Kaylee ainda criança estava sentada no chão de seu quarto agarrada ao seu ursinho de pelúcia favorito, enquanto sua mãe, Cassandra, penteava seus longos cabelos avermelhados com muito carinho e cuidado.
— Mamãe?
— Sim, meu amor.
— Sente falta do papai?
Cassandra ficou tensa com a pergunta, Kaylee nunca havia perguntado nada a respeito do pai, ela nunca se interessou em saber sobre ele.
— Por que esta perguntado sobre seu pai?
A garotinha ficou de frente pra mãe e apertou mais a pelúcia contra o corpo. Seus olhinhos verdes estavam levemente marejados.
— A vovó me disse que eu poderia ter salvado ele, mas que você queria que ele morresse. — Respondeu a garotinha.
Cassandra balançou a cabeça negativamente não acreditando nas palavras que saíram da boca da própria filha.
— Eu amava seu pai, Kaylee. E eu teria feito qualquer coisa para salvá-lo, mas infelizmente, ele não tinha mais salvação.
— Ele me amava? — Perguntou baixinho.
Cassandra sorriu.
— Você era quem ele mais amava no mundo, meu amor. E ele sempre vai estar com você, bem aqui. — Cassandra apontou para o coraçãozinho dela.
Kaylee largou o ursinho no chão e pulou sobre o colo da mulher mais velha, passando os bracinhos pelo pescoço dela.
— Eu te amo, mamãe.
— Eu também te amo, meu amor.
Kaylee acordou com os gritos estridentes de Thomas, os acontecimentos da noite anterior voltaram rapidamente a sua mente, ela se levantou do chão e olhou ao redor procurando pelas criaturas horríveis, mas não havia nenhum sinal delas.
— Foram embora? — Newt perguntou.
Thomas acentiu olhando ao redor do mesmo jeito que Kaylee estava fazendo, os dois se entreolharam e soltaram um suspiro de alívio.
– Talvez eles sejam noturnos. – Kaylee falou.
— É acho que são, estamos seguros agora. Melhor seguirmos em frente. — Thomas disse pegando as coisas do chão.
Depois que todos ja estavam de pé, eles começaram a subir pelas pedras, as mãos de Thomas e Kaylee estavam entrelaçadas ajudando um ao outra a subir. Quando chegaram ao topo do que parecia ser um prédio destruído, eles viram uma cena extraordinária.
A cidade deserta coberta de prédios destruídos e caindo aos pedaços, Kaylee automaticamente se lembrou do que Ava Paige disse a eles no vídeo quando fugiram do labirinto, o estrago que o sol havia feito ao mundo.
Eles continuaram seu caminho na estrada de areia, por entre os prédios, impressionados com o cenário ao seu redor.
— O que será que houve aqui? — Caçarola perguntou olhando ao redor.
— Não sei, so espero que o mundo toda não esteja assim. — Newt respondeu.
Thomas parou derrepente, Kaylee que estava ao seu lado parou também preocupada que ele estivesse machucado ou sentindo alguma dor.
— O que foi, Tommy?
Ele olhou pra ela com uma cara estranha.
— Ouviu isso? — Ele perguntou.
Kaylee se concentrou nos sons ao seu redor até conseguir ouvir o som que Thomas tinha ouvido. Parecia o barulho de alguma coisa no ar, como um avião ou sei lá o que. Os dois se entreolharam ja sabendo do que se tratava.
— Todo mundo se esconde! — Kaylee gritou.
Sem saber o que fazer, todos correram para baixo dos destroços de um prédio. Eles olharam pra cima, vendo dois helicópteros e uma nave enorme passando entre os prédios, provavelmente a procura deles.
Os dois helicópteros seguiram pelos lados enquanto a nave seguiu em frente.
— Nunca vão parar de nos procurar. — Minho disse o que todos ja sabiam.
Quando as coisas ficaram seguras, eles deixaram o esconderijo e seguiram pela estrada de areia, a subida ficando cada vez mais difícil e cansativa, nenhum deles tinham mais forças para continuar, mas também não se atreveram a parar.
Winston ficou pra trás, o machucado feito pelas criaturas na noite passada sangrava e proporcionava ao garoto uma dor horrível, mas ninguém pareceu perceber.
Eles finalmente conseguiram se afastar dos prédios, e subiram pela duna de areia que era ainda pior, eles finalmente chegaram ao topo encarando todo o deserto.
— Aquelas montanhas so podem ser elas, vamos pra lá. — Thomas apontou para um conjunto de montanhas que estavam a muitos metros dali.
Kaylee desabou na areia e soltou um gemido de frustração, so de ver a distância em que as montanhas estavam seus pés ja começaram a doer.
— Ainda ta longe. — Disse Newt.
— Muito longe. — Completo Kaylee.
– Então é melhor irmos logo. - Disse Thomas.
Winston deu um passo a frente e caiu desmaiado no chão, todos correram ao auxílio dele gritando seu nome.
— Ele se machucou feio. — Minho disse.
— O que faremos? — Teresa perguntou.
— Ele não vai conseguir chegar lá assim, sorte a nossa que eu tenho uma ideia.
Kaylee explicou aos garotos tudo o que tinham que fazer, e juntos eles fizeram uma cama improvisada para carregar Winston.
