Livro I - Nuvens de Sangue

By FelipeAraujox

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Existem diversas teorias da existência de vida inteligente fora do nosso Planeta Terra. Teorias de diversos c... More

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Especial 15 - Túmulos
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Maycon: Parte 2
Penúltimo Capítulo - Arilia
Último Capítulo - O inicio da tempestade

Adeus

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By FelipeAraujox

Notas iniciais do capítulo

Gostaria de saber mais afundo o que estão achando da trama que aos poucos está entrando no clima. Espero que gostem! Vamos juntos com nossos sobreviventes desvendar os mistérios que cercam o mundo.

"O que me dava mais medo era pensar que o mundo não poderia voltar ao que era, a certeza que tenho e que mesmo que nunca volte ao normal, viveremos nele do jeito que for. Ninguém mais morrerá."

~~~~

— Pai me perdoe por chegar tarde em casa?

— Nic, quantas vezes conversamos? Uma simples ligação poderia mudar meu humor, não poderia?

— Eu sei, mas completei meus dezoito anos, atingi a maior idade e estou completamente responsável por mim mesmo.

— Você tem certeza que é responsável por você? – Naquela hora lembro-me bem da face do meu pai, um velho jovem até demais. Gostava de sair assim como eu, curtia sua noite, entretanto era como qualquer pai. Preocupado.

— Me desculpe a próxima vez ligarei para avisar que não chegarei cedo.

— Isso mesmo meu filho, somos parceiros! O que quiser de mim terá, apenas quero saber se está bem mesmo completando trinta anos minha preocupação será a mesma, por que eu te amo… - Revirei os olhos e me joguei no sofá, - “Que dramático” - Pensei.

~~~

Senti o sangue das minhas veias esquentarem e percorrerem depressa dentro de mim. Minha pele aqueceu e meus olhos tremeram tentando negar ao meu subconsciente o que estava vendo. Foi como derrubar dezenas de quilos sobre minha cabeça, estava desesperado, com raiva e com vontade de saltar do carro. Ele está lá fora, meu querido pai, por que? Eu não tive chances de dizer para ele, de responder todas as vezes que ele olhou em meus olhos e disse “Te amo”. Eu quero sair do carro, quero abraçá-lo e dizer o quanto amo, não...

Não sinto minhas pernas, escuto meu coração palpitar como se fosse explodir. Minha pele se contraia em um mar de emoções, como conseguir reagir aquela cena sem cair em desespero. Se Clarice ou até mesmo Léo vesse ele do lado de fora não sei o que poderia acontecer. Luiza percebeu que estava acontecendo algo de errado comigo, pois não consegui disfarçar meu pavor e minhas lágrimas. Lagrimas que escorriam dos meus olhos e caiam sobre meus lábios chegando a me afogar, o que eu devo fazer? Penso se conseguiremos viver a tudo isso, o mundo deve acabar e todos morreremos, por que resistir? Poderíamos sofrer, sentir dor, medo... Se eles nos pegassem toda dor desapareceria, sumiríamos desse mundo injusto e a dor acabaria, é o mais apropriado.

— O que foi? – Luiza sussurrou enquanto os infectados passavam ao lado de nosso carro parado. Não ousei responder, mas quando olhei para frente e vi os olhos de Léo vermelhos e uma expressão desnorteada, sabia que ele havia visto o mesmo que eu. Coloquei minha mão na altura de minha boca e fiz um sinal de silêncio para ele, percebeu que se Clarice visse nosso pai ela poderia fazer algum barulho e tudo estava perdido.

Ver o rosto de meu irmão, a expressão de horror me fez refletir em alguns pensamentos. Temos que sobreviver, minha mãe está viva e prometi que entregaria Leonardo e Clarice vivos para ela. Não posso desistir, não quero ver ninguém que amo morrer. —Pai me perdoe, - chorei. Derramei lágrimas atrás de lágrimas sem me importar. Todos me olharam sobressaltados, mas tinha que sofrer em silêncio, tinha que desabafar a dor que havia sobre meu peito.

