Endossimbiose | Versão Em Por...

By ElisMariangela

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Donecea Gaxy, uma iátrica determinada, se junta ao ardiloso e charmoso Arkadi Phaga para alcançar o núcleo da... More

Capítulo 1. Pacientes
Capítulo 2. História da Doença Atual
Capítulo 3. Parasitas
Capítulo 4. Emergência
Capítulo 5. Alta
Capítulo 6. Difusão
Capítulo 7. Proteassoma
Capítulo 8. Recaptação
Capítulo 9. Mitocôndria
Capítulo 10. Toxicologia
Capítulo 11. Anemia
Capítulo 12. Sepse
Capítulo 13. Hemorragia
Capítulo 14. Nó de Sutura
Capítulo 15. Instinto
Capítulo 16. Descamação
Capítulo 17. Hereditariedade
Capítulo 18. Convergência Evolutiva
Capítulo 19. Cicatrizes
Capítulo 20. Endorfina
Capítulo 21. Linfonodo Sentinela
Capítulo 22. Evolução
Capítulo 23. Cremação
Capítulo 24. Crisoterapia
Capítulo 25. Células
Capítulo 26. Comorbidade
Capítulo 27. Memórias
Capítulo 28. Dor
Capítulo 29. Luto
Capítulo 30. Subcutâneo
Capítulo 31. Olhos
Capítulo 32. Humanos
Capítulo 33. Mãos
Capítulo 34. Medo
Capítulo 35. Ansiedade
Capítulo 36. Pressentimento
Capítulo 38. Inconsciência
Capítulo 39. Consciência
Capítulo 40. Necrose
Capítulo 41. Cicatrização
Capítulo 42. Sede
Capítulo 43. Ruminação
Capítulo 44. Solidão
Capítulo 45. Fúria
Capítulo 46. Digestão
Capítulo 47. Enterro
Capítulo 48. Fadiga
Capítulo 49. Coração
Capítulo 50. R.E.M.
Capítulo 51. Ouvidos
Capítulo 52. Cura
Capítulo 53. Latência
Capítulo 54. Febre
Capítulo 55. Necrotério
Capítulo 56. Apoptose
Capítulo 57. Metástase

Capítulo 37. Tremor

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By ElisMariangela

No noxdiem seguinte pousamos na superfície do planeta e montamos um acampamento às bordas de uma floresta invernal. Enquanto os soldados da rebelião erguiam tendas no mundo inimigo, carreguei algumas caixas de suprimentos iátricos para onde deveriam estar, me perguntando se não poderíamos ter nos estabelecido em algum local mais quente; mas o frio infinito naquela parte do planeta o tornava perfeitamente inabitado... Uma ferida por onde podíamos entrar.

Pousei as caixas na neve e deixei meus olhos viajarem pela paisagem gélida até cair no vale entre montanhas nevadas que conectava nosso acampamento à cidade mais próxima, repleto de árvores pálidas que se tornavam mais escassas conforme se chegava no topo. Aquela paisagem era calma como uma pintura, mas eu sabia que, no fundo, era perigosa – porque às vezes o que mais tínhamos de temer não era o que parecia. Recolhi os suprimentos e os levei para uma das tendas erguidas, quente, aconchegante e cheia de macas vazias para os infortunados da batalha que viria.

– Não deveria estar aqui, sapiens... – Korrok sibilou ao passar por mim. – Você não é um soldado. – Todos fizeram questão de que eu soubesse que era mais valiosa protegida e escondida em Venerna, mas eu sabia que, somente ali, eu conseguiria ajudar a algum daqueles soldados, assim como uma iátrica deve fazer. E, somente ali, eu poderia ser mais do que um banco de sangue esquecido na estante.

– Você vai me agradecer depois que eu salvar o seu pescoço.

Korrok soltou uma risada rasgada e debochou para uma das outras criaturas na tenda:

– Ouviu isso, Deinos? Ela acha que eu precisaria de ajuda. – Convencido.

– Não de uma humana, com certeza. – O espinero riu. – Mas eu a aplaudo, Donecea. Uma Gaxy ajudando a nossa luta é uma grande mudança.

