but

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Oh, the things that you do
 in the name of what you love
You were doomed,
 but just enough.

Ele não está me esperando.
Esta é a principal dentre as dezenas de constatações e pensamentos que se passam por minha cabeça.
Meu cabelo cresceu um pouco. As lentes ainda me incomodam, mas vestir os óculos em uma festa não era uma boa ideia. A fraternidade dos Ômega é uma bagunça. Eu não conheço quase ninguém daqui.
E ele não está me esperando.
— Noona? — Lee Seunghwan é a primeira pessoa a se aproximar, notando-me parada no espaço entre o corredor de entrada e a sala. Eu sorrio para o calouro e velho amigo, mas ele me conhece o suficiente para perceber que não estou no mais tranquilo de meus estados.
— Oi — Aceno para o rapaz. Então franzo o cenho, confusa. —. Você está com os Ômega? Achei que tinha conseguido uma vaga nos dormitórios.
— Consegui. — Assegura, diminuindo a distância entre nós. Ele para ao meu lado, apoiando parte do corpo na parede. — Mas o que você está fazendo aqui? É a primeira vez que a vejo numa festa. — Aponta os fatos e estranhezas da situação.
— É verdade. — Concordo, nervosa. — É que alguém me convidou. — Meus olhos fazem outra tour visual pelo local, buscando encarecidamente por Kim Taehyung. Outra vez, não o encontro.
— Você está namorando? — Ele questiona, animado. — Meu Deus, noona! Mery já sabe disso? — Mais uma pergunta.
Eu volto a fitá-lo, rindo fraco. Seunghwan é apaixonado por Mery, minha irmã mais nova, desde que o conheço – em outras palavras: desde sempre.
E, como esperado, ela rapidamente se torna o assunto. — Mery vai prestar o vestibular este semestre? Ela não responde minhas mensagens com a mesma frequência. — O acanhamento é visível em seu semblante. Juntamente ao rubor em suas bochechas, está também o nervosismo em gestos: ele levanta a mão direita, dedilhando os fios curtos de sua nuca.
Eles eram da mesma classe. Mery queria seguir meus passos e ser aprovada nesta universidade, então ele quis também. Ironicamente, Lee passou e minha irmã, não.
— Ela tem estudado muito. Também não nos falamos todos os dias. — Informo, tocando-lhe o ombro em um ato de conforto. Sei que deve ser confuso e difícil para eles. — Acredito que ela vai conseguir este semestre, sim. —  Adiciono, por fim, conseguindo o arrancar um sorriso.
— Ah, por favor! — Pede. Ou não. Eu não entendi muito bem. — Eu já anotei tudo que ela vai precisar saber quando começar.
É fofo. O modo como o mais novo sente a falta de minha irmã e continua a pensar no bem estar dela.
Pergunto-me se Kim Taehyung faria algo assim por mim. E não ter certeza da resposta me deixa inquieta.
— Quem é seu amigo, Dulce-yah? — O timbre grosso soa atrás de mim. E, como se não fosse o suficiente, o dono da voz leva sua mão até minhas costas, descansando-a na curvatura de minha coluna.
Tremo. Dos pés à cabeça. Da mente ao corpo. Sinto-me como se cada célula que me compõe estivesse em um colapso.
— Taehyung? — Seu nome sai por meus lábios, mas não me movo. Ao mesmo tempo em que estou completamente trêmula, estou estática.
— Desculpe-me pelo atraso. — Usa uma abordagem mais branda, cortês. — Quem é seu amigo? — Então refaz a questão, mostrando que não iria deixá-la para lá.
— Oh. — Lee parece surpreso. Intimidado, eu diria. E é completamente compreensível: Taehyung é uma daquelas pessoas, as com o poder de exalar poder. Soberania. Ainda que eles tenham exatamente a mesma altura, Seunghwan passa a impressão de ser bem menor do que o Kim. — Sou Lee Seunghwan. Calouro em Direito. — Curva-se para o mais velho.
