Pão me encarou, balançou a cabeça em negativa, ligou a moto e partiu rugindo os motores bem alto. Contudo, eu consegui ouvir ele murmurar antes de sair:

— Garota maluca e iludida.

Percebi que eu tremia muito e minha respiração estava acelerada. Encostei-me em um muro à direita e puxei o ar, soltando devagar, tentando controlar meu corpo. Precisava pensar no bebê. Quis chorar e foi realmente difícil controlar as lágrimas quando me dei conta de que Pão estava certo. Iludida! Quem eu queria enganar? Eu só queria um culpado para tentar acreditar que ainda tinha esperança para meu marido.

Com uma força renovada e determinada a mudar a situação, apressei meus passos e subi rapidamente pelo caminho mais curto em direção ao topo. Estava ofegante quando me aproximei da casa onde a cúpula do Morro se reunia. Vi a moto do Pão estacionada ao lado da porta e imaginei que àquela altura James já sabia da minha presença no lugar.

De repente toda a minha coragem se foi. Passei a tremer e minhas pernas perderam a força. Consegui me apoiar na parede e caminhei cuidadosa até a ponta oposta da porta da casa. Lentamente escorreguei pela parede e dobrei os joelhos, encolhendo-me como pude. Um terror súbito me acometeu, tive dificuldade de respirar e imaginei que morreria ali.

Ainda em um estado de torpor, vi a porta se abrir com violência e Céu sair de lá, acompanhado de mais ou menos 8 homens, além de Pão, todos com armas em punho ou na cintura. James estava furioso e eu tive ainda mais medo do que aconteceria quando ele me encontrasse.

— Achem ela! Revistem todas as ruas, todas as casas, mas encontrem minha mulher e a coloque em segurança — ele gritou as ordens e todos desceram rapidamente à minha procura.

Passaram alguns minutos até eu perceber que estava agachada e imóvel. Comecei a chorar compulsiva e de alguma maneira meu coração foi atraído para o único lugar onde eu poderia encontrar descanso.

"Senhor" — balbuciei chorosa. "Reconheço o quanto errei, meu Pai. Oh, como fui uma tola! Como sou uma tola! Perdoe-me Senhor! Preciso de perdão e de ajuda, porque não posso sair dessa sozinha. Ajude-me, ajude o James. Sei que não tenho direito, Deus, de pedir nada, porque o erro foi meu, mas ajude-me. Me salva, por favor, me salva!"

Continuei murmurando minhas palavras, ora pedindo perdão, ora pedindo ajuda, completamente alheia ao que acontecia ao redor. Até ouvir a voz de Emma vindo do lado da porta de entrada.

— Olha se não é a nova Rainha do Morro — ela escarneceu do meu estado. — Está parecendo mais uma ratinha medrosa.

Não consegui falar nada. Olhei para ela e minha mente associou na hora onde ela estava e quem estava na casa momentos antes. Senti a dor física da traição atingir meu peito. A mulher, que me encarava com um ar de zombaria, pareceu se comover um pouco do meu estado. Cruzou os braços e me encarou.

— Olha, nós duas queremos a mesma coisa, e talvez isso nos torne rivais. E, dificilmente eu ajudaria uma rival. Mas, sinceramente, você é inocente demais e não faz ideia do que está prestes a acontecer aqui. Então, se posso te dar um conselho, saia daqui enquanto é tempo.

Como se as palavras dela fossem uma profecia, barulho de tiros ressoaram da parte mais baixa do Morro. Muitos tiros e uma gritaria terrível.

Deitei a minha cabeça no joelho e voltei a orar, murmurando palavras sem nexos, numa súplica desesperada. Para minha surpresa a loira metida foi até mim e puxou meus braços, me forçando a ficar em pé.

— Aqui não é seguro, sua tola. — Embora suas palavras tenham sido ásperas, ela me ajudou a ficar de pé e mesmo reclamando da minha lerdeza, me levou para dentro da casa, fechando a porta atrás da gente.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde as histórias ganham vida. Descobre agora