Endossimbiose | Versão Em Por...

By ElisMariangela

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Donecea Gaxy, uma iátrica determinada, se junta ao ardiloso e charmoso Arkadi Phaga para alcançar o núcleo da... More

Capítulo 1. Pacientes
Capítulo 2. História da Doença Atual
Capítulo 3. Parasitas
Capítulo 4. Emergência
Capítulo 5. Alta
Capítulo 6. Difusão
Capítulo 7. Proteassoma
Capítulo 8. Recaptação
Capítulo 9. Mitocôndria
Capítulo 10. Toxicologia
Capítulo 11. Anemia
Capítulo 12. Sepse
Capítulo 13. Hemorragia
Capítulo 14. Nó de Sutura
Capítulo 15. Instinto
Capítulo 16. Descamação
Capítulo 17. Hereditariedade
Capítulo 18. Convergência Evolutiva
Capítulo 20. Endorfina
Capítulo 21. Linfonodo Sentinela
Capítulo 22. Evolução
Capítulo 23. Cremação
Capítulo 24. Crisoterapia
Capítulo 25. Células
Capítulo 26. Comorbidade
Capítulo 27. Memórias
Capítulo 28. Dor
Capítulo 29. Luto
Capítulo 30. Subcutâneo
Capítulo 31. Olhos
Capítulo 32. Humanos
Capítulo 33. Mãos
Capítulo 34. Medo
Capítulo 35. Ansiedade
Capítulo 36. Pressentimento
Capítulo 37. Tremor
Capítulo 38. Inconsciência
Capítulo 39. Consciência
Capítulo 40. Necrose
Capítulo 41. Cicatrização
Capítulo 42. Sede
Capítulo 43. Ruminação
Capítulo 44. Solidão
Capítulo 45. Fúria
Capítulo 46. Digestão
Capítulo 47. Enterro
Capítulo 48. Fadiga
Capítulo 49. Coração
Capítulo 50. R.E.M.
Capítulo 51. Ouvidos
Capítulo 52. Cura
Capítulo 53. Latência
Capítulo 54. Febre
Capítulo 55. Necrotério
Capítulo 56. Apoptose
Capítulo 57. Metástase

Capítulo 19. Cicatrizes

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By ElisMariangela

Terceiro círculo do Império
Distrito de Destruição

Depois que os acordos foram decididos, eu, Kadi e Korrok retornamos para a clareira onde a nave estava. Kadi estirou a mão para Korrok, que o entregou um saco de pedras estelares quase maior do que a sua mão.

– Isso foi divertido... – Korrok sibilou.

– Vá pro inferno. – Kadi murmurou palavras que eu não conhecia, enquanto contava as pedras.

– Que isso, Phaga? Achei que fossemos amigos.

Amigos? Você contou para as columbas que estávamos com você! – Rosnei e Korrok trancou os dentes, como se precisasse fazer isso para contê-los. – De onde eu venho capitães lutam por seus navios; e não os arrastam para o fundo.

– De onde eu venho, os mares são feitos do sangue daqueles que afundaram... Para que os navios possam flutuar. – Ele rosnou, me enchendo de chamas. Mas, antes que eu pudesse retrucar, Kadi colocou a mão nas minhas costas e me conduziu para a nave. Aquela não era uma batalha que valia a pena lutar. Mas então Korrok pulou entre nós e a Hasta, sorrindo. – Indo tão rápido? Não me olhem assim, tão estressados... Eu sei um lugar ótimo onde vocês podem relaxar.

– Nós temos o que fazer, Korrok. – Kadi retrucou. Bom que ele sabia.

– E como esperam fazer bem seja lá o que planejam tão estressados? – O vorrampe provocou. – Aceitem isso como agradecimento por sua ajuda... – E então, olhando para mim: – E como um pedido de desculpas por afogá-los.

Kadi inspirou fundo e eu imediatamente soube que tinha se rendido. Ele me enviou um olhar de canto e murmurou:

– O núcleo não vai a lugar nenhum...

E então eu que estava suspirando.

• • • ֍ • • •

Pousamos no Distrito de Destruição, diante de portões tão colossais como a entrada dos parques de diversões que minha mãe me levava quando eu era criança – talvez naquela época eles só parecessem tão gigantescos porque eu era tão menor... Mas agora eles realmente mereciam aquele adjetivo.

