Capítulo 46

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Foi tudo muito rápido. O forte estrondo me jogou ao chão e antes mesmo que me recuperasse, os braços de Céu me envolveram e ele me ergueu num movimento rápido, preparando-nos para fuga.

— Ora, ora, o bom filho a casa torna. — Amendoim adentrou na casa carregando uma pistola nas mãos. — E vejam se não é a família feliz reunida! Não esperava encontrar a patricinha por aqui.

Céu, em um ágil movimento, colocou-se a minha frente e encarou o homem grande que tinha a arma apontada para o rosto do meu marido.

— Não, não! — Amendoim disse fazendo um sutil movimento com a arma. — Sem nenhum movimento brusco ou estouro seus miolos agora mesmo, embora tenhamos contas para acertar ainda.

Eu sabia que James estava armado, e Amendoim não era bobo de pensar o contrário. Embora estivesse protegida pelo corpo do meu marido, era possível ver, por algumas frestas, o ódio estampado no rosto do traidor. Olhei além da porta, em busca de sinais de ajuda, mas nenhum homem do Morro parecia estar por perto.

— Mãos na cabeça, por favor — ele pediu zombando.

Céu obedeceu lentamente, sem dizer nada. Comecei a imaginar que aquele seria o nosso fim.

— Agora, você, Amber, boa menina, vai pegar a arma que está na cintura dele e jogar no chão, bem ali — Amendoim ordenou, encontrando meus olhos aterrorizados. — E não pense em fazer uma brincadeira ou deixo você viúva antes mesmo de piscar.

— Deixa ela de fora disso, Amendoim — Céu falou tentando manter a calma, embora sua voz estivesse firme.

— De jeito nenhum! Parte do que me aconteceu é culpa dessa vagabunda. Não poderia ter uma oportunidade melhor de acertar as contas. — Ele deu mais um passo e centralizou bem a arma na cabeça de James. — Agora, mocinha, tira a arma e joga ela bem ali.

Tremendo, aproximei-me de Céu apalpando a sua cintura.

— Está tudo bem, meu amor — James disse percebendo meu terror. — Está à direita.

Segui o caminho com uma das mãos e senti a arma na cintura dele. Contudo, durante o trajeto, observei que havia algo preso as costas dele, constatando se tratar de outra arma. Tentando não denunciar a descoberta, apressei-me em tirar a arma da direita e logo que ela estava em minhas mãos, joguei no chão, para longe, desesperada por ter aquele objeto em meu poder.

— Boa menina — Amendoim elogiou caminhando em direção a arma. Com movimentos bem pensados e a outra arma bem apontada, abaixou-se e a tomou nas mãos. — Agora, com cuidado, você senta ali naquele sofá, onde eu possa vê-la.

Céu se opôs a ordem e abaixou um dos braços, não me permitindo mover as pernas.

— Você não está mais dando as ordens aqui, Céu — Amendoim ergueu a voz destravando a arma do meu marido e apontando as duas para nós. — Eu não quero saber o que você pensa. Agora, Amber, sente-se ali, onde eu possa contemplar sua beleza.

Tremendo igual vara verde, temendo pela nossa vida, fiz o que ele mandou, sentando no sofá, enquanto uma das armas seguia apontada na minha direção. No instinto minhas mãos foram parar na minha barriga, como se eu pudesse proteger meu bebê de uma tragédia. O movimento chamou atenção de Amendoim que riu alto.

— Então você providenciou rápido um herdeiro! — ele zombou achando realmente graça da situação. — Você teve mesmo coragem de ter um filho?

Os olhos de Céu faíscavam de ódio, eu conseguia ver. Temendo ainda mais, me curvei como pude, arrependida de ter denunciado meu estado.

— Eu me pergunto se você não tem medo... Sabe? De ele ser como o pai. — Amendoim olhou para mim, depois para James. — Acho que eu estaria fazendo um favor para você dando um fim na vida dele. Nunca se sabe quando um filho está pronto a tirar a vida do próprio pai, não é mesmo?

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde as histórias ganham vida. Descobre agora