Endossimbiose | Versão Em Por...

By ElisMariangela

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Donecea Gaxy, uma iátrica determinada, se junta ao ardiloso e charmoso Arkadi Phaga para alcançar o núcleo da... More

Capítulo 1. Pacientes
Capítulo 2. História da Doença Atual
Capítulo 3. Parasitas
Capítulo 4. Emergência
Capítulo 5. Alta
Capítulo 6. Difusão
Capítulo 7. Proteassoma
Capítulo 8. Recaptação
Capítulo 9. Mitocôndria
Capítulo 10. Toxicologia
Capítulo 11. Anemia
Capítulo 12. Sepse
Capítulo 13. Hemorragia
Capítulo 14. Nó de Sutura
Capítulo 15. Instinto
Capítulo 16. Descamação
Capítulo 17. Hereditariedade
Capítulo 18. Convergência Evolutiva
Capítulo 19. Cicatrizes
Capítulo 20. Endorfina
Capítulo 21. Linfonodo Sentinela
Capítulo 22. Evolução
Capítulo 23. Cremação
Capítulo 24. Crisoterapia
Capítulo 25. Células
Capítulo 26. Comorbidade
Capítulo 27. Memórias
Capítulo 28. Dor
Capítulo 29. Luto
Capítulo 30. Subcutâneo
Capítulo 31. Olhos
Capítulo 32. Humanos
Capítulo 33. Mãos
Capítulo 34. Medo
Capítulo 35. Ansiedade
Capítulo 36. Pressentimento
Capítulo 37. Tremor
Capítulo 38. Inconsciência
Capítulo 39. Consciência
Capítulo 40. Necrose
Capítulo 41. Cicatrização
Capítulo 42. Sede
Capítulo 44. Solidão
Capítulo 45. Fúria
Capítulo 46. Digestão
Capítulo 47. Enterro
Capítulo 48. Fadiga
Capítulo 49. Coração
Capítulo 50. R.E.M.
Capítulo 51. Ouvidos
Capítulo 52. Cura
Capítulo 53. Latência
Capítulo 54. Febre
Capítulo 55. Necrotério
Capítulo 56. Apoptose
Capítulo 57. Metástase

Capítulo 43. Ruminação

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By ElisMariangela

Terceiro círculo do Império
Venerna

Doxy correu pelas escadarias torre acima, mas eu não podia deixá-la sozinha naquele estado e naquele universo de monstros. Avisei para Korrok que eu ia tomar a nave e a ofereci levá-la de volta para Venerna, o que Doxy aceitou com relutância e, assim que nos aproximamos do topo da encosta, ela murmurou:

– Eu preciso descer... Preciso respirar...

Estacionei a nave sobre a grama e Doxy tropeçou para o vento furioso que soprava no descampado nublado. Eu a segui para fora da nave, meus olhos tomados pela luz dos raios que explodiam no mar e meus ouvidos pelos trovões na tempestade que se formava. Será que era aquilo que estava acontecendo na mente dela também?

– Eu não sabia que era ela, Doxy... – Tentei. – Se realmente foi ela.

– Teria importado? – Ela parou e me enviou um olhar severo por sobre o ombro. – Se soubesse que era Gaxy, teria se impedido de apertar o gatilho?

– Não. – Confessei; e então ela voltou a andar para longe. Talvez, se eu soubesse que estava mirando em uma Áulica, eu tivesse vivido com menos culpa... – Mas, se eu soubesse que tinha sido ela, não teria escondido de você.

– Obrigada pela honestidade. – Ela não soou agradecida. – Mas isso não muda o fato de que você matou alguém!

– Você não estaria tão irritada se não existisse a possibilidade de ter sido ela! – Rosnei, apenas para atingi-la, e a dor nos seus olhos me fez instantaneamente me arrepender daquilo. – Eu não tive opção, Doxy... Ou eu entrava para a revolução, ou era devorado pelos coletores... Eu nunca teria feito aquilo se tivesse outra alternativa...

