Endossimbiose | Versão Em Por...

By ElisMariangela

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Donecea Gaxy, uma iátrica determinada, se junta ao ardiloso e charmoso Arkadi Phaga para alcançar o núcleo da... More

Capítulo 1. Pacientes
Capítulo 2. História da Doença Atual
Capítulo 3. Parasitas
Capítulo 4. Emergência
Capítulo 5. Alta
Capítulo 6. Difusão
Capítulo 7. Proteassoma
Capítulo 8. Recaptação
Capítulo 9. Mitocôndria
Capítulo 10. Toxicologia
Capítulo 11. Anemia
Capítulo 12. Sepse
Capítulo 13. Hemorragia
Capítulo 14. Nó de Sutura
Capítulo 15. Instinto
Capítulo 16. Descamação
Capítulo 17. Hereditariedade
Capítulo 18. Convergência Evolutiva
Capítulo 19. Cicatrizes
Capítulo 20. Endorfina
Capítulo 21. Linfonodo Sentinela
Capítulo 22. Evolução
Capítulo 23. Cremação
Capítulo 24. Crisoterapia
Capítulo 26. Comorbidade
Capítulo 27. Memórias
Capítulo 28. Dor
Capítulo 29. Luto
Capítulo 30. Subcutâneo
Capítulo 31. Olhos
Capítulo 32. Humanos
Capítulo 33. Mãos
Capítulo 34. Medo
Capítulo 35. Ansiedade
Capítulo 36. Pressentimento
Capítulo 37. Tremor
Capítulo 38. Inconsciência
Capítulo 39. Consciência
Capítulo 40. Necrose
Capítulo 41. Cicatrização
Capítulo 42. Sede
Capítulo 43. Ruminação
Capítulo 44. Solidão
Capítulo 45. Fúria
Capítulo 46. Digestão
Capítulo 47. Enterro
Capítulo 48. Fadiga
Capítulo 49. Coração
Capítulo 50. R.E.M.
Capítulo 51. Ouvidos
Capítulo 52. Cura
Capítulo 53. Latência
Capítulo 54. Febre
Capítulo 55. Necrotério
Capítulo 56. Apoptose
Capítulo 57. Metástase

Capítulo 25. Células

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By ElisMariangela

Quinto círculo do Império
Terra

Eu me lembrava muito bem.

Um dia, quando cheguei em casa sobre os restos de meus pés, minha mãe estava em um frenesi tão intenso que nem parou para começar a falar sobre o quanto o universo era perigoso por causa da doença e daqueles que a odiavam por buscar sua cura; e o quanto eu deveria me esconder ali com ela.

A sala estava uma bagunça, cheia de papeis espalhados, frascos com de líquidos que eu não conhecia e zumbidos de máquinas processando substâncias. Eu já estava acostumada a encontrar sinais de pesquisa, mas, dessa vez, o ambiente cheirava a descoberta.

– Boas notícias? – Perguntei, jogando meus sapatos para longe.

Esperei que ela me enviasse uma careta como sempre fazia, mas minha mãe estava sorridente. Seus dedos tremiam de euforia ao redor de um frasco, balançando um líquido que, senão por sua animação, eu teria jurado que fosse água. Talvez fosse... E ela só estava com muita sede...

– Eu encontrei... Encontrei a cura! – Ela sussurrou para que as paredes não a ouvissem e então apontou com os olhos para aquela ínfima dose no frasco.

– E isso é suficiente para curar pelo menos uma pessoa?

– É o suficiente para curar toda Ítopis, Doxy. – E, nas suas palavras, eu senti o poder da mulher que eu queria ser, me chamando por aquele nome... Metade Donecea, metade Gaxy, porque uma parte de mim era ela; e a outra era algo que ela queria que fosse ainda melhor. – Se estiver no sangue da pessoa certa.

Que não seria eu, se fosse sua escolha.

Me joguei no sofá e a encarei de canto de olho, colocando a dose em uma agulha e preparando seu braço para recebê-la.

– Essa é uma receita para o corpo produzir uma nova célula... A primeira capaz de destruir essa doença. – Peguei um dos seus estudos espalhados pelo ambiente e olhei os rascunhos que eu não conseguia entender. – Não sei bem o que isso vai causar, mas uma única gota de sangue com essas células pode curar um número incontável de seres...

– Você vai se injetar sem saber? – Me levantei. – Não vai fazer nenhum teste antes?

– Não tenho mais tempo, Doxy... – Ela rosnou, aproximando a ponta da agulha da pele. – Se eu não fizer isso agora, estaremos mortas antes que eu possa tentar de novo.

Eu estava prestes a deixá-la, quando um brilho na janela chamou minha atenção e ela subitamente parou, pânico queimando em seus olhos.

– CORRA!

E eu nem olhei para trás.

Desci o mais rápido que conseguia pelas escadas para o abrigo subterrâneo e fechei a porta às costas depois que minha mãe tinha entrado, carregando uma maleta. Quando ela mandou construí-lo eu disse que se preocupava demais; e ela me disse que preocupação demais nunca era suficiente. Agora que nos escondíamos no subterrâneo com medo dos céus e de tudo além, eu a entendi bem... Ainda que não soubesse o que estava acontecendo.

