O Vale dos Anjos - O Torneio...

By schulai

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A morte tem o poder de separar um amor? Para muitas pessoas, a frase "até que a morte os separe" é a afirmaçã... More

#Agradecimentos
#Prefácio
Prólogo - Anúncio
(1) ένα - A morte não é o fim
(2) δύο - Lembranças
(3) τρία - O Julgamento
(4) - τέσσερα - A Última Conversa
(5) - πέντε- A Ameaça
(6) - έξι- As Leis do Novo Mundo
(7) - επτά - Um Cupido Chamado Anne
(8) - οκτώ - O Outro Século XXI
(9) - εννέα - O Torneio dos Céus
(10) - δέκα - O Segredo de Obelisco
(12) - δώδεκα - Os Xamãs
(13) - δεκα­τρία - Preparação
Booktrailer do Segundo Arco
Início
(14) - δεκα­τέσσερα - Inscrição
(15) - δεκαπεντε - O Mestre Ramirez
(16) - δεκα­έξι - Subindo o Nível
(17) - δεκα­επτά - O Treinamento para Voar
(18) - δεκα­οκτώ - O Vento que Traz a Tempestade
(19) - δεκα­εννέα - O Natal Solitário
(20) - είκοσι - O Casamento Frustrado
(21) - είκοσι ένα - Fuga
(22) - είκοσι δύο - Duelo entre Pupilos
(23) - είκοσι τρία - A Seleção
(24) - είκοσι τέσσερα - A Cerimônia de Abertura
(25) - είκοσι πεντε - O Misterioso Elemento do Amor
(26) - είκοσι έξι - Silvester
(27) - είκοσι επτά - O Guerreiro Convencido
(28) - είκοσι οκτώ - Ventos Trágicos
(29) - είκοσι εννέα- O Plano de Koltz
(30) -τριάντα - Surpresas e Frustrações
(31) - τριάντα ένα - O Comunicado
Prenúncio
COMUNICADO PARA O LIVRO 2!
LIVRO 2 SAIUUUUU

(11) - εννέα - Intrusos no Funeral

99 9 11
By schulai


Para esse décimo primeiro capítulo vamos com uma música que trás um sentimento de melancolia, acho que essa palavra define bem esse capítulo.

Já era quase meio-dia quando o senhor Ishizuki voltou. Dimítris viu o sogro de Obelisco acordar com o dia ainda escuro e partir ao amanhecer antes dos primeiros raios solares aparecerem. Obelisco também partiu pela manhã alegando a necessidade de resolver assuntos importantes, como arrumar algum de seus clones para substituí-lo durante o julgamento do sogro, que até o momento sequer desconfiava de sua morte.

Depois de almoçar, o senhor realizou tarefas domésticas como limpar a casa e colher alimentos de sua horta. Dimítris e Anne ainda o acompanharam no conserto de cadeiras e de um antigo relógio, porém sem permitir que ele percebesse suas presenças. Já anoitecia quando Ishizuki terminou seus afazeres, partindo para o quarto localizado no andar de cima, entretendo-se em seu computador pessoal.

Anne e Dimítris aproveitaram o momento para reaparecerem. Ishizuki pareceu feliz em revê-los.

— Chegaram em boa hora! Vão conhecer meu filho que está na Coreia do Sul e minha filha que está nos Estados Unidos. Faz muito tempo que não falo com meu filho. Não sei por que, mas estou me sentindo estranho.

Dimítris sorriu achando curioso o fato de que tanto Ishizuki quanto ele, pressentiram algo de diferente, momentos antes de morrer. Será que isso acontecia com todos que faleciam?

Escondido ao fundo estava Obelisco que não parava de se mexer, evidenciando a ansiedade que sentia em rever seus cunhados e outros familiares. Estava encostado no armário de maneira que não pudesse ser visto a menos que o senhor virasse de maneira repentina em sua direção.

O velho Ishizuki ativou o programa de bate papo, encontrando o filho que surgia na tela.

