Endossimbiose | Versão Em Por...

De ElisMariangela

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Donecea Gaxy, uma iátrica determinada, se junta ao ardiloso e charmoso Arkadi Phaga para alcançar o núcleo da... Mai multe

Capítulo 1. Pacientes
Capítulo 2. História da Doença Atual
Capítulo 3. Parasitas
Capítulo 4. Emergência
Capítulo 5. Alta
Capítulo 6. Difusão
Capítulo 7. Proteassoma
Capítulo 8. Recaptação
Capítulo 9. Mitocôndria
Capítulo 10. Toxicologia
Capítulo 11. Anemia
Capítulo 12. Sepse
Capítulo 13. Hemorragia
Capítulo 14. Nó de Sutura
Capítulo 15. Instinto
Capítulo 16. Descamação
Capítulo 17. Hereditariedade
Capítulo 18. Convergência Evolutiva
Capítulo 19. Cicatrizes
Capítulo 21. Linfonodo Sentinela
Capítulo 22. Evolução
Capítulo 23. Cremação
Capítulo 24. Crisoterapia
Capítulo 25. Células
Capítulo 26. Comorbidade
Capítulo 27. Memórias
Capítulo 28. Dor
Capítulo 29. Luto
Capítulo 30. Subcutâneo
Capítulo 31. Olhos
Capítulo 32. Humanos
Capítulo 33. Mãos
Capítulo 34. Medo
Capítulo 35. Ansiedade
Capítulo 36. Pressentimento
Capítulo 37. Tremor
Capítulo 38. Inconsciência
Capítulo 39. Consciência
Capítulo 40. Necrose
Capítulo 41. Cicatrização
Capítulo 42. Sede
Capítulo 43. Ruminação
Capítulo 44. Solidão
Capítulo 45. Fúria
Capítulo 46. Digestão
Capítulo 47. Enterro
Capítulo 48. Fadiga
Capítulo 49. Coração
Capítulo 50. R.E.M.
Capítulo 51. Ouvidos
Capítulo 52. Cura
Capítulo 53. Latência
Capítulo 54. Febre
Capítulo 55. Necrotério
Capítulo 56. Apoptose
Capítulo 57. Metástase

Capítulo 20. Endorfina

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De ElisMariangela

Não consegui não pensar sobre o que ela tinha me contado... Pelo visto eu não era o único que tinha sofrido perdas; e, naquele momento, "Donecea" soara distante demais, quando estávamos tão próximos... Tão mais próximos do que eu deveria me permitir... Droga. Eu tinha me afastado da humanidade por um motivo; mas agora aquilo estava começando a parecer uma fraqueza.

Ficamos em silêncio até que o pôr do sol de tornasse noite, porque o desaparecer da luz não era um espetáculo que podia ser interrompido. Os olhos dela afogados nas estrelas eram a única coisa que eu aceitava desviar os meus para encarar, porque a sua curiosidade era um espetáculo a parte que eu não podia perder. Eu ainda não sabia bem o que ela planejava fazer quando chegasse ao núcleo, mas tinha visto um lado seu que não deve ter sido fácil mostrar.

– O pior que se pode fazer é tomar as coisas como garantidas... – Quebrei o silêncio baixinho, pensando em tudo que antes achei que teria para sempre e que já não tinha mais. – Algumas coisas... Escorregam muito fácil pelos dedos...

Tomei um punhado daquele pó brilhante que se acumulava nas minhas roupas e o assisti sumir pelo vento sem que eu pudesse segurá-lo. Quantas coisas eu tinha perdido assim? Já tinha cansado de contar.

– Seu pai? – Ela sussurrou. – Ele deve ter sido um grande homem...

– O maior que podia...

– Foi ele que o mostrou esse universo além da Terra? – Ela perguntou e eu confirmei com a cabeça, revelando um pouco do meu passado:

Quando eu era criança e descobri que meu pai negociava com alienígenas, passei meses pedindo para que ele me levasse para conhecer um. Eu deveria estar aterrorizado... Mas era jovem demais para ter medo.

– 10 anos é novo demais para sair da atmosfera! – Me lembro de minha mãe reclamando. – E com aquelas feras com que você negocia... É perigoso demais!

