Maycon: Parte 2

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O céu continua intangível, mas agora não transmitia a mínima vontade de ser tocado. Mesmo passando dias com essas nuvens cinzentas, ainda lembro do céu azul. Do que sinto mais falta é o calor do sol atingir meu rosto pela manhã, meu sol neste tempo, era a primeira mulher que amei na vida. Sem ela sou como essas nuvens, cinzas e sem vida.

Ainda abalado com o que acontecera com Marry, abracei forte minha irmã. Não saberia se teria essa oportunidade novamente. Olhando para cima tentando desvendar os enigmas contidos atrás daquele muro feito por eles, um muro penetrável, mas que ao ultrapassá-lo a morte certa esperaria ansioso para abraçar quem quer que fosse. Olhando nos olhos claros e no bico torto de Clarice que chorou ao imaginar minha ausência, falei palavras rudes.

— Fique aqui, tenho que achar a Luiza.

— Quero ir com você.

— Não, fique aqui com seu irmão, logo nosso primo chegará para buscar vocês. — Léo aproximou-se de mim e me abraçou, puxando um dos meus braços de Clarice.

— Não quero ter que deixá-lo. — Leonardo chorou, derramou lágrimas e mais lágrimas, falou soluçando em um ritmo desordenado. Engasgou-se em seu próprio desespero, toquei com minhas duas mãos o seu rosto.

— Não fiquei assim, onde está o Léo, forte e destemido. Preciso de você firme para ajudar a Clarice, nossa irmã tem que ser protegida, escutou? — Léo pareceu entender. Olhando aquela feição de medo, lembrei de quando eramos crianças. Léo sempre chorava por tudo, talvez chorou tudo o que tinha de chorar até seus dez anos, por que depois dessa idade era raro ver suas lágrimas escorrerem. Por esse motivo a faixada de durão e frio, o garoto roqueiro que mergulhava em seus próprios medos, agora está demonstrando que sente tudo, como todos nós sentimos. Gostaria de aproveitar mais dele, mas sabia que se entrasse naquele esgoto poderia não voltar com vida. Luiza era mais importante do que eu naquele momento, pois minha promessa estava quase completada.

Torres continuou sentado sofrendo com sua mão amputada, teria que ser levado o quanto antes para o abrigo. Bruno não perdia tempo sempre cuidado das feridas de todos. Caroline aos prantos pela tia e Michela cuidando dela e de Clarice. Não tinha como dividir mais este grupo, estou sobrando. Por isso apenas eu devo ir atrás de Luiza, apenas eu...

— Então é aqui que nos despedimos, Bruno cuide de Torres, ele precisara de cuidados, e Michele conto com você para cuidar dos meus irmãos.

— Rapaz me escute, sozinho não existem meios de sobreviver. — Torres fez força para falar, mas não pude respondê-lo, pois deixei para trás todos aqueles que permaneceram comigo por todos esses dias de desgraças. Pisei um passo apenas antes de receber um enorme aperto em meu ombro.

— Não me diga para ficar, nunca deixarei você sozinho, eu te amo meu irmão. — Léo sorriu para mim, com sua feição cansada e desgastada. Caroline aproximou-se do garoto e ficou em sua frente.

Ele era um pouco maior que ela, os cabelos molhados de Caroline caiam sobre seu rosto, Léo fez questão de tirar as madeixas que interrompia o contato de seu rosto ao dela. Com um delicado beijo os dois selaram um sentimento nutrido há tempos.

— Você jura voltar?

— Eu juro Carol, voltarei para ficar com você. — Ela sorriu. Foi bom ver meu irmão mais novo conseguir manter-se vivo e até mais forte que eu. Um próximo beijo mais intenso surgira, Caroline corou no exato momento que seus lábios deixaram os de Léo e o sorriso dos dois foram confortantes. A menina indagou indo em minha direção.

— Encontre minha Tia, por favor, eu sei que você pode Nicolas. Me salvou, vai salvar a Luiza, ela te ama.

Fiz questão de bagunçar os cabelos da jovem com minha mão, confirmei com positividade as palavras firmes da menina. Em seguida dei de ombros e segurei na nuca de Léo o trazendo comigo, mas foi neste momento que um helicóptero sobrevoou nossas cabeças, e chegou bem próximo de nós. Sabia que era a ajuda, fiquei aliviado em saber que resgatariam nosso grupo, que depois de tudo conseguimos chegar até aqui, mesmo perdendo tantos, sobrevivemos.

Livro I - Nuvens de SangueWhere stories live. Discover now