Kazuma, meu filho! Meu querido filho, quanta saudade! Como você está?

Dimítris riu e Anne também sorria em ver tal demonstração de amor. Outro fator curioso era a habilidade do senhor Ishizuki com o computador mesmo com a idade avançada. Ah, os computadores! Como Dimítris sentia falta de um!

— Não acredito! É você mesmo, papai? Eu estou bem, morrendo de saudades do senhor. E como estão as coisas aí no Japão?

— Estão bem, apesar de estar sozinho. Bom, sozinho não estou. Tenho espíritos que me acompanham inclusive o da sua mãe. Se demorar muito para voltar a me visitar talvez só me veja como um deles.

— Que besteira, o senhor sempre fala isso.

Dimítris olhou para trás reparando que lágrimas caíam do rosto de Obelisco, principalmente quando mais adiante, o sogro citou o nome da esposa do anjo. Ele finalmente descobriu quem ela era, ao olhar para uma foto antiga ao lado do computador de Ishizuki. Não havia como negar a beleza daquela mulher, composta por cabelos pretos ondulados, olhos pretos e pele morena além de altura destacável, talvez até mais alta que Obelisco. As bochechas redondas e lisas como maçãs a tornavam ainda mais graciosa. Era com certeza uma mulher muito atraente. A mistura oriental a tornava magnífica.

O Senhor Ishizuki encerrou o diálogo com o filho logo em seguida, virando na direção de Dimítris e Anne.

— Gostaram, meus amigos? Meu filho é especial, um homem rico, um homem de negócios! Agora vocês vão conhecer a irritadinha. A minha querida Keiko. — Ishizuki passou a mão pelo rosto da filha no retrato que segurava demonstrando afeto por ela.

Dimítris instantaneamente olhou para Obelisco e este parecia estar em transe. Sequer mexia as sobrancelhas ou a boca. Segundos depois uma voz feminina atendeu e Ishizuki confirmou que era Keiko falando.

— Olá, minha filha, como você está?

— Bem, papai. O senhor vai achar engraçado, mas estou no Japão. Vim a convite da empresa e passarei o restante da semana por aqui. Cheguei há algumas horas, por isso não tive tempo de vê-lo hoje. O que acha de nos vermos amanhã à tarde?

Então ela estava no Japão? Dimítris e Obelisco se entreolharam. O anjo parecia surpreso com a informação. Será que ela veria o pai antes que falecesse?

— Acho ótimo, minha querida! Ótimo, ótimo, ótimo! Nossa como estou feliz em ouvir isso, meu coração até disparou!

Dimítris percebeu o amor incondicional do senhor Ishizuki pela filha. Naquele momento, ela e o pai choravam de saudades um pelo outro impedindo Dimítris de descobrir o que ela sentia por Obelisco e se ainda o amava. As únicas informações que tiveram eram que estava bem e trabalhando mais que o normal. Isso parecia confortar Obelisco, que voltava a expressar suas reações movimentando os olhos e os músculos da face.

Passada a conversa o senhor Ishizuki desligou o computador. Antes de deitar-se tratou de despedir-se de Dimítris e Anne.

— Antes de dormir, gostaria de agradecê-los pela companhia. Muito obrigado, vocês foram muito legais não me deixando sozinho nesses dias.

— Não agradeça, senhor Ishizuki. Para mim é sempre bom ficar perto de pessoas como o senhor ainda mais por conseguir nos ver.

O sogro de Obelisco agradeceu a fala de Dimítris apagando as luzes. Os amigos admiraram o velho até que caísse no sono, emitindo roncos audíveis. Obelisco aproveitou a situação para vir falar com eles.

— Prestem atenção, pois vou entrar nos sonhos dele e usar uma das técnicas que me ensinaram como anjo. É mais ou menos o que faço quando apago a mente das pessoas para a lembrança. — Vendo o rosto de desentendido de Dimítris, Obelisco simplificou.

