Pai

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"Esses olhos, eles me dão calafrios. Olhar muito tempo para eles é a mesma coisa que mergulhar em um poço sem fundo, cair de um precipício e não atingir o solo."

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Minha visão estava ruim devido ao calor sufocante do avião queimando, mas sabia que se errasse iriamos todos morrer, tinha que fazer. A arma estava quente, minha mão soava fazendo uma transpiração chata desestabilizar minha mira. Todos estavam quietos, possivelmente aguardando minha ação, os infectados estavam chegando perto. Eles corriam como humanos comuns, alguns mais lerdos outros rápidos até demais, coloquei meu corpo para fora do vidro e respirei fundo.

Apontei a arma para o tanque de combustível e sem esperar mais um segundo aperto o gatilho. A arma fez uma pressão enorme para trás, enfim havia atirado. Aqueles milésimos pareciam não passar, fechei meus olhos e acelerei o carro para trás esperando o impacto da explosão. Mas não aconteceu nada, eu errei? Olhei para Luiza enquanto o carro ia em alta velocidade para trás, ela estava me olhando com uma face de desolação e o escarcéu foi enorme dentro do carro, todos estavam desesperados. Que maldição eu sabia que não conseguiria, mas queria me convencer que seria um herói para eles, mas é claro que eu não era, sou eu! Sou apenas o Nicolas de sempre, desajeitado, reservado e patético.

– Eles estão chegando perto do avião, estão todos em frente ao avião. - Gritava Clarice e foi quando parei o carro, não sabia o que fazer.

– Desculpem, gastei a última chance de conseguirmos passar por eles, - agora como vamos passar? Me fazia está pergunta quando Léo saltou para frente e apontou para o avião.

– Olhe o tiro que você deu acertou uma barra de ferro e ela caiu por cima do tanque de combustível, ele está vazando, liga a merda do carro antes que seja tarde. - Um fútil sorriso surgiu em meu lábio, liguei o carro e continuei na marcha ré, enquanto os malditos corriam a nosso encontro sedentos de sangue e vontade de matar.

Foi no instante que ultrapassei alguns metros que o primeiro impacto fora sentido. Uma enorme cintilação surgia sobre nossos olhos, o fogo subiu até os céus atingindo tudo a frente inclusive os monstros que estavam nos perseguindo. O carro tremeu mas continuei dando ré. Uma mão sobre o volante, e outro no encosto do banco, olhando para trás e me guiando.

– Todos para o chão do carro. - Me obedeceram e ficaram abaixados.

– A explosão vai atingir o carro, - gritava Luiza – desvie, rápido.

– O que é isso? - Olhei para frente e uma porta do avião de mais de dois metros voava em nossa direção, joguei o carro para o lado e ele atingiu a grade que separava os trilhos da rodovia. Por alguns centímetros não fomos atingidos, mas o carro parou.

– Está tudo bem? - Perguntava Caroline entrelaçando sua mão na mão de Léo, que por consequência corava mais que um tomate.

– Não deixe Clarice ver isso. - Minha irmã não se levantou para ver o que todos víamos.

Os infectados queimavam, se jogavam no chão e se retorciam de dor, mas o que significava aquilo? Lembro-me bem que vários tiros não foram capazes de pararem eles, e fogo sim. Então morrem com fogo e com tiro na cabeça. Ergui uma de minhas sobrancelhas e soltei um leve sorriso por aquilo acontecer. Uma chance a mais de sobrevivência, por este motivo não estavam próximos do fogo, os microrganismos da névoa estranha que dominam corpos não gostam de calor, ou simplesmente chamas. Tem uma coisa que está me intrigando a muito tempo, desde que sai de casa hoje cedo.

Livro I - Nuvens de SangueWhere stories live. Discover now