— O que foi irmão, por que chora? – Clarice esticou sua mão sobre a minha ainda abaixada, senti o quente de sua pele me tocar. Mas pela força do destino por assim dizer, ele aproximou-se do carro, tantas pessoas infectadas, milhares delas e justo ele estava sobre o vidro. Clarice então mirou sua visão para fora e vociferei no mesmo instante.

— Clarice olhe apenas para meus olhos, não olhe para fora, vamos! – Era tarde.

— Pai! – Berrou.

— Droga, ela gritou, por que gritou menina? – Bruno indagou agora sentando seu corpo no banco. E como uma onda de dezenas de metros os monstros inundaram sobre o carro.

A Blazer da Polícia balançava de um lado a outro, eram muitas mãos sujas de sangue batendo nos vidros, o carro poderia tombar. Levantei assim como todos fizeram, dei partida no carro, mas ele não ligou. Subiam no capo do carro tentando quebrá-lo, o alvoroço estava feito tanto do lado de fora quanto dentro, não tinha o que fazer.

— Vamos morrer é isso? – Caroline estava fora de si, Léo deu sua mão para ela e juntos ficaram em silêncio, Clarice passou para frente e me deu um longo abraço, ficou ali sentada comigo. Percebi a expressão de Bruno que nada fez, mordiscou o lábio e aceitou que juntos morreremos, não havia nada o que fazer.

— Desculpe pessoal, eu falhei em ajudar vocês. – Conclui, Luiza segurou minha mão, entrelaçou os seus dedos nos meus e nada disse. Aproximou sua cabeça a minha e me encarou com seus lindos olhos.

— Você não desistiu de nós, lembra o significado do seu nome que apresentei para você hoje cedo? – Ela se aproximou mais de minha face, enquanto os vidros eram rachados pelas milhares de mãos e o carro balançava como se fosse virar, - Nicolas significa “vitorioso”, aquele que leva seu povo a vitória, o que “vence” com o povo.

— Isso não significa nada, vamos morrer, eu não levei você a vitória Luiza. – E o carro tomba para o lado esquerdo. Cai por cima de Luiza e os outros, o vidro da frente rachou, e não quebrou por inteiro por ser blindado, - todos estão bem? – Bruno estava com uma ferida na testa que sangrava, assim como Caroline, parecia que todos estávamos com feridas leves, mas era o fim. Senti que eles ainda tentavam entrar no veículo. Por fim não vencemos, e meu nome é apenas um nome...

— Obrigado por me fazer vencer, Nic – Luiza concluí. Estava sobre ela, seus seios apertavam meu abdome, tentei levantar, mas ela me puxou ainda mais contra seu corpo.

— Vencer? Estamos mortos...

— Você me fez vencer meus medos, vencer minha inutilidade. Vendo você tentar viver, me deparei com sentimentos que não existiam dentro de mim, só por este motivo me sinto vitoriosa, você me levou a vitória. Nicolas o menino tímido que me deu um fora uma vez. – Seu lábio encontrou o meu em um beijo de gratidão e sentimentos. Era para ser doce, mas senti o gosto de nossas lágrimas se misturarem as minhas. Consegui sentir o calor de Luiza junto ao meu, mas seria por pouco tempo...

O silêncio reinou por um segundo, após o nosso beijo, soutei os lábios carnudos e deliciosos de Luiza ao me deparar com o breu que pairava sobre nós. Os mortos haviam cessado? E como um estrondo rasgando o céu, caímos um sobre os outros novamente com o intenso barulho que destruía nossa audição.

— Está acontecendo de novo. – Gritou Clarice com as mãos nos ouvidos. Luzes foram avistadas sobre os escuros vidros do carro capotado, e quando reparei no que estava acontecendo, sorri.

