Endossimbiose | Versão Em Por...

由 ElisMariangela

1.2K 59 1

Donecea Gaxy, uma iátrica determinada, se junta ao ardiloso e charmoso Arkadi Phaga para alcançar o núcleo da... 更多

Capítulo 1. Pacientes
Capítulo 2. História da Doença Atual
Capítulo 3. Parasitas
Capítulo 4. Emergência
Capítulo 5. Alta
Capítulo 6. Difusão
Capítulo 7. Proteassoma
Capítulo 8. Recaptação
Capítulo 9. Mitocôndria
Capítulo 10. Toxicologia
Capítulo 11. Anemia
Capítulo 12. Sepse
Capítulo 13. Hemorragia
Capítulo 14. Nó de Sutura
Capítulo 15. Instinto
Capítulo 16. Descamação
Capítulo 17. Hereditariedade
Capítulo 18. Convergência Evolutiva
Capítulo 19. Cicatrizes
Capítulo 20. Endorfina
Capítulo 21. Linfonodo Sentinela
Capítulo 22. Evolução
Capítulo 23. Cremação
Capítulo 24. Crisoterapia
Capítulo 25. Células
Capítulo 26. Comorbidade
Capítulo 27. Memórias
Capítulo 28. Dor
Capítulo 29. Luto
Capítulo 30. Subcutâneo
Capítulo 31. Olhos
Capítulo 32. Humanos
Capítulo 33. Mãos
Capítulo 34. Medo
Capítulo 35. Ansiedade
Capítulo 36. Pressentimento
Capítulo 37. Tremor
Capítulo 38. Inconsciência
Capítulo 39. Consciência
Capítulo 40. Necrose
Capítulo 41. Cicatrização
Capítulo 42. Sede
Capítulo 43. Ruminação
Capítulo 44. Solidão
Capítulo 45. Fúria
Capítulo 46. Digestão
Capítulo 47. Enterro
Capítulo 49. Coração
Capítulo 50. R.E.M.
Capítulo 51. Ouvidos
Capítulo 52. Cura
Capítulo 53. Latência
Capítulo 54. Febre
Capítulo 55. Necrotério
Capítulo 56. Apoptose
Capítulo 57. Metástase

Capítulo 48. Fadiga

20 1 0
由 ElisMariangela

Venerna estava morta.

E nós estávamos perdidos pela imensidão, uma frota de nômades rodeados por tudo e por nada, viajando sem rumo pelo espaço.

Na Hasta, um silêncio sólido tomava o ar, cheio das perguntas que não sabíamos responder. O que faríamos agora? O que seria da revolução? Onde poderíamos nos esconder se os Áulicos estavam em todo lugar, espreitando cada um dos nossos movimentos? Não havia para onde fugir.

Korrok estava sentado na cadeira do piloto, envergado sobre o painel. Ele tinha feito tanto para que aquela cidade se erguesse da poeira, tantos esforços e sacrifícios... Apenas para ter de sufocá-la e abandoná-la nas profundezas de um mar negro. Nós tínhamos nos erguido tão alto, para então cair; cada deslize tão doloroso que nos levaria a um final irrecuperável se falhássemos mais uma vez.

E então não haveria mais ninguém para carregar alguma esperança.

Depois de alguns noxdiems viajando, Korrok conseguiu recuperar a nave que Bleine um dia nos deu e eu estacionei a Hasta dentro dela. A primeira coisa que fiz ao desembarcar naquela gigantesca arca foi escapar de todos e procurar por uma banheira. Eu não estava sujo, exatamente, depois de ter sido refeito pelo fevino, mas não me sentia limpo... Havia muito nas minhas profundezas que eu queria lavar.

Encontrei uma banheira de mármore branco embutida no chão de um banheiro da nave e a enchi com água, mais fria do que eu esperava. Mergulhei despido no líquido, a cabeça recostada no batente atrás e a mente voando além, cheia de memórias que quase podiam manchar a água com a escuridão dentro de mim.

Havia mais que eu pudesse ter feito na batalha de Venerna para salvar algo ou alguém? Havia algo que eu poderia ter feito antes de Venerna, na primeira vez em que não fiquei para lutar quando deveria?

Por que eu corri? Tudo poderia ter sido tão diferente se eu tivesse ficado... Talvez eu tivesse morrido; ou talvez tivesse vivido uma vida inteira sem a sensação de que tinha perdido mais do que jamais poderia recuperar.