Korrok então deu uma patada em Deinos, que mordeu a própria língua.

Como assim mudança? Achei que minha mãe estivesse ajudando a causa da rebelião antes de produzir a cura, assim como o metriona me contara. Mas, pelo visto, uma peça estava faltando. E Korrok lembrou a Deinos de que ele não deveria dá-la para mim.

O vorrampe enviou um olhar fatal para o espinero e se afastou, me deixando com Deinos, envergonhado por seu deslize, e a certeza de que eu não receberia respostas.

– Por que você está na rebelião? – Puxei conversa, mudando de assunto.

– Por que você está?

– Justiça. Ou curiosidade. O que me incomodar mais no momento. – Dei de ombros. Mas eu sabia que algo ruim estava se aproximando, e que as respostas para tudo estavam na rebelião, tão próximas que eu quase podia tocá-las... Então eu não podia ir a lugar nenhum. – E o que for mais fácil de alcançar também.

– Muitas coisas são difíceis de alcançar para seres como você, eu imagino. – Ele murmurou, mais perto da verdade do que deveria ser. E, diante do meu silêncio ferido, Deinos revelou: – Eu fui um soldado do Aulicado... E por muitos anos servi e treinei para uma grande guerra que nunca chegou... – Minhas sobrancelhas se ergueram e eu me inclinei, curiosa para conhecer sua história. – Eu participei de muitas missões contra a revolução... Mas a maioria delas era para cobrar dos povos de Ítopis os impostos do Império, e eliminar aqueles que não estivessem cumprindo com seu dever para Ítopis. Ainda assim, todas essas missões pareciam... Secundárias. – Ele inspirou profundamente. – Nossa principal função era tornar o exército do Império o maior possível, o mais forte possível, o mais poderoso possível... Por causa de uma guerra que nunca veio.

– Então você não aguentou mais a pressão? E por isso abandonou os Áulicos? – Ele riu.

– A pressão é muito maior aqui no exército da revolução, Donecea, onde nenhuma vitória é garantida e toda derrota é uma sentença. – Suas palavras cortantes me deram calafrios. – Eu virei as costas para os Áulicos porque eles mandaram que a minha equipe matasse minha família, atrasada em seus pagamentos para o exército do Império... – O fôlego sumiu do meu peito. Como o mesmo Aulicado que a minha mãe tinha pertencido podia ser tão cruel? Tão sistematicamente impiedoso? Eu não teria acreditado se a dor nos seus olhos não fosse tão real. – E então eu matei cada um deles. Aqueles que um dia chamei de amigos...

– Eu sinto muito... – Foi tudo que consegui dizer, em um murmúrio fraco, mas sincero.

– Não sinta. Isso aconteceu há muitas décadas. – Deinos revelou, quase como se fosse incapaz de se abalar. – As lembranças já não me doem mais... Mas me mantém desse lado da guerra.

E eu ainda me perguntava se esse era o lado certo para mim...

Com aquelas últimas palavras, Deinos se virou e saiu da tenda, exatamente no momento em que Arkadi entrou nela.

Voei meus olhos de volta para o trabalho, organizando os suprimentos iátricos em uma tentativa de fingir que não tinha ninguém ali comigo. Mas Arkadi queria ser notado.

Ele se sentou na maca que eu estava forrando, com um olhar petulante que era impossível de ignorar.

– Imagino que, se o meu pescoço estiver em perigo, você não vá me salvar. – Meus olhos o fuzilaram, mas seu sorriso era a prova de balas.

– Meu trabalho não liga para as minhas preferências. – Empurrei-o do caminho. – Eu não o deixaria morrer... Mesmo o odiando.

– Vou tentar não chegar a esse ponto.

Enviei-o um olhar por cima do ombro.

– Por que você vai, em primeiro lugar?

– Eu não aceitaria uma recompensa que não tivesse lutado para merecer. – Ele respondeu, provavelmente mentindo.

– Você deveria deixar o fevino lutar no seu lugar, então. Ele é melhor do que você em salvar vocês os dois. – Tentei mascarar minha tentativa de protegê-lo com a ofensa, mas ele nem se importou.