Me encolhi no chão entre as prateleiras e esperei aquilo que só poderia ser o fim do mundo.

Ela abriu a maleta e então agarrou o meu braço.

– O que está acontecendo?!

– Eles me encontraram... – Ela pegou a agulha. – E não vão descansar até que eu esteja morta. – Quando seus olhos pousaram em mim, eu soube que ela já estava. – Vai ter que ser você.

O que?!

Por um instante, jurei que a atmosfera tivesse perdido todo o ar. Meus olhos caíram no brilho prateado da ponta da agulha e eu me contorci para longe dela quando estava prestes a atravessar a fronteira de minha pele.

– Eu não saberia o que fazer... – Arfei, quando lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

– Eu vou guiá-la.

– Não... – Eu não era corajosa o suficiente; não era esperta o suficiente; não era determinada o suficiente... Como eu podia carregar o que deveria estar sobre a força dos seus ombros? Como eu não seria esmagada abaixo do peso do mundo que ela conseguia sustentar? Como eu salvaria o Império? – Não pode ser eu...

Ela agarrou meus braços.

– Não há mais ninguém, Doxy... Eu sei que você não faz parte de algum plano maior; que não é a peça que falta no quebra cabeça desse Império; e que não está destinada a nenhuma grandeza... – Pisquei, tentando expulsar as lágrimas que turvavam minha visão. – Mas você pode conquistá-la. O plano maior pode ser o seu; o quebra cabeça pode ser a sua mente; e a grandeza pode ser você... Tudo que a resta é tornar-se ela. – Me engasguei em palavras que nunca disse, lutando para não perguntar como ela conseguia acreditar naquilo, quando eu estava tão longe de ser a mulher que ela era. – Eles não sabem sobre você. Vá para o hospital intergaláctico mais distante possível do núcleo e esconda Gaxy do seu nome por um tempo. – Ela aproximou a agulha do braço que eu não tinha mais forças para recuar. – Não olhe para trás. Não confie em ninguém. Não desista... E nunca se esqueça de quem você é, Doxy. Nunca se esqueça de que você é uma Gaxy.

E então seus dedos apertaram a ampola, injetando a cura nas minhas veias.

O ardor que explodiu no meu braço foi como se eu o tivesse mergulhado nas profundezas do sol. Gritei até sentir as veias do meu pescoço tentarem escapar dele e me debati no abraço da minha mãe, me segurando enquanto o universo desabava dentro de mim e eu era perfurada pelos seus escombros. Senti a responsabilidade migrar abaixo de minha pele como melaço, me destruindo e reconstruindo ao seu desejo para que eu fosse grande o suficiente para portá-la. Eu consegui senti-la me preenchendo pelos braços, me invadindo o pescoço, me fazendo em uma extensão sua, até que eu não fosse mais nada sem ela...

E, quando a luz que eu tinha visto no céu alcançou nossa casa e a explodiu, um som como o rugido de feras tomou meus ouvidos... Mas eu não sabia se ele vinha dos choros das paredes rachando, da minha própria garganta, ou de algo muito além, me avisando de um fim do mundo quase pior do que aquele que eu sentia dentro de mim.

Em algum momento na eternidade a onda da cura explodiu na minha cabeça e meus olhos foram tomados por escuridão, dor e medo. Vi feras colossais marcharem sobre os precipícios do universo, avançando de rasgos que não deveriam estar ali... Vi uma dama de ossos rindo para mim diante de poros de sangue...

E vi o fim.

Um fim que eu precisava enfrentar.

Enquanto eu me contorcia sobre o chão frio, assisti minha mãe atravessar a porta do abrigo para os escombros daquela que um dia foi minha casa.

E eu nunca a vi de novo.

• • • ֍ • • •

Boatos de que os humanos estavam planejando uma fuga do Oásis acabaram chegando à atenção daqueles que não deveriam saber. Alguns dos humanos começaram a ser chamados pelos supervisores para reuniões privadas que não se falava nada sobre depois. Eu não fazia ideia do que os supervisores diziam, só via a palidez no rosto dos outros humanos quando saiam da sala... Até que chegou a minha vez.

Fechei a porta às minhas costas do lado de dentro e o tremulon disse antes mesmo que eu pudesse me virar:

– Gaxy está viva.

E, fácil assim, eu já estava tão pálida quanto os que saiam daquela sala.

Eu lentamente me voltei para o tremulon, inexpressivo como gelatina, e senti minha mente queimar com perguntas que eu não ousaria fazer. Nem seu nome eu ouvia em tanto tempo... Um som que agora parecia ser capaz de invocar fantasmas soterrados no meu passado.

– Algum dia ela não esteve?

– Ouvi boatos. Mas eles estavam errados, pelo visto.

– Como sabe?

E porque estava falando comigo, se ali eu era apenas Clover?