Taehyung demonstra estar mais interessado na figura a sua frente após a curta apresentação. Percebo-o quando finalmente me volto a ele, prendendo a respiração e próxima de um desmaio.
O Kim está perto. Seus ombros quase encostam nos meus e seus dedos, ora ou outra, se movem por minha coluna. Eles sobem e descem, como eu tenho certeza de que um leitor de batimentos cardíacos estaria fazendo caso ligado ao meu miocárdio. De forma mais amena, é claro. Porque meu coração está tão rápido quanto nunca esteve e Taehyung se mostra mais do que calmo.
E só faço esta comparação porque minha mente, por sua vez, não tem mais certeza se está viva, operante.
Novamente, estou estática.
— É um calouro? — Ele repete a informação em forma de pergunta, arqueando as sobrancelhas. — E de onde conhece Dulce-yah?
Eu odeio o meu nome. Onde minha mãe estava com a cabeça ao me nomear a partir de uma palavra estrangeira? Contudo, eu adoro a voz de Taehyung. E amo o seu sotaque singular de Daegu dentre todas as gírias e dialetos de Seoul. Como consequência, quero que ele repita o que disse; que diga esses malditos vocábulos de novo e de novo. É outro nível completamente novo de intimidade.
E é claro que não estou pronta. Mas quero. Preciso.
— Ele é amigo de Mery. — Explico em baixo tom, ainda encarando Kim Taehyung como se ele fosse a única coisa que eu sou capaz de enxergar.
E talvez realmente seja.
— Ah, entendo. — Sorri, finalmente. Sua mão para em meu corpo, deixando-me tensa e em expectativa. — É um prazer, Seunghwan. Sou Kim Taehyung, penúltimo ano em Astronomia.
O Lee, que já parecia pequeno, se torna menor. — Você é o Kim Taehyung que comentam? — Sua frase traz incredulidade e admiração. — Uou. Que injusto. — Sopra, após olhar o mais velho da cabeça aos pés.
— Perdão? — Está sinuoso, mas o divertimento também é visível em seu semblante.
— Você é inteligente e bonito. Não é um pouco injusto? — Explica, acarretando num riso solto e gostoso do Kim.
Suspiro, encantada.
— Muito obrigado, hoobae.
— E você ainda namora com Dulce-noona — Adiciona. — Ela e Mery são incríveis.
Volto-me para Seunghwan tão rápido que o deixo assustado. Porém, antes que eu pudesse abrir a boca para esclarecer o mal entendido, Taehyung retorque:
— É verdade. Dulce é incrível. — O sorriso se mantém em sua face e na minha, a confusão. 
Minha consciência se faz em um campo anárquico e completamente fora de controle. Em meio ao caos, um grito reverbera o fato inegável e tonteante: ele não corrigiu Lee.
O que isso significa?
— Agora, se nos der licença, precisamos entrar — Prossegue a falar.
— Claro. Até mais — Dá um passo para o lado, abrindo passagem para mim e Taehyung. — Foi um prazer. E tchau, noona! — Braceja em minha direção, sumindo pelo corredor tão rápido quanto apareceu.
Completamente compreensível.
Agora, é só eu e o Kim. E esse é o grande problema e alívio.
— Dr. Cho me segurou no laboratório. Tivemos algumas visitas hoje. — A razão de sua demora é exposta sem que eu a requira. — Perdão. — Sua mão se afasta de mim. E não quero que vá. Quero ela ali e em outros lugares, puxando-me para mais perto.
— Tudo bem. — Sopro, avoada e inerte. — Eu não esperei muito, de qualquer forma.
— Mas esperou. E eu quem devia estar aqui te esperando. — Insiste em sua culpa.
O assisto por alguns segundos, silenciosamente. E mesmo o respirar de Taehyung me parece um espetáculo.