Prendi a respiração e escorreguei para baixo, deixando a água me envolver em uma escuridão sedutora. Era quase como se ela fosse uma barreira, que nenhum daqueles pensamentos conseguia atravessar para me alcançar; era o que eu precisava. Eu só queria morar nela; adormecer nela; e nunca mais acordar dela...

Mas eu estaria fugindo de novo.

Deixei que lembranças melhores fizessem morada na minha mente, antes que eu tivesse desejos perigosos demais. Sons distantes me alcançaram do passado: a risada de Doxy, as conversas animadas ao redor da fogueira no topo da encosta, brindes, promessas, uma vida inteira que tinha me passado quando achei que já não estivesse vivendo mais...

Voltei para a superfície e me vi encarado pela determinação nos olhos do meu próprio reflexo sobre o mármore.

Eu não fugiria de novo.

Uma batida na porta me trouxe de volta para a realidade e o rosto de Doxy surgiu pela brecha.

– Ocupado? – Ela perguntou.

– Não para você.

Com um sorriso e passos cautelosos Doxy entrou no ambiente, fechando a porta às suas costas.

– Como está se sentindo?

– Bem demais para um homem que deveria estar morto... – Sorri.

Doxy se sentou às bordas brancas da banheira e me encarou com um sorriso de canto ao perceber que eu não estava vestido. Minha expressão espelhou a sua por um instante, mas então meus olhos caíram nos desenhos que se estendiam das pontas dos seus dedos até o cotovelo.

Korrok tinha me contado o que ela fez para me salvar; me contou das mãos dela batendo meu coração e das cicatrizes que deixou na sua pele para me resgatar de um oceano ácido. Doxy tinha me dado mais valor do que eu achava ter por inteiro, e, agora que eu a encarava, não sabia se era capaz de mensurar o quanto eu me daria por ela também.

– Obrigado por não desistir de mim. – Sussurrei. – Mas seu braço... – Estiquei minha mão para pedir pela sua e ela diminuiu a distância entre nós, me entregando seus dedos. Tomei-os com toda a delicadeza, como se cada cicatriz fosse uma rachadura ou um remendo das bordas rasgadas por mim, e guiei meus dedos pelas linhas até onde sumiam no cotovelo.

E pensar que a minha existência fora o que a levara a sentir a dor daquelas linhas, agora impressa na sua pele... Minha culpa.

– Essa cicatriz vai guardar uma ótima história para contar depois... – Ela sussurrou e o sorriso que eu abri em resposta não atingiu os olhos.

– Eu trocaria meu braço pelo seu, se pudesse...

– Acho que seu braço não combinaria muito com o resto de mim. – Ela brincou e se afastou da borda da banheira.

Sua expressão era como a substância viscosa de uma planta carnívora, prendendo o meu olhar. Lentamente ela moveu os dedos para os ombros e deslizou as roupas por suas curvas, formando uma pilha no chão. Fui hipnotizado pela sua pele exposta, pelas formas delicadas, as cores, as texturas, e me vi incapaz de desviar o olhar; mas algo na confiança estampada no rosto dela me dizia que fugir da visão não era o que ela queria que eu fizesse.

Seus pés testaram a água e, lentamente, ela mergulhou, escondendo seu corpo abaixo da superfície.

– Você entendeu o que eu quis dizer... – Sussurrei, minha voz falhando por um instante. – Não é justo que você carregue essa lembrança, enquanto eu estou aqui... Sem cicatrizes...

Ela sorriu e diminuiu a distância entre nós.

– Se fosse uma questão de justiça, não teria sido justo que eu o deixasse morrer para evitar uma mera cicatriz. – Doxy deu de ombros. – E eu acho que posso me acostumar com ela, eventualmente.

– Ela a deixa mais intimidante.

– Está com medo de mim, Arkadi Phaga?

Abri um sorriso e tomei seu rosto, os dedos entre as mechas da sua nuca.

– Se eu fosse o tipo de homem que se assustasse assim tão fácil, você não teria me salvado.

Doxy se aproximou um pouco mais, suas mãos navegando pelas ondas do pouco de água que ainda nos separava e então pelas dos meus cabelos. Em cada ponto onde ela me tocava seu toque se impregnava, tentando decifrar meus pensamentos e se cravando neles para sempre.

Por um momento me deixei observar suas superfícies e profundezas, cuja gravidade era impossível de escapar. Doxy estava tão encantadora como quando a vi naquele hospital pela primeira vez, envolvida por uma aura luminosa sobre meu corpo ferido e cansado.

