melhor você sair daqui. — Escutou a voz de Heliberto dizer, mas não se virou para olhá-lo. — Aprendi na matéria de Himériologia que alguns humanos não conseguem ver outros de sua espécie mortos. E a julgar pelo estado dele, eu diria que ele não está mais vivo. Mas como vocês dizem, ele deve estar em um lugar melhor. — Ele a conduziu para um local que deixava fora de vista o corpo morto de Leon.

— Eu... — Ela piscou, tentando afastar a cena de Leon estirado no chão de seus pensamentos. — ...não sei o que dizer... apenas que, se eu não te conhecesse o suficiente, diria que isso fez parte do seu superpoder de barata. — Tentou dizer de uma maneira descontraída para afastar um pouco da tensão que pairava no ar. — Pensando bem, eu não te conheço o suficiente. Você quem fez isso com ele por ele ter te demitido?

— Quê? Como você sabe?

O olhou assustada.

— Digo, como você sabe que eu fui demitido? Fiquei sabendo por Juliana o que significava essa palavra depois de ela ter me olhado estranho. Eu não lembrava dessa palavra. E olha que sempre fui bom em Língua Humana: Português. Ainda não consigo acreditar que foi seu irmão, bom, não irmão... enfim. Não acredito que foi ele quem fez isso. — Heliberto suspirou. — Na verdade, acredito sim. Esse tipo de acidente acontece muito aqui na sociedade humana. Ou talvez... — Ele levou a mão a boca e arregalou os olhos.

— O quê?

—Estou começando a achar que essa família é uma família de assassinos.

O olhou assustada novamente.

— Não me olhe assim. Bom, Leyla morreu e agora esse garoto matou o Dr. Leão. Acha que foi ele quem matou a Leyla?

— Miguel? Claro que não! É mais fácil ter sido o Bartolomeu. — Camila disse. — E ele tem apenas doze anos, o acidente de hoje foi acidental.

— Que Bartolomeu?

— O motorista. — Apontou para Bartolomeu, que ainda gritava com Miguel, irritado.

— Bem... existem psicopatas de doze anos! Eu aprendi sobre isso na matéria de...

— Himériologia, já entendi. — Revirou os olhos. — De qualquer forma, ele foi o errado mesmo; não devia de ter tentado dirigir um carro. Que tragédia. — Passou as mãos na cabeça de modo que jogaram sua franja e todo o seu cabelo para trás. — Tanta coisa está acontecendo, e só tem uma semana.

— Uma semana e eu já fui demitido só por não saber executar uma função direito! O certo não seria ele me ensinar? Não me leve a mal, Camila, mas o que aconteceu com o Dr. Leão foi merecido.

Camila olhou para Heliberto, espantada com o comentário. Estava cada vez mais convencida de que ele era maluco.

☿ ☿ ☿

O corpo de Leon já havia sido levado para dentro do hospital. Tentaram reanimá-lo, mas sem sucesso. Juliana disse para Camila que o impacto com o chão havia sido muito forte. Miguel foi encaminhado ao hospital para tratar de seus ferimentos enquanto Bartolomeu dava explicações à polícia.

— Eu já disse, eu apenas os mandei ficarem no carro.

— Não é seguro deixar crianças sozinhas no carro! — Um policial disse severamente. — Não só coisas como essas podem acontecer, como sequestro. Irei lhe aplicar uma multa! E terá que comparecer ao julgamento, com certeza a família do médico irá entrar na justiça contra você. — O policial enquanto anotava algo em uma pequena folha de sua caderneta. — Não pense que só porque é motorista de uma das famílias mais importantes do país pode se safar. E já que vocês têm bastante dinheiro... — Ele arrancou a folha e a entregou para Bartolomeu. — ...poderão pagar essa multa. — O policial se retirou.

Bartolomeu olhou para o papel e arregalou os olhos, em seguida, olhou furioso para Camila, o rosto vermelho de raiva.