— Está desculpado. — Digo, sabendo que é isso que quer ouvir.
— Ótimo. — Sorri. Então sua mão torna a me tomar, desta vez, entrelaçando-se a minha. — Vamos entrar. — Anuncia, já me guiando para dentro.
Acompanho os seus passos, fitando-o por trás quando ele toma a frente. Suas costas estão escondidas por um blazer acinzentado; o cabelo castanho escuro destaca os brincos em sua orelha. E não preciso de muito tempo para relembrar o quão bonito ele é, em todo e qualquer ângulo.
— Kim Taehyung! — Inclino-me um pouco para ver quem foi o autor do grito, deparando-me com Park Jimin bêbado e alterado no meio da sala. — Eu não acredito que você realmente veio! — Ele não parece disposto a baixar os decibéis em sua fala quando se aproxima de nós. — Olha só, gente, temos uma celebridade na festa hoje! — Anuncia, jogando seu braço livre nos ombros do Kim.
— Jimin, comporte-se. — Ele repreende pacientemente antes de afastar o rapaz, que só então me nota.
— Uh, Dulce! — Sorri tão intensamente que seus olhos se fecham. A cena aquece meu coração, mas não diminui o constrangimento que sinto.
— Olá, Jimin.
Jimin é uma pessoa de natureza alegre e extrovertida. Mas ele consegue ser muito inconveniente às vezes, principalmente quando bêbado. As bochechas rosadas são apenas um aviso de perigo à frente.
— Que saudades! Você só estuda agora. — Bufa, frustrado. — Gente que só estuda fica chata. Não vê como Taehyung está?
— Taehyung está mais do que bem, Park — Jung Hoseok é o nome seguinte. O acastanhado se coloca ao lado de Jimin, mirando-nos com um de seus sorrisos iluminados. — Deixe-o em paz.
— Eu vou deixar mesmo. Quando ele ir pro espaço com as pesquisas dele, capturar aqueles fófons — Pronuncia o termo de maneira enrolada, fazendo-nos rir. Em seguida, ele dá um gole no copo que segura.
— Jimin já está a anos-luz daqui. — Taehyung observa, rindo fraco. — Não há muito o que fazer. — A frase expressa conformidade. E conhecimento acerca de seu amigo.
Realmente não havia o que fazer. Por ora. Amanhã de manhã, eles teriam muito trabalho em cuidar do Park. De novo.
— Taehyung? — Outra cabeça acastanhada se junta ao montinho. Felizmente, outra que eu conheço.
— Olá, Jeongguk! — Sorri para o mais novo. 
— Taehyung-hyung veio a uma festa. Histórico. — Comenta como se o protagonista da oração não estivesse aqui. — Oi, noona! — Cumprimenta-me em sequência. Mas não me espera responder para continuar, levantando dois copinhos de vidro transparente — Quer uma bebida?
Todos estão bebericando algo. Esse é o fator que me leva a aceitar a oferta, visando me enturmar mais entre as dezenas de jovens adultos no recinto. Ou só com esse grupo em especial. Já me parece o suficiente. — Quero, sim. Obrigada. — Apanho o objeto preenchido até a borda assim que Jeon o entrega, com um sorriso em face.
— É um shot. Você precisa beber tudo de uma vez. — Ele explica. Seu copo é levado à altura de seu rosto. — Vamos juntos, huh?
— Certo. — Concordo, engajando-me em seu entusiasmo.
Jeongguk conta até três. Ao fim da progressiva, nós ingerimos o líquido transparente, que desce rasgando por minha garganta.
A mão de Taehyung aperta a minha com mais afinco quando ele me percebe comprimir as pálpebras, desacostumada com a sensação do álcool adentrando meu corpo.
— Que é isso, mesmo? — Hoseok pergunta. Não consigo abrir os olhos a tempo de ver sua expressão, no entanto.
— Tequila. — O Jeon replica, simplista.