— Temos que sair, é o fenômeno de cedo.

— Estamos salvos! – Léo indagou abraçando Caroline, mas Bruno balançou a cabeça negativamente.

— Vocês não sabem o que falam, estamos salvos por enquanto. – Depois de assegurar que eles não estavam mais tentando entrar no carro, corei. Minha cor mudou, isso poderia jurar, ao olhar o sorriso de canto de Luiza que nada me disse do intenso beijo que compartilhamos no suposto leito de morte. Não toquei no assunto, apenas abri a porta do carro com extrema dificuldade.

Sai primeiro do apertado carro destruído, foi quando voltei a realidade do que estávamos vivendo. O céu continuava negro, com suas nuvens carregadas tapando o céu que um dia fora estrelado. Apenas alguns feixes de luzes extremas caiam como raios em um dia chuvoso. Os infectados olhavam para o céu com seus olhos sem cor e tremiam como se estivessem em um colapso. Não pude chamá-los para saírem do carro, pois minha atenção voltou a um infectado, meu pai.

Ele estava com sua roupa favorita, o boné que eu havia dado a ele. Um esportivo de futebol do jeito que ele gostava. Me aproximei com cautela, não sentia medo dos outros ao redor de mim, apenas queria olhar para ele pela última vez. Sua pele estava pálida sem vida, seus dedos esfolados e com muito sangue mexiam de um lado a outro como se estivessem tendo um ataque. Mas o que me deu mais anciã foi ver seus olhos, aqueles castanhos olhos não tinham mais cor. Os olhos de um pai amoroso que nunca pude compreender. —Desculpe, pai. – Me julgava ajoelhando perante o seu corpo dominado por aqueles malditos que mesmo não vendo odiava-os com todas as forças.

— Pai, eu sei que não pode me escutar, mas eu queria que soubesse, - Léo e Clarice se aproximaram, olhei para eles que estavam em um estado de negação ao ver o pai naquele estado.

— Pai? – Clarice se ajoelhou comigo, e eu continuei.

— Quero que saiba que eu te amo muito. – Sem medo algum, nós três abraçamos ele, senti o gelado de seu corpo ao meu, um gelado sem vida. Mas parecia que “coisas” dançavam dentro de sua pele. Eles estavam correndo dentro de seu corpo, era inaceitável eles brincarem com o corpo de meu pai. Joguei Clarice e Léo para longe de mim, e gritei olhando na face do meu pai. — Saiam do corpo dele!

— Não adianta Nic, vamos embora antes que eles voltem ao normal. – Luiza me puxou, e chorei novamente caindo no chão e foi quando aquela luz quase me cegou, a luz do céu caiu sobre meu pai, pude apenas levar meus olhos ao seu rosto por mais um instante e foi como mágica que ele desaparecia subindo com a luz e sumindo eternamente. Levantei abalado e cambaleando sobre o chão batido de terra e pedras, Luiza puxou meu braço, mas minha visão apenas seguia o céu.

Correndo junto com todos, meus pensamentos se direcionavam a ele. Vivi minha vida inteira com ele, mas estava acabado. Era como se uma câmera lenta se instalasse em minha visão, a face de Clarice perante mim era de tristeza, seus cabelos esvoaçavam com a brisa de uma madrugada tensa. Léo ainda choroso, entretanto mantinha-se firme, e foi quando minha ficha caiu! Não chorarei mais, não cairei no solo frio nunca mais, e levarei todos com segurança até o abrigo.

— Vamos entrar em algum carro. – Saímos dos trilhos e pisamos no asfalto da avenida ao lado da estação. Agora era pegar um carro e ir até a delegacia onde os outros estavam. Apertei meus olhos, frangi minha testa e ergui uma de minhas sobrancelhas, estava decidido a nunca mais sair de minha consciência, o mundo estava acabando e isso eu teria que aceitar.