— Isso tudo não teria acontecido se você tivesse sido mais rápida enquanto fazia sabe-se o que lá dentro. Ou melhor, se tivesse ido para casa quando saíram da escola. Sua mãe vai arrancar a minha cabeça!

Não disse nada. Sabia que a culpa não era sua, mas não conseguia dizer nada. Não encontrava palavras para enfrentar a situação. Um homem havia morrido e ela tinha visto como. Nunca enfrentara uma situação dessas antes.

Antes que a garota pudesse dizer algo, uma mulher de expressão séria, fardada com longos cabelos pretos e lisos presos em um rabo de cavalo e franja apareceu ali.

— Senhorita Scarlett, por que não estou surpresa? — Ela sorriu ironicamente. — Como eu havia dito, eu sabia que não seria a última vez que nos veríamos.

Encarou a mulher. A conhecia de algum lugar. Mas de onde? Após pensar por alguns instantes, se recordou. Era a Coronel que interrogou Carla e Daniel na semana interior por conta de um acidente. Já havia se esquecido do ocorrido.

— Eu disse que ficaria de olho em você e na sua família. — Ela continuou em um tom de aviso. — E agora, outro incidente envolvendo vocês. Isso é realmente interessante.

— Desta vez eu não tive nada a ver com isso. — Camila disse se mantendo firme. Bartolomeu abriu a boca para dizer algo, mas a garota havia sido mais rápida. — Mesmo que algumas pessoas pensem o contrário. — Acrescentou.

A Coronel pareceu perceber a tensão entre Camila e Bartolomeu e analisou os dois rapidamente.

— Há algo que queira me contar? — Perguntou olhando para o motorista.

— Nada que vá lhe ajudar.

— Certo. — Olhou novamente para Camila. — Não preciso dizer novamente que tenho certeza de que essa não será a última vez que iremos nos ver, não é? — Ela saiu dali, lançando lhe um olhar desconfiado.

Bartolomeu guardou o papel que continha a multa no bolso da frente da calça do uniforme, enfiou as mãos dentro de seu casaco e pegou seu celular. Ele discou algum número e levou o aparelho até seu ouvido. Alguns segundos depois ele começou a falar.

— Olá, senhora... então... aconteceu um pequeno acidente e... — Ele deu uma pausa para escutar a pessoa do outro lado da linha. — Eu sei, a última coisa que eu quero é atrapalhar seu trabalho. Mas isso é de extrema urgência. Houve um acidente de carro e uma pessoa morreu, mas não se preocupe, não foi nenhum dos seus filhos, e nem eu, senão eu não estaria aqui falando com...

Ele afastou o celular rapidamente do ouvido, e Camila entendeu o porquê.

Uma voz furiosa e muito alta podia ser ouvida do outro lado da linha. Tão alta que Camila agora podia ouvir o que a mulher estava falando:

— MORTE? COMO ASSIM MORTE? QUEM MORREU? VOCÊ MATOU ALGUÉM? O NOME DA MINHA FAMÍLIA AGORA IRÁ FICAR SUJO POR SUA CULPA, SEU MOTORISTA INCOMPETENTE! EU TE PAGO PARA DIRIGIR, NÃO PARA MATAR PESSOAS!

— Por favor, se acalme. Eu... eu não matei ninguém. — Bartolomeu disse visivelmente assustado. — Fo-foi um dos gêmeos, ele estava...

— COMO ASSIM UM DOS GÊMEOS? ONDE É QUE VOCÊ ESTAVA SEU IMBECIL?

— Eu... eu estava... eu posso explicar, mas...

— NÃO QUERO OUVIR SUAS EXPLICAÇÕES IDIOTAS! ESTÁ DEMITIDO!

— O quê? Não! Espere... — Bartolomeu tirou o aparelho do ouvido. — Ela me demitiu. — Disse sem reação. Seus olhos encaravam o celular.

Sentiu uma pontada de pena do motorista e tentou consolá-lo:

— Bartolomeu, eu sinto mui...

— POR SUA CULPA! — Ele disse, agora com os olhos cheios de raiva, agora encarando a menina.