– Ele não saberia diferenciar inimigos de aliados. Então melhor guardá-lo para emergências... – Como se uma batalha não fosse emergência suficiente. Mas eu não ia dizer isso em voz alta.

O silêncio se fez na tenda, enquanto eu caminhava de um lado a outro organizando tudo para os futuros feridos.

Quando achei que Arkadi já tinha ido embora, ele murmurou:

– Por falar em fevino... Eu deveria tomar hoje a minha próxima dose...

Eu o encarei.

– Então foi por isso que você se lembrou de mim hoje? Para me usar? – No fundo, eu sabia que não ligava que ele precisasse de mim... Mas que ele não tinha precisado até agora.

– Não aja como se não estivesse me usando também. Eu só aprendi com a melhor.

Bufei e me afastei para forrar uma maca do outro lado da tenda.

– Eu disse que humanos são ótimos parasitas, Arkadi. Você já deveria ter se acostumado com a própria natureza.

– E agora que não precisa mais de mim, eu morto valho tanto quanto vivo para você, não é? – Ele rosnou e, em silêncio, eu apertei o tecido até que os nós dos meus dedos se tornassem tão brancos quanto.

Arkadi soltou um suspiro frustrado e se virou para sair da tenda, mas então eu senti cair na minha consciência um grande peso. Como podia deixá-lo ir embora assim, havendo a chance de podia nunca voltar? Fechei os olhos com força e deixei as palavras escaparem de mim, antes que ele pudesse partir:

– Eu o darei a dose. – Ouvi seus passos pararem. – Se você sobreviver.

E então ele foi embora.

• • • ֍ • • •

Naquela noite todos tiveram de dormir amontoados em uma tenda branca maior do que as demais. Partes do tecido no teto tinham sido substituídas por plástico transparente, para que pudéssemos ver o céu quando alguma nave inimiga cruzasse o nosso acampamento, e não demorou muito para que o próprio brilho das estrelas me deixasse nauseada.

A calmaria era frágil, temporária... Era como se, a qualquer momento, alguma nave perscrutando esse mundo desconfiasse dos padrões brancos sobre a neve e disparasse sobre nós até que nada além do nosso sangue restasse para pintar o branco invernal. Se nos vissem, não haveria nada que pudéssemos fazer senão morrer. E, quanto mais eu encarava as estrelas de onde o nosso fim podia surgir a qualquer momento, mais meu âmago se revirava.

Quando me deitei ali eu jurei que a presença dos soldados ao meu redor, adormecidos abraçados com as suas armas, me traria alguma segurança; mas eles só me lembravam o quanto eu era indefesa naquele universo de feras impiedosas... Pequena demais, fraca demais.

Em algum momento eu não consegui mais respirar. Meu corpo inteiro tremia, gélido, ao mesmo tempo que suor me escorria pelo pescoço, a boca seca, os olhos engolindo a escuridão e meu peito sendo esmagado por todas aquelas camadas de atmosfera acima.

Me levantei e cambaleei o mais rápido que conseguia para a saída da tenda. Tropecei pela brecha e me arrastei para fora, emergindo da escuridão como se nascesse de novo; e o frescor do ar gélido da noite pareceu me encher de vida mais uma vez. Mas eu não gostava do frio... Ele me deixava confortável demais.

– Você está bem? – Arkadi sussurrou, me fazendo pular de susto. – Está pálida... Mais do que o normal, pelo menos. – Ele tentou me fazer rir, mas eu apenas o fuzilei com os olhos.

Arkadi estava sentado ao lado de uma das tendas, cheio de flocos de neve nos cílios, o nariz corado e o cotovelo apoiado em uma arma maior do que ele. Talvez estivesse acordado por causa da missão de rondar o acampamento; ou talvez porque não conseguia dormir em noites antes de dias como os que viriam.

– Perdi o sono. – Respondi.

– A "sinfonia" lá dentro estava muito alta?

Meu lábio traidor se curvou um pouco para cima, mas logo o empurrei de volta para baixo.

