- Sn, você está me ouvindo?
Você se virou rapidamente para encarar a morena com um olhar furioso e sugestivo pra você.
- Ahm? O que?
Ela fez cara de tédio.
- Sério Sn? De novo?
- De novo o que? - você moveu ps ombros em sinal de confusão.
- Eu to falando há horas com você e parece que você nem está ouvindo. - ela cruzou os ombros na altura dos seios. - O que está acontecendo?
Você deu de ombros.
- Não tem nada acontecendo.
Ela arqueou uma das sobrancelhas.
- Você vai me dizer agora eu prefere que eu descubra?
Você revirou os olhos, se levantou da cama onde estava e se encostou na penteadeira com os braços cruzados. Você olhou para Julie. Você sabia que ela não iria desistir tão fácil, ela era insistente.
- Já faz duas semanas desde que eu vi a mamãe. - você murmurou tão baixinho que quase não deu pra ouvir.
- Como?
Você revirou os olhos e fez um barulho com a língua, olhando nos olhos da mais nova e falando mais alto.
- Eu vi a mamãe.
- O que? Quando-
- Há duas semanas. Só eu.. - você engoliu em seco. - E ela.
Depois do dia em que você saiu da casa de sua mãe, você decidiu que não voltaria lá nem tão cedo. Você correu de volta pro seu apartamento e se trancafiou no quarto, após muito choro você acabou pegando no sono. Quando amanheceu você decidiu que não queria que os outros soubessem pela relação difícil que teve durante a metade de sua vida, então, você se levantou e continuou sua vida, passando despercebida pelos outros. Ou pelo menos, era o que você achava.
Todos os dias Alex e os meninos procuraram por você. Segundo Julie eles sentiam sua falta. Reggie dizia que sentia falta dos seus abraços quentinhos, Luke que esperava você o mostrar todos os seus piercings e Alex, que alegava sentir sua falta e vontade de te tocar todos os dias. Ele até tentou manter contato mas você achou melhor não, não depois do que aconteceu.
Julia pareceu exitar.
- Você... Você quer conversar sobre.. Que?
- Não.
- Tuuudo bem, então.
Todos da família sabiam que você e sua adotiva mãe nunca se deram bem por parte dela, você sempre tentou ser uma filha cuja qualquer pessoa gostaria de ter. Mas ela não se importava. Ela nunca quis você. Ray de todos era o único que sabia o que você tinha passado, inclusive te tirou de toda essa confusão.
Quando Ray pediu que lhe adotassem como filha ele nunca achou que sua vida seria melhor se você continuasse no orfanato. Ele sempre notou um comportamento estranho quando seu padrasto estava por perto, chegou a discutir com sua "mãe" sobre. Com muito custo você contou à ele o que se passava naquela casa que lhe trazia arrepios numa tarde quando ele te levou para brincar com Julie.
Apesar de todo o transtorno e confusão que se passava pela mente de seu tio, ele prometeu tirá-la de lá o mais rápido possível, ainda incrédulo de que sua irmã acobertava o marido.
Quando você completou onze anos, você teve o seu primeiro aborto espontâneo. Nem havia se passado pela sua cabeça o que seria, você ficou apavorada com a quantidade de sangue e dor que viu e sentiu. Você chegou a recorrer a Marisa mas ela apenas lhe jogou alguns absorventes internos antes de sair de casa. Te deixando perder seu filho. Quando foi a sua primeira consulta com um ginecologista, você descobriu que ainda não havia menstruado e nem sentiu dores de cólicas, mas sim de perder um bebê.
Com muita dificuldade você contou a Ray e ele se desesperou não querendo contar a sua esposa o que se passava com sua afilhada. Ela surtaria. Depois de descobrir sobre seu aborto espontâneo, seu padrasto decidiu puni-lá mais uma vez, onde levou a uma segunda gravidez e um segundo aborto.
Você seria mãe aos onze, nova e saudável mas era gravidez de risco. Apenas seu tio, o único que sabia lhe confortou no momento em que você soube das perdas.
Após muita luta, você conseguiu tomar seus cuidados necessários a cada tormento pelo qual passava, até o dia em que você denunciou o monstro com quem vivia e chamou a polícia. Após aquele dia você foi morar no México onde conseguiu uma parte de sua vida em paz.
Você sabia que seu tio tentou te ajudar, mas não foi o suficiente. Infelizmente.
- Então.. Como vão as coisas na escola? Bem?
Depois de muito conversa descontraída com sua prima, você decidiu sair pra respirar um ar fresco e aproveitou pra ir a uma praça de skate que tinha ali perto. Você chamou Julie pra ir com você mas ela disse que teria alguns compromissos sobre a banda que iria discutir com o vocalista bonitão, Luke. Mas, você sabia exatamente o tipo de "compromisso" que seria, esses dois só tinham medo talvez de assumir algo, já que o toque não era problema agora que eles conseguiram controlar suas coordenações motoras.
Ao encontrar um banco de frente para uma grande pista de skate, você se sentou e sentiu a brisa suave bater em você fazendo seus cabelos voarem. Concentrada no hobby dos meninos e algumas garotas na pista, você reconheceu um cabelo grande castanho e sedoso, você se concentrou tanto no cabelo que nem percebeu que a pessoa estava vindo de skate em sua direção.
- Olá Sn!
Você levantou a cabeça para olha-lo.
- Oi, Willie. - você deu um sorriso fraco.
Ele pareceu não saber o que fazer por um momento e corou levemente apontando para o lado vago no banco em que você estava.
- Eu posso..?
- Oh, é claro. - você chegou um pouco mais pro lado para que ele pudesse se sentar.
Você olhou pra frente sem ter assunto pra iniciar. Um silêncio desconfortável se instalou entre os dois.