— Ei! Não fui eu quem matei uma pessoa. — Se defendeu. O sentimento de pena já se esvaíra e fora substituída por raiva.

— Cale-se! — Ele atirou o telefone na direção de Camila, que conseguiu desviar por pouco. Olhou para Bartolomeu, incrédula.

— Já que você foi demitido, não devia sair atirando seu celular por aí, fiquei sabendo que é caro. — Heliberto disse.

Bartolomeu e Camila pularam de susto e olharam para ele.

— Você estava aqui desde quando? Eu não te vi.

— Baratas são muito boas em se esconder.

— Ora, e quem é você? — Bartolomeu perguntou fazendo uma careta de desprezo. — Deixa, não quero saber. — Acrescentou quando Heliberto abriu a boca para falar.

Bartolomeu enfiou as mãos no bolso de sua calça e pegou o papel em que estava anotada a multa. Desdobrou-o, o encarou por alguns segundos antes de fazer uma bolinha de papel e jogar na direção de Camila, que agarrou sem jeito. — Dê isso para sua querida mamãe! — Ele disse novamente com raiva, e foi até o chão atrás de Camila para pegar o celular.

— É melhor sairmos daqui. — Camila disse enquanto puxava Heliberto em direção à entrada do hospital.

— Preciso falar com você. — Heliberto disse passando pelas portas duplas automáticas do hospital, que automaticamente se abriram, deslizando para lados opostos, dando passagem aos dois para entrarem no hospital. Pararam ao lado da entrada antes de Heliberto continuar. — Aconteceu algo muito, muito estranho um pouco depois da morte daquele médico que me demitiu.

— O Dr. Leon?

— Isso. — Ele pareceu nervoso. — Então, não sei como explicar...

— Fala logo Heliberto!

— Não consigo, tenho que te amostrar! — Ele puxou Camila até a direção do elevador, entrou e apertou o botão do décimo andar, que era o último. — Então... antes de tudo, o andar para qual estamos indo, é onde ficam os cadáveres! — Disse quando as portas se fecharam.

— O quê? Por que está me levando para o necrotério do hospital? — Camila perguntou, assustada. Logo um pensamento horripilante passou por sua cabeça, e seu coração acelerou. — Ah! Eu tinha que ter imaginado! Você não é uma barata, você é do governo!

— O quê? Não!

— Você sabe tudo o que aconteceu comigo e agora quer me matar antes que eu conte para alguém! É claro que o governo estaria envolvido em um caso de viagem interdimensional. Eu vou gritar! — Começou a se afastar lentamente dele. — Eu vou ligar para polícia! — Deu uma pausa e arregalou os olhos. — Mas a polícia trabalha para o governo!

— Ei, eu não vou te matar! — Ele olhou para ela com uma careta confusa.

Camila o encarou e suspirou, aliviada.

— Mas você está certa, eu sou do governo.

Arregalou os olhos.

— Como você...

Ele começou a rir.

— Eu não sou do governo, eu nem sei o que é isso. — Ele disse entre os risos.

Estreitou os olhos e pisou com toda sua força no pé de Heliberto, que gemeu de dor.

— Não precisava ter feito isso! Foi só... uma brincadeira... ai!

A porta do elevador se abriu e os dois saíram, Heliberto caminhando com um pé só.

— Se não quiser ter que experimentar a dor humana de novo, é melhor não fazer isso. — Disse em um tom de ameaça.

— E-entendi — Ele disse se apoiando na parede e levando sua mão até o pé.

— Fala o que você queria me dizer.

— Certo. — Ele disse se recompondo. — Então, eu vim aqui para pedir desculpas para o Leão por... sabe, falar que a morte dele foi merecida e por ter causado tanto estresse e alvoroço no hospital dele.

— Você conversou com um morto? Ok, não te julgo, supostamente eu estou conversando com uma barata.

— Eu pensei que eu estava conversando com um morto, mas não estava.

— O quê?

— Eu estava falando com ele, mas então, ele abriu os olhos.

Camila o olhou incrédula.

— O quê? — Repetiu.