– Esse cliente é diferente. – Meu pai retrucou. – Ele se importa com algo além de nos esmagar... Já é mais do que podemos dizer pela maioria dos humanos...

– Está fazendo amizade com alienígenas agora? – Ela era tão preocupada... Mas talvez eu devesse tê-la ouvido.

– Amizades fazem bem aos negócios.

Naquele dia eu pisei na nave dele pela primeira vez... As portas abertas foram como se o universo inteiro estivesse se abrindo para mim; e, quando a Hasta perfurou o espaço tão afiada quanto uma lança, eu acreditei que fosse possível desbravá-lo sem que o preço fosse imensurável. Ela era bem diferente de hoje... Mais limpa, mais brilhante, e algumas paredes ficavam em lugares diferentes, ainda que eu tenha tentado reconstrui-la tantas vezes à imagem da perfeição que ele criou. Ela era a nave com que eu conquistaria o universo... Pena que mudou tanto.

Meu pai decolou para além dos limites da Terra e, enquanto eu me perdia na vastidão atrás da janela, ele abriu as portas para uma criatura do espaço. Eu me escondi atrás da sua perna como se ele fosse uma muralha imbatível... Para mim, meu pai não era apenas um homem tentando construir sua vida aos tropeços, mas o solo em que minha realidade se sustentava; era onde eu mergulhava as minhas raízes para minha cabeça despontar em busca do sol; era meu porto seguro para retornar, a solução de qualquer problema e a proteção para qualquer ameaça... Com ele, não havia morte para me preocupar ou sonho que não pudesse se realizar... E, quando eu me escondi atrás da sua perna no momento em que o alienígena emergiu da escuridão, eu tive certeza de que tudo ficaria bem para sempre.

A criatura se decifrou abaixo da luz fraca de uma lâmpada, seus três olhos nos observando com a voracidade cruel de feras famintas. Seus ossos despontavam abaixo de uma pele avermelhada como sangue, o corpo gigantesco se curvava para caber no espaço apertado e seus dentes eram tão afiados que me lembro de achar terem sido lapidados, porque nada que eu jamais tinha visto na Terra parecia tão destrutivo, além daquilo criado com o objetivo de destruição.

– Já o levando para aventuras espaciais? – A criatura perguntou com um sorriso torto, em uma língua que eu desconhecia na época. Suas palavras apareceram traduzidas para mim na tela de um aparelho que meu pai tinha me entregado antes e, apenas assim, consegui acompanhar a conversa.

– Se ele for esperto, vai seguir os passos da mãe e ficar na Terra. Mas, se ele for corajoso, vai seguir os meus.

Meu pai me encarou com uma espécie de orgulho que eu não merecia.

– E se ele for esperto e corajoso... – A criatura se abaixou, ficando à minha altura como se para me devorar; e em sua garganta eu caí muitas vezes nos meus piores pesadelos. – Talvez eu até o deixei trabalhar comigo em algum momento...

Com uma risada meu pai pousou a mão no ombro pontudo da criatura, um gesto que eu o vira fazer incontáveis vezes com seus amigos na Terra, mas que nunca antes parecera tão poderoso quanto naquele momento.

– Só os que perdem tudo se juntam à sua causa, Korrok... E, se depender de mim, ele nunca vai precisar de você. – Mas não dependia...

Doxy abriu a boca, mas, antes que pudesse falar algo, uma música distante alcançou nossos ouvidos, me salvando de revelar mais do que eu devia.

Rapidamente me levantei e ofereci a mão para ajudá-la a se levantar. Ela aceitou meus dedos e, com um sorriso animado, me puxou para a música.

• • • ֍ • • •

A música parecia ser feita de euforia pura, entrando por nossos poros com um calor convidativo. Ela nos atraiu para uma aglomeração ao redor de uma esfera quente de luz que flutuava a alguns centímetros do chão. Centenas de seres cobertos com a mesma areia reluzente a orbitavam, se movendo de formas que talvez pudéssemos chamar de dança, mas que eu não tinha tanta certeza.