Willie se mexeu desconfortavelmente.
- Olha Sn, quando eu te conheci eu nunca achei que estaríamos nessa relação desconfortável então eu queria te dizer que sinto muito. - ele começou a falar como se estivesse pra morrer. Ops. - Eu não sabia sobre você e Alex, realmente não foi minha intenção acabar com o que vocês tinham e-
- Nós não tínhamos nada. - você o olhou rapidamente.
Ele engoliu em seco.
Novamente um silêncio desconfortável se formou até uns dois garotos passarem e acenarem para o fantasma fazendo você franzir as sobrancelhas.
- Eles também são fantasmas?
- Não. - ele deu de ombros.
- Então, eles podem.. Ver vocês? Todos vocês? - ainda de sobrancelhas franzidas, você perguntou.
Ele respirou fundo soltando um suspiro demorado.
- Sim. Nossa maldição foi quebrada. - ele ainda parecia suspreso com a próxima fala. - É como se estivéssemos.. Vivos. De novo.
Você abriu a boca em um O com os olhos levemente arregalados.
- Nossa, isso é... Uau. Que doidera.
- É eu sei. Louco. - ele te olhou.
Você se levantou olhando em volta.
- Eu já vou indo.
Ele levantou junto.
- Alex disse-
- Por favor não. Eu prefiro não falar sobre ele. - você começou a se afastar. - Eu não quero ser infantil nem nada, eu só não.. Não, tudo bem? - a cada palavra você se afastava mais.
- Não, Sn. Espere! Você não entende, eu só-
- Me deixa em paz!
Você saiu do parque abraçando seu próprio corpo e correu até o carro já considerando o próximo passo em sua mente.
Voltar para seu país.
[...]
- Não acredito que você já vai, eu achei que iria ficar mais tempo. - Julie disse enquanto te abraçava.
- Eu acho que já fiquei tempo demais. - você murmurou.
Você se despediu de todos, menos de Alex. Após um pequeno desentendimento no parque com Willie, você decidiu comprar uma passagem e apenas se despedir de Julie, Ray e Carlos antes de partir. Você apenas não contava que dois lindos fantasmas apareceriam pra te dar um último abraço.
- Não acredito que você iria embora sem se despedir. - Reggie cruzou os braços.
Você se virou pra encará-lo.
- Oh, Reg! Eu realmente não queria.. Eu ia, eu só..
- Não tem problema, ele está brincando. - Luke colocou as mãos nos seus ombros enquanto te puxava pra um abraço.
- Não estou não!
- Vem aqui, bonitão. - você puxou o baixista pra um abraço apertado.
Ele corou sob seu apelido.
- Você vai voltar? - os olhos dele brilharam.
- Eu não sei, Reg. Mas podemos manter contato. - você sorriu meiga.
Depois de se despedir de todos e deixar Ray menos nervoso sobre sua volta, você entrou no carro e foi direto pro aeroporto. Assim que você chegou no aeroporto, você apenas esperou já que tinha comprado a passagem online.
Assim que foi anunciado seu voo, você se apressou em andar até os portões quando uma voz soou no meio do lugar público.
- Sn! Espera!
Você paralisou no lugar e se virou.
- Alex?
Ele correu até você. Você agarrou suas malas com força.
- O que você está fazendo aqui?
- Eu vim aqui porque eu não posso deixar você ir. Não sem antes te dizer o que eu tenho pra falar.
Você comprimiu os lábios em uma linha reta.
- Você tem dois minutos.
Ele começou a gesticula com as mãos.
- Eu terminei tudo com Willie.
Você abriu a boca em choque. Meio atordoada.
- Você o que? Por que?
- Porque não é ele quem eu amo. - ele se aproximou. - Eu tentei por todo esse tempo tentando me convencer de uma coisa que não era real e que não era pra ser. - as pessoas olhavam pra vocês enquanto passavam. - Eu me senti culpado por todo esse tempo em que não estive com você, e eu sinto muito por isso, mas eu não posso deixar você partir. Eu quebrei seu coração porque achei que era a coisa certa a se fazer ficando com ele, mas não é ele quem eu quero. Não é ele que eu quero sentir. - ele se aproximou mais. - Não é ele pra quem eu escrevia bilhetes todas as manhãs.
O penúltimo toque pro vôo foi chamado.
- Não é ele quem eu quero. É você. Só você.
- Alex eu-
- Por favor, vem comigo. Me deixa te fazer feliz.
- Como posso acreditar em você.
- Eu to me declarando pra você em pleno aeroporto cheio de pessoas que agora podem me ver.
- Isso não significa nada.
- Então eu me ajoelho pra você.
Você arregalou os olhos.
- O que você está-
Ele se ajoelhou e começou a falar.
- Sn Ss, eu prometo te dar tudo de mim, prometo ser um homem que te ame e que nunca mais vai vacilar com você. Eu quero você mais do que qualquer coisa. Eu estou apaixonado por você. - Você já se encontrava rindo. - E você.. Você me ama?
Você exitou antes de responder.
- Eu sempre amei.
- Então, tudo o que você tem que fazer é vir comigo. - as pessoas olham como se ele fosse louco. - O que me diz?
Última chamada para o vôo do México.
Você sorriu e se aproximou.
- Eu peço que me leve pra casa e faça amor comigo.
Alex levantou e te envolveu num abraço apertado, te levantando e logo te beijando com necessidade. As línguas brigando por espaço, você sentindo seu gosto de menta enquanto ele sorria por sentir suas bocas juntas. Voce definitivamente esperou por isso.
- Mal posso esperar pra isso acontecer.
Então, vocês correram pra fora do aeroporto como dois apaixonados.