Cicatriz

MelindaInu

9.9K 1.4K 1.9K

"-Suas cicatrizes queimam, a minha formiga, dói. Mas quando você toca nela -A pele se acalma? -Sim -É o mesmo... Еще

01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
17
18
19 - Shoto

16

344 57 45
MelindaInu

Fiz uma nota mental para agradecer ao Bakugou por ter nos seguido, pois, por mais inconveniente que aquilo tenha sido, nem eu ou Shoto estávamos em condições de guiar aquela coisa flutuante de volta para Suna. Eu ajudei Shoto a carregar o corpo inerte do irmão até a lancha, e Bakugou logo ligou os motores para nos levar dali.

—Aqui, ajude ele a beber.

Entreguei uma garrafa para Shoto e o ajudei a sustentar o corpo do irmão. Toya bebeu a água em goles pequenos, ele parecia estar oscilando entre a consciência e a inércia. Enquanto isso, liguei para Yamada, o único médico que conhecia naquela cidade e pedi para ele nos encontrar no cais. A próxima ligação não foi tão tranquila. Aizawa gritou no meu ouvido pela minha inconsequência e ousadia, também sobre a pilha de papeladas que ele precisaria preencher por minha culpa.

Eu permaneci ao lado dos irmãos. Quando Toya fixou os olhos em mim, pude ver o mesmo brilho daquele jovem que me ajudou. A área do seu maxilar estava cicatrizada numa coloração similar a de Shoto e suas mãos tinham cicatrizes similares as minhas, foi então que eu entendi, foi Toya quem salvou minha vida.



Por sorte, Aizawa não levou uma comoção de policiais, apenas ele e Yamada estavam nos esperando por nós , além de alguns enfermeiros. Fomos todos conduzidos para a clínica do loiro, a pedido de Aizawa. O detetive esperou até os exames mais urgentes serem realizados antes de nos questionar.

—Ele vai ficar bem, está bem desnutrido e abaixo do peso. Acredito que ele deve estar com anemia, mas os resultados do exames de sangue vai demorar um pouco. Ele está inconsciente, mas bem. Assim que ele acordar, podem entrar.

—Obrigado — Shoto disse, e todos conseguimos ver o peso sair dos seus ombros.

—Agora, alguém me explica que porra aconteceu? — Aizawa pediu com uma expressão nem um pouco feliz.



Depois de terminar de relatar cada detalhe para Aizawa e mostrar as fotos que tirei do lugar, Bakugou entregou para ele um caderno de capa gasta que não havia notado que ele trouxe aquilo consigo.

—Eu consegui pegar esse caderno de uma mesa fora do quarto onde o garoto estava, senhor.

Escrito à mão, anotações datadas em uma caligrafia delicada e precisa. Aizawa checou o celular antes de voltar a atenção para nós.

—É um prontuário — Yamada disse após olhar algumas páginas — Anotações psicológicas, sobre o estado mental dele. Aqui diz que ele é psicótico e esquizofrênico, mas não há detalhes sobre medicamentos usados.

—Essa letra é de uma mulher.

—Como pode ter certeza? — Perguntei para o Bakugou.

—Eu não tenho certeza, é só um palpite. Estou estudando para detetive, eles nos deram um livro de referência sobre essas diferenças na escrita. A pressão na escrita e os traços delicados, normalmente são detalhes de escritas feminina.

—Isso foi assustador, você disse algo que faz sentido — Eu disse como elogio.

—Maldito nerd! — Aizawa interrompeu a explosão do loiro.

—Estão datadas de todas as sextas, semanalmente. Parou há duas semanas.

—Na mesma semana que a Rei desapareceu — Completei seu raciocínio.

—Essa é a letra da minha mãe.

Todos nós nos viramos para ver Shoto parado na porta onde seu irmão estava descansando.



Depois que Natsuo e Fuyumi chegaram para acompanhar Toya, Bakugou nos levou, a mim e a Shoto, para a casa dele. Antes de abrir qualquer inquérito oficial, Aizawa queria uma amostra da caligrafia da Rei para termos certeza, afinal diante da influência do Enji, era melhor não arriscar antes de termos todas as evidências prontas. A casa dele estava com as luzes apagadas, mesmo já sendo por volta das sete da noite. Nós entramos logo após Shoto, e Bakugou ficou esperando na sala, no primeiro andar.

Shoto me guiou pelo corredor, e depois de abrir uma porta tradicional, fui recebido pelo perfume dele. Seu quarto era esmerado e todo em estilo oriental clássico. Eu analisei o quarto, apesar da situação, a curiosidade falou mais alto que a razão. De alguma forma, aquele lugar combinava com ele. Era triste pensar que ele tinha tantas lembranças ruins naquele cômodo. Ele estava parado perto de uma escrivaninha, a mão parada sem puxar o puxador da gaveta. Eu caminhei até ele, segurei firmemente o seu pulso.