Kadi estacionou sua nave em uma das últimas vagas e antes de entrarmos, Korrok pegou óculos transparentes de uma pilha à frente do portão e nos entregou. Não eram óculos feitos para humanos, – os meus tinham 3 olhos, e os de Kadi 3 pares – mas conseguíamos enxergar por eles.

– As lentes vão contabilizar tudo, mas não se preocupem. Está na minha conta. – Korrok explicou, me deixando mais confusa do que antes. – E não se esqueçam da festa depois.

– Você não vem? – Kadi o questionou.

– Não estou estressado.

Então o vorrampe se virou e foi embora.

Do outro lado daqueles portões centenas de casas e veículos com os mais diversos formatos e cores se estendiam até o horizonte, em uma espécie de subúrbio alienígena; e eu não conseguia pensar em nenhuma motivo para que estivéssemos ali. Kadi, que parecia saber o que estava fazendo, pegou duas ferramentas de tortura que estavam penduradas perto da entrada e colocou uma delas nas minhas mãos confusas. Será que aquelas casas estavam vazias?! Eu podia apenas desejar.

Quando percebeu o medo no meu rosto, Kadi abriu um sorriso perigoso que não me confortou nenhum pouco e então se aproximou de uma das casas. Ele testou a firmeza dos pés no chão, ergueu sua ferramenta, que era um enorme machado de 4 lâminas, e, com um movimento preciso e veloz, o chocou contra a parede. A casa inteira tremeu sobre suas bases por um instante como uma torre de gelatina e, em um piscar de olhos, explodiu em uma chuva de areia brilhante que tomou a noite em resquícios reluzentes.

Kadi se voltou para mim com um sorriso de orelha a orelha.

– Esse mundo inteiro é para isso. – Ele disse, apontando para a ferramenta semelhante que estava nas minhas mãos. – Aproveite. Só tente não me acertar.

– Mas isso seria o mais divertido...

O sorriso perigoso que ele abriu me fez me arrepender de ter dito aquilo, se eu não estivesse tão curiosa para saber o que ele faria com isso.

– Você acha que conseguiria? – Ele ronronou, se aproximando um passo.

– Está me subestimando ou se superestimando?

– A razão que a incomodar menos.

– E se as duas me incomodarem?

– Então você tem que aprender a perder.

– Com o melhor, pelo visto.

Ele fez menção de pegar um punhado daquela areia no chão e eu imediatamente ergui as mãos:

– Tudo bem! Eu me rendo!

– Tão rápido? – Ele riu. – Se for fácil assim, não vamos nem chegar perto do núcleo da...

E então eu chutei uma nuvem de areia que o cobriu da cabeça aos pés com aqueles fragmentos que cintilavam na luz. Corri antes que a nuvem baixasse, sob o som da minha risada e dos xingamentos dele metros atrás e, quando o fôlego me faltou, eu parei. Olhei para trás, onde a poeira tinha assentado, mas Kadi já não estava mais lá. Para onde ele tinha ido? Mordi o lábio. Eu conseguia senti-lo me espreitando das sombras de morros de areia, me caçando e esperando apenas o momento ideal para me atacar... E então devorar.

Quando ele chutou uma nuvem sobre mim, eu fui coberta de brilho. Tínhamos nos tornado dois pontos de poeira estelar, emergidos dos fornos de estrelas e pressurizados até que transformados em puros diamantes. Avancei na sua direção e o empurrei sobre um monte macio, mas, antes que eu pudesse rir, Kadi envolveu meu tornozelo e o puxou, me derrubando também. A areia flutuou ao nosso redor e eu mal consegui ver quando ele voou sobre mim com reflexos que não eram apenas os seus. Tentei pegar um punhado da areia para jogar no seu rosto, mas ele segurou minhas mãos e prendeu meu corpo no chão com o seu, me subjugando como se eu nem tivesse resistido e me impedindo de fugir enquanto ele me soterrava na areia até que apenas minha cabeça estivesse do lado de fora da superfície.

– Eu me rendo! – Gritei, gargalhando. – E dessa vez de verdade!

Ele riu e, satisfeito com a obra que tinha feito de mim, caiu deitado ao meu lado com um sorriso ofegante. Me deixei ouvir sua respiração, porque era tão estranho ouvir outra além da minha... E não consegui fugir do pensamento de que eu queria deixá-lo ofegante assim mais vezes.

