Capítulo 07

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Teceiro da mini-maratona! Tem mais! Curtam e comentem que a gente volta com mais um ainda hoje!

Meu coração estava acelerado dentro do peito. Eu não acreditava nas minhas próprias atitudes em relação àquela proposta do Céu. Mas também, que mal haveria em somente dizer algo sobre o andamento do dono do morro das trevas? Pelas palavras do Céu, ele só queria estar pronto para qualquer ataque e não com anseio de ir fazer guerra no morro do outro. Além do mais, seria uma boa forma de proteger as pessoas daqui. Crianças não seriam mortas por balas perdidas, ou mãe e pai de família não faleceriam a caminho do lar por causa de um ataque repentino. Na verdade, eu estava ajudando a proteger aquelas pessoas. Seria como um anjo da guarda para elas.

E, com essas minhas próprias justificativas sobre meus atos, eu aliviei meu coração. E quase infartei quando dei um solavanco na moto, simplesmente porque o Pão não viu o quebra mola.

— Ei, toma mais cuidado. — Com atrevimento, dei uma leve batida no ombro dele.

Pão não me deu resposta, mas pelo bufar de suas narinas, ele não gostou da minha atitude de batê-lo.

"Beco do Perigo".

Meus olhos se arregalaram ao ver o nome daquele lugar. Porque eu estava sendo levada pra lá?

— Por que você está me trazendo pra esse beco? — questionei, mas ele não me deu resposta. — Eiii... —  insisti, contudo fui ignorada novamente.

Então, fui olhando ao derredor e vi algumas crianças jogando bola, que era feita com jornal amassado e uma saco plástico. Tinha um senhor com chapéu de palha, vendendo peixe sobre uma mesa de pedra. E, infelizmente, parecia haver uma bocada na frente de uma das casas dali. Alguns jovens estavam sentados a beira da calçada e pelo que parecia se encontravam bem "loucos" depois de sua tragada no fumo de maconha. Fiquei angustiada por conta daquilo.

— Chegamos. — Pão parou com a moto em frente a uma mercearia. — Seus amigos estão naquela casa verde. — Ele apontou para uma residência a quase dois metros de distância, cuja as portas e janelas eram pintadas de rosa.

Desci da moto e fiquei de frente pra ele.

— Valeu, Pão! — eu disse, tentando emitir alguma simpatia.  — Você aceita um panfleto? — Estendi para ele um dos nossos cartões de evangelização.

— Você não desiste, não é? — Ele estreitou os olhos para mim.

— Jesus salvou um ladrão que estava ao lado dele na cruz. Por que não poderia salvar você?

Pão suspirou e sem dizer mais nada apenas segurou o panfleto. Senti-me radiante diante daquilo. Talvez houvesse esperança para alguns daqueles homens perdidos. Enfim, me despedi e segui o caminho à casa verde. Quando estava próxima, ouvi uma barulheira, e, de repente, saiu de dentro da casa verde um homem com os braços cobrindo o rosto, devido às caixas de papelão que voavam em direção a cabeça dele.

— Você vem até minha casa cobrar R$ 500,00? — indagava uma mulher morena com bobes no cabelo, vestida com uma camisola rosa. — Acha mesmo que eu não vou pagar essa mixaria?

— Dona Rochele, eu não estava querendo ofendê-la... Eu... — Tentava argumentar o homem com ela.

— Eu vou pagar e até os juros dessas porcarias de cadeiras que comprei de vocês, prestamistas. — E sem acreditar no que eu via, ela jogou uma das cadeiras no meio da rua, quase acertando a cara do cobrador. — Não preciso ouvir um absurdos desses na minha casa. Seu Gilmar, meu marido tem DOIS EMPREGOS — ela declarou em alto e bom som. — DOIS EMPREGOS — repetiu e para completar a afronta praticamente esfregou os dois dedos na cara do homem.

Toda a vizinhança do beco bateu palmas para aquela mulher. E, por incrível que pareça, os demais tacaram ovo no homem. O bichinho subiu na moto e saiu em disparada para algum lugar, que pelo visto nem ele conhecia, já que bateu numa cerca de madeira,  caindo assim da moto e para sua falta de sorte ainda precisou lidar com a cerca tombando sobre ele.

Pai do céu, quanta derrota para um dia só!

Depois de tudo aquilo, só avistei meus amigos se aproximando de mim. Eles não demoraram para me perguntar sobre o que Céu queria comigo.

— Nada — respondi somente isso. Não queria envolver meus amados irmãos em algo comprometedor. — Agora tá tudo resolvido e podemos fazer nossa missão em paz.

Noah olhou para mim como quem não acreditava nas minhas palavras. Mas também não insistiu.

— E como foi com a família do Pipoqueiro? — perguntei para desviar a atenção de mim.

— Foi bem legal. A Sra. Pipoqueira realmente pode ser tão acolhedora, ou também... — Kim virou-se para o cobrador que tentava se reerguer do chão. — Bom, você viu.

Não aguentamos e gargalhamos juntos por conta daquela patifaria toda.

— Vamos voltar pra casa, pessoal. Por hoje já acabou — disse Noah e concordamos com ele.

Enquanto descíamos o morro, avistamos algumas mulheres o subindo. Elas tinham cabelos longos, roupas curtas e muita maquiagem na face. As meninas passaram por nós e vi que Noah desviou o olhar de cada uma delas. Enquanto isso, os demais homens foram para as portas de suas casas ou os que estavam no bar se levantaram só para vê-las passar. Alguns assoviavam e aplaudiam.

— Parece que ela estão indo para um concurso — Kim pronunciou.

Olhei para ela sem entender e Kim apontou para um cartaz: "Concurso da Rainha do Morro da Luz." O prêmio parecia ser R$ 2.000,00.

E quando todas as garotas já pareciam ter saído do nosso campo de visão, uma mulher loira vinha logo atrás em cima de um carro com uma coroa na cabeça e flores nas mãos. Pelo visto ela havia sido a Rainha do ano anterior. E com um olhar profundo e ameaçador, ela mirou em mim. Eu senti meu corpo todo escremecer. Quem seria aquela mulher?

...

P. W.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde as histórias ganham vida. Descobre agora