O sorriso de Doxy brilhava mais do que a fogueira... E, quanto mais a música nos envolvia, mais ela se rendia, entregando seu corpo para algum deus da dança que a estivesse cobiçando dos céus naquele momento. Ela se movia como as marés diante das fazes da lua, as curvas do corpo ondulando como montanhas no horizonte que se erguiam e erodiam na superfície de um mundo com o passar eras. Gotas de suor brotavam da sua pele e escorriam pelos vales de seu corpo, enquanto as mãos penetravam pelas grossas camadas de seus cabelos e os jogavam para os lados em uma nuvem escura que me engolia. Seus olhos se fecharam para saborear um prazer que a visão não captaria... Enquanto eu mantive os meus bem abertos.

– Nós nascemos para morrer! – Doxy riu. – Então vamos nos divertir enquanto podemos! – Quando seus dedos me tocaram, eu escorreguei para a música.

Eu não sabia se era culpa da noite ou das estrelas acima, mas quando Doxy me puxou para perto, eu vi algo em seus olhos de que não consegui escapar. Seus movimentos me tocavam, vezes um lampejo de seus cabelos, vezes um braço, vezes o quadril, diante de mim, contra mim, atritando, me rasgando, tão próxima que eu conseguia sentir seu cheiro... E eu me perguntava se o gosto era o mesmo. Ela não estava dançando para mim, apenas um intruso no seu universo, mas seus movimentos prendiam meus olhos em uma mensagem que eu estava implorando, quase de joelhos, que não tivesse entendido errado. O mundo inteiro era o nosso palco, e não havia nada nele além da nossa euforia, destilada, inebriante, nos queimando de dentro para fora como se eu fosse o fósforo e ela a caixa, e a fricção em cada ponto que sua pele tocava a minha soltando a faísca.

Eu estava prestes a puxá-la para os meus braços, quando seus olhos se assustaram com algo que viu atrás de mim... E então o momento tinha escapado.

Me virei e vi o mesmo que ela: um ser de pele azul royal e um imenso ferrão às costas se divertindo ao longe. Era um pione; uma criatura perigosa que acumulavam veneno para torturar suas presas com mortes muito, muito lentas. Mas Doxy não tinha se assustado apenas porque ele era uma fera perigosa, mas porque aquele pione em particular tinha vestes negras enfeitadas com diversos broches e condecorações que apenas um dos Áulicos poderia ter.

– O que ele está fazendo aqui?

– Essa não é a pergunta, Kadi. – Doxy sussurrou, atraindo meu olhar. – A pergunta é: o que nós estamos fazendo aqui?

Infelizmente eu sabia a resposta para aquela pergunta.

Tirei do bolso um frasco cheio de pó branco que tinha encontrado no saco de pedras estelares que Korrok me entregou como pagamento. Quando estávamos na Hasta, eu o questionei sobre aquilo, ao que ele apenas respondeu:

– Você vai saber quando for a hora de usar. – E acho que era o momento.

A parada naquele mundo não tinha sido para nos "relaxar", mas para fazer mais um trabalho da rebelião. Quando os olhos de Doxy caíram no frasco, toda a alegria foi drenada de sua expressão petrificada em amargor.

– Você vai envenená-lo? – Ela perguntou. Eu não sabia se era isso que o pó faria, mas era uma hipótese possível.

– Eu não tenho escolha... – Sussurrei. – É uma missão da rebelião. Se eu não fizer, eles vão nos caçar até os confins do universo. – E eu não queria pensar no que aconteceria se eu não tivesse a ajuda deles...

Sem ouvir o que ela pudesse dizer para me convencer do contrário, virei as costas e caminhei para o Áulico. Ele parecia não ter nenhuma sombra de malícia e não pareceu fazer sentido arriscar o ódio de Doxy para destrui-lo... Mas então o brilho das suas medalhas me alcançou e eu percebi quantas guerras ele tinha vencido em nome do Império para tê-las, contra qualquer pequena insurreição que surgira pelos mundos de Ítopis sem a piedade de buscar entendê-las antes de esmagá-las.

Talvez ele apenas estivesse cumprindo a sua função...

Mas eu também estava.

Prendi a respiração e, me espreitando pela multidão, joguei o pó em uma nuvem pálida à frente de seu rosto, sem ficar para ver o resultado.

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