—O que está fazendo?

—Buscando sinais de choque, pelo menos seu pulso está normal — Segurei seu rosto e o virei um pouco para a luz — Você parece um pouco pálido, e está tremendo um pouco.

—Estou bem.

—Se você sentir enjoo ou palpitação, me avise, por favor. É demais para você lidar sozinho, pode contar comigo, Batsy, estou aqui,

—Obrigado.

—Então? Você me promete que vai contar comigo?

—Prometo, mas você não vai desistir tão fácil não é?

—Não vou, Batsy. Você não teve um dia fácil.

—Estou com medo, Izuku. Eu deveria estar feliz por ter encontrado meu irmão com vida, mas só consigo sentir medo da minha mãe estar envolvida. Ela não era próxima de nós, mas ainda sim é minha mãe.

—Vamos por partes, ok? Primeiro precisamos saber o que aconteceu, e depois podemos descobrir o que fazer. Seja o que for, você não precisa lidar com isso sozinho.

Ele concordou e abriu a gaveta, tirou de lá um caderno simples, similar aquele que Bakugou trouxe da ilha. Não sabia o que poderia falar para o ajudar naquele momento, eu mesmo estava preocupado com as proporções que aquilo poderia tomar. Bakugou olhou poucos segundos para nossas mãos dadas antes de nos seguir para fora. Assim que passamos pelo portão, demos de cara com Enji.

—O que significa isso, Shoto?

—Eles só vieram comigo pegar algumas coisas, já estamos saindo.

—Que coisas? — Ele agarrou o braço dele quando tentamos passar por ele — O que está fazendo com o caderno da sua mãe?

—Solte ele, senhor — Bakugou pediu calmo.

—Não se intrometa! Me responda, Shoto.

—Achamos um bilhete que pode ser da sua esposa, queremos apenas comparar as caligrafias. Isso pode nos ajudar a achá-la — Respondi calmo.

—Que bilhete? Onde?

—No parque onde ela costumava ir, agora, solte seu filho.

Enji pelo contrário, apertou ainda mais o braço dele.

—Não acredito em você! Se isso fosse verdade, os policiais viriam a mim!

—O senhor não estava aqui, Shoto estava — Bakugou respondeu.

—Você não está fardado.

—Foi uma emergência. Por favor, solte o braço do seu filho, está o machucando.

Enji olhou para o filho e o soltou, empurrando ele para longe afim de atender o celular que começou a tocar, sem pensar duas vezes nós saímos de lá, mas assim que passamos pelo portão, Enji voltou a nós com passos furiosos.

—Onde você foi com a minha lancha, garoto?

—Não responda, Shoto — Dissemos eu e Bakugou juntos.

Abrimos as portas do carro, mas Enji me impediu de entrar, apertando meu braço e me empurrando algumas vezes. Aquela dor não era nada com o que eu já havia sentido. Encarei sua expressão furiosa o mais calmo que consegui.

—Eu avisei para você não se aproximar do meu filho!

—Solte o meu braço ou vou abrir uma queixa contra você!

—Claro! Um viadinho como você não tem forças para se defender sozinho

Shoto e Bakugou começaram a falar ao mesmo tempo atrás de nós, mas procurei não ficar nervoso. Enji era um valentão típico e eu não deixaria me abalar por suas provocações idiotas. Quanto menos reagia, mais sua raiva aumentava e mais ofensas ele despejava sobre mim. Certa hora, só as ofensas não foram suficientes. Enji ergueu o punho livre para me golpear, gritando algo sobre aquilo ser o que meu pai deveria ter feito antes.

Eu não me intimidei, quando seu punho estava para me atingir, usei um movimento para me liberar e seu soco atingiu o ar. Aquilo parece ter o irritado mais ainda. Ele desferiu vários golpes até estar bloqueado por ele e pelo muro. Seu próximo golpe não me acertou, pelo contrário, acertou Shoto. Eu nem vi quando ele se colocou na minha frente.

—Desgraçado! O que você fez?!

Me ajoelhei para ajudar Shoto, me assustando quando vi sangue escorrendo por seus dedos quando ele se ajoelhou e ficou na minha frente. Bakugou estava tentando o conter, mas Enji era forte demais para ele conseguir o parar sozinho.

—Eu sabia! Não bastava ter desgraçado a vida do Toya, decidiu destruir a vida do Shoto?! Eu te mato antes de tocar nele!

—Senhor, por favor, pare com isso.

—Eu não destruí a vida de ninguém, foi você quem destruiu a vida deles, com esse preconceito infundado e exigências absurdas!

—Desgraçado!

Ele conseguiu se soltar e partiu para cima de nós outra vez. Eu tentei afastar Shoto da minha frente, mas ele não queria se mover. Enji teria acertado o filho outra vez se Toshinori não tivesse entrado na sua frente, segurado seu braço e conseguido o imobilizar. Para alguém magro, ele era bem forte.