— Vou entrar no sonho dele, oras! Entendeu, Dimítris? Ele vai morrer agora, mas como está dormindo preciso aparecer em sonho. Anne sabe disso então não repare se eu ficar imóvel por um tempo. Podem esperar por mim aqui mesmo enquanto resolvo isso. E não é para fazer cócegas ou gracinhas em mim entenderam?

Obelisco sorriu para depois encostar a mão na testa do homem. Em um estalo de dedos ficou imóvel, como se tivesse petrificado. Dimítris estava curioso, adorando os poderes que os anjos tinham. Poucos segundos depois Anne suspirou e ele percebeu que o trabalho estava feito.

Ishizuki havia falecido.

Obelisco acordou do transe mostrando o polegar em sinal de sucesso, porém seu rosto demonstrava a chateação por guiar seu próprio sogro à morte.

— Já inseri parte do meu poder nele. Ele agora passará pelo processo das lembranças e depois pelo julgamento. Encontro vocês no velório — Obelisco apoio as mãos nos joelhos, respirando profundamente — caramba, amigos, estou muito ansioso. Não acredito que irei revê-la. Espero aliviar minha solidão. Já faz mais de dez anos que espero por esse momento.

Obelisco, não sabia que sua morte havia sido tão triste. Ver o que você passou me faz repensar se vale a pena fazer o que estou para fazer...

Dimítris, gostaria de ter tido o apoio e poder que você está tendo. Eu no seu lugar faria a mesma coisa até porque a tua esposa te ama e sente sua falta, diferente do meu caso. Acha que se a Keiko me quisesse eu não teria procurado um meio de falar com ela? Você ainda não conhece, mas há uma série de maneiras de se comunicar com um vivo. Sei que não deveria estar dizendo isso, mas se esse é seu sonho vá até o fim, senão te chamarei de covarde pelo resto de sua existência. — Com um sorriso fingido Obelisco tratou de se despedir.

— Podem ir chorando, mas tenho que ver o julgamento dele. De manhã nos encontramos no local do velório tudo bem? É aqui perto, não tem como se perderem. Nada de saírem aprontando seus bagunceiros!

Dimítris e Anne acenaram com a cabeça concordando com o amigo.

Dimítris sorriu, mas logo tal alegria ia acabar. O dia que se aproximava prometia fortes emoções.

A noite passou e Dimítris e Anne decidiram descansar. Dimítris deitou no sofá e achou estranha a sensação. Não sentia a maciez do objeto, era como se estivesse deitado em uma tábua, mas pelo menos não havia atravessado o móvel, isso já havia conseguido controlar. Mesmo com todo o desconforto sentia-se esgotado, graças ao uso de sua energia para ouvir, ver e sentir as coisas na Terra. Acabou cochilando por ali mesmo, enquanto Anne dormiu no quarto de hóspedes. Ao amanhecer encontraram uma viatura da polícia e alguns oficiais retiraram o corpo de Ishizuki. Pelo que Dimítris pôde ouvir, uma denúncia anônima fez com que os policiais encontrassem o corpo do senhor. Só podia ser da autoria de Obelisco.

Os dois partiram para o local do velório que segundo Obelisco lhes informara, ficava em um Templo a duas ruas atrás da casa do senhor Ishizuki. Eles chegaram quando o local ainda estava vazio, afinal, o corpo ainda precisava ser avaliado no necrotério até que o velório pudesse ser realizado.

Somente ao final do dia seguinte que a cerimônia teve início, tendo a presença de diversas pessoas. Uma senhora trouxe diversos pratos que foram servidos chamando a atenção de Dimítris. Foi então que descobriu o costume japonês onde os convidados se alimentavam durante o velório de uma pessoa.

Já estava quase anoitecendo quando Obelisco apareceu com seu sogro.

— Cumprimentem mais um que estará no Paraíso. E esse nem precisou fazer escândalo iguais uns aí que eu conheço...

— Parabéns, senhor Ishizuki — Saudou Anne.