– O problema é o silêncio... – Confessei. – Tudo está quieto como a morte... Como se, a qualquer momento, a calma pode sumir e o caos explodir nos nossos rostos...

Arkadi me observou, os dedos se apertando com firmeza ao redor da arma, me dizendo que eu não era a única que se sentia daquela forma.

– Não se preocupe com isso. – E então, piscando para mim, ele sussurrou: – Nós somos o caos.

Eu não sabia o que era pior, na verdade.

Ele apontou com a cabeça para uma das cadeiras ao lado, me convidando em silêncio; mas a sua companhia não era bem o que eu tinha em mente no momento. Pensei em virar as costas e voltar para a tenda, mas eu consegui sentir o fôlego me faltar só de me imaginar enclausurada entre aqueles soldados e o céu distante... Então acabei me sentando ao lado de Arkadi.

– Você teria gostado mais de mim se tivesse me conhecido na Terra antes do Império. – Ele sussurrou, os olhos nas estrelas e nas luzes esverdeadas que dançavam pelo horizonte. – Tudo teria sido diferente em uma vida como aquela...

– Você não estaria contaminado com um fevino assassino...

– E você não ia querer ir para o núcleo da galáxia.

– Talvez você tivesse passado mais um tempo no hospital por causa daquele tiro...

– E talvez eu criasse a coragem de chamá-la para ir tomar um café.

– Mas eu negaria, porque não gosto de café.

– Não tem problema. Eu pensaria em outra coisa. – Ele deu de ombros, arrancando um sorriso de mim. – Teria sido tão simples...

– Teria. – Suspirei. – Talvez em outra vida...

Não o encarei, mas consegui sentir seu olhar sobre mim.

– Em outra vida então.

Assim, no segredo da nossa religião de dois fiéis, nos entregamos ao silêncio.

• • • ֍ • • •

Quando a manhã seguinte chegou, era o dia em que a revolução atacaria aquela parte do Império, começando pela concentração do outro lado daquele vale.

Os soldados – a maioria vorrampes – se reuniram no espaço aberto entre as tendas e então Korrok se uniu a eles, cada passo seu prendendo a nossa atenção no seu poder até que ninguém conseguisse olhar em outra direção. E, quando ele rugiu para cada um de nós, o mundo inteiro pareceu tremer sob nossos pés:

– Eles tomaram as nossas riquezas, nossas casas, nossas famílias... – O silêncio que se fez foi assustadoramente profundo enquanto Korrok passava os olhos por cada um daqueles seres que confiavam nele com seus destinos e rosnou, me enchendo de calafrios: – Mas eles ainda não tomaram as nossas VIDAS! Porque elas são nossas para entregar ao que quisermos! E agora eu os pergunto: vocês estão dispostos a dá-las por essa REVOLUÇÃO?!

Todos rugiram em resposta, dando cada fibra de seus corpos por aquela causa, por aquela vingança, por aquela fagulha de esperança que a revolução ainda alimentava... Porque seu ódio crescera faminto demais e nada mais era capaz de nutri-los. Korrok abriu o sorriso de alguém que acreditava que a guerra já estivesse vencida, apenas porque sabia não estar mais sozinho; e então, com uma voracidade capaz de devorar mundos, ele explodiu para o mundo:

– ENTÃO VAMOS RECUPERAR O NOSSO IMPÉRIO!

Os soldados marcharam para a floresta. Não consegui escapar do desejo de segui-los... Porque, com o meu aprimoramento, talvez eu pudesse ajudar mais na frente de batalha do que nas tendas iátricas, aguardando os restos dos soldados para que eu os remendasse e enviasse de volta ao caos... Talvez, na batalha, eu pudesse impedi-los de chegar a esse ponto; e talvez eu pudesse ajudá-los a vencer...

Pelo visto aquela ideia estava estampada no meu rosto, porque, assim que Deinos passou por mim, ele disse:

– Talvez depois de treinamento, Donecea. – Me encolhi para dentro da tenda iátrica. – E me cobre se eu retornar com vida.

Assim, as tropas desapareceram pela neve.

E Arkadi estava entre eles.

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