— Eu fiquei tão assustado que eu caí em cima de outros corpos por causa do susto. Depois ele se levantou, ficou de pé na minha frente e começou a falar em um idioma que não era o português. E os ferimentos dele, não existiam mais. É como se nunca tivessem existido.

— Espera, isso aconteceu comigo também quando... — Camila parou por alguns segundos. — Você acha que...

— Não só acho como tenho certeza! E tem mais, o idioma que ele falou, foi karitsiano.

O encarou, confusa.

— Ok, que treco é esse?

— É o idioma das baratas.

Ainda o olhava com confusão.

— Vo-você está me dizendo que ele também é uma... barata?

— Isso! E eu o conheço. É o Godofredo. Ele era Coletor que nem eu. Eu não tive tempo de falar com ele, assim que o vi levantando eu fui correndo te avisar.

Isso não podia ser verdade, tinha que ser mais de um de seus delírios. Até aquele momento achava que estava lidando com alguém com distúrbios mentais. Não acreditava de fato que Heliberto era uma barata.

— É sério. — Heliberto tentou convencê-la. — Se não acredita, venha ver você mesma. — Ele pegou no braço da garota e a puxou em direção ao necrotério do hospital.

— Espera! Eu não vou entrar em uma sala cheia de pessoas mortas! — Disse enrijecendo o corpo, não permitindo ser levada.

— Você tem que ver isso! É muito importante. Saber que tem outro de mim aqui me faz ficar mais tranquilo com isso tudo.

Camila puxou o braço.

— Tudo bem, mas para com esse negócio de puxar as pessoas contra a vontade delas.

— Certo. Vamos. — Os dois caminharam até a porta, Heliberto colocou a mão na maçaneta. — Preparada?

— Não.

— Vamos entrar. — Ele abriu a porta.

Viu Heliberto entrar, mas ficou parada na porta.

— Você não vem?

— Eu... e se eles agarrarem meu pé? — Perguntou, receosa.

— Eles não vão fazer nada! — Ele riu e puxou Camila para dentro.

— O que eu disse sobre não... esquece.

Deu uma olhada no local. A sala estava escura, sendo iluminada apenas pela luz que vinha do corredor, pela porta aberta da sala. Viu algo que pareciam serem pessoas deitadas sobre uma maca, com um pano branco as cobrindo. Um calafrio percorreu seu corpo.

Olhou para o outro lado e viu que havia uma pessoa caída no chão com o pano branco sobre si, deixando a amostra apenas um de seus pés pálidos.

— Heliberto... o que é i-isso? — Perguntou apontando para o cadáver, enquanto se encolhia um pouco e dava alguns passos para trás.

— Ah... isso é um dos cadáveres que eu caí em cima, então ele caiu no chão. Vamos continuar, ok?

Resolveu seguir em frente, deu mais alguns passos e decidiu perguntar:

— Ok, cadê o tal do Alfredo?

— É Godofredo. E acho ele sumiu...

— Oi? Como é?

— Um momento. — Heliberto se dirigiu para a porta de entrada da sala, e as luzes do lugar se acenderam. — Eu tinha que ter acendido primeiro, era bem mais fácil. É, ele não está aqui. — Disse ele apontando para uma maca vazia no centro da sala e depois colocando as mãos na cintura, olhando em volta.

— Você está me dizendo que um cadáver sumiu e fica assim, tranquilo?

— Tudo vai se resolver. Será que ele está nessas gavetas? Mas os cadáveres recém mortos ficam na maca..., mas o Godofredo pode ter ficado com curiosidade. — Ele disse se dirigindo para uma das gavetas que estava no lado oposto da sala.

— Heliberto! Esse negócio fica trancado, ele não ia...

— Eu sei o que estou fazendo. — Ele disse pegando um pequeno extintor de incêndio que estava no canto, perto das gavetas. — Vamos na sorte. Escolhe um número, esses negócios são numerados, você prefere números ímpares ou pares?

— O que é que você está pensando em fazer, seu maluco?