Tudo estava um caos, árvores caídas sobre a avenida, muitos veículos abandonados, corpos destruídos por todos os lugares, postes de luz no chão com fios chicoteando a energia que ainda havia neles. O cheiro da morte era insuportável, mas não me importei, corri até o carro mais próximo uma ambulância com as portas escancaradas, dentro do veículo os paramédicos estavam mutilados. Joguei o motorista no chão fazendo suas tripas escorrerem de seu corpo atingindo o asfalto. Sentei sobre o banco encharcado de sangue e dei partida, a ambulância ligou.

— Subam vamos até a delegacia que fica apenas algumas quadras daqui, antes que eles despertem do transe.

Luiza e Bruno subiram comigo na frente do veículo e as crianças foram atrás. Em disparada sumimos avenida adentro, desviando de corpos e carros destruídos. O que me dava mais medo era pensar que o mundo não poderia voltar ao que era, a certeza que tenho e que mesmo que nunca volte ao normal, viveremos nele do jeito que for. Ninguém mais morrerá.

— Estão todos bem? Bruno sua cabeça ainda não parou de sangrar.

— Está tudo bem, sinto minha testa dormente, mas é os sintomas da perca de sangue.

— O que vocês acham que são essas luzes que sugam eles? – Luiza perguntou.

— Não tenho certeza, - respondi.

Passamos da avenida principal e entramos na rua com a paralela da delegacia em poucos instantes estaríamos chegando. Porem um grito de Luiza ecoou toda a ambulância. Ela apontava para o céu, enquanto as nuvens se enrolavam em um tufão cuspindo aquelas esferas de antes. Elas caiam com ferocidade, pegavam fogo e vinha de todas as direções. Desviei o carro quando uma caiu na mesma rua que passávamos o impacto fora gigantesco e o carro dançou no meio do asfalto enquanto escombros voavam por todos os lados.

— Entre em outra rua! – Gritou Bruno, fiz o que ele disse e uma esfera atingiu uma casa destruindo tudo.

— Na próxima esquina, é a delegacia. – Mas foi quando viramos a esquina que nos deparamos com uma névoa intensa vermelha que dominava tudo.

— Se a névoa nos atingir estará tudo perdido. – Luiza estava fora de si, mas eu tinha uma ideia.

Dei ré na ambulância subindo em cima de corpos, atropelando todos sem ressentimentos, enquanto a névoa tentava nos consumir. Puxei o freio de mão da ambulância fazendo o carro girar e parar na direção oposta da névoa, coloquei na primeira marcha e cantei pneu em disparada a outra rua. Os infectados já estavam voltando a ativa e corriam atrás de nós, a névoa se estendia, mas estava decidido em salvar todos e chegar até a delegacia da Polícia Civil.

Cortei em uma rua contramão e avistei o emblema da delegacia, a névoa subia até as casas e tentava atravessar até a rua que estávamos, mas em uma manobra arriscada subi na calçada e só parei quando bati no muro que dividia a delegacia de uma casa.

— Você dirige bem garoto. – Vociferou Bruno, enquanto Luiza tentava se recompor. Olhei na janelinha de trás e vi os três caídos um em cima do outro.

— Vocês estão bem ai atrás?

— Sim, estamos vivos é o que importa. – Sai do carro com rapidez, e todos fizeram o mesmo. Olhei para os dois lados, de um lado da rua a névoa consumia tudo e do outro lado infectados corriam. Em desespero fomos até a entrada da delegacia.

Corremos gritando com todas as nossas forças para alguém que estivesse la dentro nos ajudasse. E foi quando pisamos na calçada que encontramos a porta aberta, não demoramos a entrar em êxtase. E ele nos esperava, o gentil policial que nos salvou enumeras vezes nas linhas da CPTM.

— Nicolas?

— Torres!

Notas finais do capítulo

Espero que gostem, agora que leram deixe suas opiniões :]

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