Capítulo 14

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- E João Batista diz: Raça de víboras, como poderão fugir da ira de Deus? - a voz de Noah ressoou com firmeza. Ele falava alto, mesmo tendo apenas a mim, Kimberly e alguns gatos pingados prestando atenção ao seu discurso enérgico na praça. - O tempo de vocês se arrependerem das suas iniquidades, prostituições é hoje! Cristo está voltando! Não adianta falarem: "Eu amo a Deus" e desprezarem a sua Palavra ou irem a igreja aos domingos, buscando por bênçãos terrenas. Vocês fazem barganhas e oferecem sua adoração, como se Deus precisasse delas! Vocês trocam o Senhor por outros deuses nas dificuldades. Sim, outros deuses! O amor ao dinheiro, o adultério, as paixões da carne e o jugo desigual são exemplos de ídolos que vocês precisam abandonar! Do contrário, no último dia ouvirão dos lábios santos de Cristo: eu nunca os conheci e serão lançados na condenação eterna!

Kim e eu trocamos um olhar assustado e, percebendo que Noah guardou sua bíblia no bolso, nos aproximamos do banco onde ele havia subido a fim de fazer um convite especial aos moradores da ala sul do morro.

- Você ficou louco? - Kim já chegou irritada. - Nós confiamos em você pra fazer um discurso gentil e descolado, chamando a galera para o culto de jovens no sábado e não condená-los ao inferno!

- É, Noah. Você pegou pesado - concordei com minha amiga. - E a nossa estratégia de se enturmar, depois falar? Não é a toa que ninguém te ouviu, além, é claro, daqueles homens do bar, mas eles estão, na verdade, caçoando do seu topete.

Noah forçou uma risadinha.

- Bem, decidi testar outra estratégia, um estilo mais João Batista e menos "Jesus precisa de você, coitadinho dele" - ele explicou forçando uma voz fina. Claramente, estava irritado. - E bem, quantos homens de Deus pregaram e não foram ouvidos?

- Eu ouvi seu discurso. - Aquela voz grossa soou perto de nós, nos dando um grande susto.

- Pipoqueiro! Assim você nos mata! - Kim colocou a mão sobre o peito ao ver aquele brutamontes de quase dois metros descendo de um carrão do ano.

- É preciso muita coragem pra confrontar as pessoas assim. Pra um rapaz magrelo você até que é bem ousado, hein! - Ele deu alguns tapas no ombro de Noah e quase desmontou o pobrezinho. - Bem, venham, o chefe quer vê-los.

- Nós três? Noah, Kim e eu? - questionei, assustada. - Tem certeza?

- Sim! Eles está resolvendo uma questão, mas os chamou para um café da tarde- esclareceu o homem bombado. - Gastamos exatamente 157 reais e 75 centavos para que vocês fossem bem recebidos.

- Hum, que delicia! - Kim bateu palmas. - Vamos, então!

Igualmente animada com aquele convite inusitada de Céu, eu estava prestes a dar um primeiro passo em direção ao carro do Pipoqueiro quando senti a mão de Noah segurando meu braço e também o de Kim.

- Um minuto, Pipoqueiro - Noah pediu e nos levou a um canto mais afastado. - Não podemos aceitar. Vocês não percebem? É o banquete de Nabucodonosor!

- Ai, Noah, pelas barbas do profeta. Quando foi que você se tornou tão insuportável? Eu te falei, Amber, não deveríamos ter ensinado nossa dança da amizade pra ele! - Kim brigou. - Desde quando você age como nosso pai?

- Desde o momento que vocês duas passaram a agir sem pensar - ele sussurrou. - Não podemos ser idiotas.

- Noahzinho, o que não podemos é fazer uma desfeita dessas. Tenho certeza que o Céu já está mudando! - argumentei, lembrando-me da ultima vez em que vi aquele homem e ele se mostrou profundamente tocado pela canção que ouvimos juntos. Passo a passo, James ia encontrando o caminho de luz, ou seja, eu não podia desistir dele. - Pense em quão incrível seria se ele se convertesse! Tantas coisas iriam mudar por aqui.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde as histórias ganham vida. Descobre agora