Man-Eater

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 Não consigo me lembrar exatamente de quando morri, e minha mente fantasia que deve ter sido quando esbarrei em Jacob. Provavelmente cai e bati com a cabeça ao invés de ter sido amparada por aqueles dois braços esculturais, e minha mente está tentando me confundir ao criar imagens do contrário para que o estrago seja menor. Sim, deve ser isso, não tem outra explicação!-

 Uma estrela de cinema segura um kit de primeiros socorros enquanto um empresário bilionário me conduz para a cozinha, onde posso me isolar dos olhares curiosos de seus funcionários em estado de choque. O arranhão no meu pé é superficial e lateja pouco, mas minha intolerância a simples imagem do sangue me deixa mole feito gelatina, então sequer protesto quando ele me apoia desajeitadamente no caminho.

 Para alguém que poderia facilmente me erguer do chão como se fosse um saco de farinha, ele parece um tanto acanhado ao me conduzir, e imagino se Tom teria uma crise de ciúmes ao vê-lo segurar uma mulher de meio metro, totalmente alcoolizada.

 A resposta para a minha pergunta vem rápida.

 — Certo. — o ator diz ao entrar na cozinha, e abre um sorriso culpado quando nossos olhares se encontram. — Posso dar uma olhada?

 Ainda um tanto atordoada, me sento sobre a bancada de mármore de Ruby, imaginando que ela não gostaria tanto se visse a cena.

 — Me diga que não destruí o tapete. — murmuro num lapso de lucidez.

 Jacob se aproxima e dá uma olhada no meu pé, os lábios se curvando numa expressão desgostosa.

 — É superficial. — ouço-o dizer e faço uma careta.

 — Acho que um band-aid resolve.

 — Só tirem o sangue, por favor.

 Os dois se entreolham e vejo Tom reprimir um risinho, ao passo que Jacob apenas desvia o olhar para rir em paz.

 — É apenas um arranhão. — o mais novo diz, forçando a voz para parecer impassível.

 O encaro ofendida.

 — Eu tenho tolerância zero, entendeu? Zero! — As palavras escapam antes que eu possa me dar conta, movidas pela coragem alcoólica. — Sabe? Aquele número redondinho que significa nada de nada? Então...

 Logo que elas saem, imagino que os dois vão me comer viva, no sentido ruim da coisa. Imagino que dois homens que têm dinheiro para comprar a minha vida e tudo o que tem nela não irão aguentar desaforo da garota falida que está muitas classes abaixo deles, então me surpreendo quando a expressão de Tom se contorce numa careta para tentar reprimir o riso novamente.

 — Certo...? — ele me encara, curioso.

 — Devon. — completo, vendo-o apanhar um pedaço de gaze e embeber no que parece ser álcool.

 Suas mãos com dedos longos comprimem o tecido algumas vezes e vejo as gotas pingarem.

 — Devon. — termina, assentindo com a cabeça. Quando seu rosto se ergue novamente, ele sorri ao sacudir a gaze por um breve momento. — Isso pode doer um pouco.

 Sua pele é fria quando toca a sola do meu pé, erguendo-o na altura de seu rosto antes de pressionar a gaze no arranhão na parte de cima. Solto um gemido baixo de agonia e desvio rapidamente o olhar, dando de cara com Jacob assistindo a cena, o que faz minhas bochechas esquentarem rapidamente.

 Quando olho para baixo mais uma vez, Tom também está me encarando.

 Engulo em seco.

 Me sinto mais observada do que me senti a vida inteira, e não sei se é pelo o álcool, mas há uma certa inquietação crescendo em lugares que não deveriam. Comprimo as pernas instintivamente, me perguntando se de repente vim parar no início de algum pornô barato, e o pensamento do meu corpo jogado na bancada e rodeado pelos dois me faz sacudir a cabeça instintivamente.

Three Pieces | Tom Holland & Jake GyllenhaalWhere stories live. Discover now