Respiro fundo e em seguida aperto a campainha. Começo a contar mentalmente- um, dois, três... Dou de ombros, ele não iria atender a porta. O melhor a fazer era ir embora, dei cinco passos para longe do lugar.
- Eu sou uma covarde. Disse em voz baixa.
Volto correndo até a porta e aperto a campainha várias vezes. Já que eu cheguei até aqui vou até o fim.
De repente a porta se abre.
- Oi. Digo.
Théo abre a porta. Arqueia a sobrancelha interrogativamente.
- Você.
Eu me aproximo dele.
- Não vai me convidar para entrar? Questiono.
Ele não diz nada, apenas me dá passagem. Eu entro no escritório, me sento em uma poltrona.
- Você tem cinco minutos Ana. Já estava fechando o escritório. Théo cruza os braços impaciente.
Eu olho diretamente para seus olhos azuis que parecem duas pedras de gelo. - Eu vim pelos velhos tempos, tive saudade. Falo da maneira mais provocante que consigo. Sinto-me ridícula.
Théo fica surpreso. Sua expressão séria muda. Ele sorri como se tivesse achando o que eu disse engraçado.
Ele mantém os braços cruzados. Fica sério e me diz:
- Você some da minha vida por anos e vem aqui do nada dizer que está com saudade?
Eu me levanto. Aproximo-me dele. Mudo a estratégia.
- Estava sentindo falta dos meus amigos de infância e adolescência, Théo. Vim visitar a fazenda. Eu sumi porque estava atarefada com a residência. Justifico.
Théo parece não acreditar em mim. Mas diz:
- Já estava a caminho da fazenda, venha comigo, se hospede conosco Ana.
- Sim. Obrigada.
Entro na caminhonete de Théo. Estou suando frio. Meu plano foi para os ares. Agora estou prestes a me encontrar com Amelinha.
- Para o carro! Grito.
Théo freia o carro abruptamente.
- Para no acostamento, por favor.
Ele faz o que eu peço.
Olho para ele, pego a sua mão. De repente sinto meu coração acelerar, e a velha sensação de borboletas no estomago me preenche, tento ignorar a reação física para concluir meu plano.
Eu roubo um beijo do Théo. Jogo-me em seus braços, esperando que ele se afaste e me ache louca.
Mas então sou surpreendida. Ele corresponde ao meu beijo. Instantaneamente eu esqueço tudo. O motivo de estar ali. Só consigo ver estrelas flutuando ao meu redor.
De forma abrupta ele interrompe o beijo e diz de maneira ríspida:
- Acho melhor te levar de volta a cidade.
- Não! Exclamo. - Théo, eu vim até aqui por você.
- Ana...
- Théo, eu senti tanto a sua falta.
Eu o beijo novamente, aumento a intensidade. Entrego-me ao momento.
- Eu vou te levar até a fazenda. Ele diz.
Fico decepcionada. Eu estou aqui me oferecendo e ele quer me levar na fazenda para mostrar o quanto é fiel à esposa. Eu digo :
- Nunca achei que você fizesse a linha bom rapaz. Digo de maneira ríspida.
- Do que você está falando? Ele diz.
- Eu já entendi. Você não me quer aqui. Não vai trair a sua esposinha amada. Falo com raiva.
- Você está falando da Amelinha? Ele diz intrigado.
- Que outra esposa você tem.
De repente ele sorri de uma maneira zombeteira como se eu tivesse dito algo muito inusitado.
- Ferrugem. Meu casamento com a Amelinha durou dois meses. Estamos divorciados há anos.
Sinto-me corar até a raiz dos cabelos.
- Não sabia.
- Não consigo te ver como a amante Ferrugem. Não faz seu perfil. Ele diz.
- Por que não? Eu mudei. Não sou mais aquela garotinha boba, Théo. Eu senti saudade de você e quis te ver.
- Também sinto falta dos velhos tempos Ferrugem. Vamos até a fazenda.
Ele acelera o carro. Sinto meu coração disparar.
A viagem de vinte minutos parece durar dois séculos. Começo a falar trivialidades para preencher o silêncio. Finalmente chegamos.
- Vamos. Ele me diz.
Começamos a caminhar pela fazenda. A paisagem me deixa nostálgica, é como se tivesse dezenove anos novamente com o futuro perfeito logo a minha frente. No entanto, o homem do meu lado não é o mesmo das minhas lembranças.
De repente ele para. Me encara com seus olhos claros como o céu. Seu cabelo loiro cai em sua testa.
- O que você veio fazer aqui, de verdade?
Meu coração fica fora de ritmo, minhas mãos suam frias. Tenho a impressão que ele desconfia de alguma coisa. Não posso contar a verdade. Eu não o quero na minha vida de maneira alguma. Muito menos que tenha contato com a Alice. Ele é um canalha que só merece meu ódio e desprezo. A única coisa que eu quero dele é uma noite, apenas uma relação física.
- Estou a fim de você. Digo enfática.
- Também estou Ferrugem. Ele diz e me beija.