– Não há nada que me tire daqui... – Ele fechou os olhos, bem confortável.

– Tem certeza? – Instiguei, emergindo os braços para me desenterrar. Ele abriu um olho e me enviou um sorriso tão brilhante quanto o pó que se impregnava em cada canto de nossos corpos. Me levantei e bati a areia do corpo, jogando-a em seu rosto. – E se eu dissesse que vou abrir um buraco na conta de Korrok?

Kadi se levantou em um pulo.

– Então eu diria que vou abrir um maior.

• • • ֍ • • •

Destruímos as casas até o sol começar a se pôr no céu daquele mundo, competindo para ver quem ferrava mais Korrok. Quando olhei para as costas despidas de Kadi, brilhando como um céu estrelado, pensei que a areia fizesse tão parte de nós que já estivesse dentro das nossas células. Em algum momento, quando não aguentou mais o calor, Kadi tirou a camisa, apenas para que as partículas de brilho se grudassem no seu suor e reluzissem nos meus olhos a cada movimento de seus músculos. Eu me contive muito para não fazer o mesmo. E, agora que a noite começava a cair, ele já a tinha colocado de volta.

Nos sentamos no teto de um veículo quando a primeira estrela ficou visível no céu rosado. Na verdade, aquele era o Oásis, tão distante atrás de um poro que já não passava de um grão de areia perdido na imensidão do universo. Olhando as estrelas ao redor, eu me perguntava o que os humanos do passado pensavam dos mistérios do céu... Se eles sabiam que alguns de seus questionamentos um dia teriam respostas. E que tê-los não aliviaria nenhum peso.

Era impossível olhar para o céu noturno sem se perder nele, ou nas perguntas que ele trazia quando sua infinitude se tornava incompreensível...

– Nós chegamos tão longe... – Me perdi pela escuridão acima. – Eu nunca teria imaginado...

– E vamos chegar mais longe ainda. – Kadi me enviou um olhar, com aqueles olhos de planetas verdejantes me orbitando. – Tão longe que depois, quando olharmos para o céu, nem vamos conseguir ver esse mundo onde pisamos hoje.

– Eu nunca agradeci...

– Espere para quando estivermos no núcleo. – Ele abriu um sorriso despreocupado. – E então você vai poder me agradecer como quiser.

Seu tom me fez pensar em algumas formas que eu nunca ousaria dizer.

– Me faça uma pergunta, então. – Sugeri. – A resposta vai ser minha forma de agradecer pelo que conquistamos até agora. – Ele ergueu uma sobrancelha. – Melhor do que continuar a viagem com uma pessoa completamente desconhecida.

Kadi então colocou a mão no queixo e refletiu por um instante, até encontrar algo que achou para perguntar:

– Qual é a história daquela cicatriz? – E apontou para o meu tornozelo direito, que não tinha sido atacado por vorrampes, onde uma linha branca sibilava na pele. Ergui uma sobrancelha.

– Tem certeza de que é isso que quer saber? Eu tenho muitos segredos abaixo da superfície...

– Eu preciso começar de algum lugar... Para depois chegar no fundo...

Ele achava que eu valia a pena escavar... Engoli em seco, desviei os olhos dos seus e então contei a história:

– Uma vez eu torci o tornozelo e tive de passar alguns noxdiems com um gesso na perna. – Comecei. – Quando voltei ao hospital para tirá-lo, a iátrica pegou uma serra e achou que o gesso fosse mais grosso do que realmente era... Então ela acabou alcançando minha perna. – Ri para a surpresa no rosto de Kadi. – Eu geralmente digo para as pessoas que sobrevivi a um ataque de serra elétrica.

– E não é mentira. Quem diria que suas cicatrizes teriam histórias para contar... – Dei de ombros, sorrindo. – Mas ainda tem tanto que não sei...

Ele queria me escavar mais... E eu queria ser descoberta.

– O que quer saber?

– Por que você quer tanto ir para o núcleo? – A pergunta já estava na ponta da sua língua. Eu abri a boca para falar o que eu já tinha dito sobre a Rainha, mas ele continuou: – No fundo... O que está te levando para ele?