Eles continuaram seu caminho, Minho e Caçarola vinham logo atrás carregando Winston, os meninos se revezavam a todo momento para carregá-lo enquanto as meninas ajudavam a com as mochilas.
Em uma parte específica do deserto, o vento forte fazia a areia bater em seus olhos dificultando a visão e também a caminhada do grupo, Kaylee cobriu a cabeça com o capuz da jaqueta que usava enquanto tentanva encontrar abrigo, e ela finalmente encontrou.
Os meninos se sentaram no chão, para descansar e se hidratar enquanto Thomas ficou no alto observando as montanhas, Kaylee se juntou a ele.
— Parece que estão mais longe ainda.
— É so continuar andando que a gente chega até lá. — Thomas respondeu.
Kaylee sentiu novamente aquela dor de cabeça horrível que sentiu na noite passada, ela se sentou no chão apoiando a cabeça nas pernas.
— Você ta bem? — Thomas se abaixou ao lado dela parecendo preocupado.
— É so uma dor de cabeça, ja vai passar.
Thomas se sentou ao lado dela, o silêncio entre eles era confortável, a garota colocou a mão atrás do pescoço sentindo alguma coisa ali doer.
— Acho que fizeram alguma coisa comigo naquela noite, eu não me lembro de nada mas...essas dores começaram depois que fui levada pra lá, eles colocaram alguma coisa em mim.
Thomas a olhou preocupado. Ela puxou o cabelo pro lado e se virou se costas pra ele. Thomas chegou mais perto e viu o que parecia ser uma tatuagem de vários quadradinhos no pescoço dela.
— Kaylee...
— Eu não sei o que aconteceu mas acho que marcaram a gente, como alguma forma de rastreamento ou sei lá.
— Eu também tenho isso. — A voz de Teresa se fez presente atrás dele. — Quando me levaram pra lá, eu senti que estava acordando de um sonho cumprido, depois tudo começou a voltar.
Kaylee olhou assustada pra ela.
— As suas lembranças.
Teresa acentiu.
— Se lembra do que? — Thomas perguntou.
— Me lembro da primeira vez que conhecemos a Kaylee. Eu era mais alta e também mais rápida, sua avó não gostava que você brincasse conosco, ela achava que éramos perigosos pra você.
Kaylee abaixo a cabeça.
— E eu também lembrei o por que fomos parar lá. A gente pensou que ia resolver tudo isso. — A alegria desapareceu do rosto de Teresa dando a ela uma sensação de tristeza. — Acho melhor voltarmos.
Kaylee e Thomas se entreolharam não acreditando nas palavras que saíram da boca da amiga.
— Você ta brincando né?
— Kaylee me escuta...
— Não! Depois de tudo que eles fizeram a gente passar, você realmente esta pensando em voltar!? Isso é muita burrice, Teresa.
As garotas se levantaram ficando uma em frente a outra, Thomas ficou ao lado de Kaylee pronto pra segurá-la se as coisas ficassem feias.
— Você não entende...
— O que eu não entendo!? — Kaylee gritou.
— Tudo ia bem, ate vocês dois.... — Teresa parou de falar como se o que estava preste a dizer era um segredo que nunca deveria ser revelado, e de fato não poderia.
— Nós dois o que? — Thomas perguntou.
— Nada. — Ela balançou a cabeça.
Kaylee agarrou a mão dela trazendo a atenção da morena pra ela, os olhos da ruiva ja estavam implorando por sinceridade.
— Teresa, o que esta escondendo de nós?
Teresa olhou pra eles, pensando se deveria contar o que sabia ou não, mas antes que ela tomasse alguma decisão, um barulho de tiro foi ouvindo.
Os três correram de volta para o abrigo vendo todos os garotos em posição de alerta.
— O que houve? — Thomas perguntou.
— Não sei, ele acordou e foi pegando a arma, depois ele tentou... — Caçarola foi dizendo mas não conseguiu terminar.
Winston estava no chão vomitando uma substância escura e tossindo muito, ele se jogou na areia levantando a camisa mostrando o ferimento.
— Esta se espalhando pra dentro de mim. Eu não vou conseguir, por favor, não me deixem virar uma daquelas coisas. — Ele estendeu a mão pedindo a arma que estava com Caçarola.
Todos ficaram em silêncio observando o garoto ofegante no chão. Newt se aproximou e tirou a arma da mão de Caçarola andando lentamente na direção de Winston.
— Newt! — Kaylee gritou o nome dele mas o garoto não parou, Minho colocou o braço na frente impedindo a passagem dela.
Newt se abaixou e colocou a arma sobre o peito de Winston.
— Agora, vão embora. — Winston disse com a voz fraca.
— Tchau, Winston. — Newt sussurou.
Ele se levantou pegou sua mochila e saiu sendo seguido por Aris, Caçarola, Minho e Teresa. Deixando Kaylee e Thomas por último. Os dois olharam pra ele com lágrimas nos olhos, Winston sorriu e murmurou as palavras que Kaylee não queria mais ouvir.
— Esta tudo bem.
— Desculpa. — Thomas murmurou.
Ele pegou sua mochila e a de Kaylee e saiu arrastando a garota junto com ele, ele passou os braços sobre o pescoço dela a impedindo de olhar pra trás. Todos eles continuaram seu caminho sem olhar pra trás, quando estavam longe o suficiente do abrigo, o baralho de tiro fez todos pararem, ja sabendo o que significava. Winston estava morto.