Uma tosse corta por entre meus lábios, em surpresa e consequência.
— Perdão? — Espio por uma abertura mínima de visão. Mas meu arrependimento é notável.
— Que incompetente, Jeongguk. Como você serve um shot de tequila sem sal e limão? — Jimin resmunga, ofendido.
Os três colegas de fraternidade entram em uma discussão alheia ao meu atual pensamento e problema, e são efetivamente esquecidos.
— Eu não posso ficar bêbada. — Digo. Sem a certeza se para alguém ou para mim mesma. — Eu não quero ficar bêbada. — Volto-me para Taehyung, que me lança um olhar calmo, como se esperasse pela frase.
A minha tolerância alcoólica é ridiculamente baixa. E eu odeio ultrapassá-la.
— Venha aqui. — É tudo o que dita antes de tornar a mover-se, rumo a cozinha, desta vez.
Precisamos desviar de alguns corpos pelo percurso. A casa ainda não está cheia. É cedo, mas nunca é cedo demais para ficar chapado para a maioria dos presentes. Mesmo as classes têm o costume de receber estudantes nas alturas. O que eu não julgo: é realmente difícil avançar nas faculdade e vida adulta de maneira sóbria e sã. Muitos se rendem no caminho.
— Beber é péssimo. — Eu comento, perturbada pelo silêncio. Encaro nossas mãos juntas e engulo a seco, fazendo uma pausa — Eu fico tonta e meio fora de mim…
— Realmente. Não quero que esteja fora de sua consciência hoje. — Finda o contato entre nossos dedos. Enquanto eu paro próxima à ilha da cozinha, Taehyung avança até a geladeira e apanha uma garrafa fechada de água. — Não está muito gelada. — Constata ao fechar a porta. Seus passos o trazem de volta a mim e, novamente, oscilo. — Beba. — Estende o objeto para mim.
Demoro certo tempo para aceitar o recipiente, tentando processar os últimos vocábulos proferidos pelo Kim. — Obrigada. — Agradeço ao, enfim, receber a água.
Taehyung se apoia no balcão, encarando-me seguir seu pedido. Desde o estalo que produzo ao abrir a garrafa ao ruído de minhas goladas volumosas em sua boca; cada som parece amplificado e detectado pelo moreno.
E, inferno, não importa o quão hidratada eu esteja, Taehyung é um deserto: ele sabe como me deixar sedenta e quente. Tonta, cega pela areia enquanto o vento a arrasta em uma tempestade.
— Beba com calma. — Adverte ao verificar o filete transparente descendo pelo canto de meus lábios. Paro de beber, então, focada em respirar fundo e tentar me acalmar.
— Desculpe. — Murmuro. E sei que não é necessário. Não preciso fazer cada mandamento dele com perfeição e devoção, ainda mais os simples como ingerir água.
A questão é que gosto. Gosto do olhar satisfeito que o Kim me lança quando o obedeço; adoro a aprovação que ele emana ao me assistir realizar seus pedidos. Eles são, de fato, como mandamentos: Kim Taehyung é a única religião em que acredito e devoto-me a seguir.
Não acredito em Deus. Mas se Taehyung fosse uma igreja, me ajoelharia perante a ele.
— Sua mãe não se importou em ter cancelado a ida ao culto? — Ele questiona, como se lesse meus pensamentos.
— Não. Ela sabe que eu nunca fiz questão — Seco a parcela molhada de meu rosto com as costas da mão direita, já que a outra carrega o objeto de plástico.
— Fico feliz em saber que ela é compreensiva. — Acompanha meus atos com suas orbes predadoras.
Começando a sentir-me trêmula, fecho a garrafa e a coloco sobre o mármore a nossa frente.
— É. Eu também. — Desvio o olhar, fixando-o aleatoriamente no relógio de parede personalizado da fraternidade.