— Nossa, ele também consegue ver e ouvir as pessoas aqui tão rápido? Então não sou só eu, Obelisco Dimítris encarava o amigo com incredulidade.

— Mas tem que ser o falastrão, né! Eu emprestei meu poder a ele, oras bolas, acha que deixaria alguém recém falecido, no seu próprio velório e sem ver e ouvir as pessoas que ama? Só que você não quis esperar eu te ajudar e foi fazendo suas bizarrices!

Ishizuki olhava de Dimítris a Obelisco e a forma como fazia caretas demonstrava estar desconfortável e confuso com aquele assunto.

— Bom, depois falamos disso, agora o foco é no sogrão, digo, bem-vindo ao seu velório, senhor Ishizuki. O senhor pode ficar aqui até seu funeral. Eu particularmente quero aproveitar para ver a Keiko.

— Meu filho, Richard — disse o senhor Ishizuki — ela ainda acha que a culpa foi sua pelo que aconteceu naquele dia. Ela está chateada, não conseguiu superar a situação, mesmo tentando um tratamento psicológico. Mas uma coisa posso afirmar — ele bateu no ombro de Obelisco olhando com aparente carinho nos olhos do anjo — ela ainda sente sua falta e se arrepende por ter sido tão rude naquele dia.

Richard? — Anne e Dimítris ficaram surpresos ao ouvir o verdadeiro nome de Obelisco.

— Sim, Richard, esse é meu nome! Achavam que eu me chamava Obelisco? Façam-me o favor! Achei que tivessem um pouco de cultura, mas pelo visto me enganei.

Dimítris concordou, afinal, seria no mínimo curioso alguém chamado Obelisco.

Obelisco foi o apelido que me deram quando comecei meu curso para Anjo Guia de Enterro. Da próxima vez trago um dicionário comigo

— Mas é bobo mesmo, né? Eu sou um anjo e nunca tive um apelido!

— Também com esse nome, Anne, todo fresco nem era para ter mesmo! Só dão apelidos se tiverem duas ou mais pessoas com o mesmo nome na mesma equipe. Para não haver confusão, um dos dois passa a ser chamado por algum apelido.

— Entendi! Valeu, Richard!

Depois de conversarem eles se aproximaram das pessoas que ali velavam o corpo do senhor Ishizuki. Ao chegarem, essas pessoas iam em direção ao incenso dizendo ali os seus pêsames, expressão típica dessas ocasiões no Japão. Uma das pessoas que acabava de chegar era Keiko. Ela parecia a única realmente triste ali e Dimítris não sabia se era pelo parentesco ou por ter combinado de encontrar o pai no dia que falecera.

Ishizuki explicou que no Japão as pessoas eram preparadas para a morte a vida toda e a maioria acreditava na continuação da mesma após o fim de sua passagem pela Terra, mas Keiko não agia assim. No momento em que ela se aproximou do incenso lágrimas rolaram e Dimítris percebeu que Obelisco ofegava. Fazia muito tempo que ele não a via e naquela ocasião ela estava ainda mais linda do que na foto vista por Dimítris. Mesmo com o tempo agindo, sua aparência não era de uma mulher de sua idade, mas sim de uma jovem de charme encantador.

Era o momento de Obelisco. Ele precisava se materializar, porém os segundos se passavam e todos encaravam o guia de enterro à espera de uma atitude. Algo parecia incomodá-lo.

— Não consigo.... Não tenho coragem... — Obelisco parecia travar um duelo psicológico. No momento muitas lágrimas escorriam por seus olhos e Dimítris percebeu a tristeza que o dominava. O sentimento de covardia, inutilidade e falta de confiança eram nítidos nele.

— Não consigo.... Todos esses anos e não consigo sequer aparecer na frente da minha mulher. Jamais vou resolver essa situação.

Anne o puxou para si o abraçando, solidarizando-se com seu momento de dor. Dimítris percebeu a séria situação que o amigo passava quando uma ideia lhe animou.