— Boa escolha! Vocês humanos têm mania de rotular tudo, até números. Qual era mesmo? Ah! Vinte e dois é o número de maluco! Deixa eu ver... — Ele procurou a gaveta de número vinte e dois, percorrendo o olho em todas elas. — Achei!

— Heliberto!

Heliberto bateu com o extintor na gaveta.

— Por que isso não abre? — Ele continuou batendo. — Por que não está funcionando?

— JÁ CHEGA, VÃO NOS OUVIR! — Camila tentou alertá-lo,mas já era tarde demais. Ela e Heliberto olharam para a porta quando ouviram um"O que vocês estão fazendo?".

Viu um homem alto e negro, de cabelos crespos que trajava um jaleco branco igual ao de Heliberto. Ele lhes lançava um olhar de confusão por de trás dos óculos.

— Oliver, você foi despedido! O que está fazendo aqui? Querendo descontar sua raiva por ter sido despedido destruindo o hospital?

Viquitor! Oi... — Heliberto disse largando o extintor e acenando para o homem.

— É Vitor! Escreve-se Victor, com c, mas se pronuncia Vitor, não Viquitor! Quantas vezes tenho que te dizer? — Ele suspirou e olhou para Camila. — E quem é essa?

— Essa é... uma estagiária nova que está...

— Deixa, eu não quero saber! Mas ainda não me respondeu, o que vocês estão fazendo?

Camila e Heliberto ficaram em silêncio e se entreolharam, assustados.

— Eu venho aqui me encarregar do corpo do Dr. Leon, e me deparo com... — Victor parou e olhou na direção da maca vazia. Em seguida, olhou em volta e arregalou os olhos. — Cadê o Dr. Leon? O QUE VOCÊS FIZERAM COM ELE?

— Pois é... também estamos procurando por ele, acredita? — Heliberto cruzou os braços e deu um sorriso amarelo para o médico, que continuou os olhando assustado.

Alguns minutos depois, a porta do elevador do primeiro andar se abriu. O médico caminhava até a recepção segurando Heliberto e Camila pelos braços, um em cada mão.

— O que aconteceu? — Uma mulher da recepção de cabelos castanhos presos em um coque e com um batom vermelho chamativo perguntou, olhando assustada para eles.

— Esse dois sumiram com o corpo do Dr. Leon! Devem estar querendo tirar os órgãos!

— É um tipo de coisa que eu faria? Talvez! — Heliberto disse. Camila lhe lançou um olhar raivoso. — Brincadeira. Não é o que eu fiz!

— Chame a polícia! E onde estão os seguranças desse hospital? Estou com dois traficantes aqui!

— Nós estamos muito ferrados! — Heliberto gritou, desesperado. — Faz alguma coisa Camila... digo, Leyla. Você quem tem poder aqui.

— Leyla? Leyla Scarlett? — Victor perguntou. — Eu sempre soube que essa gente importante tinha alguma coisa estranha. Estão todos conspirando para roubar nossos órgãos! Eu sempre te avisei, não é, Paulinha? — Ele perguntava para a recepcionista, que o olhava assustada enquanto levava o telefone fixo ao ouvido. — Deve ter sido assim que essa gente ficou rica.

De repente, um grito alarmante foi ouvido vindo de algum lugar próximo. A recepcionista, Paula, deixou o telefone cair de seu ouvido devido ao susto. Victor correu assustado na direção do grito, se esquecendo completamente de Camila e Heliberto, que fizeram o mesmo.

Eles chegaram em uma sala pequena, quase vazia, com exceção de uma mesinha com alguns biscoitos em uns potes em cima.

Camila viu que uma mulher corpulenta que trajava um jaleco branco, estava se encolhendo o máximo que podia no canto da parede em que estava, como se esperando ter o poder de atravessá-la.

À sua frente, um homem estava parado na frente de uma cafeteira, as vestes sujas de sangue. Ele se virou na direção de Camila, Victor e Heliberto.

— Então isso que é café? Eu sempre quis tomar um desses. Muito bom. — Disse o homem segurando uma caneca.

Era Leon.

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