— Mas também entendo que existem coisas que você não precisa compartilhar com ela. — Continua, deixando-me perdida em sua linha de raciocínio.
— Como o quê?
— Bom… — Ouço-o suspirar, aumentando a tensão que sinto em meus músculos. — Eu fui convidado pela Universidade de Cambridge. Um mestrado. Já disse que pretendo terminar a minha graduação aqui, mas vou visitar o campus nas férias. — Outra mudança de assunto. E já estou completamente balda.
— Isso é grande. — A fala é baixa, afetada. Não sei como aferir e interpretar tanta informação. — Estou orgulhosa.
E desolada. Porque um fato ecoa, longínquo e doloroso: ele está indo embora. É esperado. Kim Taehyung está destinado a conquistar não só nosso mundo, como dezenas de outros espalhados pela vastidão do universo. 
Era o propósito dele, certo? O motivo pelo qual ele se enfia por dias a fios em laboratórios e estuda incessantemente os e pelos observatórios espalhados neste país. É seu princípio de vida.
O que me fere e destroça em todos os sentidos possíveis, já que o mais perto que cheguei disso foi ele e nele.
Kim Taehyung é meu maldito propósito.
— Eu também estou. — Notifica, acertando-me outra facada não literal.
A felicidade nunca teve um gosto tão amargo.
— Só que… Tenho preocupações. — Dá um passo em minha direção, diminuindo o já exíguo vão entre nós. — Pergunte quais são. — Requere. E é claro que eu, imediatamente, acato-o.
— O que te preocupa? — A pergunta é quase um sussurro. Ele a ouve, entretanto. Sei disso porque percebo-o sorrindo ladino, passando a língua pela parte inferior de sua bochecha em um preparo para o que diria a seguir:
— Me preocupo em não conseguir tocá-la de todas as formas que desejo. — Meus olhos se arregalam infimamente e meu fôlego é perdido. — Não tinha pressa, mas acredito que não posso alongar a demora por muito mais tempo. — Continua.
Miro-o de soslaio, desacreditada. Eu não estou bêbada, nem entorpecida. Por que estou delirando?
— Então, é realmente importante que você esteja sóbria esta noite, não acha? — O brilho felino em seu olhar chameja com mais intensidade, estudando minhas reações. — Porque pretendo começar hoje. — Conclui. E é isto: é o fim. O enterro definitivo de minha sanidade.
E o começo de uma devoção perpétua.
Giro meu corpo lentamente, até que estejamos frente a frente. Não parece real. Então eu o fito com afinco, buscando por veracidade e certeza. Não pode ser verdade. É tudo o que há muito desejo e agora está ao meu alcance, estendendo-me as mãos. Tamanha sorte não pode ser destinada a mim.
Não há o que negar, no entanto. Kim Taehyung, em sua etérea existência, continua aqui, encarando-me em expectativa.
A visão é iridescente: olho-a por todos os ângulos e nenhum é igual. Ora semelhante a uma ida ao céu, ora aparentando estar prestes a arrastar minha alma para o inferno. E, sinceramente, eu não me importo com o destino: se Taehyung é o motorista, acompanho-o para qualquer lugar.
— É melhor começar o mais rápido possível, então. — Solto, finalmente. E ele sorri: contente e satisfeito.
Se durante todos esses meses me senti uma presa sob a mira de um predador, agora não tenho dúvidas de que é exatamente o que sou. Taehyung se aproxima como uma cobra rodeando sua vítima, arrastando suas mãos ao redor de meu corpo e sugando-me o fôlego.
É um abate silencioso. Mesmo as batidas frenéticas de meu coração são mutadas pela adrenalina do momento. Estou encurralada entre a ilha de mármore e o corpo do rapaz; sinto seus dedos subindo por meus quadris e prendendo-se na curvatura de minha cintura.