Mas agora eu via que existia uma escuridão nela...

E talvez por isso ela conseguisse suportar a minha.

Suas feições pareciam ingênuas, mas no seu olhar havia uma ferocidade que apenas tinham os seres em que se não deve confiar. Aqueles eram os olhos de alguém que conhecia a morte o suficiente para saber como trazê-la; os olhos daqueles que usavam as próprias tempestades contra os navios de seus inimigos... E, por mais que seu rosto me mostrasse o paraíso, nos seus olhos eu caía no inferno.

– Eu não me arrependo... – Ela sussurrou, como se eu valesse a pena qualquer dor. E, abrindo um sorriso perspicaz: – Mas você tem que fazer meu sacrifício valer a pena.

– Você não precisa pedir. Eu nunca vou virar as costas para você, como fiz com tantos outros...

Ela entortou a cabeça, curiosa, e tocou meu braço com delicadeza.

– Quem?

Engoli em seco e inspirei fundo até que a resposta cambaleasse para fora:

– Meu pai...

– Quando ele foi assassinado por culpa dos Áulicos?

Confirmei com a cabeça em silêncio e enfim criei coragem para contar, pela primeira vez, o que tinha acontecido...

Há muito tempo meu pai descobriu como eram construídos os enxames que coletavam energia para abastecer o poro da Terra e então passou a fazer os seus, entrando no mercado ilegal de energia. Aquela era uma prática perigosa, mas, como tudo que é proibido, era extremamente valiosa, ao ponto de que nos deu comida para preencher os espaços entre as nossas costelas. Um dia, meu pai chamou a atenção de um mercado extraterrestre e passou a vender os cartuchos para aqueles seres perigosos, mas ele não fazia perguntas, porque tudo que importava era eu, minha mãe e meus irmãos, para que nunca que tivéssemos sentir de novo a falta de nada.

Em alguns anos, eu comecei a me envolver com os negócios interestelares dele para ajudar a família. Não demorei muito para aprender a construir as máquinas de coleta de energia que enviávamos para os sóis de Ítopis, a consertar o que se quebrava na Hasta, a explorar o vazio do espaço e a lidar com os saqueadores... Os primeiros que já receberam um disparo meu. Ainda hoje me lembro do olhar do meu pai quando cheguei em casa naquele dia, um que entendia o que eu tinha feito, porque aquilo – não a morte, mas a coragem de enfrentá-la – era a única coisa que me levaria onde esse universo não queria me deixar ir.

Inevitavelmente eu descobri que a energia que meu pai vendia para os seres de outros mundos era para a revolução contra os Áulicos, mas eu não ligava. Tudo que eu estava fazendo era pelos meus irmãos, pelos meus pais, por mim, e não por alguma causa interestelar maior do que nós.

Um dia meu pai me pediu para ficar na Hasta, enquanto ele negociava com os criminosos da revolução, e avisá-lo se os guardas do Império estivessem se aproximando nos radares. A nave estava escondida em uma espécie de caverna, engolfada em escuridão. Eu fui estúpido o suficiente para acreditar que sempre haveria como fugir, que sempre teria um dia seguinte para explorar, que tudo ficaria bem... Mas então vi os guardas no radar e avisei para meu pai pelo comunicador.

Os guardas já chegaram atirando.

Me abaixei atrás do painel da Hasta, os disparos voando à frente e inundando meus ouvidos. Os criminosos tentaram revidar, mas fugiram quando as forças do Império avançaram, deixando meu pai para trás. Ele correu para a Hasta o mais rápido que conseguia, mas, antes que pudesse se aproximar, um dos disparos atingiu sua perna e o derrubou ao chão. O impulso de correr até ele explodiu em mim e eu me levantei atrás do painel, mas meu pai balançou a cabeça para os lados, me forçando a me manter escondido.

As forças do Império se espalharam pela região e dois guardas de espécies distintas abordaram meu pai. Pelo comunicador dele, sincronizado à Hasta, eu consegui ouvir cada som do lado de fora e vi um dos guardas se aproximar do meu pai. A criatura o chutou ao lado para ver seu rosto e os grunhidos de dor do meu pai tomaram o silêncio vazio da Hasta. Meus dedos estalaram, conforme eu me agarrava mais e mais à lataria da nave entre o impulso de avançar e o medo de falhar, e ficando no lugar porque era aquilo que o olhar do meu pai implorava.