Não tinha existido um instante em que eu não me odiara pelas minhas ações; não passara um momento em que eu não me perguntara o que teria sido da minha vida se eu nunca tivesse apertado aquele gatilho... Talvez eu nem estivesse respirando mais; ou talvez estivesse muito longe dali, sem o peso de tomar uma vida na minha consciência...

Muitas vezes eu me vi sonhando que a minha vítima tinha sido um grande e terrível assassino, em uma tentativa de diminuir a sensação de que eu tinha cometido um erro... Mas, no fundo, eu sabia que tinha matado um inocente, uma engrenagem que precisava ser descartada para que aquela maquinaria que nos aprisionava continuasse funcionando. Às vezes eu me via pensando que estava só cumprindo com a minha função, mas aquilo nunca me ajudou a dormir melhor a noite. Ninguém tinha movido meu dedo ao redor do gatilho; aquela fora a minha escolha, meu erro, meu fardo para carregar...

Eu esperava que, quando partisse, tudo aquilo ficasse para trás, mas algo me dizia que não importava para onde fosse, eu jamais conseguiria escapar do que minha vida tinha se tornado: um eco daquele silêncio insilenciável, tatuado no meu cérebro em uma marca com o qual eu tentara aprender a viver, apenas para descobrir que não era vida o que eu estava fazendo.

– Eu sei que, para você, cada vida vale mais que tudo, mas às vezes vidas são o preço para se viver mais um dia nesse Império! – Gritei, tentando ser ouvido além dos trovões. – Me desculpe se você é tão perfeita ao ponto de...

– Eu matei um soldado no Distrito de Veneno!

Parei, abaixo da voz dela, do rugido dos trovões e do oceano de obsidiana chocando-se contra a encosta de pedra. Nuvens negras de tempestade acinzentavam o céu, relâmpagos brilhavam no horizonte onde mar e nuvens se misturavam e ventos furiosos varriam nossos cabelos. Era impossível de definir o que era mais caótico: a tempestade acima ou ela.

– Eu o matei com as minhas próprias mãos... – Ela confessou, encarando seus dedos como se eles fossem feitos de pura morte e dor. – Tentei curá-lo do controle da rebelião com o meu sangue, mas isso o matou... Porque é para isso que eu estou aqui...

– Você tentou... Sabotar a revolução? – Eu não conseguia acreditar... Tanto esforço para se juntar à causa pela qual eu lutava, apenas para tentar destrui-la?! Tantas promessas de um Império melhor, apenas para tentar combater os únicos que estavam lutando para alcançá-lo?! – Eu deveria entregá-la... Eu deveria mostrar as memórias dessa conversa para Korrok...

– Você pode conseguir o dinheiro de outro jeito... – Ela rosnou, os dentes e punhos cerrados como se prestes a atacar. – Você não precisa se vender para essa maldita rebelião! Ela está matando soldados! Destruindo vidas inocentes!

Então eu gritei, tão alto que as ondas furiosas do oceano contra a encosta foram menos tempestuosas do que eu:

– Os Áulicos tomaram a MINHA VIDA! Tudo que eu quero é que eles sejam destruídos!

– E para isso você se livraria de mim?!

– Você não faria diferente!

Doxy lançou seu corpo sobre mim e prendeu meus antebraços contra a grama, formando uma cortina negra ao nosso redor com os seus cabelos. Tentei empurrá-la, mas ela derramou sua toxina sobre mim, me pintando com o violeta que reluzia a cada descida dos relâmpagos e paralisando meu corpo abaixo do seu. Os joelhos dela envolveram a minha cintura, me fazendo sentir suas coxas onde eu mais as queria... Mas não agora! Odiei a adrenalina que pulsava pelo meu corpo, confundindo a raiva com outras coisas.