Sou puxada para ele, nossos troncos e pernas se esbarraram. Prendo a respiração, imóvel e necessitada. — Tem algumas coisas que você precisa saber antes, no entanto — Sua canhota se arrasta até meu pescoço, trilhando um caminho quente e tensionando as regiões por onde passa.
— O quê? — Cício, fraca. Ao mesmo tempo, ele se aproxima mais e mais, até que nossos narizes se toquem.
— Gosto que faça as coisas como mando. — O sorriso acintoso ressurge, ainda mais letal.
Não estou mais convicta de que meus pulmões recebem o ar como devem. Só os sinto queimar.
— Eu gosto… — Arfo, enfrentando dificuldades em completar a frase — Gosto de te obedecer.
Ele aparenta ter aprovado minha resposta. Sua língua passa preguiçosamente por toda a extensão de seus lábios, então a voz rouca gratula: — Boa garota.
Uma satisfação descomunal me toma ao escutar seu agrado. Contudo, ainda estou sedenta: preciso de mais. Demais. Nossas bocas estão tão próximas. Só as quero juntas logo.
— Taehyung… — Seu nome é dito de modo sôfrego.
— Shh… — Sopra, direcionando-me um último olhar antes de, enfim, beijar-me.
Céus. Não consigo encontrar outra forma de descrever o que sinto: a língua do Kim alinha-se e massageia a minha como a água despenca das nuvens e retorna aos mares; como a combinação improvável mas fatídica de hélio e hidrogênio; como ondas nascem e se quebram. Algo que sempre esteve ali, mas demorou a ser entendido. Algo fadado a acontecer.
Taehyung me beija como se existisse para isso. Nossas bocas se tocam de maneira curiosa; parecem conhecer cada centímetro uma da outra como se explorassem-se há séculos. É certo e certeiro. O que só me alavanca a entregar-me ainda mais.
Meus braços buscam por seu corpo, passando por seu peito e descansando em seus ombros. Taehyung aproveita a deixa para ajeitar-se em meio às minhas pernas; o aperto em meu quadril se torna mais firme e ele se abaixa de forma em que aumente o contato entre nossas bocas.
Eu não tenho ideia de qual música está tocando agora. Não sei se há alguém por perto. Mal me lembro do meu próprio nome. Mas sinto cada uma das sensações dispostas à mesa enquanto Taehyung vaga pela minha pele e deleito-me de todos as suas nuances. Sua língua entrelaça a minha com minúcia. Ele não parece ter pressa alguma ao deixá-la sair e entrar por meus lábios, sugando-os e mordendo-os em seguida. O rapaz avança, então. Um rastro úmido é deixado pela extensão de minha mandíbula e pescoço, onde alguns beijos são depositados. Eu vacilo, agarrando-o com mais força. Ele não parece se importar quando meus movimentos mal calculados o guiam para ainda mais fundo em meus ombros e clavículas, mas não se sente satisfeito com a posição em que está desfrutando-os.
— Relaxe. — Ele sussurra, a voz rouca reverberando em minha pele quente. Demoro a perceber que ele faz o pedido para que possa levantar meu corpo tenso, agarrando-me pelas coxas e sentando-me no balcão gelado.
Arrepio-me com a antítese de temperaturas. Meus olhos se encontram com os dele novamente. O Kim me analisa com cuidado, notando seus rastros em meu corpo e meu peito ofegante. Por fim, ele sorri, ladino e extasiado pela visão.
— Taehyung — Chamo-o, incapaz de passar tanto tempo sem ser tocada por ele. Meus braços o puxam para mais perto de novo. Ele se deixa vir, rindo contra minha tez. Sela-a poucas vezes seguidas antes de murmurar:
— Não acha que está muito apressada, huh? — Arrasta a boca pela região, parando em meu decote.
Fecho os olhos e mordo os lábios, ansiosa. Ele beija o local mais próximo de meus seios cobertos, então sobe em uma linha quase retilínea, voltando ao meu pescoço. Eu arfo. Meus dedos apertam as roupas caras sob eles. E, juntando esforços, consigo dizer: — Você disse que tinha pressa.
