Caprese and Cabernet

200 22 32
                                    

 Nic e eu vamos embora por volta das 4h da manhã, que é quando minha cabeça ameaça explodir como consequência das últimas noites mais que agitadas. As ruas da cidade estão praticamente vazias pelo horário, considerando que os únicos que se arriscam a sair na madrugada são os festeiros ou os que não têm para onde voltar, e divido um Uber com o homem ao meu lado porque minha cabeça lateja ainda mais só com a ideia de entrar no metrô de volta para casa.

 Nic vive numa pensão exclusivamente masculina, o que significa que não posso fazer o menor barulho quando minhas roupas estão no chão e seu corpo se conecta ao meu. Eu suspiro, mordo os lábios e fecho os olhos, deixando que ele faça o trabalho enquanto o travesseiro que impede que a cabeceira se choque contra a parede escorrega. Nic termina e desmaia, é claro, e eu vou dormir com preguiça de dar um jeito na minha própria umidade.

 Acordo novamente por volta das 8h, ouvindo os murmúrios matinais dos colegas do cara adormecido ao meu lado. Nic está de bruços, as costas nuas e pálidas subindo e descendo enquanto ele ressona baixo, suas pernas atravessadas sobre as minhas por conta do espaço limitado da cama de solteiro. Minha cabeça dói menos, mas meus olhos parecem arenosos enquanto pisco para me ajustar à claridade que entra pela pequena janela, revelando os poucos grânulos de pó voando em seu quartinho.

 Com cuidado, empurro o corpo nu de Nic para o lado. Sinto um pouco de dificuldade por conta do torpor do sono, mas logo ele rola para o canto da cama com um resmungo e eu consigo me levantar, esticando as pernas pelo quarto numa tentativa de parar o formigamento. Quando finalmente me visto e penteio os cabelos com as mãos o melhor que posso, me aproximo novamente do corpo adormecido e murmuro próximo a sua orelha.

 — Nic? — chamo baixo, ouvindo-o resmungar mais uma vez. Suas pálpebras tremem mas não se abrem. — Estou indo, tudo bem?

 Ele murmura algo inteligível e dá um aceno em concordância quase que imperceptível.

 Abro a porta e espio rapidamente o lado de fora, mas com exceção de uma cantoria num idioma que não conheço vinda do banheiro, não há mais ninguém no corredor. Por via das dúvidas, saio nas pontas dos pés e tento evitar qualquer ruído desnecessário até me ver na segurança da rua.

 O metrô está vazio, e tiro um cochilo durante minha curta viagem até o outro lado da cidade. Nem mesmo os solavancos e os barulhos dos trilhos são capazes de me tirar do meu sono de urso, e por pouco não passo da minha estação. Preciso sair do vagão após o apito que alerta o fechamento das portas, o que quase faz com que eu seja esmagada por elas.

 Compro um café duplo e três bagels a caminho de casa e, assim como já imaginava, não encontro Pola ao cruzar as portas. É óbvio que ela tem planos para o fim de semana, e irônico seria encontrá-la em casa em pleno domingo. Como meu desjejum em silêncio, alegre pela minha dor de cabeça agora já ter se dissipado, e resolvo cair na cama mais uma vez no meu dia de folga. Tiro meu casaco, as botas e as calças e me jogo em meio aos cobertores, adormecendo quase que instantaneamente após ser envolta pela bolha quente.



 Só acordo novamente quando um bip insistente ressoa nos confins da minha consciência, me trazendo de volta para a realidade. Resmungo aborrecida, envolta demais no calor dos cobertores para pensar em buscar o celular, mas o bip soa de novo e forço meus olhos a se abrirem.

 Calafrios percorrem meu corpo quando movo o pé para fora da bolha, usando-o para arrastar meu casaco até o alcance das minhas mãos. Sinto o celular vibrar nos bolsos da peça e tenho o vislumbre da minha aparência desgrenhada antes da tela se acender.

 Há inúmeras notificações do grupo "Três Peças". O relógio marca 13h da tarde.

 Rolo a conversa, notando que todas são de Tom, mas há tantas delas que decido ler apenas as últimas.

Three Pieces | Tom Holland & Jake GyllenhaalWhere stories live. Discover now