Endossimbiose | Versão Em Por...

By ElisMariangela

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Donecea Gaxy, uma iátrica determinada, se junta ao ardiloso e charmoso Arkadi Phaga para alcançar o núcleo da... More

Capítulo 1. Pacientes
Capítulo 2. História da Doença Atual
Capítulo 3. Parasitas
Capítulo 4. Emergência
Capítulo 5. Alta
Capítulo 6. Difusão
Capítulo 7. Proteassoma
Capítulo 8. Recaptação
Capítulo 9. Mitocôndria
Capítulo 10. Toxicologia
Capítulo 11. Anemia
Capítulo 12. Sepse
Capítulo 13. Hemorragia
Capítulo 14. Nó de Sutura
Capítulo 15. Instinto
Capítulo 16. Descamação
Capítulo 17. Hereditariedade
Capítulo 18. Convergência Evolutiva
Capítulo 19. Cicatrizes
Capítulo 20. Endorfina
Capítulo 21. Linfonodo Sentinela
Capítulo 22. Evolução
Capítulo 23. Cremação
Capítulo 24. Crisoterapia
Capítulo 25. Células
Capítulo 26. Comorbidade
Capítulo 27. Memórias
Capítulo 28. Dor
Capítulo 29. Luto
Capítulo 30. Subcutâneo
Capítulo 32. Humanos
Capítulo 33. Mãos
Capítulo 34. Medo
Capítulo 35. Ansiedade
Capítulo 36. Pressentimento
Capítulo 37. Tremor
Capítulo 38. Inconsciência
Capítulo 39. Consciência
Capítulo 40. Necrose
Capítulo 41. Cicatrização
Capítulo 42. Sede
Capítulo 43. Ruminação
Capítulo 44. Solidão
Capítulo 45. Fúria
Capítulo 46. Digestão
Capítulo 47. Enterro
Capítulo 48. Fadiga
Capítulo 49. Coração
Capítulo 50. R.E.M.
Capítulo 51. Ouvidos
Capítulo 52. Cura
Capítulo 53. Latência
Capítulo 54. Febre
Capítulo 55. Necrotério
Capítulo 56. Apoptose
Capítulo 57. Metástase

Capítulo 31. Olhos

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By ElisMariangela

Minhas pernas tremiam tanto que não sabia como estava conseguindo seguir Korrok. Meu medo era munição para os seres ao meu redor, principalmente Kadi, então eu precisava escondê-lo o máximo possível. Ergui a cabeça e segui para os lobos famintos que me esperavam.

Eu precisava descobrir por que minha mãe tinha se virado contra a rebelião; por que ela tinha me instruído tanto a ir para o núcleo da galáxia, se não era ela que eu encontraria lá... Me infiltrar na rebelião era minha melhor alternativa para conseguir respostas; ainda que eu simplesmente não conseguisse confiar.

– Você cheira a medo, sapiens. – Korrok rosnou.

– E você a morte.

Ele riu; e eu conseguia sentir o olhar de Kadi perfurando as minhas costas.

– Obrigado. – Ele retrucou. – Será seu cheiro se você não parar de tremer.

Dessa vez eu não respondi.

As criaturas me esperavam formando um círculo na praça central de Venerna. Encarei o mosaico das suas peles, escamas, penas, dentes e garras, tão variados, imensos e poderosos que nada eu podia fazer além de me sentir intimidada... E imaginar todas as diferentes formas como eles podiam me matar. Mas não importava que aqueles seres fossem puro poder em carne, porque eu sabia que eles podiam me destruir sem nem mesmo me tocar; e o que eu me perguntava era se, algum dia, eu não seria esmagada o suficiente para crescer.

Quando eu estava começando a ter certeza de que não sobreviveria, um dos seres chamou a minha atenção: Plumala; voando calmamente na minha direção como se não houvesse nada para temer naquele ninho onde eu me enfiava.

– Agradeço por trazer os humanos, Korrok. – Ela o cumprimentou. – Agora posso ter a companhia de seres além daqueles bárbaros.

– Não se engane, pombinha... – Korrok sibilou. – Humanos são os piores.

E então Korrok e Kadi partiram para se juntar ao círculo, me deixando com a columba, que prontamente me estudou:

– Não imaginei que estivesse tão envolvida com essa causa...

– Nem eu. Mas meus inimigos mudaram.

Ela inclinou a cabeça para o lado, curiosa.

– Inimigos não mudam, Donecea. – Meu nome... Ela o sabia. E eu me perguntava o que mais aqueles seres pudessem saber sobre mim. – Nesse universo cruel, ou você os elimina, ou acrescenta novos à sua lista.