Não há resposta, à princípio. Taehyung apenas leva seus lábios mais para o lado, subindo-os por minha garganta. Eu jogo minha cabeça levemente para trás e ele protesta, segurando meu queixo para que eu torne a mirá-lo.
Seus olhos escuros acabam comigo. A luxúria lampeja neles como uma tempestade de relâmpagos: intensa, clara e letal. — E você tem? — Indaga, atento.
Respiro fundo. Juntar sílabas em palavras inteiras se tornou uma tarefa árdua. — Eu quero você, Taehyung. — A confissão é finalmente feita em voz alta.
Ele para. Sua mão em meu quadril o aperta, quase fincando as unhas curtas na região. Um som áspero sai pela boca do moreno e é minha vez de perceber a tensão que se forma em seus ombros. De alguma maneira, sinto que disse a coisa certa.
— Levante-se — Ele dita, afastando-se um pouco de mim para que eu tenha espaço para obedecê-lo.
— Mas, Taehyung… — Murmuro, confusa e insatisfeita com o distanciamento repentino.
Ele sorri para mim, aproximando-se novamente apenas para dizer:
— Platéias não me incomodam. Mas eu não quero ninguém nos interrompendo hoje. — Explica, lembrando-me de onde estamos: no meio da cozinha. — Agora, levante-se. — Repete, selando meus lábios e afastando-se logo depois.
Desta vez, obedeço prontamente. Ele me acude quando meus pés e pernas trêmulos tocam o chão, posicionando-se atrás de mim e circulando-me pela cintura. Estamos muito, muito próximos. E eu posso sentir sua semi-ereção roçando entre minhas nádegas.
— Ande, querida. — Ele diz, rindo de modo cafajeste. Eu assinto, mas ainda tomo alguns segundos me preparando antes de iniciar a caminhada para fora.
Nossos corpos continuam se afastando um pouco e juntando-se muito pelo caminho. Há mais pessoas dispersas pela sala agora. Posso ver Jimin aos beijos com um garoto no sofá e Jeongguk conversando com alguém próximo a escada. Não encontro os outros, no entanto. E, sendo sincera, não tenho a mínima pretensão em procurar. Todos os meus esforços e atenção estão sendo dirigidos à tarefa de subir os degraus até o corredor dos quartos sem cair. Ao finalmente conseguir, volto-me a Taehyung, incerta de em qual porta deveríamos entrar.
Ele não mora aqui. Taehyung vive em um dos dormitórios, juntamente de Namjoon, outro aluno de seu curso.
— Continue andando. — Ele orienta. Ainda sinuosa, faço o que me foi pedido. Nós seguimos até o final do passadiço, parando em frente ao último quarto. É o momento em que o Kim volta a tomar a frente, desprendendo-se de mim e abrindo o objeto de madeira.
— Quem vive aqui? — Questiono, adentrando o recinto quando ele me dá espaço para fazê-lo.
— Atualmente, ninguém. — Replica, assistindo-me andar pelo quarto vazio. Os móveis básicos como o guarda-roupa e a escrivaninha que colocam em todos os outros dormitórios estão ali. A cama está feita. Porém, salvos os fatores citados, não havia sinal de um morador.
Uma lâmpada acende em minha consciência, finalmente me fazendo entender o porquê de ele me chamar para a festa: não estaríamos sozinhos em seu dormitório. E ele sabia sobre este quarto vago.
O pensamento me faz sorrir, o que atrai a curiosidade do acastanhado. — O que foi? — Pergunta enquanto tranca a porta atrás de si.
— Você pensou em tudo? — A dúvida sai por entre meus lábios antes que eu possa matutar suas consequências. Ele não responde. — E se eu houvesse dito não? — Continuo, então. 