No fundo... Eu não gostava da escuridão que se escondia nele quando eu parava para prestar atenção. Suspirei e o revelei minha parte mais frágil, o ponto onde ele deveria cravar a faca se assim um dia desejasse:

– No Oásis, alguns dos pacientes eram tão mal-humorados que eles podiam me xingar só por eu dizer "bom dia"... E era muito pior se eu não dissesse. – Ouvi Kadi rir, enquanto meus olhos se perdiam nas estrelas distantes, piscando como se também me ouvissem. – Mas outros também eram doces... – Eu ainda me lembrava. – Uma vez eu cuidei de uma tecelã... A família dela não visitava muito, então ela conversava comigo, sobre suas aventuras da juventude, seus erros, seus sonhos... E passava bastante tempo tecendo presentes para o pessoal da equipe. – Abri um sorriso suave para o sorriso dela em minhas lembranças. – Mas um dia ela piorou... Nós tentamos salvá-la, mas não tinha mais muito que pudéssemos fazer... – Suspirei. – Um dia, ela me encarou nos olhos e sussurrou: "me desculpe por não ter terminado seu presente a tempo... Prometo que vou entregá-lo na próxima vida...". – Minhas lágrimas brilhavam na noite. – E então ela se foi...

Assim como todos... Alguns vivos. Outro não.

Quando olhei para Kadi, seus olhos brilhavam como os meus, refletindo as luzes dos astros acima, porque ele entendia o que fazia minha voz tremer. Sua mão se aproximou e tomou a minha, aquecendo-a e acariciando a pele como se fosse arte. Senti o formato de seus dedos com as pontas dos meus e tracei cada linha dos desenhos de suas digitais, cada dobra, cada calo, em uma tentativa de conhecer suas mãos e tudo que elas um dia tinham feito... Ficamos uma eternidade ali, em silêncio, nos dedos um do outro e abaixo das estrelas, sobre aquela ponte frágil que nos tornava tão humanos... Era como se fôssemos as duas últimas pessoas na Via Láctea, ilhadas entre oceanos de estrelas e ondas de solidão, aquecidos apenas por aquela flama na ponta dos dedos que queria tocar tão mais e não devia.

– Foi uma promessa... – Sussurrei, recolhendo meus dedos. – Que não importava se ela podia cumprir ou não, porque já realizava no desejo daquela outra vida que vivi inteira no poder de um instante... – Engoli em seco, pensando no rosto que há muito já se esvaia das minhas memórias, ainda que suas palavras tivessem ficado eternas. – Foi um presente... Uma vida que não precisava acontecer para que eu a experimentasse... Onde tudo era possível, ainda que não pudesse ser aqui... E, mesmo quando estava morrendo, ela me agradeceu. Apenas por melhorar seus últimos dias... – Me lembrei dos incontáveis outros que também me agradeceram por lutar por eles, ainda que eu tivesse perdido tantas batalhas. – Eu preciso ir para o núcleo da galáxia... Para evitar que sintam essa dor... Para tornar esse Império melhor... E para que as próximas vidas nele sejam como essas que sonho hoje...

Eu faria qualquer coisa por aquilo.

– Já conheci muitas pessoas determinadas... – Ele comentou, os olhos vagando pelo vazio acima. – Você tem a mesma intensidade que elas, capaz de mover mentes, montanhas, Impérios... Pessoas que olham para as estrelas como você; e que olham para os outros como se fossem estrelas... – Suas palavras foram ambrósia para os meus ouvidos. E, por um momento, jurei ter estado morta por toda a vida, porque agora eu tinha sido ressuscitada. – Se você quiser, vai ter o universo... Porque ele seria estúpido se não quisesse ser seu.

Encarei-o sem palavras.

Nunca eu tinha me sentido tão vista... E, quanto mais eu caia em seus olhos nos meus, mais eu percebia o quanto ele era bom em me fazer sentir assim.

– Obrigada, Arkadi...

– Arkadi? – Ele riu. – Cansou de errar meu nome?

– Vou parar de incomodá-lo com o outro...

– Logo agora que eu estava me acostumando com ele?

Enviei-o um olhar para lê-lo e nele vi aquele calor que o universo não costumava dar tão fácil... Um conforto que minha vida não costumava ter.

– Então obrigada, Kadi.

– Não há de quê, Doxy.

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