Capítulo 10

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— Christopher prestou depoimento. Ele confirmou ao delegado que era o responsável pelo sequestro de Camila, mas não mencionou Alejandro e nem Austin. — E você sabe por quê? — servindo-se de um copo com água, Lauren não compreendia no que se transformara sua vida.

Ela passara anos esforçando-se para fazer alguma diferença no mundo e se matava de trabalhar para isso, porém, estava ali, longe da sua própria casa, longe da sua cama, sabendo que lá fora havia pessoas planejando sepultá-la junto com o irmão.

— Não, não sei. Ele não quis me dizer. Mas não se preocupe, um depoimento pode ser modificado a qualquer momento — diferente de Lauren, Regina preferiu uma dose dupla de uísque.

— A propósito, contei a Camila sobre o envolvimento da família dela no sequestro.

— Por que fez isso?

— Porque você não fez, Lauren.

— Onde ela está?

— Em seu apartamento.

— Você não deveria tê-la deixado sozinha.

— Ela queria ficar sozinha. Ela precisa disso, eu acho.

— Eu vou até lá. Talvez ela nem abra a porta para mim, mas preciso ter certeza de que ela está bem.

— Sim, faça isso. Vá com o meu carro. O seu fusca amarelo chamaria a atenção.

O luar tingia de prateado os edifícios ao longo do caminho. Havia se passado semanas desde que beijara e tocara Camila pela última vez. Seu coração ainda doía. Prometera a si mesma que não a procuraria, embora soubesse que era quase impossível não quebrar aquela promessa. Sem Camila, sua vida estava perdendo a forma, e como um jeans velho, não havia o que fazer para que ele voltasse ao normal. A campainha soou uma vez. Então soou de novo, e de novo. Lauren não queria desistir. Pulsava viva dentro dela a esperança de que Camila ainda estivesse ali, esperando por ela, louca de saudade. Quando a porta finalmente foi aberta, Lauren não soube o que dizer. Portanto, limitou-se a abrir um sorriso triste e pedir permissão para entrar. Sua voz tinha uma doçura que surpreendeu e entristeceu Camila, levando-a de volta para quem tinham sido. Havia tanto a se dizer, e Lauren tinha todo o tempo do mundo, mas o silêncio de Camila lhe dava nos nervos.

— Eu só queria dizer que sinto muito — começou Lauren, um nó se formando na garganta enquanto pensava em alguma coisa que não soasse patético.

— Posso pedir ao meu irmão para esquecer a denúncia, caso isso alivie o peso da sua infelicidade. Nós iremos embora e...

De repente, Camila começou a chorar. A soluçar. Ela quase sufocou tentando parar, tentando controlar aquelas lágrimas inúteis e ser forte. Por mais que tentasse, não conseguia. Lauren a tomou nos braços, acariciando seus cabelos cacheados e perfumados enquanto os soluços profundos a sacudiam como se ela fosse uma boneca de pano. Chorou primeiro por Lauren, e depois por tudo o que havia perdido. Chorou também por si mesma, e pela família que desejara ter quando era criança. ...

Um pouco mais cedo do que o normal, Camila despertou. Mesmo com os cabelos desalinhados e os olhos inchados de tanto chorar, ela conseguia ficar linda. Sentia-se como um cristal refinado: bastaria uma leve pressão no lugar errado e ela se despedaçaria. Ainda sonolenta, sentou-se na cama e lá estava sorriso que fazia seu coração disparar.

— Oi... — levantando-se da poltrona onde passara parte da noite velando o sono de Camila, Lauren se aproximou com uma bandeja nas mãos. Ela acrescentara um copo com água e uma aspirina no menu do café da manhã.

— Oi... — Camila respondeu, ignorando a comida e enfiando o comprimido na boca.

— Deveria ter se alimentado antes de tomar isso — disse Lauren.

PenitênciaWhere stories live. Discover now