O supervisor jogou sobre a mesa papeis que eu nunca tinha visto e eu me aproximei deles como se fossem bombas. As letras impregnadas no papel pularam aos meus olhos até se tornarem palavras, as curvas de tinta sibilando como cobras que eu conhecia de mordidas antigas...

A caligrafia dela.

– Gaxy as tem enviado para você. – Ele disse, me fazendo exalar pavor.

– Você leu? – Gaguejei.

– Eu não ia perder meu tempo com línguas primitivas. – Quase fiquei aliviada, quando ele continuou: – Mas os outros humanos me disseram o que está escrito. – O que ele podia ter descoberto? – Eu não sabia que você era filha de uma Áulica, Clover...

Não meu nome, pelo visto.

Tomei as cartas com meus dedos trêmulos e corri os olhos pelas palavras, as mensagens se decifrando em pegadas onde eu deveria colocar meus pés... E pensar que, por todo aquele tempo, ela estivesse me mandando orientações que nunca chegaram... Até agora.

– Por que não me entregou antes?

– Porque não faria diferença.

– E agora faz?

– Ela quer encontrá-la.

Eu cambaleei.

Algo estava errado... Era como se eu não merecesse que o universo pudesse escolher não me torturar por um instante... O que ele poderia querer de mim em troca? E por que agora?

Talvez agora ela estivesse em tanto perigo que precisasse da minha ajuda...

Ou talvez eu estivesse.

– Quando?

– Ao final do seu período. – O tremulou responder, fazendo meus punhos se cerrarem escondidos. – Só nele você receberá todas as cartas.

Suspirei. Pelo visto eu não ia a lugar nenhum por um longo, longo tempo...

• • • ֍ • • •

Depois que todos os humanos tinham sumido do Oásis e eu quase me esquecera do que era ouvir a voz de outra pessoa, cansei de reler as cartas que eu já tinha. Eu precisava de palavras novas, de migalhas que eu já não conhecia, tinha de saber mais sobre o destino que minha mãe um dia desejara para mim... E, para isso, eu precisava ler suas últimas cartas.

Em algum momento eu criei coragem para começar a pensar em buscá-las; e, depois de passar incontáveis noxdiems analisando a rotina de meu supervisor, invadi sua sala quando sabia que ele não estaria por perto e vasculhei o ambiente. Não demorei muito para me deparar com uma solitária carta de Gaxy, repousando tão acessível em uma gaveta, porque meu supervisor nunca achou que eu ousaria tentar achá-la. Eu era humana demais para pensar nisso, afinal... Humana demais para conseguir.

Li a carta antes que ele estivesse certo.

"Desculpe, minha querida, mas acho que essa é a minha última carta." as palavras soaram na minha cabeça, com aquela voz que eu não tinha sido capaz de esquecer. "Não há mais nada que eu saiba para ensiná-la; e não há mais nada que eu acredite ter tempo de descobrir. Guardei essas cartas em um cofre programado para enviá-las depois da minha morte, então, se estiver lendo essas palavras, saiba que são as minhas últimas. Mas não fique triste. Eu já a passei todas as orientações que uma mãe pode fornecer." Não era de outra orientação que eu precisava naquele momento... Não eram seus ensinamentos que eu estava chorando por perder. "Agora seu sucesso está no que você fará com tudo isso. Você pode ser tudo que quiser, minha querida, caso o universo a dê o caminho. E, se ele não a der, você deve tomá-lo como se sempre tivesse sido seu." Como ela tinha feito. "Chegue onde apenas uma Gaxy conseguiria... E alcance o horizonte que um dia sonhei para você."

E aquelas foram as suas últimas palavras.

Eu nunca a veria de novo, como me tinham prometido.

Então não havia mais motivo para ficar.

E tudo que eu precisava era de outro humano...

• • • ֍ • • •

– Ela foi morta pelos contaminados. – Murmurei para o metriona, sem ter coragem de encará-lo.

– Não, Donecea... – A criatura respondeu com uma suavidade que acariciou meus ouvidos... Mas o silêncio que cresceu no salão me sufocou, até que, como se tirasse uma corda do meu pescoço, ele continuou: – Os Áulicos a mataram.

Assim como tinham tentado me matar quando os metrionas nos resgataram...

Não.

Não fazia sentido.

Não podia fazer.

Ou então eu estaria errada.

Meus olhos se ergueram para o líder dos metrionas, nas alturas da sua imponência. E nele eu não vi nada além de uma sinceridade tão surreal quanto a possibilidade de tudo aquilo ser verdade.

Me ergui batendo as mãos na mesa.

– Devolva a nave de Kadi. Estamos partindo.

E então caminhei para a saída do salão, como se o outro lado dela fosse o único lugar naquele planeta onde ainda existisse oxigênio, mas então as palavras do metriona me fizeram parar, aceitando, ainda que por um breve instante, me deixar sufocar:

– Eu vi a morte dela.

Me voltei para ele. Devagar. E, com a sentença escrita, caí na cova há muito para mim cavada:

– Me mostre.

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