Uma das criaturas falou para a outra, em uma língua que, por acaso, eu conhecia palavras suficientes:

– Ele está ferido. A gente o leva para o hospital mais próximo?

E o outro ser respondeu:

– Ele é humano. – O mundo inteiro parou. – Que diferença faz?

Então o Império apertou o gatilho na cabeça do meu pai.

Antes os humanos pensavam que estavam sozinhos no universo.

E agora eu sabia que estávamos.

Doxy lentamente se aproximou e me envolveu com seus braços, me fazendo sentir como se nada de ruim jamais pudesse acontecer comigo enquanto eu estivesse neles. Mergulhei o rosto na curva do seu pescoço e perdi a noção do tempo em que permanecemos ali, calados, apenas inspirando a presença um do outro e tentando, com todas as forças, escapar um pouco de toda a dor.

• • • ֍ • • •

Algumas noites depois que tínhamos nos estabelecido na nave, Korrok organizou um banquete que prometeu ser suficiente para recuperar as energias da revolução, mas eu duvidava que ele mesmo acreditasse naquilo. Juntamente com as horas, as bebidas chegaram e os seres se aglomeraram no salão principal, transformando aquela noite de derrotados em uma grande celebração.

Para onde se olhava, não se viam as tristezas que os Áulicos antes causaram; não existiam mais famílias destruídas nos seus passados ou dores além daquelas nas suas feridas ainda não cicatrizadas; não existia nada senão um alívio e uma certeza, ainda que temporária, de que o amanhã não importava, agora que tínhamos conquistado o hoje. Encarei o banquete estendido de canto a canto no vasto ambiente da nave e não consegui me impedir de sentir aquele embrulho no meu estômago, ao ver festejarem os que sobreviveram depois que tantos morreram.

Pulei de susto quando Korrok tomou os meus ombros. O vorrampe gargalhou, mais leve do que o normal, carregando uma alta taça com um líquido vermelho que eu não sabia ser vinho e outra com uma bebida clara que me ofereceu.

– Coma e beba, Phaga!

– Não, obrigado. Não estou com fome... – Murmurei.

– A bebida não está envenenada, se é isso que quer saber. – Ele rosnou com um sorriso afiado. – Achei que tinha aprendido a confiar em mim.

– Eu não confio em ninguém.

– Você adoraria. – Ele riu. – Mas você tem seu ponto fraco. – E então apontou com a taça sangrenta para Doxy, presa do outro lado do salão na conversa embriagada de Lupan. – Eu percebi que ela o deixa... Motivado.

– Não fique sentimental comigo ou eu vou socar um dos seus olhos bons. – Resmunguei. Só humanos podiam ser sentimentais; e nem sempre.

– Você sabe que eu estou certo. – Enviei-o um olhar de canto. – Ela trouxe um pouco de você de volta... E, se eu soubesse que tudo que você precisava era de um animal de apoio, eu o teria arrumado um outro muito antes. – Soquei seu braço, ao que Korrok apenas se inclinou para trás e gargalhou.

– Vou resgatá-la de Lupan. – Avisei. – Ele deve ter começado a falar daquelas coleções de ossos dele de novo. – E, quando Lupan começava a falar daquilo, ele não calava mais a boca.

Korrok confirmou e, quando me afastei, ele disse para as minhas costas:

– Continue motivado, Phaga, porque ainda precisamos de você para recuperar o nosso Império.

繼續閱讀

You'll Also Like

1.5M 120K 83
Livro 2 já está disponível no perfil💜 𝐁𝐞𝐦-𝐯𝐢𝐧𝐝𝐨𝐬 𝐚𝐨 𝐔𝐧𝐢𝐯𝐞𝐫𝐬𝐨 𝐝𝐞 𝐋𝐚𝐮𝐫𝐚 𝐒𝐭𝐚𝐫𝐤! ⚛ Em Júpiter, um cientista instalou uma...
5.6K 792 26
Primeiro livro da trilogia M O R T I U M. A cura para uma civilização está na extinção dos humanos. Olivia Merlim foi assassinada, mas seres de outro...
28.8M 915K 49
[BOOK ONE] [Completed] [Voted #1 Best Action Story in the 2019 Fiction Awards] Liam Luciano is one of the most feared men in all the world. At the yo...
3.8K 270 12
"Duas pessoas, uma escolha" Somos almas condenadas.