Obelisco, eu sei que é proibido que me dê seus poderes de novo, mas eu posso fazer isso por você, o que acha? Eu falo com a Keiko em seu nome, digo que está aqui com a gente e conto toda a história, não acha legal?

Obelisco, que estava abraçado com a cupido, voltou sua atenção ao amigo.

— É muito arriscado, os recolhedores podem descobrir você.

— Não me importo. Nunca vou deixar um amigo meu na mão, além disso, em cinco minutos nada acontece, não é mesmo?

— Ela não vai te ouvir em tão pouco tempo.

— Posso tentar, não posso?

— Você faria isso por mim?

— Mas é óbvio! Você me ajudou uma vez e agora é hora de retribuir.

Obelisco pareceu ponderar os prós e os contras, pois ficou o tempo todo mexendo na cicatriz em seu queixo. Dimítris ainda tinha uma última cartada.

Obelisco eu sei que é proibido, mas você não vai levar nenhuma bronca se te descobrirem. Eu prometo que assumo toda a culpa, tá bem? Vai ou não vai?

Dimítris mostrou ao amigo o mesmo olhar de determinação que apareceu durante seu julgamento. Aquele olhar diferenciado, de alguém que há muito era aguardado. O olhar responsável por Obelisco emprestar seus poderes a ele da primeira vez.

— Você venceu, venha comigo.

Dimítris sorriu acompanhando Obelisco. Sua mente chamava a atenção para o que estava fazendo e em alguns momentos ainda tentou impedi-lo de seguir em frente. Dimítris não sabia se era obra de um cupido, mas aquela voz não agiria ali. Ajudar seu amigo era muito mais importante do que o medo de ser descoberto.

Do lado de fora do templo três pessoas com mantos e capuzes negros assistiam a tudo o que acontecia...

Alguns minutos se passaram até Dimítris e Obelisco encontrarem um local deserto. O intuito era evitar que alguém visse Dimítris aparecendo do além. Ao contrário da primeira vez, já era noite o que facilitava o processo.

Obelisco tocou o peito de Dimítris apossando-o de um grande calor, igual ao sentido em seu velório. Era uma energia poderosa, pois a partir daquele momento o cheiro da natureza voltava, o tato funcionava e a visão, por ele usar óculos em vida, piorava.

Estava vivo!

Consciente do pouco tempo restante, Dimítris correu em direção ao templo para lá dentro aproximar-se de Keiko ficando ao seu lado.

Ela já não chorava mais, porém ainda lamentava.

— Primeiro foi o Richard, agora o senhor, o que será de mim agora?

— Eu sei a resposta.

Dimítris aproveitou o momento cochichando no ouvido de Keiko. Ela olhou com notável espanto, afinal não o conhecia.

— Ora essa, mas quem é você? Como pode falar uma coisa dessas sem nunca ter me visto na vida?

Aparentemente Keiko não havia gostado da abordagem e parecia aproveitar o momento para descarregar a raiva que sentia.

— Imbecil! Nunca brinque com os sentimentos dos outros.

Dimítris já esperava por tal reação, por isso tinha um discurso preparado.

— Não estou brincando, acredite se quiser. Digamos que eu sei mais sobre sua vida do que pensa. Preciso de um minuto, por favor, não é mentira, podemos falar ali fora?

Keiko demorou alguns segundos, só aceitando seu pedido após olhar o visor do celular. Ela fechou a bolsa, caminhando ao seu lado para fora do templo. O primeiro passo do plano funcionava com perfeição.

— Em primeiro lugar gostaria de me apresentar. Meu nome é Dimítris e morri há duas semanas...

Keiko olhou assustada parecendo tentar fugir quando Dimítris continuou.

— Espere, me ouça!

Keiko virou para trás. Agora o momento decisivo.