Suas pernas voltam a empurrar o chão, trazendo-o de volta para mim. — Você diria? — A pergunta é devolvida com outra. Paro por certo tempo, observando-o. As luzes estão apagadas, mas a iluminação externa é mais do que suficiente para que nos contemplemos. Os seus fios estão bagunçados e a boca, tão rosada como nunca a vi. Desço mais um pouco, passando por seu traje levemente amassado e a calça com sua protuberância começando a aparecer. Suspiro, fraca, certa de minha resposta quando digo:
— Não. Nunca.  
Ele sorri, satisfeito. Seus braços me puxam para perto e o contato visual é mantido por longos instantes. Nenhuma palavra é dita, mas centenas de mensagens são transmitidas por meio de suas íris escuras.
Não tenho certeza se captei todas. Contudo, também não tenho muito tempo para processá-las: suas mãos alcançam meu pescoço e, no minuto seguinte, nossos lábios se encontram outra vez.
É mais intenso. Nossas bocas refletem o estado sedento de nossos corpos e, ao tocarem-se, assemelham-se à primeira faísca de um incêndio.
Arfo contra sua boca. Ele abraça minha cintura e dá um passo para frente sem findar o ósculo. Copio seus movimentos, andando para trás enquanto ele nos guia até cairmos na beira da cama.
Meu peito salta com a queda, mesmo que essa fosse esperada. Taehyung coloca uma de suas mãos em minha barriga e eu entendo o gesto como um comando para que eu vá mais para trás. Arrasto-me, então, parando no meio do colchão. Ele parece considerar o suficiente no momento em que anda sobre os joelhos, alcançando-me e colocando seu corpo em cima do meu.
Os beijos recomeçam. E, agora, sinto-me mais confiante para passear com minhas mãos por seu corpo: desde seus ombros e costas à seu abdômen. Enquanto isso, ele brinca com meus lábios, empurrando-se com seus braços na cama para que seu peso não me machuque. Indo ainda mais a fundo, eu desço meus dígitos até o cós de sua calça, segurando-o juntamente ao seu cinto. É quando Taehyung, subitamente, para, erguendo-se um pouco para fitar-me e dizer:
— Ainda não, Dulce.
— Mas, Tae… — Oponho-me, manhosa. O tom não o afeta. Longe disse, ele apenas se afasta ainda mais.
— Quando eu estiver a tocando — Faz questão de fixar seus olhos nos meus. Um de seus braços está ao lado de minha cabeça. O outro descende até que alcance minha coxa, segurando-a com firmeza. — Eu quero que me chame de 'Senhor’, entendido? — Os olhos se perdem parcialmente por entre os fios escuros de sua franja.
É como se uma corrente elétrica passasse por meu corpo. Eu tremulo, tonta. — Sim… — Cício, em deleite.
— “Sim” o quê? — Aperta minha coxa outra vez.
Suspiro, cerrando os olhos. — Senhor. Sim, senhor.
Posso detectar o agrado em seu semblante. Ele retorna a deitar-se sobre mim, os olhos sem desviar-se, nem mesmo por um segundo. — Ótimo. Agora eu vou dizer o que vamos fazer e você vai prestar atenção, huh? — A voz sai ainda mais rouca. Eu mexo a cabeça em um gesto singelo, quase imperceptível. — Eu vou tocar você. — Sorri acintoso, aproximando-se mais e mais. — Cada centímetro de seu corpo. E eu quero te ouvir gemendo alto quando gozar. — Dá-me um selinho, então desvia o caminho, selando meu maxilar. — E, se você for uma boa garota… — Mais para o lado, mais para cima. Sua boca para na região próxima de minha orelha, sugando-a lentamente. — Você vai poder tecer suas mãos por mim. — Pressiona os lábios onde acabou de chupar, desconcertando-me mais e mais. — Entendido?
Remexo minhas pernas; o meio delas já está completamente molhado a esta altura. — Sim, senhor.

Church {Taehyung}Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang