Eu sou acordada logo cedo pelo entusiasmo incomum de John.
-Vamos Anna, acorda logo!- ele me mexe na cama.
-Aí, tá bom, tá bom! Já acordei.- me levanto ainda meio sonolenta.
-Vai rápido que a gente tem horário.- ele dizia já todo trocado colocando um casaco.
Nunca tinha visto ele assim tão preocupado com horários, ele é sempre aquele que levanta mais tarde e ainda reclama. Estanho.
Eu me visto o mais rápido que posso, já que ele estava me infernizando para agilizar, coloco uma roupa simples. Uma calça e uma camisa branca.
-Pronta?- pergunta animado já esperando na porta.
-Claro.- dou um sorriso fraco, estou muito cansada para tentar me animar.
-Eu tenho certeza que você vai amar a surpresa.- ele dava risinhos, eu o abraço de lado e sorrio também.
Ron já estava na porta logo cedo, arrumado como sempre. Entramos no carro, e por algum motivo —que eu já sei qual é— Ron já sabia o caminho.
O trajeto de carro foi silencioso, John roía as unhas ansioso para a chegada.
20 minutos se passaram e lá estávamos nós, em frente a uma casinha cor de rosa. Uma casinha sem graça, meio caída, mas ajeitada.
-O que tem aqui?- pergunto confusa, sem saber oque esperar.
-You'll see.- ele sorri e pega minha mão.- Voltamos em alguns minutos.- avisa a Ron. Ele passava as mãos na nuca como um tique nervoso... Aí meu Deus, sera que? Não pode ser... casamento?
John me guiou até a porta, aonde bateu, uma mulher de meia idade atende.
-Você deve ser John!- ela sorri.
-Sim, sou eu mesmo.- responde.
-Hi, I'm Anna.-me apresento.
-Muito prazer! Entrem, entrem! Estão esperando por vocês.- ela abre um sorriso genuinamente feliz. Oque quis dizer com "estão esperando por vocês"?
Eu descubro assim que entro, lá encontro muitos filhotes de gato.
Eu olho para John assustada, como quem diz "oque viemos fazer aqui?", ele me abre um sorriso enorme.
-Vamos, escolha um!- ele pede gentilmente. Eu arregalo os olhos e um sorriso, não sabia oque dizer! Estava animada com a ideia de poder ter um gato conosco.
-Really?- pergunto ainda desacreditada, fazendo a mulher rir.
-Mentira, eu só vim aqui pra te enganar, não escolhe um gato não, tá?- ele fala sarcástico mas ainda com um sorrisinho no rosto.
Olho bem para todos os gatos, realmente não sei qual escolher já que gostei de todos, mas um chama minha atenção, um gato de pelos cor chocolate e olhos verdes, era aquele, ele seria meu animalzinho.
-Gostei desse.- digo pegando o gato chocolate em meu colo.-Hi kitty.
-hey kitty kitty.- Ele fez carinho embaixo do pescoço do gato.
Dava para perceber que John também estava extremamente animado com a ideia de ter um gatinho.
-Ele é muito lindo, ótima escolha.- a moça diz com um sorriso.-Agora assinem aqui seus nomes e o nome do gatinho.
Ela nos entregou um pequeno papel, estava mais para um certificado. Lá estava escrito, "nome dos donos" e "nome do animal adotado"... nome do animal adotado, qual nome daríamos para ele? Olhei bem para John, que também me olhava com a mesma pergunta pairando em seu olhar.
Nós nos entreolharmos novamente e John indagou:
-Que tal Elvis?-Torci o nariz com esse nome, não acho que combina com o gatinho.
-talvez Picles?- sugeri. Só pelo seu olhar eu já sabia que aquilo era um não.
Nós não sabíamos qual escolher e aquilo já estava nítido, e também sabíamos que se tentássemos iríamos brigar. Ele olhou para mim mais uma vez e pegou a caneta na mão da mulher, e então escreveu: "Gato".
esse era o nome mais burro e entediante que eu havia visto, mas cheguei à conclusão que era melhor colocar algo óbvio do que ficar brigando por nomes com John.
Saímos de lá com o Gato enrolado em uma cobertinha, Ron nos esperava do lado de fora e abriu um sorriso enorme assim que nos viu segurando o bichinho.