—Toshinori, me solte! - Outra vez fiquei impressionado por ele conseguir manter o Enji imobilizado quando o brutamontes começou a se debater.

—Você não vai tocar no meu filho!

—Você considera isso como filho?

—Com muito orgulho. Eu vou te soltar, mas saiba que a Inko filmou tudo o que aconteceu. Se você tentar atacar meu filho, ela vai jogar o vídeo em todas as redes sociais, é isso o que você quer?

O ruivo pareceu se acalmar e Toshinori o soltou aos poucos. Todos estávamos impressionados com sua atitude e a autoridade que ele demonstrou.

—Vamos entrar, Shoto.

—Ele ficará conosco. Isso não é negociável.

Enji pareceu querer falar alguma coisa, mas parou quando viu minha mãe balançando o celular no portão da nossa casa. Enfurecido, ele entrou na sua casa e eu ajudei Shoto a se levantar, mantendo sua cabeça erguida por segurança.

—Precisa me ensinar aquele golpe, Toshinori, foi impressionante!

—Ensino sim, meu jovem.

—Obrigado pela ajuda, Yagi-san. Se vocês não se importam, vou levar isso para o Aizawa. O senhor pode cuidar deles?

—Claro, Bakugou, fique tranquilo.

—Você é corajoso, garoto, obrigado.

O loiro disse para Shoto quando pegou o caderno para levar até Aizawa. Nunca havia visto ele agradecer alguém, mas depois de tudo que aconteceu naquele dia, eu não duvidava que mais nada fosse possível.



Minha mãe cuidou de Shoto e obrigou nós dois jantarmos e explicar tudo o que havia acontecido, incluindo o motivo da raiva do Enji. No fim, para distrair Shoto das preocupações, minha mãe acabou mostrando minhas fotos da infância para ele. Eu reclamaria se fosse outra situação, mas como Shoto estava sorrindo, achei melhor aguentar aquela vergonha.

—Obrigado, dona Inko, mas eu acho eu voltar para casa — Ele disse por volta das onze da noite.

—Nem pensar! Você vai dormir aqui, Shoto!

—Eu não quero incomodar vocês.

—Não discute meu jovem, acredite em mim. Izuku herdou a teimosia dela, e sinceramente não sei qual dos dois é o pior.

Shoto olhou para mim antes que eu conseguisse disfarçar o meu sorriso. Depois de limparmos tudo, fomos para o meu quarto, novamente minha mãe não nos deu opção, usando como desculpa a falta de um quarto limpo.

—Você parece feliz, Izuku — Shoto comentou assim que nos deitamos.

—Foi a primeira vez que ele me chamou de filho — Respondi um pouco constrangido.

—Eu vi como você ficou feliz.

—Vem aqui — Shoto deitou no meu abraço — Tente dormir um pouquinho, Batsy.

—Mas o Toya...

—Está descansando, e você precisa descansar também.

—Promete que vai me acordar se receber alguma mensagem do Aizawa?

—Prometo, agora durma — Ele se aconchegou mais em mim e relaxou um pouco — Obrigado por ter me protegido, Sho.

—Obrigado por ter trazido meu irmão de volta. Sem você, eu não sei se alguém notaria seu pedido de ajuda.

—Não precisa agradecer, Batsy.

Ele resmungou mais alguma coisa e acabou dormindo um pouco depois com o carinho que eu fiz no seu cabelo, sua respiração calma e ritmada me acalmou até que eu conseguisse dormir também, ambos sem pesadelos.

Por volta das sete da manhã recebemos uma mensagem do Aizawa pedindo para irmos até a delegacia imediatamente, ele tinha conseguido algumas respostas.

Продолжить чтение

Вам также понравится

1.1M 65.1K 47
Atenção! Obra em processo de revisão! +16| 𝕽𝖔𝖈𝖎𝖓𝖍𝖆 - 𝕽𝖎𝖔 𝕯𝖊 𝕵𝖆𝖓𝖊𝖎𝖗𝖔| Fast burn. Mel é uma menina que mora sozinha, sem família e s...
16.1K 1.4K 24
Midoriya uma criança, Katsuki outra criança, uma amizade, uma cabana feita com lençóis e uma noite de lua cheia. O que poderia acontecer?
A NEW STUDENT |ZOSAN yumi

Любовные романы

5.5K 517 10
|REALIDADE ALTERNATIVA| Sanji era conhecido por alvo de bulling na faculdade, pelo simples fato de ser cozinheiro e não se dar bem com as garotas. Ma...
1.1M 53.2K 73
"Anjos como você não podem ir para o inferno comigo." Toda confusão começa quando Alice Ferreira, filha do primeiro casamento de Abel Ferreira, vem m...