— Depois que morri, pude encontrar seu marido Obelisco, perdão, Richard. Infelizmente ele não pode voltar à vida agora para rever você, mas eu consegui por alguns instantes e a pedido dele, vim falar com você. Aliás, seu pai está junto dele.

Duas lágrimas caíram dos olhos de Keiko. Ela parecia tentar se controlar. Dimítris enxergava Mariah nela, mas diferente de sua esposa, ela demonstrava uma personalidade mais forte, mais agressiva.

— Acho que você vai me desculpar, mas eu nunca o vi na vida, não sei quem pensa que é e ainda quer que eu acredite nisso tudo? Como me provaria tal loucura?

— Eu sei que você e Obelisco, oh droga, Richard, brigaram no dia da morte dele. Sei que você não acredita em sua inocência e não confia nele. Outra prova de que não minto é que seu pai ligou para você um dia antes de morrer, antes de dormir, pelo computador.

O rosto de Keiko ficou pálido em segundos. Parecia não acreditar.... Tudo o que Dimítris havia dito era verdade e ela deveria saber disso. Seu olhar ainda não demonstrava confiança no que ele dizia.

— Essa é uma brincadeira de muito mau gosto, viu? Richard me traiu naquele dia, eu sei disso. Ele sempre foi mulherengo e sonhava em ser famoso para poder se agarrar com aquelas vagabundas igual à que o beijou.

— Não! Ele jamais trocaria você pela fama. O que aconteceu não foi culpa dele. Ele sequer viu a fã e não teve nem tempo de se explicar.... Sabia que além de tudo ele está fazendo o possível para voltar à vida para falar com você? Não será por muito tempo, mas assim como eu, ele terá cinco minutos para se mostrar e provar sua inocência.

Ao revelar detalhes do dia da morte de Obelisco o olhar de Keiko mudou. Ela parecia finalmente acreditar nas suas palavras.

— Por que deveria acreditar em você?

— Porque existem amores que não acabam com a morte e esse é um deles! Sei também que vocês moravam nos Estados Unidos.

— Pare, pare, isso agora não importa. Eu só vou acreditar quando o vir pessoalmente, está bem? Então, até logo!

Dimítris e ela se olharam. A esposa de Obelisco pareceu perceber a tristeza que sentia por falhar na missão.

— Não é nada contra você, é que ainda me magoo quando me lembro dele. Eu o amei muito, muito mesmo, mas não suporto a ideia de saber que ele me traiu. Se você que morreu a tão pouco tempo consegue estar assim por que ele não? Mais uma vez ele mentiu para mim e usou da covardia para se esconder. Não confio nele e nunca deveria ter confiado. Só confiarei quando vê-lo pessoalmente. Essa sim seria uma prova de que me ama. Se ele estiver aqui por perto como você tanto diz é bom que ele ouça! Quero ver se ele ainda me ama como você tanto diz — Hà medida que falava, as lágrimas que antes foram impedidas de sair caíram do rosto de Keiko como uma queda d'água.

— Por favor, Keiko, dê uma chance a ele! Por favor!

— Acredite, eu já dei muita chance... Muita mesmo! — Keiko virou-se e partiu caminhando de volta ao templo.

Dimítris olhou para Obelisco percebendo que este chorava. Parecia se culpar pela por não aparecer para a esposa. Ao contrário de Dimítris, ele não havia aproveitado a oportunidade de dizer o que sentia. Dimítris lamentava-se pelo amigo. Ao ver Keiko partir pensou em algo que pudesse chamar a atenção dela. Não poderia permitir que ela e Obelisco ficassem dessa maneira sem se reconciliarem. Ele tinha que agir e foi isso que fez.

Dimítris e Keiko conversaram em um local pouco distante do templo, por isso levaram quase um minuto até que chegassem novamente ao salão principal do templo. Dimítris não teve coragem de abordá-la do lado de fora, mas precisava correr contra o tempo e acalmá-la rapidamente do lado de dentro.

Assim que Keiko entrou no templo, Dimítris, logo atrás, foi interrompido pelas figuras de três criaturas de mantos negros que pararam justamente à sua frente impedindo sua entrada.

— Acho que você poderia nos emprestar esse seu poderzinho, hein?

— Você de novo?

Dimítris não acreditava no que via. Fillippe, o mesmo Anjo Carcerário que lhe atacara no seu enterro estava ali a sua frente, porém agora outros dois o acompanhavam. Assim como ele, possuíam olhares sérios e preparados para o combate.

— E dessa vez trouxe dois amigos! Assim como eu, estão interessados em você.

Os anjos carcerários ao lado sorriram, parecendo concordar com o que ele dizia. Dimítris olhou para trás percebendo Obelisco quieto. A imagem de Keiko deveria tê-lo abalado, pois o Anjo Guia de Enterro preferiu proteger Ishizuki a se envolver com aqueles três carcerários. Anne, ao contrário, aproximou-se de Dimítris. Se antes ela se mostrava uma pessoa frágil e extremamente preocupada com a aparência, agora demonstrava coragem e determinação.

— Afinal de contas o que vocês querem, posso saber? — Anne foi direto ao ponto, causando diferentes manifestações faciais dos carcerários. Fillippe contra-atacou.

— Simples ruivinha, queremos os corpos de vocês.

Dimítris e Anne se entreolharam, mas se a cupido sabia o que aquilo queria dizer Dimítris não conseguiu decifrar.

— Você ficou louco? Achei que não fôssemos revelar nossas intenções! — O Anjo Carcerário da esquerda se manifestava e tal protesto fez com que a discussão mudasse de foco.

— Isso não mudará em nada o nosso objetivo, nem o sucesso dele.

— Você da esquerda e você da direita como se chamam? — Anne olhava com notável interesse nos outros dois anjos. Eles demonstravam não concordar com o método de Fillippe. Ali era a chance de evitar um confronto desnecessário.

— Me chamo Rainer. — O Anjo Carcerário da esquerda era louro de olhos castanhos e seus cabelos bagunçados chamaram a atenção de Dimítris assim como a barba que estava por fazer.

— Me chamo Washington. — O Anjo Carcerário da direita por sua vez era mais cuidadoso com cabelos negros penteados e boa aparência. Sua pele morena suava, do que devia ser de ansiedade pelo momento que passava.

— Agora que sabem o que queremos acho que é hora do show! — Fillippe gritou e Rainer e Washington prepararam-se para atacar.

Dimítris não estava preparado para um duelo, muito menos para se defender de um provável ataque daqueles. Queria soltar a energia do dia do seu enterro, mas nada acontecia. Os segundos que se passavam eram cruciais. Ele pensou em correr e se esconder, mas se fizesse isso seria a primeira vítima do duelo. A única saída era esperar.

— Parados!

Um grito ecoou do céu acima de Dimítris lhe chamando a atenção. O brilho da lua permitiu identificar a origem daquela voz, descobrindo pertencer a uma mulher com cabelos negros e pele escura que se apresentava a eles com uma espada em mãos. A faixa de cor bronze na cintura denunciava sua identidade.

Nefertiti!

Era a Anjo Recolhedora que Dimítris havia encontrado na sua dimensão. Mas o que ela fazia ali? Dimítris deparou-se com os anjos carcerários e esperava que fosse pela presença deles, porém um relógio no alto do templo fez todo o sentido e um medo incontrolável o dominou. Havia quinze minutos que estava na forma viva e ainda não tinha voltado ao estado original.


O Anjo Carcerário Rainer, homenagem a um amigo de infância de mesmo nome!



O Anjo Carcerário Washington, mais uma homenagem a um grande amigo!




Vídeo Análise + Curiosidades + Easter Eggs: Capítulo 11


E ai pessoal, o que acharam? Devem estar querendo me matar com esse final né kkkkkkkkkkkk


Para esse capítulo temos a participação da querida Giuliana Sucigan. Sigam-na no seu insta: cafepipocaechocolate

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