-Look at him Ron!- Eu corri para mostrar para meu motorista e amigo.
-Ownt, he's so cute!- ele passou seus dedos grandes na cabeça do Gato, suas mãos eram tão grandes perto do bichinho que chegava a ser bizarro, dei uma risada pensando nisso.
-Acho que precisamos comprar algumas coisas para ele.- John sorriu para o gatinho e entrou no carro.- Antes de ir para casa vamos passar no petshop.- Deu uma ordem a Ron.
-Sim, senhor Lennon.- O motorista concordou entrando no carro.
——-
Voltamos para casa o mais rápido que pudemos, pois não queríamos que o coitado do gato se assustasse com os barulhos da rua, mesmo que tenha ficado todo o tempo dentro do carro com o Ron.
Mesmo indo o mais rápido possível compramos MUITAS coisas, tudo que víamos colocávamos no carrinho.
Então quando finalmente chegamos em casa Ron teve que nos ajudar a levar as sacolas de compra, gastamos todo o dinheiro que não podíamos gastar naquela petshop.
-thanks Ron!- John agradeceu pela ajuda.
-Sempre que precisarem, tchau Ann.- ele acenou para mim.
-tchau!
Assim que Ron foi embora ficamos observando o gatinho se acostumar com o ambiente por mais de uma hora, olhar para ele era incrivelmente incrível. John até fez um chá para podermos assistir ao pequeno bichinho.
Ele era tão pequeno e gordinho, as patinhas tão curtas e minúsculas... Ele era perfeito. Até acho que o Gato ficou com medo de nós, ficamos o tempo todo em cima dele, maravilhados pela bola de pelos.
-É tão bom ser pai de novo.- John suspirou e tomou um gole de chá. Eu ri com o seu comentário.
-Viu? Temos um filho juntos.- ascendi um cigarro.
-finalmente não é mesmo?- ele brincou.
-Shut up.- Eu ri de leve, soltando fumaça.
-Mas agora de verdade Ann, eu gostaria de ter um filho com você.- ele falou com a maior sinceridade que já vira. Confesso que assustei com o comentário, realmente não sabia oque responder, se ele tivesse falado na brincadeira eu até estaria mais calma... Mas quele tom não foi brincadeira. Me acalmei e achei uma saída.
Apontei para meu dedo na mão esquerda, aonde faltava um anel de noivado e fiz uma cara de deboche.
-Who cares?- ele falou em um tom mais brincalhão.
-I do!- respondi rindo.- Mas mesmo assim John, sou muito nova para isso.
-Eu achava que dezessete anos era a idade ideal para o casamento.- ele debochou.
-Só se for para você, porque para mim não é.- eu ri mas com preocupação.- Me diz uma coisa, você pensava em casamento com dezessete anos ?- perguntei e ele parou um pouco para pensar.
-Não com dezessete não.-respondeu simplesmente.
-viu?
-Mas com dezenove sim.- ele parou pensativo em sua xícara de chá.
-Com... com quem?- uma pontada de ciúmes em meu peito, um ciúmes desnecessário, por que estaria com ciúmes de algo que já aconteceu e não voltará mais?
-Com você ué.- ele deu de ombros. Aquele sentimento ruim em mim se dissipou para alegria.- Te conheci com dezenove.- sorriu para mim, um sorriso meio tímido.
-oh...
-Não se lembra de quando eu te pedi em casamento na Alemanha?- ele deu uma risada leve. Memórias invadiram a minha mente, aquele dia no hotel.
-Me lembro sim.- não conseguir conter um pequeno riso.
-Eu realmente queria casar com você naquela época, não sei mas eu só sentia que deveria...- falou sério.- Mas você disse não, idiota.- ele revirou os olhos e riu.
-Talvez eu fale sim da próxima vez que perguntar.- dei de ombros. Seus olhos se iluminaram e ele escondeu um sorriso.- Só não faz isso agora, por favor.- pedi rindo.
-Ok prometo!- ele levantou os braços como estivesse se rendendo.
——-
Semanas se passaram e julho já estava aí, o mês da première de a hard day's night, eu e john tentávamos convencer Brian para podermos aparecer juntos ao público pela primeira vez.
Então no dia dois desse mês, nós partimos para o apartamento do Brian, esperando que ele concordasse conosco... Senão John ficaria bolado por não ter o apoio dele.
Chegamos em seu apartamento e tivemos uma boa conversa casual enquanto tomávamos chá e comíamos muffins.
Até que John trouxe o tão esperado assunto a conversa.
-Brian, oque você acha de eu levar a Anna para a première?- ele perguntou tragando em seu cigarro.
Sabíamos que o empresário estava relutante quanto a essa ideia.
-não acho que seria algo inteligente de se fazer, ainda mais se querem ter privacidade.- ele diz.
Mas era óbvio que não estava preocupado apenas com isso, seu lado amigo queria nos proteger e nos dar privacidade, seu lado agente não queria que John aparecesse com alguém no auge de sua carreira.
Mas John ficou meio irritado como sempre fica...
-Eu cansei de ter que esconder Brian, e é óbvio que já suspeitam de algo.- disse.
E era verdade de uns meses pra cá as revistas teens estavam loucas para descobrir se John estava saindo com alguém, o perseguia para todos os lados.
-É só você ler as revistas, todas só falam disso.- entrei na conversa.
-Eu sei, leio as revistas.
-Você me privou por tanto tempo, tive que esconder a Cyn por anos, esconder meu filho... Não quero esconder ninguém dessa vez.- John tragou seu cigarro e balançou a perna impacientemente.
-Eu sei John e concordo com você... Mas logo agora?- ainda relutante.
-For god's sake Brian!- John reclamou impaciente.
-Bri, minha carreira de modelo depende de algo assim para eu poder ficar famosa, segundo Michael preciso de um "Boom" social... E bem, eu já namoro o John faz um tempo. - eu sabia que se falasse sobre negócios e fama Epstein se renderia.
-Se ela não for, eu não vou.-John disse, algo radical demais, uma medida muito precipitada, mas houve resultado. Brian suspirou.
-Ok, vocês podem ir juntos, desde que arquem com as consequências.-Brian coçou a nuca.
-Eu iria mesmo sem a sua autorização, sabe disso não sabe?- John abriu um sorriso travesso.
-Claro que eu sei.- Respondeu com um sorriso correspondente.
Eu estava aliviada por ter a autorização dele, John também estava feliz dava para ver em seus movimentos mais leves e contínuos. Além disso fico feliz por não ter jogado dinheiro fora com o vestido novíssimo que comprei exatamente para esta ocasião.
——-
Eu e meu namorado estávamos planejando nossa chegada juntos para aquela curta noite haviam semanas, na verdade eu estava muito mais preocupada que ele... Nós dois compramos um vestido novinho em folha para mim na semana passada, eu até planejei oque contaria aos jornalistas quando perguntassem como nós nos conhecemos... Óbvio que as histórias contadas sobre isso não passariam de mentiras deslavadas para não suspeitarem da minha origem, mas eu realmente não ligo desde que possamos finalmente andar juntos por aí... Esse era um sentimento mútuo entre mim e John.
Minha mente não conseguia conter o passar e repassar de manchetes, capas e anúncios que seriam feitos após minha aparição com John... Oque diriam? "O mais novo casal...";
"A sensação entre os jovens..."; "John Lennon está namorando!";
"Jovem garota que namora John Lennon"; "garota jovem demais para John Lennon"; "fãs odeiam a nova namorada de..."
Minha mente não parava, estava a milhão... A ansiedade não me deixava nem dormir direito, nem mesmo com John ao meu lado.
Mas eu finalmente cumpriria minha promessa ao Michael, e ele com certeza ficaria satisfeito, satisfeito por ser o homem que guia a carreira da namorada de um Beatle... mesmo sendo eu que guio a minha própria carreira.
———
O dia da première chegou rápido.
Acordo com o som dos pássaros ao lado de fora, aquele som irritante de patinhas na beira da minha janela... Filhos da puta.
Esfrego os meus olhos com ódio e logo percebo que no criado mudo há um pedaço de papel.
"Te vejo hoje a noite, não vejo a hora de tirar aquele vestido lindo —que compramos— de seu corpo... Yours, Lennon."
Me pego sorrindo a aquela carta vulgar e meu dia já começa a melhorar... Tirando o fato da extrema ansiedade e joelhos tremendo e dentes batendo.
Será que hoje será um fiasco?