– Se você ficar no meu caminho, eu vou transformar a sua vida nesse inferno de que você tanto fala! – Ela rugiu.

– ELA JÁ É! – Nós estávamos espumando, entre chão, mar e céu, minha respiração ofegante se misturando à dela naquele silêncio que se ergueu quando, exaustos e vencidos, percebemos que o inferno era ali mesmo, no universo em que nos odiávamos. – Tudo que eu quero é sair dele...

Toda a raiva no rosto dela se derreteu. Doxy soltou meus antebraços, quase como se eles estivessem em chamas abaixo do seu toque, e soltou um longo suspiro.

– Nós temos guerra nas veias, Kadi... – Ela apertou os lábios por um instante. – Podemos ser tão destrutivos um para o outro...

– Eu não quero isso... – Lentamente ergui meu braço, começando a se libertar do efeito da toxina, e o levei para o rosto dela. Doxy hesitou por um instante, como se eu estivesse tentando apertar seu pescoço, mas, quando viu o que estava nos meus olhos, ela encaixou seu rosto na minha mão. – Não vou entregá-la, Doxy... Eu deveria, pela revolução... Mas não vou.

Eu a deixaria destruir a rebelião inteira e os meus planos, se ela quisesse...

– Por quê?

– Porque eu não quero perdê-la. E cada vislumbre que tenho disso dói mais do que qualquer coisa... – Sussurrei, meu coração disparando no peito. – Você é mais importante... Mais importante do que uma vingança que não mudaria o meu passado, mais importante do que os pesos na minha consciência... Você é a primeira coisa que realmente vale a pena, depois de tanto, tanto tempo...

Ela perdeu o fôlego, aquela mulher que eu nunca tinha esperado desejar, mas que agora era mais importante do que tudo que eu tinha desejado antes... Doxy se inclinou sobre mim e encostou sua testa à minha.

– Você também é importante para mim, Kadi... Assim como esse Império que queremos salvar. – Ela sussurrou. Então eu chegava aos pés do Império aos olhos dela? Estava lisonjeado. – Nós vamos vencer essa guerra e destruir os Áulicos com ela, Kadi... E, se precisamos da revolução para isso, eu não vou tentar sabotá-la de novo... – Doxy prometeu, se perguntando se estava cometendo um erro em entregar Ítopis aos braços da revolução, apenas para que saísse dos do Aulicado. – Mesmo que seus líderes tenham sido os responsáveis pela morte da minha mãe...

Ergui uma sobrancelha.

– Mas os culpados não foram os Áulicos?

– Eu não tenho mais certeza... Existem tantos segredos e mentiras...

– Por isso que você achou que eu a tinha assassinado? – Ela confirmou com a cabeça devagar.

– E ainda não sabemos se isso é verdade mesmo ou não...

Encarei-a nas profundezas dos olhos.

– Quer descobrir?

• • • ֍ • • •

Naquela noite caminhamos por Venerna com a missão de descobrir o verdadeiro responsável pela morte da mãe de Doxy; e quem estivera na outra ponta do meu disparo. Fomos até um dos cômodos escavados da pedra, um tipo de armazenamento para tralhas que a rebelião não julgava importante, e encontramos a máquina que estávamos procurando: aquela que se conectava a cérebros com fios e agulhas para ler suas mais secretas memórias. Nos armamos até os dentes e adentramos silenciosos na escuridão do quarto daquele ser que procurávamos...

Mas a sua cama estava vazia.

– Eu consigo sentir o cheiro de sangue humano e armas a quilômetros... Vocês não acharam mesmo que me pegariam desprevenido, não é? – Korrok sibilou, emergindo da escuridão do ambiente com o poder da sua estatura.

– Não viemos machucá-lo. – Avisei.

– Fale por você. – Mas Doxy rosnou, os olhos cravados no vorrampe e sua arma apontada para a cabeça dele. Como eu iria impedir que eles se matassem? Aquilo estava começando a parecer uma péssima ideia... – Eu quero respostas. E não me importo de usar força para consegui-las.

