Discurso

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Saudades dos velhos tempos, dos bons momentos passados com pessoas que amo que sumiram junto com está brisa que tocara em meu rosto. Sorrisos e lembranças vinham em minha mente e me machuca como um ferro quente sento lascado em pele. Gostaria de estar com meu pai, com minha mãe. Mas o choque de ver este mundo em ruínas me matava, mesmo eu não respirando aquele veneno. Meu Deus por que eles estão se matando? Crianças sendo mortas aos meus olhos, que inferno é este? Será o juizo final? Preferiria que o sol descesse a Terra, seria mais aceitável e menos desumano. Uma mulher que chora ao ver seu filho morrendo, um idoso que teme a morte a sua frente, uma grávida segurando sua barriga enquanto é dilacerada, um deficiente caído ao lado de sua cadeira de rodas a espera da morte, é isto mesmo que merecemos? Que mundo é este, onde estou? Tenho medo, tenho medo de morrer.

– Nicolas? Está me escutando, temos que ir até o último vagão do trem ou morreremos. - Tomei um puxão no braço e voltei a consciência, era Maycon que corria sobre o trem destruído fazendo sinal para seguirmos.

Minha irmã segurou firme minha mão a ponto de ficar vermelha, o medo em seus pequenos olhos me destruía por dentro. Não deixarei acontecer nada com ela, Léo pode cuidar-se sozinho, mas Clarice é nossa princesa, ela ainda não pode. Tenho que ajudá-la de qualquer forma e de todas as maneiras possíveis.

– Estou com medo, vamos morrer? - Ela me pergunta ainda com lágrimas nos olhos, mas o meu medo era forte e não consegui responder, entretanto Luiza pegava no ombro de minha irmã e falara com um sorriso entre choro.

– Não vamos morrer, segure firme a mão de seu irmão e vamos seguir aquele rapaz, entendeu? - Clarice concordou com a cabeça. Então junto com o policial Torres, Léo, Luiza, Caroline e Clarice seguimos Maycon até onde ele nos garantiu que teria respostas.

Dava-se para ver o último vagão, como estávamos no centro do trem teríamos que correr e pular cinco vagões. Cambaleando pisamos firme no metal que servia de chão para nós, era tenebroso a sensação de estar em cima de um trem, ainda mais que pessoas estavam morrendo ao redor dele, não consegui tirar da cabeça uma única coisa: Será que eles poderiam subir onde estamos? Não queria descobrir de jeito nenhum. A cada passo dado era um choque, alguns vagões estavam virados e retorcidos dificultando ainda mais, olhei para trás e via a dificuldade de Lé e Caroline que não deixavam um ao outro. Luiza estava ao meu lado com Clarice e juntos nos ajudamos a passar de um vagão a outro.

– Estamos perto, apenas mais um! - Gritou Maycon.

– Espero garoto, por favor! - Torres o rebateu. Deveria ter avistado ao chão gramado envolto dos trilhos uma movimentação gigantesca de algumas pessoas dominadas pela aquela fumaça. Estavam tentando subir ao trem onde nos encontramos. Faziam barulhos horrendos com a boca, batiam as mãos no trem fazendo-o balançar.

– Meu Deus! - Murmurou Léo abraçando Caroline que estava com uma feição de pânico, enquanto Torres apontou sua arma para um deles e sem esperar atirou na cabeça do descontrolado, fazendo ele cair imóvel.

– Vamos continuar, antes que eles subam no trem e peguem todos. - Olhos atentos a todos os movimentos abaixo, tentei não olhar para baixo, mas aqueles olhos negros me encaravam querendo meu sangue, querendo minha carne. O que eles pensam, será que realmente pensam?

– Chegamos, estamos enfrente o último vagão, - Maycon concluía.

– Como entraremos dentro deste vagão levantado? - Perguntei. O vagão estava um pouco levantado, só conseguiríamos entrar se pulássemos no chão.

– Temos que entrar do jeito que sai, pelas portas! - Berrou Maycon saltando do vagão.

– Não, não pule você ficou maluco. - Caroline eufórica encostou as palmas das mãos no trem e olhou para baixo, corri e fiz o mesmo.

Livro I - Nuvens de SangueWhere stories live. Discover now