– Estou fazendo uma coleção deles, então.

– E de aliados também.

Confirmei com a cabeça para seu sorriso caloroso e então seguimos em direção aos líderes da rebelião.

• • • ֍ • • •

Quando me aproximei, todas as conversas cessaram.

– Fique no centro do círculo, sapiens.

Obedeci e me sentei no chão, como se fosse o sacrifício do dia. Os olhos ao redor se enterravam na minha pele, como se pudessem ouvir cada vibração do meu corpo trêmulo. Não havia um movimento que eu fizesse que não fosse percebido, nenhum sentimento meu que não pudesse ser sentido e nenhum segredo que em mim pudesse ser contido... Eu tinha me tornado totalmente transparente.

Enviei um olhar para Kadi, que se mantinha fora do círculo, talvez porque não o deixassem se aproximar, ou talvez porque não quisesse... Longe demais para me salvar; tarde demais.

Korrok caminhou até mim e me rodeou, enquanto sibilava entre os dentes de seu sorriso ardiloso:

– Essa humana quer se juntar à nossa causa... O que vocês acham disso?

– Acho que suas piadas estão perdendo a qualidade, Korrok. – Um dos seres respondeu. Ele se parecia com um imenso lobo, coberto de escamas prateadas que tomavam o lugar dos pelos, sem olhos em lugar nenhum. Era um canouro, uma criatura que não precisava enxergar para descobrir qualquer coisa através de meras partículas no ar. – Já sabemos que não podemos confiar em humanos, quando Arkadi é o exemplo que temos. – Ele implicou e Kadi soltou um grunhido audível.

– Você pode não ver a luz que eu trago, Lupan, mas sei que consegue sentir a velocidade das naves que eu abasteço. – Kadi retrucou com um sorriso e o canouro mostrou a escuridão da sua boca, um buraco negro rodeado de dentes.

– Isso não é sobre Phaga! – Korrok rosnou. – É sobre Donecea Gaxy.

Meu nome foi um fósforo aceso na pilha de palha que eram aquelas criaturas; uma sentença de morte que Korrok adorou ver no medo sobre meu rosto.

– Gaxy está morta. – Rosnou um ser que tinha a pele negra como a noite e espinhos cor de rubi despontando desde a cabeça até a ponta da cauda. Seu corpo parecia pré-histórico, como um dinossauro que fugira da Terra e acumulara conhecimentos por milênios, mas tinha patas demais para ser um. Era um espinero.

– Gaxy está... Mas essa é a filha dela.

– E por que você já não a matou?

Os seres explodiram em rugidos, preparados para pular no meu pescoço assim que Korrok deixasse e eu me preparei para fazer bom uso das minhas pernas... Quando, subitamente, todos se calaram.

– Porque nós precisamos dela, Deinos... – A voz surgiu às minhas costas e senti aquela presença que me intimidava sem que eu nem precisasse encará-lo, crescendo sobre mim como névoa... O metriona. Quando me virei para a sua colossal estatura dourada, meu corpo se encolheu ainda mais, diante daquela criatura tão intimidante, mesmo com o chifre quebrado. – Viva.

Até certo ponto, eu imaginava.

Todos os seres ao redor se esquivaram para longe.

– Não deveríamos abrir as portas para um humano tão ligado aos Áulicos. – O ser quase-dinossauro, Deinos, retrucou com bastante cautela.

– Ele tem um ponto válido. – Korrok se manifestou, a única criatura naquele salão que não tinha se encolhido na presença do metriona. – Nós não precisamos dela ao ponto de fazermos esse esforço. Por que você precisa?

O metriona se aproximou do vorrampe com o andar de alguém que acreditava que só vitória aguardava adiante. Não ousei encará-lo nos olhos, ainda que não conseguisse desviar do poder da sua estatura metálica. Quando ele estava próximo, jurei ver Korrok estremecer... Se até ele o temia, o que eu poderia fazer?

Quando o metriona abriu a boca, sua voz soou como os trovões de uma tempestade que se aproximava, e eu já conseguia sentir as gotas sobre a minha pele:

– Porque, se quiser chegar vivo ao final da guerra, você precisa de mim.

Korrok engoliu em seco e recuou, abrindo um sorriso trêmulo que fingia não temer a nada e então tentando soar cordial:

– Vamos fazer um teste de lealdade, então! Se ela passar, nós não a matamos... Por enquanto. – Ele me enviou um olhar perigoso; e então enviou um para o metriona, que não desaprovou sua escolha. – Essa noite um aliado dos Áulicos fará uma festa na sua mansão. – Então ele lentamente se aproximou de mim. – E você vai roubar uma chave que ele guarda...

Não sei de onde tirei coragem para perguntar:

– Onde ela está?

Korrok abriu um sorriso afiado e todas as criaturas ao redor riram de algo que eu não sabia, até que o vorrampe se abaixou à altura do meu rosto e rosnou:

– Embaixo da pele dele...

O espanto nos meus olhos fez todos gargalharem como hienas.

– Como eu... – Arfei. – Por que não "convencer" o anfitrião a nos dar a chave? – Me voltei para o metriona, desesperada por uma migalha de piedade que não era nele onde eu iria encontrar.

– Eu prefiro que os seres sejam convencidos aos seus termos... Porque eles continuam achando que tem poder; continuam acreditando que se renderam porque escolheram; e acabam sendo os mais obedientes...

Será que ele estava falando de mim?

– E porque queremos ver se você está pronta para se juntar à revolução. – Korrok acrescentou. – Não fazemos um teste desses desde Phaga...

– Que não deveria ajudá-la, por sinal. – Lupan pulou, implicando, ou tentando facilitar a minha morte. – Ele mal provou a lealdade dele.

– Ela tem mais chance de sobreviver se tiver a minha ajuda.

– Se ela precisa de ajuda, então não merece viver. – Deinos retrucou.

E eu estava quase gritando que me deixassem morrer em paz quando Korrok ordenou, com sua voz se sobressaindo sobre todas as demais:

– Phaga vai. – E ninguém ousou discordar. O vorrampe então se voltou para Kadi, mirando nele com a ponta da sua garra. – Você vai ser nossos olhos... Para observar a todo e cada movimento dela... E nos mostrar o quanto ela está disposta a ser leal à nossa revolução.

Eu preferia ter ido sozinha.

• • • ֍ • • •

Depois da minha sentença, os líderes se dispersaram.

Kadi fez um movimento de cabeça e eu o segui até um corredor estreito entre as paredes de rocha, fracamente iluminado pelas lâmpadas nas paredes.

– Você pode simplesmente ir embora, Doxy... – Ele sussurrou, com medo de que as pedras pudessem nos ouvir. – Não tem que provar nada para ninguém.

– Não posso descobrir em um dia que os Áulicos mataram minha mãe e simplesmente virar as costas no outro. – Retruquei. – Eu não aguentaria voltar sem ter feito nada. – Muito menos depois de prometer tanto.

Kadi cruzou os braços.

– Se quiser lutar com a revolução porque acha que isso é o certo, então lute. – Ergui uma sobrancelha. – Mas não faça isso por ódio.

– Por quê?

– Porque é corrosivo. – Um suspiro exausto escapou do seu corpo, como se ele tivesse sentido aquilo na pele. – E nunca se fica satisfeito. – Diante da fachada no meu rosto, ele se virou para ir embora, mas, como se tivesse se esquecido de um detalhe, parou. – É melhor você se preparar... Os testes de lealdade são só uma desculpa para se livrar daqueles que eles não querem.

E então Kadi desapareceu pelos corredores de pedra.

Antes que eu pudesse processar aquilo, Plumala se aproximou de mim com o bater de suas asas suaves e me resgatou dos meus questionamentos. Eu a segui para um cômodo na rocha negra, tão diferente das adoráveis construções de Avória que ela provavelmente estava acostumada.

– Não queremos que você morra. – Ela disse e eu agradeci em silêncio. Era mais do que eu podia esperar das outras criaturas de Venerna. – E, para sobreviver, você vai precisar de uma ajudinha.

Ela apontou para um vestido e eu me aproximei da peça, deslizando os dedos pelo tecido esvoaçante. O vestido tinha um busto estruturado com delicadas correntes douradas, seguindo até uma saia esvoaçante de tecido azul marinho coberta de cristais e esferas peroladas que me lembravam das penas de um pavão.

– É lindo...

– E perigoso. – Enviei um olhar confuso para a columba. – Ele é feito de olhos de metrionas. – Soltei o tecido e me afastei. – Você já percebeu que não pode olhar nos olhos deles, não é? Eles são como espelhos, porque refletem as emoções daqueles que os encaram e mostram o que se quer ver... – Exatamente como eu tinha me sentido quando encarei o metriona; como se eu pudesse ser entendida e, mesmo quando ele estava contra mim, como se eu pudesse confiar. – Esse vestido será sua primeira armadura. – E eu esperava que fosse a última.

– Não sei como agradecer...

– Fique viva. E leve essa guerra ao fim.

Será que ela queria que, ao final, a rebelião vencesse ou perdesse? Talvez a resposta não importasse para as columbas...

Mas importava para mim.

– É o que planejo. 

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