– E não teremos de usá-la se você responder as nossas perguntas, Korrok. – Falei para as presas no rosto do vorrampe, me segurando para não ter de levantar a minha arma.

Ele se sentou em uma cadeira e sibilou, abrindo um sorriso que me confirmava o quanto aquilo era uma péssima ideia:

– Perguntem então... Não guardo segredos dos meus amigos.

– Eu me certificarei disso. – Doxy ergueu o leitor de memórias, ruindo o sorriso de Korrok. Qualquer mentira que ele estava planejando nos contar, sabia que já não podia mais. Seu corpo se contorceu desconfortável na cadeira quando Doxy se aproximou, e eu segurei minha arma com mais força, caso ele tentasse algo contra ela. – Você mandou que matassem a minha mãe?!

– Não.

– Se estiver mentindo, nós vamos descobrir. – Relembrei-o. – E então eu não vou conseguir impedi-la de matá-lo.

– Gaxy era útil. – Korrok continuou, ênfase em cada palavra. – Eu sugeri ao metriona que a contaminasse, que a desse a sugestão de se unir a nós, mas ele tinha outros planos...

– Então o metriona a matou?

– Eu nunca vi o corpo, mas ele disse que Gaxy estava morta; e ela desapareceu do Império... Então é nisso que eu acredito.

Tinha sido metriona... Não Korrok... Não eu...

Mas não mudava o que eu tinha feito.

– Quem eu matei então, Korrok? – Perguntei, odiando toda a dor que saiu na minha voz. Korrok me enviou um olhar que me feria por ser muito mais compreensivo do que eu esperava; e merecia.

– O secretário de Gaxy. Para enviá-la uma mensagem.

Uma mensagem...

Suspirei. Nenhum peso tinha sido arrancado dos meus ombros, nenhum perdão para ser encontrado a quilômetros, nada que justificasse as minhas ações e redimisse meus erros... Saber ou não saber aquela resposta não tivera nenhuma influência no meu passado; e nem em como eu me sentia diante dele.

Uma mensagem...

A pior escolha que eu tinha tomado na minha vida, uma culpa eterna, o maior de todos aqueles pesos que curvavam os meus ombros... Apenas para que fosse enviada a mensagem de que coisas piores estavam por vir.

Eu captei bem aquela mensagem.

– Ele era inocente? – Sussurrei, caindo os olhos naquelas malditas mãos que eu carregava. Korrok me estudou, provavelmente sentindo aquele cheiro de tragédia que sempre indicava que eu tinha chegado no ambiente; eu era uma lembrança de que a morte estava perto e de que ela era fácil demais de alcançar, de todas as vezes em passou por mim e se impregnou na minha pele.

– Ninguém é em tempos de guerra.

Doxy perfurou a nuca do vorrampe com a agulha da máquina e se preparou para ligar-se à outra ponta. Mas então Korrok agarrou seu braço com força, e eu o coloquei na mira da minha arma.

– Arranque de mim a memória dessa conversa, se não quiser que o metriona a descubra depois. Porque se ele souber, vai nos mostrar que existem coisas muito piores do que a morte.

Doxy confirmou com a cabeça devagar e calou Korrok ao voar para dentro da sua mente, se contorcendo cada vez mais que se deparava com aquelas lembranças do vorrampe. Assim que pode, Doxy se desprendeu dele e escondeu o leitor no bolso.

– Era tudo verdade. – Ela sussurrou para mim com os olhos cheios de lágrimas.

Doxy então correu e desapareceu pela cidade subterrânea, me abandonando com um vorrampe confuso e irritado e os pesos amarrados nos meus tornozelos que me puxavam cada vez mais para as profundezas dentro de mim...

Eu estava me afogando...

Eu estivera sempre me afogando.

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